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2.5 O desenho da pesquisa – Procedimentos metodológicos

2.5.1 Fase I – A proposta

Começamos o trabalho por definir o objeto de estudo da pesquisa: professores de matemática e as interações discursivas no processo de produção de um artigo multimídia. Ao participar de um encontro do grupo G3 de Linguagem e Tecnologias da PUC/SP, tivemos contato com atividades que envolveram a representação de movimento no gráfico cartesiano, a Matemática do movimento, utilizando calculadora gráfica TI 83 acoplada a sensor CBR, que muito nos interessou. Decidimos, então, começar a pesquisa, propondo uma das atividades exploratórias trabalhadas no grupo de pesquisa: “o problema do João” e mais três atividades que envolvem o uso da calculadora gráfica acoplada ao sensor. Essa estratégia possibilitou utilizar a representação no gráfico cartesiano de movimento como tema motivador das discussões e de referência para a produção do texto base do artigo. Realizamos, no total, 19 encontros, incluindo a participação das professoras em um seminário com o pesquisador Ricardo Nemirovsky. Cada encontro teve duração de 4 horas, no mínimo, semanalmente e depois quinzenalmente. Portanto, a escolha do tema não se deu apenas pelo fato de ser um tema de investigação do grupo de pesquisa G3 da PUC/SP, mas por possibilitar a exploração de uma situação do cotidiano das professoras e por permear o ensino de Física e de Matemática.

x Atividade zero – com o uso de lápis e papel sobre o problema do João9. x Atividade um, atividade três, atividade quatro, atividade cinco e atividade

sete – atividade para conhecimento e utilização da calculadora gráfica acoplada ao sensor.

x Atividade oito e atividade nove – atividade de orientação para assistir aos vídeos com a participação das próprias professoras.

x Atividade onze, atividade doze, atividade treze, atividade quatorze, atividade quinze e atividade dezesseis – atividade para conhecer um artigo multimídia, sua estrutura, suas vantagens e desvantagens

Entretanto, outras atividades foram incluídas no decorrer do processo, pela necessidade imposta pelo grupo de pesquisa e pelo andamento das discussões. Com o material inicial para a pesquisa preparado, partimos para a seleção dos professores que participaram da pesquisa.

Apresentamos, no quadro a seguir, a organização dos encontros e a distribuição das atividades ao longo da pesquisa:

9 É uma situação que pede a representação no gráfico cartesiano do movimento de um aluno, o João, que sai

Tabela 3

Cronograma dos encontros da pesquisa

Data Atividade

01/10/04 Atividade zero – atividade do problema do João, com lápis e papel; Atividade um – conhecendo as possibilidades da calculadora

acoplada ao sensor.

07/10/04 Atividade dois – comentando sobre os gráficos do problema do João;

Atividade três e atividade quatro explorando a calculadora.

11/11/04 Atividade cinco – Situação problema envolvendo movimento de duas

pessoas – explorando a calculadora acoplada ao sensor.

17/03/05 Atividade na turma da Cecília, no ICEX/UFMG.

30/05/05

Assistir juntas à fita editada com as escolhas das professoras da atividade zero e atividade um.

Comentários e discussões sobre a atividade realizada com os colegas da Cecília.

04/05/2005 (8 horas)

Participação no seminário com o professor Jorge Tarcísio; Preparação para o trabalho com os alunos no colégio estadual da Ângela.

09/06/2005 Atividade zero e atividade um – no colégio estadual com os alunos

da Ângela.

13/06/2005 (8 horas)

Reunião com o professor Ricardo Nemirovsky e a professora Janete Bolite na UFMG;

Representação de movimentos – parábolas; Apresentação de artigo multimídia.

14/06/2005 (8 horas) Seminário Ricardo Nemirovsky. 15/06/2005 (8 horas) Seminário Ricardo Nemirovsky.

20/06/2005 Discussão do seminário;

Discussão de gráficos – atividade dois.

04/07/2005 Atividade sete – Discussão sobre a transformação de gráficos dxt ----

vxt – usando calculadora gráfica acoplada ao sensor.

