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Rhoselly Marques da Silva Xavier

Eixo 3- Direitos Humanos, Pobreza e Educação Resumo: o enfrentamento às desigualdades sociais promovido em Miranorte – TO, no CEM Rui

Brasil Cavalcante, a partir do desenvolvimento de um plano de ensino voltado para a educação em direitos humanos tem notadamente refletido numa mudança comportamental de toda a comunidade escolar à medida que a prática docente legitima o estudante como sujeito central do processo de ensino-aprendizagem. À proporção que o estudante é reconhecido como sujeito principal da prática educativa, torna-se crescente a participação social desses jovens, contribuindo não apenas para o desenvolvimento pessoal e intelectual dos estudantes, mas, especialmente, para o combate à violação de direitos no Município e o consequente desenvolvimento das comunidades em que os alunos estão inseridos. O desdobramento, na Unidade de Ensino, de projetos que estimulam a produção criativa e o pensamento crítico enquanto propagam o respeito-mútuo a partir da percepção da pluralidade sócio-cultural que compõe a região de Miranorte, bem como de todo o Tocantins, contribui para a formação de pessoas mais autônomas e comprometidas socialmente, com valores de solidariedade e respeito mais incorporados, com a avidez de conter as desigualdades sociais e promover a transformação da realidade vivenciada pelas camadas populares.

Palavras-chave: direitos humanos. Projetos. Sujeitos. Educação. Pobreza.

Introdução

Um dos espaços sociais mais importantes para mudar a realidade dos coletivos pobres é, sem dúvida, a escola. A ela é imputado o grande desafio de promover a emancipação dos sujeitos, porém, para isso, é preciso que o processo de educação formal não se condense nos conteúdos elencados no currículo e, sim, que dê centralidade aos sujeitos considerando as vivências dos coletivos populares. A prática de ensino deve ser fundamentada na educação em direitos humanos a fim de corroborar a formação e o fortalecimento de valores inerentes ao exercício pleno da cidadania.

À proporção que a escola apresenta-se como um ambiente provocativo de conscientização e enfrentamento às desigualdades sociais resguardando valores sociais inerentes às prerrogativas fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o processo de educação formal se concretiza como um mecanismo promissor de combate às desigualdades sociais uma vez que promove a mudança de perspectivas e comportamentos sociais que perpassa os muros da escola alcançando, direta ou indiretamente, os contextos populares em que vivem os membros da comunidade escolar.

Conforme defende Arroyo (2013, p. 19 e 20),

Os currículos assumem apenas a responsabilidade de oferecer aos (às) alunos (as) os conhecimentos acumulados sobre a natureza, a sociedade, o espaço, a história, a linguagem etc., e têm ignorado e secundarizado o direito ao saber de si, ao saber-se no mundo, na sociedade, na natureza, nas relações sociais, econômicas e políticas, no padrão de trabalho, de produção, de apropriação-segregação do espaço da terra e da renda.

Arroyo nos leva à percepção do quão importante é que a escola se refaça no sentido de associar os conhecimentos culturais e científicos às vivências pessoais dos alunos cujo processo de ensino - aprendizagem é constantemente submetido ao crivo da elite dominante, historicamente, produtora e detentora de tais conhecimentos. É preciso que as instituições escolares compreendam a sua verdadeira função no processo de formação dos

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sujeitos e adotem uma postura de referência participativa de cidadania capaz de estimular comportamentos sociais voltados ao enfrentamento das desigualdades cotidianamente experimentadas pelos membros de sua comunidade assumindo para si o papel de, como contexto social de construção de saberes, espaço de produção de sentidos de modo que as ações de cada indivíduo sejam orientadas por meio da reflexão acerca de sua própria vivência.

Segundo Ibernón (2000, p. 189),

uma escola cidadã deve possuir dois objetivos essenciais: “contribuir no plano público, para o desenvolvimento de uma cultura do discurso crítico sobre a realidade concreta; Socializar os valores e as práticas da democracia nos âmbitos institucionais cotidianos que facilitem a participação ativa e crítica e as experiências de organização.

