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1 DESLOCAMENTO COMPULSÓRIO DE POPULAÇÕES PELA GERAÇÃO DE

2.4 COMPROMISSO BRASILEIRO DE REDUÇÃO DOS GASES DO EFEITO ESTUFA

Na Política Nacional sobre Mudança do Clima –PNMC – instituída pela Lei 12.187 de 2009, o governo brasileiro fez um compromisso voluntário de reduzir a emissão dos gases causadores do efeito estufa (GEE) no país entre 36,1 e 38,9% de suas emissões projetadas até 2020. As projeções de emissão correspondem a 3,236 milhões de toneladas de CO2eq. Esses números foram identificados no 2º Inventário Brasileiro de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, em 2010. Somente para o setor de energia, há a previsão de reduzir 868 milhões de toneladas de CO2eq (BRASIL, 2010).

A lei que criou a PNMC e o decreto regulamentador especificam que para atender ao compromisso nacional voluntário de redução das emissões serão criados planos de ação de mitigação por setor. São sete planos ao todo, o da energia, o da indústria, o da saúde, o da agropecuária, o do transporte e os planos de ação para a prevenção e controle do desmatamento nos biomas Cerrado e Amazônia, conhecidos como PPCDAM e PPCerrado. Ficou determinado no decreto 7.390/2010 que o plano setorial de redução das emissões da energia será o próprio PDE.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) lançou o sumário executivo do seu 5ºRelatório sobre as ciências do Clima, em setembro de 2013, em Estocolmo na Suécia. O relatório propriamente dito será divulgado em 2014 como um documento robusto de mais de duas mil páginas

63 contendo o estado da arte das ciências do clima, assim como foi com os relatórios anteriores, lançados em 1990, 1995, 2001 e 2007. O resumo executivo não difere do previsto nos documentos anteriores, embora os números sejam menos dramáticos. Nos quatro cenários trabalhados no documento, as temperaturas podem subir de 0,3 a 4,8 graus Celsius até o final do século. No mesmo período, o nível dos mares pode aumentar entre 26 e 82 centímetros. Os níveis de dióxido de carbono na atmosfera são considerados sem precedentes nos últimos 800 mil. Os números mudam sensivelmente em relação aos do relatório anterior. Mas as tendências gerais de aquecimento continuam sendo reafirmadas (IPCC, 2014) (TOLEDO, 2013).

O Brasil também lançou em agosto de 2013 o resumo executivo de seu primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). As principais conclusões do relatório brasileiro são de que o clima no país, nas próximas décadas, deverá ser mais quente, comaumento gradativo e variável da temperatura média em todas as regiões do país entre 1 ºC e 6 ºC até 2100, em comparação com a temperatura registrada no fim do século 20 (LOPES, 2013).

O relatório também aponta que deverá diminuir significativamente a ocorrência de chuvas em grande parte das regiões central, Norte e Nordeste do país. Nas regiões Sul e Sudeste, por outro lado, haverá um aumento do número de precipitações (LOPES, 2013). Estão previstos eventos extremos de secas e estiagens prolongadas, principalmente nos biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga, com previsão de esses eventos ficarem mais acentuados a partir da metade deste século. Na região leste da Amazônia, a previsão do relatório brasileiro é de que haja uma redução de vazão dos rios da ordem de 20%, o que exigirá a implantação de ações de adaptação e de mitigação e revisão da construção de hidrelétricas (LOPES, 2013).

As emissões de GEE no Brasil estavam diretamente ligadas às mudanças no uso da terra, mas a queda das taxas de desmatamento entre 2005 e 2010 trouxe ganhos nessa área, reduzindo as emissões de 2.03 bilhões de toneladas de CO2 equivalente para 1,25 bilhão de toneladas (LOPES, 2013). Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB), e uma das coordenadoras do RAN1, especificamente do Grupo de Trabalho 3, sobre Mitigação das Mudanças Climáticas, afirma que a redução do desmatamento e o aumento em termos absolutos e relativos das emissões decorrentes da geração de energia e da agricultura demonstram mudanças no perfil das emissões brasileiras, com previsão de aumento de 97% das emissões dos setores de energia e de transporte até 2030. Essa previsão exigirá mais eficiência energética, mais inovação tecnológica e políticas de incentivo ao uso de energia renovável para reverter esse quadro (TOLEDO, 2013).

64 Na mesma linha dos relatórios do IPCC e do RAN1, mas com uma linguagem mais atraente para o setor econômico, o Relatório Stern de 2006 enfatiza que as ações da humanidade nos próximos 10 ou 20 anos podem ter um profundo efeito no clima na segunda metade deste século e no próximo. Em 2006, o nível do gás carbônico (CO2eq) na atmosfera era equivalente a 430 partes por milhão (ppm), quase o dobro das 280 ppm existentes antes da Revolução Industrial (STERN, 2006).

Segundo o relatório Stern, o aquecimento global previsto levará o ser humano para um território desconhecido. E a estabilização das concentrações de CO2 na atmosfera exigirá corte profundo das emissões, uma redução absoluta de 80% das atuais emissões anuais. Os custos para atingir esses cortes dependem de uma diversidade de fatores, mas de uma forma geral são estimados em 1% do Produto Interno Bruto mundial para estabilizar o nível de CO2 entre 500 a 550 partes por milhão (ppm) (STERN, 2006).