22/08/2005 Atividade seis e atividade dez – Discussão das questões elaboradas pela professora Beatriz.

Elaboração do roteiro para produção do artigo multimídia.

12//09/2005 Atividade 11, 12, 13, 14, 16 – Conhecendo o artigo multimídia –

InterActive.

19/09/2005 Atividade 15 – estrutura do artigo multimídia, definir funções para

produção, escolher os trechos, produzir o texto do artigo.

03/10/2005 Preparando o artigo. Continuando as discussões do encontro

anterior.

17/10/2005 As professoras, em dois grupos, começaram a preparar as imagens e o texto, e as transcrições dos dois trechos selecionados para

compor o artigo.

31/10/2005 Escolhendo a apresentação do artigo, cores, formato, escrevendo sobre o perfil das professoras. Socializando o material de cada

grupo para a produção do artigo.

16/11/2005 Revendo novamente a fita editada das atividades zero e atividade um;

Local e Seleção de Professores

Os dezenove encontros foram realizados no período de dez de outubro de 2004 a dezesseis de novembro de 2005, no campus da Universidade Federal de Minas Gerais, nas dependências da Escola Fundamental do Centro Pedagógico, com dez professoras de matemática da educação básica e do ensino superior do estado de Minas Gerais. Nossa opção por realizar a pesquisa neste espaço físico tem relação com a minha função como diretora, na época, desta escola. Por exercer uma função que nos facilitava o trânsito no espaço físico, como a solicitação de equipamentos e pessoal para nos ajudar nas gravações, por exemplo, para o desenvolvimento das atividades da pesquisa, considerei pertinente encontrar com as professoras neste local de trabalho.

A escolha das professoras participantes da pesquisa precisava ser muito criteriosa e cuidadosa, porque o projeto exigiria tempo e disponibilidade do grupo, uma condição que complica a participação de quem trabalha, na maioria das vezes, em até três turnos, como é o caso geral do professor brasileiro. Teríamos que, inicialmente, oferecer algo que pudesse interessar a um grupo de professoras, para que depois de envolvidas, formassem de fato um grupo operativo e compromissado.

Decidimos, então, fazer um convite para professores de matemática que estivessem atuando na educação básica para participar de um encontro sobre o papel da tecnologia no ensino de matemática. Pensávamos que, desta forma, conseguiríamos atrair um número maior de professores que estivessem atuando na sala de aula, principalmente da rede pública.

A divulgação para os professores participarem dessa pesquisa foi feita por meio das seguintes ações:

1. convite, por telefone, para a direção de uma escola pública de grande porte de Belo Horizonte, Colégio Estadual Milton Campos.

2. folder enviado pela web e pelo correio para a lista de professores de matemática cadastrados na SBEM – Sociedade Brasileira de Educação Matemática/Regional Minas Gerais.

Com essa divulgação, recebemos muitos telefonemas. No entanto, foram poucas confirmações de participação. Agendamos o encontro, para um dia de semana e convidamos as professoras. Compareceram num total de 11 profissionais.

Nesse encontro, um grupo de 10 professoras de matemática aceitou participar, de forma sistemática, da pesquisa, colocando-se com disponibilidade e com o desejo de se envolver.

Durante os demais encontros, a presença das professoras foi se alternando. Mesmo com toda a vontade, a participação presencial das professoras mostrou-se mais complicada do que esperavam no início: problemas diversos surgiram, como horário, rotinas, e trânsito entre locais de trabalho. Podemos considerar que, excluindo a pesquisadora, cinco professoras tiveram presença constante nos 19 encontros ao longo do período.

Perfil das professoras participantes da pesquisa

O perfil pessoal e profissional das professoras foi obtido a partir de um questionário elaborado, com o objetivo de avaliar também a relação de cada professora com as tecnologias. Com base no questionário (apêndice C), realizamos alguns cruzamentos de dados para termos mais elementos para conhecer o grupo.

