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CAPÍTULO 4. COMUNICAR COM A FAMÍLIA

4.1. Comunicar a morte de uma criança

O modo como se comunicam as más noticias é um factor bastante importante que muitas vezes é subestimado e ao qual se deveria dar maior ênfase aos alunos de medicina e enfermagem. Transmitir as más notícias é uma

realidade que para os enfermeiros acarreta grandes dificuldades que normalmente se traduzem em expressões como: “Como é que eu vou dizer…?”.

Apesar de ser comum atribuir ao médico a responsabilidade de dar as más noticias, os enfermeiros desempenham um papel bastante importante. Devido à sua permanência com o doente e família, os enfermeiros estabelecem uma relação de proximidade que lhes permite obter e transmitir informações úteis.

Este é um momento bastante crítico para os pais. Embora eles não ouçam ou se lembrem de tudo o que foi dito, apercebem-se de uma forte sensação de rejeição, esperança e desesperança. Este sentimento pode influenciar a capacidade dos pais pensarem o seu futuro familiar e as alterações que isso acarreta (Wong, 1999).

A Morte é uma perda irreversível e irreparável. É sempre um choque para quem a recebe. A maior parte dos profissionais de saúde não sabe lidar com a morte, nem com os sentimentos que dela dependem. Esta situação é explorada pelos média para os quais quem entra num hospital ou num serviço de urgência, ou mesmo "quem vai ao médico" não pode morrer.

Transmitir a notícia da morte aos pais e familiares é uma tarefa muito pouco invejável. Sabemos por experiência própria que dar as más notícias é tão perturbador e doloroso para quem as recebe como para quem as dá.

A família/pais recordarão para sempre quem lhes deu a fatídica notícia. É de extrema importância que esta transmissão seja feita de forma correcta e com sensibilidade. Tanto os pais/familiares como os profissionais de saúde poderão a vir a necessitar de apoio nas horas ou nos dias seguintes.

A comunicação da morte da criança deve ser feita com bastante sensibilidade e, tanto médico como enfermeiro devem estar preparados para se confrontar com sentimentos de negação, raiva e culpa sem criticar. Wong (1999) refere que se deve dar a oportunidade aos pais de verem o corpo da criança, uma vez que a ideia que têm da imagem do filho é frequentemente pior do que a realidade.

A notícia deve ser transmitida numa sala reservada, localizada numa zona calma e confortável, sem interrupções e distracções, numa atmosfera onde os pais se sintam livres para expressar as suas emoções, onde o profissional de

saúde se deverá sentar ao mesmo nível do familiar, não ficar de pé quando os pais / família estão sentados.

Deve ter bastante atenção e assegurar que está com uma farda limpa, sem vestígios de sangue porque se assim for é ainda mais traumatizante e é uma imagem que os pais nunca irão esquecer.

Os pais devem ser incentivados a permanecerem juntos quando são informados da morte da criança.

Deve-se ser directo, transmitindo imediatamente a notícia, usando as palavras “Morte” ou “Morrer”. Não deixar margens para dúvidas utilizando frases como “deixou-nos” ou “dizer adeus”.

Ao comunicar a Morte, o contacto físico com os pais/família, embora seja uma importante expressão de empatia, deve ser usado sabiamente. Devemos segurar na sua mão ou colocar o braço sobre o seu ombro.

Na maioria dos casos não é dada a informação pelo telefone/telemóvel que a criança faleceu, a menos que a distância e o tempo de viagem seja prolongado ou no caso em que a morte já é esperada. É preferível dizer que a criança está em estado crítico e que os familiares devem vir o mais brevemente possível, para que uma melhor explicação seja feita frente a frente.

Um dos aspectos particularmente importantes na prática profissional diz respeito aos comentários feitos por profissionais de saúde como “foi melhor o

bebé ter morrido agora”, ou “ainda é muito nova, pode ter mais filhos”, que apesar

dos comentários serem bem-intencionados podem manifestar certa falta de compreensão para o que está a acontecer.

O que dizer O que não dizer

“Estou triste por si.” “A senhora é nova pode ter outros.” “Como está a passar por tudo isto?” “Tem um anjo no céu.”

“Isto deve ser difícil para si.” “Isto foi a melhor solução.”

“O que posso fazer por si.” “Foi melhor isto acontecer antes de nascer o bebé.”

“Tenho muita pena.” “De qualquer maneira o bebé tinha um problema.”

“Estou aqui disposta a ouvi-la.”

(Adaptado de BOBAK, LOWDERMILK, JENSEN, 1999, p.860)

Quadro 1 - Expressões que devem ser evitadas quando morre uma criança

A morte de uma criança marca a proximidade do contacto da família com os profissionais de saúde que estiveram envolvidos no tratamento, como tal, este contacto deve ser privilegiado, aproveitando para dar apoio e orientação, de acordo com as suas necessidades, para que possam lidar melhor com a perda (Wong, 1999).

Durante todo o processo da comunicação da morte da criança, não nos podemos esquecer que a família carece da nossa capacidade de escuta e da nossa especial atenção em todas as circunstâncias. O apoio do enfermeiro, vai ajudar os pais “…a expressar os seus sentimentos e emoções, compreender as

suas respostas à perda e aumentar a capacidade para a tomada de decisão”

(Bobak, Lowdermilk, Jensen, 1994, p. 860).

Existem ainda alguns aspectos que deverão ser considerados:

- Local apropriado para transmissão da morte da criança deverá ser calmo e reservado. Deve ser demonstrados apoio e compreensão, usando uma linguagem clara e simples de forma a que seja compreendida pelos pais/família.

- Avaliar se os pais têm conhecimento sobre a situação e que informação lhes foi fornecida.

- Os pais devem receber o tipo de informação que desejam, ou seja, deve- se saber até que ponto é que os pais querem ter conhecimento da situação.

- Devem-se apoiar os pais, realçando que os pais não estão sozinhos e que terão sempre apoio dos profissionais de saúde.

- Numa fase inicial os pais apresentam comportamentos de raiva contra o profissional que lhes comunica a notícia. Posteriormente aparecem o desgosto e o medo, acompanhados pelo choro ou o silêncio, que devemos respeitar. O enfermeiro deve responder sempre de forma verdadeira e directa a todas as questões levantadas pelos pais, mesmo que sejam difíceis de responder.