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A Dimensão Espacial: área de estudo e aspectos da paisagem

A Baía de Todos-os-Santos (BTS) é um acidente geográfico com superfície de 1.233 km2 que inclui 56 ilhas, estuários de rios, manguezais, restingas, matas, além de duas baías menores: Aratu e Iguape (CAROSO et al., 2012). No entorno da BTS distribuem-se os municípios que compõem o Recôncavo Baiano (BOMFIM, 2006), região com grande importância histórica e econômica ao longo da história do Brasil, pioneira no ciclo da cana-de-açúcar, da indústria fumageira e do petróleo no país (PEDRÃO, 2007).

O estuário do rio Paraguaçu, localizado na margem oeste da BTS, é composto por três setores: baixo curso do rio, Baía do Iguape e canal do Paraguaçu (REIS-FILHO et.al., 2010). Este último serve de ligação entre as Baías de Iguape e de Todos-os-Santos. Neste local se encontram manguezais bem preservados e áreas de remanescentes de Mata Atlântica.

Com a finalidade de conservar os ecossistemas locais e o modo de vida das populações que vivem basicamente do extrativismo, foi criada em agosto de 2000 a Reserva Extrativista Marinha Baía do Iguape. A Resex atualmente abrange os municípios de Cachoeira, São Félix e Maragogipe e a comunidade quilombola Salamina Putumuju é uma das beneficiárias da unidade (figura 6).

Localizada entre a Baía do Iguape e o Canal do Paraguaçu, na margem direita do rio (em direção à sua foz), essa comunidade se encontra relativamente isolada, principalmente por não possuir via de acesso terrestre ligando-a às localidades vizinhas. Desta maneira, o deslocamento da população local até a

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sede do município ocorre por meio de embarcações, principalmente canoas de madeira (predominantemente a remo e/ou vela) ou de fibra movida a motor. Além disso, as embarcações disponíveis para o transporte de pessoas até as demais localidades são escassas.

O local onde se situa a comunidade é caracterizado por vegetação de substituição de Mata Atlântica com duas regiões fitoecológicas distintas (Floresta Ombrófila Densa e Áreas de Formações Pioneiras), clima úmido a semiúmido, temperatura média anual de 25,4°C e período chuvoso de abril a junho (INCRA, 2006). É possível comprovar a sobreposição dos remanescentes de Mata Atlântica na área da comunidade através dos dados da Fundação SOS Mata Atlântica do ano de 2010 (figura 7). A manutenção desse ecossistema em bom estado de conservação se deve ao uso e manejo de práticas agrosilvícolas praticadas pela comunidade (INCRA, 2006). Ainda de acordo com o INCRA (2006), a presença de árvores frutíferas como mangueiras, cajueiros e coqueiro e jaqueiras são indícios comprobatórios da ancianidade da ocupação do local pelos quilombolas.

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Figura 6 – Localização da Resex Baía do Iguape e Comunidade da Salamina Putumuju10

10 O mapa representa a Resex Baía do Iguape com as limitações originais, antes das alterações sofridas em 2009. Material gentilmente elaborado por Simony Reis.

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Figura 7 - Mapa de remanescentes florestais destacando a área de estudo – comunidade da Salamina Putumuju (Baseado em mapa elabora do pela Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2009)11

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O nativo multi-estrategista

"Às vez o cara diz assim: 'não pode ser pescador e lavrador'. Mas pode! Pode sim! "

Oito pequenos vilarejos denominados localmente de bairros formam a comunidade da Salamina. São eles: Tororó, Ferreiro, Dunda, Olaria, Cais do Engenho, Rio do Navio, Putumuju e Forte da Salamina (figura 8).

Poucas casas podem ser vistas na Salamina a partir do rio Paraguaçu, a quase totalidade delas se encontra escondida pela densa mata e manguezais que cobrem grande parte do território. Algumas estruturas de valor histórico, entretanto, podem ser visualizadas do leito do rio. Próximo à Ilha dos Coelhos estão localizadas as ruínas do Engenho Novo, que foi sede da fazenda no período colonial e atualmente possui uma casa ocupada por uma família de extrativistas. Um pouco mais no sul do Canal do Paraguaçu, precisamente na Ponta da Salamina está edificado o Forte da Salamina, ou forte colonial de Santa Cruz que de acordo com Etchevarne e Fernandes (2012) é a única estrutura defensiva encontrada na região.