No grupo tivemos três especialistas, quatro licenciadas, uma mestra e uma doutoranda. Percebemos que essa situação não reflete o perfil / qualificação profissional da maioria dos professores de matemática do Brasil, cinco das professoras têm uma qualificação superior ao da licenciatura. Justificamos essa peculiaridade pela presença de professores que trabalham na mesma escola que a pesquisadora, uma escola de aplicação da Universidade Federal de Minas Gerais. Duas professoras com contrato de substituto, uma graduada, a outra com especialização e uma professora efetiva cursando doutorado.

Excetuando-se as professoras da universidade Federal, a realidade das professoras de escola pública reflete bem a situação do professorado no país, a

grande maioria trabalha em três turnos e não tem muito tempo para participar de encontros de discussão do seu fazer pedagógico e/ou ter acesso ao que vem acontecendo na área.

As professoras10 são todas do sexo feminino, com idade em sua maioria até 35 anos. A renda familiar está acima de R$ 1.200,00. O tempo de docência é bastante heterogêneo. Temos professoras com vinte anos de docência e professoras com um ano. A maioria trabalha em escolas da rede pública e municipal do estado de Minas Gerais. Apenas uma professora está atuando no ensino superior, ministrando a disciplina prática de ensino.

A questão que procurou identificar em que ciclo a professora leciona ficou comprometida, por não constar, nas opções, resposta adequada à realidade das professoras.

Em relação ao acesso e ao uso dos recursos de informática, todas têm computador em casa e o utilizam diariamente. A maioria trabalha com computador para digitação de texto no Word ou similar, navegação na internet e para enviar e receber e-mails, isto, há mais de cinco anos e há menos de sete anos. Apenas uma professora respondeu que usa com freqüência com Excel ou similar. Todas elas aprenderam a utilizar o equipamento com a ajuda de parentes ou amigos.

A maioria afirma que, para o ensino da Matemática, o computador é indispensável ou muito importante, embora nenhuma delas o utilizasse.

10 As professoras participantes da pesquisa autorizaram o uso das suas imagens, bem como das respectivas

Tabela 4

Formação das professoras participantes da pesquisa

Professores Experiência com

pesquisa Publicações Experiência ministrando cursos de formação Experiência como membro de associações em Educação Matemática Participa de cursos na área? Experiência em coordenação pedagógica na escola em que atua Conhece artigo multimídia? Realiza leituras acadêmicas? Utiliza calculadora na sala de aula Ângela Tula Crislen Flávia Heloisa Ana Paula Cecília Beatriz Tatiane Viviane Tabela 5

Experiência profissional das professoras participantes da pesquisa

Professores Município em que vive Escola em que trabalha Tempoem magistério Número de aulas emanais Série em que mais trabalha Nível de ensino com mais experiência

Ângela Belo Horizonte Escola Estadual no centro de BH 21 anos 36h 1º ano do Ensino Médio Ensino Médio

Tula Belo Horizonte Faculdade privada em BH 20 anos 30h Graduação Fundamental Ensino

Crislen Belo Horizonte Escola Municipal em Contagem 8 anos 32h

8ª ano da Educação Básica

Ensino Fundamental

Flávia Esmeraldas Escola Municipal em Esmeraldas 14 anos 36h

6º ano da Educação Básica e 1º ano do Ensino Médio Ensino Fundamental

Heloisa Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais 26 anos 12h 8º ano da Educação Básica Ensino Fundamental

Ana Paula Belo Horizonte Escola privada em BH 6 anos 25h

1º ano da Educação Básica

Ensino Médio

Cecília Belo Horizonte

Universidade Federal de Minas Gerais 3 anos 20h 5º e 8º ano da Educação Básica Ensino Fundamental

Beatriz Belo Horizonte Escola Estadual em BH 3 anos 32h 1º e 2º ano do Ensino Médio Ensino Médio

Tatiane Belo Horizonte Escola Municipal em Contagem 4 anos 30h

6º e 7º ano da Educação

Básica

Ensino Fundamental

Viviane Belo Horizonte Escola Estadual em BH 2 anos 20h

6º e 7º ano da

Criando um ambiente para o grupo

No primeiro encontro, recebemos as professoras numa sala de aula da Escola Fundamental da UFMG, que estava organizada em grupos com 04 carteiras. A sala estava preparada com câmeras de vídeo e com gravadores de voz nos grupos formados.

