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A comunidade de aprendizagem da prática profissional constituída pelo grupo de dez professoras de Matemática, compartilhou o objetivo comum de elaborar um artigo multimídia. As professoras interagiram regularmente, para aprender a fazer da melhor forma o trabalho proposto. Wenger (2001) confirma que as comunidades de aprendizagem da prática surgem das relações e das situações que envolvem as pessoas no seu dia a dia.

Inicialmente, tínhamos apenas um grupo, no qual as professoras estavam preocupadas em “agradar e atender” à pesquisadora. O grupo foi se transformando no decorrer da pesquisa. As professoras modificaram o seu comportamento, passando a apresentar características de uma comunidade de

aprendizagem da prática como membros que aprendem conjuntamente e realizam a gestão do conhecimento (WENGER, 2001).

Atribuímos tal mudança a alguns fatores como:

x um ambiente confiável e favorável a discussões e a participações negociadas;

x encontros regulares com tarefas previamente planejadas, a serem realizadas pelo grupo;

x uma proposta de como elaborar um artigo multimídia, nova para o grupo; x a participação e a iniciativa individual valorizada.

Encontramos, na comunidade formada, os quatro aspectos que, segundo Wenger (2001), caracterizam uma comunidade de aprendizagem da prática.

Tabela 11

Características de uma comunidade de aprendizagem

Características Proposta da pesquisa

Domínio Propósito de elaborar juntas um artigo multimídia, envolvendo a Matemática do movimento.

Comunidade Grupo de dez professoras de Matemática dos diferentes níveis de ensino que se interagem entre si.

Identidade

Professoras passam a incorporar diferentes procedimentos e valores, negociados pelo grupo nas discussões durante o processo.

Prática Professoras desenvolveram esquemas de trabalho e registros das ações compartilhadas.

As professoras estavam ligadas, informalmente, por um interesse comum e as relações estavam baseadas na confiança e na contribuição que cada uma delas trazia para a comunidade. Aprenderam juntas como fazer coisas pelas quais se interessavam. Desenvolveram uma sensação de identidade e de fazer parte de algo importante. A participação é um processo complexo que combina o fazer, o pensar, o sentir e o pertencer.

As professoras organizaram-se, criando maneiras para lidar umas com as outras nesse processo de aprendizado. Tiveram que fazer escolhas justificando e

interesse em desestruturar o grupo, mas de não perder nenhuma contribuição, sobretudo quando as posições não eram coincidentes. As professoras aprenderam juntas, interagiram e falaram do seu próprio aprendizado. Expuseram suas fragilidades, o que, em geral, não coloca nenhum profissional numa posição confortável. Mas essa prática de falar sobre o que precisavam saber para resolver uma situação foi construída pelo próprio grupo. Assim, como vimos, uma série de modificações ocorreu seja na Matemática das professoras, seja na sua reflexão sobre a pratica. Essas formas de participação, segundo Wenger (2001), moldam não apenas o que fazemos, mas quem somos e como interpretamos o que fazemos. Tomar consciência de pertencimento a essa comunidade de prática tornou as professoras mais responsáveis pelo conhecimento gerado coletivamente.

Observamos que, durante todo o processo de elaboração do artigo, a comunidade passou por diferentes etapas. Cada momento conteve ações específicas para incentivar a participação e o desenvolvimento da própria comunidade, como:

x criar modelo de como a comunidade vai funcionar; x criar rotinas para o grupo;

x documentar organizadamente o que está sendo feito;

x definir as funções no processo de cada um dos participantes; x avaliar o próprio trabalho e a própria participação;

x manter o foco no objetivo mais amplo; x ressaltar os procedimentos;

x apresentar experiências de sucesso relacionadas ao que estava sendo feito valorizando as interações; e

x desenvolver novas lideranças.

O papel da liderança na nossa comunidade de aprendizagem da prática merece ser destacada. Refletindo sobre nossos encontros, observamos que é importante ter uma liderança e que liderança não necessariamente confunde-se com autoritarismo. Foi necessário, para escrever este trabalho, assumir a

liderança desde o início. Assim, convidei professores para participar da elaboração de um AMM. O grupo se formou com aquelas que tinham disponibilidade de horário comum. Podemos afirmar que, em um grupo, é natural que uma ou mais pessoas assumam a liderança, ou porque elas se impõem ou porque os outros membros do grupo identificam-nas como tais. A primeira opção ocorre quando a pessoa posta-se como líder e deseja que a discussão flua, escolhendo as tarefas, moderando e tomando as decisões. O líder que se encaixa na segunda opção está na posição central da discussão, porque os outros membros do grupo consideram-no melhor capacitado. É importante ressaltar que, no grupo, é saudável que ocorra uma alternância de liderança, de acordo com a atividade a ser desempenhada. Na pesquisa, a liderança alternou-se entre os membros do grupo. Para nós, é difícil pensar que um grupo mantenha-se sem a figura do líder, pois ele é uma referência para o grupo naquele momento. O líder foi um bom negociador, promoveu questionamentos e discussões produtivas, gerenciou o trabalho e liderou as pessoas para trabalhar com entusiasmo e atingir o objetivo da comunidade. Foi necessário tempo, para conquistar a confiança e encorajar os outros para uma atitude positiva.

Nessa comunidade, as professoras desenvolveram sua capacidade de ouvir e de aprender com os outros, de negociar idéias sobre sua profissão, de buscar entender os processos de ensino e de aprendizagem, de ver, de outro modo, situações da prática baseadas em resultados de pesquisas, conversar com colegas e fazer coisas que não faziam antes, entendendo as razões das suas mudanças.

Esta tese permitiu que eu me engajasse na comunidade que inicialmente liderei, modificasse minha prática e, sobretudo, contribuísse com essa área. Novas questões se levantam e alguns pesquisadores já se debruçam sobre elas, tais como pesquisar o papel da formação de comunidades virtuais e a formação de comunidades numa mesma escola.

Apresentamos um esquema adaptado do quadro de Wenger12, sobre como a nossa comunidade de prática foi cultivada: