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Considerando que a teia de relações formada na vida em comunidade tem influência nas condutas de cada um de seus moradores, a busca por compreender os valores vigentes, suas origens, suas manifestações e consequências foram importantes para a adequação constante das intervenções na formação da personalidade moral dos alunos. Puig (1998b) detalha como se manifestam tais relações:

[...] a conduta e os hábitos comportamentais conformam-se também mediante a influência das pautas da comunidade em que se encontra inserido cada indivíduo. As tradições culturais e os próprios valores de uma sociedade real modela, lenta e imperceptivelmente, a conduta e o caráter de seus membros. (PUIG, 1998b, p.124)

Desta forma, Puig (2003, 2012) nos alerta que, ao se buscar atuar intencionalmente na cultura moral de um grupo, é necessário que se considere cada integrante imerso em seu próprio ambiente. O olhar etnográfico que norteia todo o estudo, influenciando a análise de todas as categorias elencadas, está mais efetivo na apresentação e discussão da comunidade em que se realizou a pesquisa, procurando compreender os valores que permeiam as relações encontradas.

Estranhar o familiar, como indica DaMatta (1978), desconfiando que aquilo que parecia comum não necessariamente tivesse um sentido óbvio e tornar familiar o que era estranho exigiu atenção e energia. E, de fato, para o pesquisador, tendo vivido em metrópoles como São Paulo e Campinas, que se viu então em um município de 40 mil habitantes da Bahia, convivendo em uma comunidade rural com costumes e cultura tão diferentes, tornar familiar o estranho foi uma tarefa diária durante sua imersão.

Mesmo com este esforço, admite-se desde já que a interpretação, especialmente nesta categoria, sofre a influência subjetiva do próprio pesquisador, o que é justificado e considerado quando se adota a perspectiva etnográfica, como afirma Daolio (1992, p.27):

Toda e qualquer observação que o pesquisador possa fazer ao analisar um grupo específico será mediada pelo seu referencial cultural, expresso na sua subjetividade. O que lhe agradará, o que lhe causará aversão, o que lhe parecerá justo, o que lhe parecerá desumano, enfim, o que se destacará para ele será em função de sua condição de sujeito, participante de uma cultura e será intermediado pela sua subjetividade.

Vierimaa (2016), em estudo que buscava compreender a cultura organizacional esportiva de uma comunidade, afirma que a utilização da abordagem etnográfica foi essencial

para captar aspectos ocultos em uma relação, como valores e crenças e suas possíveis internalizações coletivas que, por sua vez, influenciam na dinâmica social do grupo.

Para discutir a categoria, algumas situações ou acontecimentos descritos servem para refletir sobre os valores vigentes percebidos, objetivando a melhor compreensão da comunidade em geral. Algumas destas situações foram seguidas de intervenções e que também foram descritas, ilustrando que, para além do entendimento das relações, entendeu-se necessário intervir.

Desta forma, a categoria Comunidade e seus valores expressa o esforço por refletir, discutir, analisar e buscar compreender a cultura local que foi essencial para nortear as ações de intervenção na formação da personalidade moral dentro do ambiente de ensino esportivo durante o projeto.

1.1- A cidade de Amargosa e a comunidade dos Barreiros

A comunidade na qual se realizou a pesquisa está localizada na zona rural do município de Amargosa, região do Vale do Jiquiriçá, aproximadamente 250 km de Salvador, a capital baiana. Neste município está sediado o Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde são oferecidos cursos de licenciatura, incluindo a Educação Física.

A história da cidade de Amargosa segue o mesmo roteiro de outras tantas no processo de ocupação territorial do país. Os ricos fazendeiros gradativamente foram ocupando as terras e expulsando os indígenas (durante a pesquisa não se percebeu mais nenhuma herança desta comunidade original no município). Junto com os fazendeiros vieram os escravos atuando em suas atividades tradicionais. Amargosa foi elevado a município em 1891 e sempre teve sua economia pautada na agropecuária.

A comunidade dos Barreiros está situada a apenas 2 km da zona urbana, mas conserva as características de comunidade rural. Segundo relato de um morador antigo, a comunidade tem mais de 100 anos, sendo os primeiros habitantes descendentes de escravos que vieram trabalhar com o fazendeiro pioneiro naquelas terras. Segundo o depoimento, houve, em determinado período, uma seca muito intensa e duradoura, que fez o dono das terras abandonar a fazenda. No entanto, as famílias trabalhadoras permaneceram naquela localidade e aos poucos foram ocupando uma pequena faixa de terra paralela à estrada.

Figura5- Imagem da estrada ao longo da comunidade. 12/04/2011.

Atualmente a comunidade é constituída de cerca de 100 casas, cujos moradores são quase a totalidade formada por negros e basicamente oriundas de 4 diferentes famílias: Silva, Jesus, Oliveira e Soares que se relacionam entre si, visto que são poucos os alunos participantes do projeto que não possuem parentesco com vários outros.

A grande maioria destas famílias é beneficiária de programas assistenciais como o Bolsa-Família, pois possuem baixa remuneração, muitos com empregos informais. A relação com o programa governamental nesta comunidade foi percebida como positiva, oportunizando avanços e certa emancipação, especialmente em dois aspectos:

Foi-nos relatado por um pai de aluno do projeto que anteriormente ao programa Bolsa-Família, o trabalho disponível para a maioria se resumia a aguardar os veículos dos fazendeiros em determinado local para o serviço do dia, que durava cerca de 10 horas, para um ganho mínimo. No entanto, os trabalhadores se viam obrigados a aceitar, pois não haviam outras opções, algo como trabalhar ou passar fome. Com o advento do programa governamental, a opção da fome foi minimizada, o que ocasionou a reivindicação por parte dos trabalhadores por diárias melhores. Como os fazendeiros passaram a ter dificuldades para conseguir mão-de-obra, o valor do dia trabalhado aumentou para uma conta aproximada do salário mínimo dividido por 26 dias, ou seja, em 2013, para o dia de trabalho se pagava R$35,00. Desta forma, o auxílio governamental passou a representar possibilidade de negociação com os patrões, situação rara anteriormente. Diante desta importante conquista, manter-se como beneficiário passou a ser essencial para a manutenção de condições mínimas de vida, o que gerou outro aspecto importante a ser destacado.

Como uma das exigências para o recebimento do auxílio é a permanência dos filhos na escola, a atenção da família para com a educação foi ampliada. Isto se refletiu na maior participação da comunidade nas ações escolares, como a presença nas reuniões de pais. Infelizmente a própria estrutura escolar parece não ter sido competente ainda para aproveitar este movimento. A postura de ameaça por parte dos dirigentes da escola quanto às exigências de participação denota a falta de clareza da oportunidade de aproximar a comunidade de forma a compreenderem a importância da formação educacional, e não simplesmente, como garantia da manutenção do auxílio.

Um fato ocorrido exemplifica o receio por parte dos pais, em se criar qualquer problema na escola e a forma autoritária da professora. Na época das festas juninas, ocorria uma competição, organizada pela prefeitura, de apresentação de quadrilha entre as unidades educacionais. Ficou combinado entre o projeto esportivo e a escola que os horários das aulas de judô seriam respeitados, sendo realizados os ensaios em dias e horários diferentes, no contra turno. O acordo aconteceu por que o projeto também teria uma competição próxima daquele período e os alunos estavam bastante motivados. No entanto, a professora da instituição não manteve o acordo, marcando ensaios em dias e horários da aulas de judô, acarretando reclamações por parte dos alunos. O que poderia ser considerado uma ótima oportunidade de estímulo para a resolução democrática dos dilemas acabou sendo resolvida de forma extremamente autoritária. Alguns alunos acabaram abandonando o projeto esportivo alegando que tinham sido ameaçados com a perda da bolsa-família, visto que a participação nas atividades da escola era obrigatória. Mesmo após conversa pessoal do coordenador do projeto com a professora e a coordenadora da escola, chegando a acordo razoável, os alunos que deixaram o projeto voltaram apenas anos depois.