Os dados publicados no Relatório Stern dizem que as mudanças climáticas ameaçam os elementos básicos da vida das pessoas, em termos de acesso à água, de produção de alimentos, de saúde e o uso da terra e do meio ambiente. As mudanças climáticas são uma ameaça para os países em desenvolvimento e um obstáculo para as metas de redução da pobreza (STERN, 2006).

Para minimizar os efeitos das mudanças climáticas, existem duas medidas recomendadas pela maior parte das publicações sobre o tema. A primeira área refere- se à implantação de ações de mitigação (como a precificação do carbono com impostos altos, a criação de um mercado de carbono efetivo, investimentos para dar suporte a iniciativas de baixa emissão de carbono, a chamada economia de baixo carbono, desenvolvimento e difusão de tecnologia limpas e ações para reverter as tendências de desmatamento). A segunda medida proposta é a implantação de ações de adaptação. A adaptação é o único caminho para enfrentar, nas próximas décadas, os impactos que já são inevitáveis (STERN, 2006).

Segundo o PDE 2021, o Brasil tenderá, em médio e longo prazo, a aumentar sua emissão de GEE devido à relação direta entre desenvolvimento econômico e emissões de gases de efeito estufa. Uma medida mitigadora, apresentada no PDE 2021, é a manutenção da participação de fontes renováveis na produção de energia elétrica. Mesmo assim, o desafio para o setor continua, especialmente porque há uma tendência de agravamento das disputas energéticas, pois as grandes empresas se oporão à política de baixo carbono porque a quantificação das matrizes energéticas dos países contraria interesses grandes.

Em todo caso, o PDE 2021 prevê que somente a partir de 2014 haverá uma tendência de redução contínua no índice de emissão dos gases do efeito estufa no

65 setor de energia elétrica devido à inserção de fontes alternativas na matriz energética nacional. O incentivo à expansão da geração de energia elétrica a partir de fontes alternativas teve inicio com o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) criado pela Lei 10.438 de 2002 e revisado pela lei 10.762 de 2003. O Proinfa conseguiu ampliar a quantidade de MW desse tipo de energia na matriz brasileira, embora haja a previsão de aumento das emissões de GEE pelo setor de energia.

As fontes de energia renováveis, chamadas de alternativas no Proinfa, mais conhecidas e debatidas na atualidade são a solar, a eólica, a de biomassa e as conjugadas, que envolvem dois sistemas numa mesma geração. A energia solar é a que apresenta o maior entrave tecnológico, principalmente na busca de baratear o sistema para o consumidor comum (MME e EPE, 2012). A geração de energia a partir da queima de biomassa é a mais rentável do ponto de vista econômico dentre todas as renováveis. A mais promissora, no entanto, é a energia eólica, por sua característica menos poluente.

No segundo leilão de fontes renováveis, em 26 de agosto de 2010, foram contratados 50 parques eólicos, que ficaram com 70% do total ofertado, a um preço médio de R$ 130,86 por MWh, abaixo do preço das termoelétricas a gás natural (R$ 140 por MWh). A energia eólica mostrou ser competitiva mesmo em relação à produzida por biomassa (R$ 144,20 o MWh) e por pequenas centrais hidrelétricas (R$ 141,93 o MWh). Estima a Associação Brasileira de Energia Eólica que os parques de geração de energia eólica no Brasil poderão vir a ter uma participação de 20% na matriz energética brasileira nas próximas duas décadas. Trata-se de uma meta ambiciosa, mas a energia eólica tende a crescer no País (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2010).

Todas as formas de energia, de algum modo, têm impactos. Especialistas afirmam que nenhuma fonte energética isolada é o melhor caminho para se garantir um abastecimento firme e seguro, devido à sazonabilidade climática, principalmente nestes tempos de mudanças climáticas (ROSA, 2007) (GOLDEMBERG, 2010).

Só para citar alguns exemplos de impactos das diversas fontes, a energia eólica tem risco para aves migratórias e ruídos que afetam sinais de televisão e telefone nas proximidades de parques de geração; energia a biomassa gera emissão de GEE; energia solar gera resíduos de metais pesados, devido ao uso de baterias, e tem preços altos em comparação com as outras fontes (ROSA, 2007) (MARTINS, GUARNIERI et al., 2008)

A hidroeletricidade também é fonte de energia com impactos sociais e ambientais associados, mesmo sendo renovável e emitindo uma quantidade menor de CO2 na atmosfera em comparação com outras fontes. Os Estudos de Impactos Ambientais (EIA) e usinas hidrelétricas chegam a listar mais de 50 tipos de impactos

66 negativos, dentre eles os impactos sobre a biodiversidade e também os socioambientais. Embora os estudos também mencionem impactos positivos (ENGEVIX, 2000) (GOLDEMBERG, 2010).

Dentre os mais de 50 tipos de impactos da hidroeletricidade, esta pesquisa focará nos impactos que afetam o ser humano diretamente, implicando na mudança de seu habitat. Essa opção se dá mesmo com a indicação de que os impactos sobre a biodiversidade são um dos mais severos e com capacidade para afetar a vida dos seres humanos (EHRLICH e EHRLICH, 1992). O foco nos impactos sociais se deve especialmente porque os registros da experiência mundial demonstram que, na maior parte dos projetos, é praticamente impossível reproduzir, no novo local, as condições e o padrão de vida anteriores das famílias (ASMAL, 2000).

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