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A comunidade Nossa Senhora do Livramento, conhecida na RDS como Livramento, está localizada na margem esquerda do Rio Uatumã, pertencente ao município de São Sebastião do Uatumã. Situada em área de Terra Firme, a comunidade possui 19 famílias. As casas são, em sua maioria, de madeira; algumas apresentam composição mista de alvenaria e madeira, e apenas uma é de alvenaria. A seguir está apresentada a Figura 35, representativa da comunidade:

Figura 35 – Sede da Comunidade Nossa Senhora do Livramento

Fonte: IDESAM (2012).

A sede da comunidade conta com uma escola, um posto de saúde, uma igreja evangélica e a sede da Associação-mãe. A escola possui ensino médio e ensino fundamental, com dois professores, uma merendeira e um barqueiro mantidos pela Prefeitura de São Sebastião do Uatumã. Muito embora conte com escola de ensino fundamental e médio, é a comunidade com maior índice de analfabetismo da RDSU (AMAZONAS, 2018).

Em relação à saúde, a comunidade possui agente e posto de saúde, funcionando em condições um pouco melhores que em Caribi. Da mesma forma que as outras comunidades da RDS, os moradores, quando em casos mais graves, recorrem a postos de saúde nas cidades de Itapiranga e Manaus.

Embora seja uma comunidade que leva o nome de uma santa católica, a maioria de seus moradores são evangélicos e existe apenas uma igreja evangélica na localidade.

A sede da Associação-mãe está localizada nessa comunidade. E em março de 2019, durante a realização de uma das etapas do campo desta pesquisa, a sede passou por uma reforma realizada por meio de um mutirão comunitário.

A comunidade do Livramento, junto com Maracarana, foi uma das primeiras a implantar o Projeto de Proteção e Monitoramento de Quelônios, idealizado pela Eletrobras Amazonas Energia, que contou com o apoio do Programa de Monitoramento da Biodiversidade e Recursos Naturais (PROBUC) do ICMBio101. A comunidade possui uma área de tabuleiro que os quelônios utilizam para desovar. Após 40 a 60 dias os ovos eclodem e são remanejados para um berçário durante um período de 4 a 5 meses, para que, em seguida, sejam soltos no rio Uatumã. A festa da soltura costuma acontecer entre os meses de fevereiro e março. Em 2019 a RDSU realizou a soltura de 11 mil quelônios. Atualmente, o projeto cresceu e foi ampliado para outras comunidades, incluindo São Francisco Caribi, mas ainda de maneira incipiente quando comparada às comunidades Maracarana e Livramento.

As principais culturas agrícolas são o açaí, cará, cupuaçu, jambu e mandioca, sendo grande parte da produção da mandioca destinada à comercialização. A captação de água é por poço artesiano, mas algumas famílias ainda utilizam água do rio.

A comunidade não possui associação formalizada. No entanto, possui uma organização comunitária semelhante às demais, composta por presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretaria. As reuniões são combinadas entre os próprios moradores e avisadas de casa em casa pelas lideranças. As reuniões são registradas em atas e todos os assuntos são decididos por meio de votação.

A renda média mensal familiar é R$ 1.109,00 (um mil cento e nove reais), e está entre as cinco mais altas da RDSU (AMAZONAS, 2018). Cabe destacar que a comunidade possui a pousada comunitária que nos últimos anos mais recebeu turistas no Polo 2, o que pode alterar a renda média se formos analisar a situação de cada família, tendo em vista que a renda de uma única família altera significativamente a média da Comunidade.

Nossa Senhora do Livramento é considerada a comunidade com maior expressividade no turismo dentro da RDS. A Pousada Mirante do Uatumã é considerada por boa parte dos comunitários como a de maior sucesso do Polo 2, “[...] lá é a pousada mais bonita do Uatumã. E sempre tá lotada. Os turistas gostam mais de lá eu acho, porque é bonito, é moderno” (conversa informal com morador de Ebenezer realizada em março de 2019).

101 O PROBUC é um programa de monitoramento, que busca compreender o status da biodiversidade e uso de recursos das comunidades das UCs nas quais é implantado, para planejar medidas mitigadoras e preventivas que subsidiem as ações previstas no Plano de Gestão, visando assegurar a conservação e integridade das UCs (IDESAM, s/d).

A Pousada Mirante do Uatumã, única da comunidade, pertence a um casal formado pela presidente da Associação-mãe e pelo representante do Polo 2. Em relação à infraestrutura, destaca-se por possuir tv a cabo, internet e telefone rural.

Além do turismo de pesca, a pousada tem investido para desenvolver atividades de ecoturismo e turismo de base comunitária, segundo o proprietário. Nas redes sociais da pousada, são vendidas atividades de ecoturismo e pesca esportiva, que inclusive constam no slogan da pousada (Figura 36). Quando perguntado sobre o ecoturismo, o proprietário respondeu sobre a intenção de implantar atividades de TBC e Ecoturismo, entendendo estas formas de turismo como sinônimos.

Figura 36 – Slogan da pousada Mirante do Uatumã

Fonte: Página virtual da pousada Mirante do Uatumã no Facebook (2019).