Nesse primeiro contato, as professoras apresentaram-se e falaram sobre sua experiência e por que estavam participando desse encontro. Estavam um pouco inibidas com tanto equipamento preparado para observá- las. Desenvolvemos a atividade zero (problema do João) e, depois, apresentamos a calculadora gráfica acoplada com o sensor.

No final desse encontro, a pesquisadora fez o convite para que esse grupo de professoras de matemática continuasse se encontrando uma vez por semana durante 4 horas, com o objetivo de participar da sua pesquisa. Apenas uma professora de matemática das onze que compareceram não teve condições de permanecer no grupo, em função de seus horários de trabalho. As professoras perguntaram sobre a pesquisa e o que efetivamente elas deveriam fazer. Esclarecemos qual seria o papel das professoras no processo de elaboração do artigo multimídia e combinamos o dia de nossos encontros. Informamos que estaríamos gravando tudo, a fim de coletar o material para elaborar um artigo multimídia e fazer análise do desenvolvimento profissional do grupo nesse processo.

Estabelecemos, no primeiro encontro, um cronograma que acabou sendo alterado com a inclusão de outros encontros, necessários ao desenvolvimento dos trabalhos. Dessa forma, o grupo poderia se programar para participar das atividades.

Depois do primeiro encontro, mudamos o local das reuniões de trabalho, em função de duas razões: a primeira, pelo barulho feito pelos dos alunos na hora do recreio, que repercutia na sala onde estávamos, e, segundo, por achar que precisávamos de um ambiente mais acolhedor, onde cada uma das professoras pudesse se sentir à vontade para falar sobre suas

experiências e sua aprendizagem profissional, ao se envolver com as atividades que foram propostas no processo de elaboração do artigo.

A pesquisadora decidiu reservar a sala de reunião da escola, um espaço mais amplo, com uma grande mesa no centro, com televisão e vídeo e com um quadro para anotações.

As professoras sentaram-se para conversar nesse espaço que, intencionalmente, era diferente de um ambiente com quadro negro e carteiras dispostas em fila, o qual reforçaria a idéia que temos de uma sala de aula. Queríamos um local propício para a cooperação, e não um que parecesse que alguém viria para ensinar alguma coisa.

Um outro aspecto interessante reside no fato de que, na realização das atividades exploratórias que implicavam o uso da calculadora acoplada ao sensor, as professoras, por não estarem na frente dos alunos sentiam-se mais à vontade, para experimentar aquela nova tecnologia, pois, estavam entre colegas de profissão.

Como estávamos recebendo as professoras no meu ambiente de trabalho, achei acolhedor oferecer um lanche para o grupo, uma vez que as participantes não receberam honorários para colaborar com a pesquisa. Não fazíamos horário de intervalo, o lanche ficava na mesa e nós nos servíamos quando tínhamos vontade.

Depois do terceiro encontro, fui surpeendida por uma das professoras do grupo, Flávia, que se ofereceu para trazer o lanche para o próximo encontro, uma “broa de fubá” famosa da sua cidade, Florestal. Essa atitude, que inicialmente poderia ser irrelevante, mostrou o desejo de dividir a responsabilidade do lanche, mostrou o desejo de dividir o compromisso com o próprio trabalho, que, a princípio, estava sendo assumido por uma única pessoa, a pesquisadora. Começava o processo de formação de um grupo, de uma comunidade. Aos poucos, outras começam a assumir responsabilidades. Começamos a desenhar um outro rumo para as nossas relações pessoais e profissionais. Ficou mais claro para todas nós que a idéia era investigarmos juntas: pesquisadora e professoras, e não de investigar as professoras como objeto.

É bom ressaltar que, no decorrer do trabalho, a coordenação de cada encontro foi se alternando. A liderança ficou mais flexível e compartilhada. Entretanto, a continuidade dos trabalhos e do design da pesquisa estavam sempre sendo monitorados pela pesquisadora, uma vez que não poderia perder de vista a investigação mais abrangente sobre o desenvolvimento profissional.

2.5.2 Fase II: A implementação das atividades e a escolha dos momentos