O acesso às comunidades é possível apenas por meio de embarcações, por isso, cada bairro possui um porto para ancorar as canoas, todos sem nenhuma infraestrutura e a maioria com condições inadequadas para embarque e desembarque. Em Locais como Tororó e Olaria, as pessoas precisam passar pela lama do manguezal para chegar e sair das canoas, o que dificulta o transporte de alguns itens como materiais de construção. Nas localidades margeadas por pequenas porções de areia como Dunda, Ferreiro e Forte da Salamina o fundo arenoso torna o embarque e desembarque um pouco mais fácil (figura 9).

Atualmente a população da Salamina se encontra distribuída em áreas próximas à margem do rio, denominadas localmente de marés, o que facilita o deslocamento para a cidade e o acesso à pesca. As residências se encontram

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afastadas umas das outras em todas as localidades com exceção do bairro Forte da Salamina. De forma geral, trilhas na mata e no manguezal separam as casas e não existem ruas. A ocupação do espaço é predominantemente dada de acordo com os laços de parentesco (INCRA, 2006).

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Figura 9 – Portos de vilarejos da comunidade da Salamina (A- Porto do Tororó; B- Porto do Ferreiro; C- Porto do Dunda; D – Porto da Olaria; E – Porto do Engenho Novo; F – Porto do Forte

da Salamina)

A B

C D

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Embora esteja sob a influência de uma Usina Hidrelétrica há quase dez anos, a comunidade da Salamina só passou a ter energia elétrica em 20 de junho de 2013, cabendo à população extrativista local durante muito tempo apenas arcar com o ônus do impacto produzido pela operação do empreendimento. Essa realidade não se aplica às fazenda Mutuca e Jaqueira, que com recursos financeiros suficientes e alheias ao descaso do poder público com a comunidade local, há muito tempo possuem eletrificação. As residências não possuem água encanada, saneamento básico e a maior parte também não possui banheiro.

A água, entretanto, é abundante no território e a população local tem acesso a este recurso através de fontes e riachos de água doce (figura 10). A água obtida nesses locais é utilizada para os diversos fins: consumo familiar, limpeza, lavagem de roupas e higiene. Alguns locais conhecidos localmente como bicas estão situados bastante próximos à margem do Paraguaçu e são utilizados pelos pescadores para obter água potável nos intervalos da pescaria (figura 11).

Figura 10 – Obtenção e transporte de água em riacho na comunidade do Tororó

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As fontes recebem os nomes das pessoas que moram próximo a elas (exemplos: fonte de Bié, fonte de Ademário). Apesar dos topônimos serem sugestivos de posse, neste caso, as fontes são de uso comum, embora sejam mais utilizadas por aqueles que moram próximos a ela. Esta mesma situação se estende a alguns portos (exemplo: porto de Vidal, porto de Egídio), que apesar dos topônimos também não se constituem em “pedaços possuídos” (Marques, 2001). Desta maneira, o espaço em geral é concebido localmente como uma propriedade coletiva, com exceção das residências, quintais e roças que são compreendidos como locais pertencentes a cada família. O território comum e indivisível é uma característica comum entre quilombolas, dessa maneira, o espaço é ocupado e explotado obedecendo a regras consensuais do grupo (ANDRADE, 2011).

Figura 11 – Pescador obtendo água em bica para consumo durante pescaria

A tarefa de buscar água na fonte envolve toda a família, incluído as crianças, que também se inserem de outras maneiras no cotidiano do extrativismo,

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principalmente num contexto lúdico. Há que se destacar, entretanto, o potencial pedagógico implícito nessas brincadeiras, que acabam por inserir naturalmente a criança no universo do extrativismo (figura 12). As brincadeiras infantis refletem a dinâmica local: ao invés de carros, as crianças utilizam as brácteas penducunlares das palmeiras como se fossem canoas, constroem armadilhas para capturar guaiamuns e brincam nos riachos.

Assim, tal como foi tratado por Marques (2001), a infância na Salamina propicia inúmeras vivências ecossistêmicas e, em muitos casos, as brincadeiras contribuem para a complementação da alimentação familiar, ainda que isso não se constitua em uma obrigação infantil e também não seja considerado como trabalho. Os adolescentes, por sua vez, frequentemente são recrutados a trabalharem na pesca como ajudantes e é desta forma que eles acabam se inserindo profissionalmente no universo extrativista, inclusive levando o rendimento do trabalho para suas famílias.

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A solidariedade e ajuda mútua são características presentes nas relações entre os extrativistas. Assim sendo, transporte de materiais, construções de residências e outras atividades que demandam maior esforço são realizadas por um grupo em regime de mutirão que atribui a estas tarefas o nome de digitório.

Muitas residências da Salamina são feitas de taipa, construídas com material autóctone como madeiras e barro. Um número cada vez maior de extrativistas está edificando novas casas utilizando tijolos e aproveita as antigas para guardar redes, defumar pescado e produzir azeite de dendê. As casas de taipa estão sendo substituídas tanto devido à precariedade das construções que possuem baixa durabilidade, quanto por causa do risco de infestação por barbeiros. Na comunidade do Tororó duas pessoas moradoras de casas de taipa afirmam ter adquirido doença de Chagas.

"Olha, aqui tem muitos problema que poderia ser resolvido, só que as autoridade, as pessoas responsáveis fica só enrolando pra lá e pra cá e nada se resolve. Aqui tem muito barbeiro, barbeiro é o transmissor da doença de Chagas. Então aqui não era mais pra existir casa de taipa. Aqui era pra todo mundo ter sua casa de bloco, tudo direitinha, bonitinha.”

“As nossas casas a maioria 50% é picada de barbeiro. Eu mesmo sou porque das casa de taipa."

Outras dificuldades vividas pela comunidade dizem respeito à precariedade no acesso à saúde. Extrativistas afirmam que a falta de um posto de saúde na comunidade prejudica muito a qualidade de vida da população principalmente em situações de emergência, uma vez que o atendimento médico mais próximo só pode ser alcançado na cidade de Maragogipe. Não obstante, os entrevistados afirmam que atualmente a situação está um pouco melhor devido à presença ocasional de profissionais de saúde que realizam vacinação em crianças e proporcionam às mulheres a realização de exames preventivos.

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“...Outra coisa, a saúde aqui é muito precária. Mas em vista de antigamente aqui tá ótimo agora”.

As principais atividades econômicas exercidas na Salamina atualmente estão relacionadas ao extrativismo. A pesca de camarão e a coleta de piaçava (ou piaçaba conforme a terminologia nativa) são as principais fontes de renda da população local. Somam-se a estas, outras atividades realizadas também para subsistência: os plantios de roças com cultura de ciclo longo e/ou curto, e em escala menor, o extrativismo de dendê, a apicultura e a criação de pequenos animais como galinhas. A totalidade dos entrevistados pratica mais de uma atividade como fonte de renda e/ou subsistência.

"Rapaz, eu não desprezo a pescaria e nem o extrativismo da piaçaba porque aqui você não consegue ficar comprano carne, carne, carne e tal com esses preço de coisa. Então nós aqui á beira mar nós trabalha nos dois. E aí se eu for dizer qual a preferência, eu não consigo passar sem o extrativismo nem sem a maré. Tem que ser os dois, porque se um faltar me faz muita falta como eu já tô chorando aí a falta dos marisco. Faz muita falta..."

O trabalho relacionado tanto à pesca quanto ao extrativismo vegetal na comunidade da Salamina Putumuju acontece em nível familiar. Uma vez que a sobrevivência da população local está associada a diferentes formas de extrativismo e produção agrícola com intenção de complementaridade, considera- se que a comunidade de uma forma geral utiliza o que Toledo (2001, 2008) denominou de estratégia de múltiplos usos dos recursos naturais (MUS - indigenous multiple-use strategy).

De acordo com Toledo et al (2003), os camponeses adotam o uso múltiplo como uma reação endógena à intensificação do uso dos recursos naturais em resposta a mudanças tecnológicas, demográficas, culturais e econômicas às quais estão submetidas no mundo contemporâneo.

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Assim como encontrado por Toledo et al (2008) entre os Mayas Yucatecos, a combinação de diferentes atividades produtivas na Salamina permite manter uma economia dual baseada na produção para a subsistência com porções excedentes destinadas ao mercado local. Tal estratégia provavelmente responde, portanto, a uma racionalidade tanto ecológica quanto econômica (TOLEDO et al, op. cit.).