Ainda segundo o proprietário da pousada, sua intenção ao chegar no Uatumã era trabalhar com a pecuária. Entretanto, acabou abraçando a ideia de criação da RDS, que surgiu posteriormente à sua chegada, e pensou no turismo como possibilidade de geração de renda. “Encontrei pessoas que já tavam trabalhando na implantação da Reserva. Aí me convenceram

de mudar de pecuarista para conservacionista” (proprietário da pousada Mirante do Uatumã, trecho da reportagem realizada em 2016 pelo AMAZONSAT102).

O proprietário destaca a parceria que realizou com o IDESAM e salienta que a instituição auxiliou na implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) na área de sua residência. A partir da renda obtida com os SAFs surgiu a oportunidade de construir a pousada. Segundo os proprietários, foram investidos cerca de 150 mil reais, dos quais parte é oriunda de vendas das mudas do SAF e parte de empréstimos.

A pousada surgiu em 2014 e atualmente possui capacidade para 20 pessoas. Os insumos utilizados na pousada são comprados nas cidades próximas. Segundo o proprietário, embora exista um interesse em comprar os produtos da comunidade, o preço exigido pelos comunitários é alto e chega a ultrapassar o preço dos mercados das cidades. Notou-se durante as entrevistas com os comunitários não envolvidos com o turismo, uma tensão entre estes e os proprietários de pousada, já que os comunitários se sentem excluídos dos benefícios gerados pelo turismo na comunidade.

Os turistas que vêm aqui são de barco-hotéis, sempre deixam alguma coisa pra comunidade. Os turistas que ficam na pousada, nunca deram as caras [...] só quem consegue trabalhar na temporada é que se beneficia [...] e tem também os 10% que os piloteiros têm que passar pra comunidade [...] piloteiro e cozinheira, quem for trabalhar na temporada. A regra tem que ser cumprida (PC3, entrevista realizada em março de 2019).

A pousada conta com um quadro de cerca de 20 funcionários moradores da Reserva, divididos entre piloteiros e cozinheiras. A pousada realiza, além da pesca esportiva, trilhas terrestres e aquáticas e, segundo o proprietário, possui pacotes de turismo de base comunitária e turismo científico. No Turismo de Base Comunitária, segundo o proprietário, são realizadas trilhas terrestres e aquáticas, além de campings na floresta. Já no Turismo Científico são ofertadas atividades para conhecimento das espécies de flora e fauna amazônicas.“A ideia de diversificar o turismo é conseguir a autossustentabilidade financeira e ambiental. Fazer pousada hoje é fácil, mas com responsabilidade ambiental é difícil” (proprietário da Pousada Mirante do Uatumã, trecho da reportagem realizada pelo Amazonsat em 2016).

A partir da apresentação dos atores, comunidades e conflitos expostos nesta seção, a seguir serão analisados os arranjos institucionais para a gestão do Turismo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã.

5.3 ARRANJOS INSTITUCIONAIS NA RDS DO UATUMÃ: UMA POSSIBILIDADE DE COGESTÃO PARA O TURISMO?

Esta seção dedica-se a analisar os grupos de atores sociais que compõem o arranjo institucional para a gestão do turismo na RDSU. Segundo elucidado na seção metodológica do estudo, os atores selecionados são aqueles que atuam diretamente na RDS, participam do Conselho Gestor, e influenciam na dinâmica do turismo.

Cabe aqui resgatar três objetivos desta pesquisa que buscam ser respondidos nessa seção, levando-se em consideração também as descrições e análises de entrevistas, conversas informais e observações do campo realizadas anteriormente: a) Identificar e caracterizar o atual modelo de arranjo institucional das comunidades e suas principais arenas de ação; b) Analisar a dinâmica do Conselho Gestor enquanto arena de ação para a gestão compartilhada do turismo; e c) Refletir sobre a dinâmica de turismo e se este leva em consideração os princípios preconizados pelo “modelo robusto de arranjo institucional” proposto por Ostrom.

Inicialmente, faz-se uma descrição da dinâmica do Conselho Gestor e da atual formação deste, partindo do entendimento de que o Conselho se configura como principal Arena de Ação para a gestão do turismo na RDSU. Em paralelo a isso, descreve-se as normas e regras do Turismo acordadas oficialmente em reuniões do Conselho, e também aquelas combinadas entre os próprios membros das comunidades.

Posteriormente, é apresentada a análise do Conselho Gestor enquanto Arena de Ação para a gestão do turismo na RDS, tendo como parâmetro os oito princípios de robustez institucional propostos por Ostrom (1990/ 2002). Por fim, é realizada uma análise de convergência entre o modelo de arranjo institucional robusto, proposto por Ostrom, e o horizonte de turismo condizente com os pressupostos teóricos da robustez institucional.

A análise presente em todas as seções deste capítulo foi realizada levando em consideração os dados levantados na reunião do Conselho Gestor, nos estudos de campo realizados nas três comunidades lócus do estudo, e na análise documental e bibliográfica que compuseram a etapa metodológica deste trabalho.

5.3.1 Atores do turismo na RDSU e suas interações na dinâmica do arranjo institucional

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