O estudo parte do pressuposto de que as práticas educacionais da escola pública devem discutir as vivências em torno da pobreza e das desigualdades sociais reconhecendo os discentes como indivíduos centrais do processo educacional. Sob essa perspectiva, o artigo estrutura-se em cinco tópicos que abordam as características e as ações de cada projeto desenvolvido no CEM Rui Brasil Cavalcante, com ênfase na educação em direitos humanos, e avalia a repercussão do trabalho desafiador ao qual a escola se propõe observando como, a partir das ações realizadas, os sujeitos passam a perceberem-se e a relacionarem-se com os outros e com o mundo.

Procedimentos Metodológicos

O artigo baseia-se em pesquisa bibliográfica e estudo de campo que envolve coleta de dados e análise de documentos, cedidos pelo CEM Rui Brasil Cavalcante, cujos conteúdos constituem o Projeto político-pedagógico da Unidade de Ensino a fim de compreender os reflexos sociais e comportamentais observados na comunidade escolar a partir do plano de educação em direitos humanos desenvolvido há mais de quinze anos na Escola.

Resultados e Discussão

A escola é um espaço de educação formal que teoricamente se apresenta como um mecanismo de desenvolvimento humano, no entanto, muitas vezes se revela como um ambiente discriminatório e excludente, especialmente por se constituir como um espaço social que reproduz conhecimentos científicos e culturais historicamente produzidos pela classe dominante e, portanto, reprodutor das desigualdades sociais.

Esta pesquisa propõe avaliar os reflexos, observados nos últimos quinze anos, das práticas docentes orientadas pelo Projeto político-pedagógico do Centro de Ensino Médio Rui Brasil Cavalcante que se fundamenta na proposta de um plano de ensino voltado à educação em direitos humanos a fim de corroborar o combate à pobreza e às desigualdades sociais vivenciadas nos contextos empobrecidos de Miranorte bem como no entorno do município.

Buscando se reinventar como um espaço de aprendizagem que não se limita à formação meramente técnica ou com foco na inserção de indivíduos no mercado de trabalho, o CEM Rui Brasil Cavalcante, em Miranorte-TO, desde o ano de 2003, desenvolve um plano de educação em direitos humanos pautado na realização de projetos

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importantes que se constituem como mecanismos de reflexão e transformação da realidade social da qual os estudantes, suas famílias e os servidores fazem parte.

O PPP (Projeto político-pedagógico) da Unidade Escolar, além de se amparar em ações ligadas às práticas de sustentabilidade, educação financeira, noções de direito e cooperativismo, desenvolve projetos importantes que orientam a prática docente durante todo o ano letivo, são eles:

• Semana dos povos indígenas: projeto que propõe o estudo da história e cultura dos povos originários do Brasil; o diálogo no espaço escolar entre indígenas e não indígenas a partir de ações que destacam a perspectiva do povos nativos da região possibilitando a representantes xerentes exporem sua arte e cultura, bem como abordar a história de sofrimento e de lutas enfrentados por seu povo ao longo da história do País e do Tocantins. • Ler é um prazer, sim: projeto de leitura que se estabelece em torno de três princípios básicos: 1. o incentivo à leitura de obras clássicas da literatura brasileira e da literatura regional; 2. a aproximação entre leitores e autores da Literatura Tocantinense; 3. o incentivo à formação de novos escritores e à publicação de textos produzidos pelos membros da comunidade escolar.

• Cinema na escola - O cinema e as faces da leitura: contemplado em 2017 pelo Prêmio Itaú-Unicef, o projeto estimula o uso das mídias no espaço escolar a partir da produção de curtas-metragens relacionados a temáticas regionais, sociais, ambientais e literárias, entre outras.

• Conhecendo o Tocantins: o projeto busca ampliar os conhecimentos sobre aspectos culturais, econômicos, geográficos e histórico-sociais do Tocantins valorizando a pluralidade cultural do Estado e discutindo problemáticas enfrentadas pelas mais distintas comunidades tocantinenses.