"Planto, faço tudo aí. Tenho tudo graças á Deus. Tomate, pimentão, cebola, pimenta, graças á Deus. Ultimamente eu tô vendendo. Pimenta mesmo eu vendo lá no mercado em Maragogipe, tomate eu já vendi muito... Abóbora mesmo eu já vendi tudo."

"Sim, eu tiro piaçaba, planto alguma coisa, aipim, plantei melancia esse ano. É pra vender, pra comer..."

Os camponeses12 multi-estrategistas maximizam a diversidade e número de opções disponíveis para garantir a subsistência e minimizar os riscos e para tanto, fazem uso múltiplo do espaço, tempo e das populações de plantas, animais e fungos (TOLEDO et al, 2003). A totalidade dos entrevistados desenvolve no mínimo duas das três principais atividades locais. A temporalidade é o primeiro aspecto a ser observado na escolha da atividade. Assim, são respeitadas as épocas de realização de cada uma delas (figura 13).

O segundo aspecto a ser observado na gestão do tempo investido no desempenho de cada atividade considera o rendimento que a referida ocupação proporciona em um dado momento. Sendo assim, a atividade que não está oferecendo retorno satisfatório na ocasião é momentaneamente substituída por outra.

"Eu saio pra pescar hoje e não panho nada, vamo dizer, camarão, eu panhei mei quilo. Aí eu digo: é, não

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A palavra camponeses é empregada aqui como tradução da palavra peasant, utilizada originalmente por Toledo (2001) e Toledo et al (2003) para designar as comunidades tratadas nesses estudos.

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panhei nada, a pesca deu fraca, mei quilo de camarão eu já parto pra outra coisa."

"Aqui quando não tá dando de um lado, a gente parte pra outra. Se você vai pra camarãozeirra hoje e tomar pau, amanhã eu já vou pra rede de fundo, se tomar pau de novo no outro dia já bota outra arte."

Figura 13 – Ciclo anual de recursos naturais e atividades produtivas segundo informações êmicas na comunidade da Salamina

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Cada uma das atividades produtivas é desempenhada em uma unidade de recurso distinta. Localmente identifica-se quatro: mata, quintal e/ou roça, mangue e maré (figura 14). A mata se distingue das demais unidades de uso principalmente pelo porte da vegetação arbórea e pelas espécies vegetais típicas. A roça corresponde localmente às áreas cultivadas que geralmente, porém não necessariamente, estão adjacentes às residências. O quintal por sua vez é compreendido como espaço próximo às casas onde são manejadas plantas frutíferas e onde, muitas vezes, estão contidas as roças. As roças/quintais quando compreendidas como uma unidade, assim como a mata, são discretas, de modo que é possível ver o limite entre estas e as demais unidades. Ao contrário disso, o mangue e a maré são contínuos. No entendimento dos nativos, o mangue também é maré, embora haja distinção entre as atividades a serem desempenhadas em cada unidade.

Figura 134 – Unidades de uso de recursos

A produção agrícola na Salamina é caracterizada pelo policultivo em pequena escala. Embora haja cultivo predominante do aipim13, não existem

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manchas de monocultivo na área do quilombo. As roças são plantadas em áreas próximas às residências, confundindo-se com o quintal onde muitas espécies vegetais, sobretudo árvores frutíferas, já se encontram cultivadas. Esse sistema de cultivo se assemelha ao home garden definidos por Toledo et al (2003) como sistema agroflorestal localizado próximos às casas.

As roças atuam como um fator capaz de diminuir a dependência da população local do mercado mais abrangente. Assim, algumas famílias plantam itens empregados diariamente na alimentação, como tomate, cebola e pimentas. As frutas que também possuem grande importância na dieta dos nativos também são cultivadas. Assim como as roças, o mangue e a maré são unidades de paisagem que possuem um manejo multi-específico (como citado por Toledo et al, op. cit.). No ambiente de mata por sua vez, o manejo é predominantemente dos recursos piaçava e dendê, embora outros vegetais (espécies frutíferas e outras utilizadas na fabricação de utensílios) sejam também utilizados.

