• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – Comunicação

2.4 Comunicação Mediada por Computador

A Internet tem vindo a ter um crescimento bastante acentuado. No mundo inteiro, mais de 27,5 milhões de pessoas estão online (Nua, Lda, 2000). Não é apenas um meio de acesso à informação, permite a comunicação à distância, estando atualmente disponível em muitos lares e em muitos estabelecimentos escolares.

Os serviços de Internet, mais concretamente o serviço de correio eletrónico, a conversação online e a World Wide Web (Web), são serviços que vieram sem dúvida introduzir novas formas de comunicar entre as pessoas. Surgem assim novas possibilidades de estabelecer novos contatos e consequentemente diversificar as formas de adquirir bens e serviços.

Tomando a Internet como um lugar sem fim e sem fronteiras, esta desencadeia o desenvolvimento de laços sociais entre indivíduos que de outro modo eventualmente

35 viveriam vidas com mais limitações, dado que os seus laços a nível virtual podem ser mais dispersos.

São assim afastados os obstáculos físicos que dificultam a relação entre pessoas que se encontram geograficamente longínquas, e os habituais embaraços e inibições que são causados no contexto face-to-face.

Perante a crescente mediação telemática as relações interpessoais já não se escolhem tendo em atenção a Geografia, a base destas relações prende-se essencialmente com interesses e atitudes que são comuns. Os mundos virtuais criam assim outras oportunidades que potenciam o desenvolvimento de amizades (Parks e Floyd, 1996; Parks e Floyd, 1998).

O modelo de presença social desenvolvido por Short, Williams e Christie (1976) é o mais antigo enquadramento teórico de análise de Comunicação Mediada por Computador (CMC). A presença social é vista como um fator único que compreende um número de dimensões relacionadas com o nível de contato interpessoal (Spears e Lea, 1992). Tendo por base este modelo, seria mais complicado desenvolver uma relação via CMC do que via comunicação face-to-face.

Apesar de alguns estudos descreverem a comunicação mediada por computador como sendo impessoal e fria, existem outros estudos realizados que mostram que este tipo de comunicação possui um conteúdo sócio emocional bastante significativo (Rice e Love, 1987) e que muitos indivíduos ampliaram as suas relações nas comunidades virtuais (Parks e Floyd, 1996). Walther (1992) defende que a discrepância dos resultados entre os estudos já realizados se deve essencialmente ao fator tempo. Demora-se mais tempo a escrever no teclado do que a falar. O processo de desenvolvimento da impressão é menos rápido em contexto de CMC. O certo é que os adolescentes utilizam este tipo de comunicação cada vez com mais frequência, seja no lar ou até mesmo em contexto escolar.

A comunicação é considerada uma realidade e que faz parte inevitavelmente do ser humano, é resultado mas também toda uma conjuntura necessária que permite viver em sociedade. É indispensável e é uma característica necessária da modernidade, uma vez

36 que está relacionada com todos os campos, está presente em todas as atividades e envolve todas as pessoas.

A comunicação está sempre presente, domina todos os campos onde está instituída a vida social. A comunicação mediada, segundo alguns teóricos, é uma extensão e uma adaptação da comunicação tradicional que se pratica na vida do dia-a-dia, utilizando como intermediário os recursos tecnológicos atuais que estão hoje ao dispor das pessoas.

Bernard Miège (1989) salienta que a sociedade está aos poucos e poucos a ser conquistada pela comunicação. Desta forma, é normal que na generalidade dos discursos atuais em torno da Internet se dê especial importância a conceitos essenciais, tais como comunicação, rede e comunidades.

Temos duas faces da comunicação. Se por um lado a comunicação na rede possibilita conservar as relações que já existem na vida real, ou até mesmo fortalecê-las e conservá-las, por outro lado permite ampliar consideravelmente a agenda de contatos. A comodidade e o conforto que a comunicação em rede potencia no âmbito dos processos de relações entre os indivíduos, apresentam sem dúvida um dos maiores e mais reconhecíveis impactos provocados por esta nova tecnologia na vida social das pessoas (Woolgar, 2002).

Tendo em conta teorias atuais, o mundo hoje em dia atravessa uma nova etapa, passando assim de uma Sociedade de Informação para uma Sociedade da Comunicação, uma vez que as atividades orientadas para a comunicação são as mais enaltecidas na Internet nos dias de hoje. Portanto, a comunicação é a maior força estimuladora na utilização desta nova tecnologia.

Atualmente questiona-se se a multiplicação dos meios de comunicação e o crescimento dos gastos com a comunicação se acabarão por substituir a mobilidade física. Provavelmente não, pois até agora estes dois crescimentos sempre foram acontecendo de forma paralela. As pessoas que mais telefonam são aquelas que também encontram outras pessoas “pessoalmente”. Repetimos: aumento da comunicação e generalização do transporte rápido participam do mesmo movimento de virtualização da sociedade, da mesma tensão em sair de uma “presença” (Lévy, 1996).

37 Esta referÊncia do autor leva-nos indiscutivelmente a lançar uma questão pertinente: para onde nos levará a utilização da Internet, esse novo meio de comunicação que ultrapassa todos os limites da transmissão de informações? Esta grande rede de redes que aproxima as pessoas, ligando-as, rasgando barreiras tanto de tempo como de espaço, pode fazer com que os indivíduos percam o contato físico. Para Lévy, esse perigo não existe. Para apoiar a sua opinião, o autor faz referência por exemplo ao uso do telefone, que é apenas mais um meio de aproximação entre as pessoas, e que não substitui de forma nenhuma a presença física.

2.4.1 Ciberespaço- um novo conceito

Uma das características mais relevantes da influência de um meio de comunicação nas sociedades é a reconfiguração dos espaços percebidos por esta sociedade. Isso porque, a comunicação diminui as distâncias e permite que as pessoas se aproximem. Claro que não é numa perspetiva concreta, mas sim numa perspetiva de perceção. Com o surgimento da Internet as distâncias tornam-se ínfimas e o "acesso" a informações de lugares distantes, é de facto uma realidade. No ciberespaço não existem distâncias físicas. Esta característica é inovadora e diferencial na CMC. A distância geográfica é desfeita pela comunicação. Com isso, muitos investigadores têm verificado que a nossa noção de espaço vai sendo constantemente alterada, no fundo não se trata mais de uma aldeia global, mas de uma comunidade global.

O termo ciberespaço surgiu pela primeira vez em 1984 pelo escritor norte-americano Wiliam Gibson no seu livro de ficção científica Neuromance e depois foi usado numa escala maior pelos criadores e utilizadores das redes digitais. Para este autor, este parecer descreve todo o conjunto de rede de computadores nos quais circula todo o tipo de informação, trata-se assim de um espaço não físico estabelecido por redes digitais.

O aumento da rede conduziu à formação de comunidades que visitam as mesmas páginas, criação de listas que falam de assuntos de interesse comum, grupos que conversam na mesma sala. Assim, o ciberespaço não se trata apenas de um meio, possui de facto características próprias de comunidades.

Para Lévi (1999), o ciberespaço de Gibson tornou a “geografia móvel da informação”, normalmente não visível, em algo bastante sensível e como resultado, este conceito foi

38 rapidamente utilizado pelos criadores e utilizadores das redes digitais.“(…) É o novo

meio de comunicação que surge da interligação mundial dos computadores. O termo específica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. (Lévi, 1999, p.17)

Existem várias opiniões sobre comunidades no ciberespaço, embora a maioria dos autores se evidencie na sua defesa enquanto entidade social, real e potencialmente positiva. (Baym, 1995; Rheingold, 1996; Wellman e Gulia, 1999).