• Semana de Consciência Negra: o projeto debate o preconceito racial promovendo a cultura do respeito mútuo e o reconhecimento e valorização do legado afro-brasileiro que se faz presente, também, na comunidade de Miranorte e região.

O CEM Rui Brasil Cavalcante assume-se como um espaço de construção de saberes que, para produzir os efeitos necessários nas camadas populares, precisa considerar as vivências dos coletivos pobres promovendo a cidadania e o enfrentamento à violação de direitos. Sob essa ótica, desenvolve ao longo do ano letivo projetos que estimulam, junto à comunidade escolar, o debate sobre a necessidade de rever ou de incorporar determinados comportamentos sociais cujo propósito seja efetivar o reconhecimento e a garantia das prerrogativas básicas previstas na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Considerações Finais

A busca por igualdade social nos leva a uma dimensão pedagógica voltada à educação em direitos humanos centralizando-se no sujeito dentro das escolas e das comunidades. A pobreza é a manifestação mais contundente da violação das prerrogativas asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e ignorar as vivências dos coletivos empobrecidos no processo de educação formal impede que os sujeitos que vivem em situações de vulnerabilidade social se reconheçam como cidadãos de direitos e se libertem das amarras das desigualdades sociais.

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110 O processo educativo é passagem da desigualdade à igualdade. Portanto, só

é possível considerar o processo educativo em seu conjunto como democrático sob a condição de se distinguir a democracia como possibilidade no ponto de partida e a democracia como realidade no ponto de chegada. Consequentemente, aqui também vale o aforismo: democracia é uma conquista; não um dado. Este ponto, porém, é de fundamental importância.

Contrapondo-se cotidianamente às dificuldades e limitações dos mais distintos aspectos, o CEM Rui Brasil Cavalcante promove há mais de quinze anos um trabalho voltado à educação em direitos humanos colocando o sujeito no centro do processo educativo e reconhecendo-o como um ser histórico e social cujas vivências em torno da pobreza e das desigualdades são elementos capazes de comprometer as bases materiais do viver humano.

A U.E. não tem a ingênua pretensão de resolver os problemas enfrentados por seu público-alvo, tampouco, ignora os percalços que precisa superar para efetivamente promover a educação de qualidade a que todos têm direito, mas, à medida que desenvolve projetos planejados e executados a partir de demandas e experiências de segregação e desrespeito que perduram na comunidade miranortense, o CEM Rui Brasil Cavalcante manifesta-se como movimento de resistência à dura realidade social a que seus membros têm sido historicamente submetidos e empreende esforços cada vez mais vigorosos em prol da emancipação dos sujeitos e combate à violação dos direitos humanos.

A educação é um processo essencial na vida do cidadão, e as práticas pedagógicas direcionadas ao exercício pleno da cidadania, à medida que promovem a importância de uma atuação vigilante e constante em favor da efetivação dos direitos humanos, não se limitam aos muros da escola, ao contrário, integram todos os espaços e percorrem toda a vida refletindo nos comportamentos incorporados pelos indivíduos e modificando-os para a qualidade de cidadãos autônomos e sujeitos de transformação social.

Referências

ARROYO, M. G. Políticas educacionais e desigualdades: à procura de novos significados.

Educação & Sociedade, Campinas, v. 31, n. 113, p. 1381-1416, out./dez. 2010.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v31n113/17>. Acesso em: 22 out. 2018. Declaração Universal dos Direitos Humanos. UNIC / Rio / 005. Rio de Janeiro, 2009. V.005. Disponível em: http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf. Acesso em 30 de outubro de 2018.

IMBERNÓN, Francisco (org). A educação no século XXI: Os desafios do futuro imediato. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 32ª ed. Campinas – SP: autores associados, 1999.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura / Isabel Solé; trad. Cláudia Schilling – 6. Ed. – Porto Alegre : Artmed, 1998.

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POBREZA E DESIGUALDADE SOCIAL COMO REFLEXO DE PROBLEMAS

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