Ainda de acordo com esses autores, o grande número de espécies utilizadas pelos nativos com diferentes finalidades confirma a manutenção da biodiversidade no sistema de uso múltiplo. Quando comparados com áreas de uso específico (agricultura de monocultivo, por exemplo), os usos múltiplos representam uma menor produção por unidade de paisagem, mas uma maior produção por paisagem agregada (TOLEDO et al, 2003). Analogamente, tomando como referência pequenas comunidades de agricultores na Índia, Shiva (2000) concluiu que estratégias que agregam biodiversidade são mais produtivas do que os monocultivos em escala industrial e ainda que são essas pequenas produções as responsáveis por alimentar a maior parte das pessoas no mundo.

No que se refere à pesca é necessário distinguir logo a princípio, duas modalidades de atividades pesqueiras realizadas localmente: a mariscagem, que envolve a captura de bivalves como ostras e sururu e captura de caranguejos e aratus e pesca propriamente dita que especificamente no caso da Salamina, compreende a captura de peixes e camarão utilizando instrumentos como rede e

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anzol (linha). Essa distinção é similar àquela abordada por Souto (2004) em trabalho desenvolvido em outra localidade do Recôncavo Baiano.

A mariscagem, de uma forma geral, é realizada com aparatos bastante simples, como facão, colher de pedreiro e faca de cozinha. No que se refere à pesca, no sentido estrito, é necessário o uso de apetrechos como rede, linha, anzol e embarcações, o que limita o exercício da atividade àqueles que têm acesso a este aparato. A parte das pessoas que não dispõe desses instrumentos tem o exercício da atividade condicionado ao convite. Nesta situação, um pescador proprietário da canoa e da rede, convida outra pessoa (geralmente considerando as relações de parentesco) para ajudá-lo na atividade. Em geral, as pescarias são realizadas em dupla e a produção é dividida igualmente. Aqueles que possuem artefatos e embarcações pescam com maior frequência do que aqueles que dependem do convite. Outras atividades pesqueiras que não dependem do uso de embarcações, a exemplo da mariscagem, são realizadas pela totalidade dos entrevistados e visam predominantemente a subsistência.

Apesar dos extrativistas contatados assegurarem que a piaçava é o principal recurso utilizado pela população das Salamina, a maior parte identifica a pesca como a atividade economicamente mais importante para a própria família, em razão desta ocupação fornecer melhor retorno financeiro. Por este motivo, é exercida prioritariamente pelos extrativistas, caso hajam condições de maré apropriada e eficiência na pesca.

“A pesca é melhor, ganha mais dinheiro. Eu acho assim. Quer dizer, eu acho não, todo mundo aqui acha assim. Quando não tá dando pesca é que parte pra outra coisa”.

"Pra minha família mais importante é a pesca e roça. Que eu tiro mais dinheiro é a pesca quando tá no período porque pescou de manhã, dinheiro de tarde. Quando faz a mão de camarão (defumado) vai levar uma semana pra vender. Eu numa semana fiz três mão, dentro de oito dia. A pesca fechada (defeso) já parte pra outra coisa, pescar de rede, piaçaba também. Vou no mato. a qualquer momento aí

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eu vou no mato pra pegar um trocozinho aí que eu tomei emprestado. A piaçaba arranja um pão. É bom também."

A pesca de camarão é a atividade pesqueira mais difundida e mais importante da Salamina. Este recurso é capturado principalmente para venda, ainda que eventualmente seja consumido pelas famílias: “Aqui tem vários tipo de pesca, mas a maioria aqui desfruta mais do camarão”. Ainda que o camarão seja capturado para comercialização e eventualmente para consumo, a pesca é uma atividade que fornece retorno alimentar imediato para a família. Isso se deve à fauna acompanhante capturada durante a pescaria que é utilizada principalmente para a subsistência. Esse é um dos motivos que faz da pesca, a atividade preferencialmente exercida pelos multi-estrategistas: enquanto a coleta de piaçava oferece apenas retorno financeiro, a pesca promove um pronto retorno proteico e faz do pescador um forrageador literal.

"Eu acho que a pesca é um lugar que você sabe que vai e vai trazer algo pra comer. Piaçaba é diferente. A piaçaba você vai arrancar, você ali vai preparar ela, vai aprontar, enquanto isso a barriga tá ali esperando. Vai esperar o comprador, o atravessador vim pra comprar na sua mão, às vez vai vim sem o dinheiro, vai pagar com oito dia... E a pesca não, a pesca a diferente, você vai ali, ranca dois quilo de camarão ali, panha, você vai ali na feira, vende no

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