Além dos problemas diretos provenientes desta situação, outro também importante foi levantado, aparentemente oriundos do costume regional:

Desta forma a professora acha justo que os alunos abandonem as aulas de judô durante este período (estamos ainda há 3 semanas do São João) para se dedicarem à quadrilha. Parece ser outra característica comum na região: faz- se tudo de última hora, abandonando-se o que é permanente, causando uma falta de continuidade brutal. (Diário de campo, Turma 1, 31/06/2012)

As deficiências detectadas na escola ilustram a estrutura precária da educação no Estado como um todo. Mesmo o município apresentando índices melhores que a média baiana, ainda estava distante de boas condições. Especificamente na escola da comunidade, onde o projeto atuou nos primeiros dois anos em espaço improvisado, existiam apenas duas

salas e um pequeno pátio entre elas, banheiros e um jardim no entorno. Havia apenas uma professora, formada no antigo curso de magistério, que se realizava paralelo ao ensino médio. Ela lecionava na escola há 25 anos, em dois períodos, manhã e tarde, ambos com turmas multisseriadas. Nos últimos anos desta pesquisa, ela apresentou problemas de saúde provocando sua ausência repetidamente, o que acarretava na falta de aula, visto que não havia substituto.

Excetuando a escola, não havia nenhum outro espaço e serviço público na comunidade, o que determinava a pequena oferta de outras atividades para seus moradores. As exceções eram os projetos de extensão da UFRB, marcados por ações pontuais e que acarretavam desconfiança naquela população e as propostas de uma organização não- governamental (ONG) sediada na comunidade e dirigida, havia muitos anos, por um casal de aposentados, provenientes da capital. Foi nesta ONG, utilizando o salão construído na propriedade do presidente, que o projeto de judô se mudou a partir de 2012. Neste espaço, além das aulas esportivas, ofereciam-se cursos também periódicos como costura, culinária e artesanato, e ainda, cursos relativos ao espiritismo, dogma que norteava a instituição. Importante salientar que o direcionamento religioso nunca foi imposto e não houve qualquer influência de forma a desviar ou adequar as diretrizes do projeto estudado.

1.2- Estranhar o familiar, familiarizar-se com o estranho

A figura do adolescente sempre esteve presente na trajetória profissional do pesquisador, nos mais variados espaços, desde clubes esportivos de elite e escolas privadas até trabalhos em ONGs em comunidades periféricas. No entanto, foi necessário estranhar os jovens da comunidade dos Barreiros, ou seja, procurar não ser influenciado por pré-conceitos construídos nesta trajetória. Desta forma, a busca por compreender os costumes, valores, gostos, sentimentos daqueles jovens com que iríamos atuar exigia um afastamento, pelo menos inicial, dos conhecimentos que trazia, até mesmo porque se tratavam de crianças e adolescentes de realidade totalmente diferentes, em outra época, com experiências diversas. Então, familiarizar-se com o novo foi atitude constante nos anos de investigação.

Neste tópico apresentaremos algumas características que se destacaram, procurando, por meio de sua discussão, oferecer um cenário mais aproximado da cultura vivida naquela comunidade.

1.2.1- O valor do negro

Em meados do século passado, Clark e Clark (1950) realizaram estudo sobre os valores atribuídos por crianças quanto à cor de pele e alertaram sobre as pressões que a sociedade impõe a elas sobre o tema. A partir deste estudo, outros foram realizados, originando diversos vídeos, que se popularizaram, em que crianças, tanto brancas como negras, atribuem às bonecas de pele escura adjetivos como sujas, feias e culpadas previamente.

Aparentemente pressões desta natureza influenciam os jovens da comunidade estudada. Apesar do grande destaque à luta do negro realizada no interior da universidade, considerada a instituição de ensino superior brasileira com maior percentual de negros, com índices próximos a 84%, a população não universitária ainda parece distante desta criticidade, mesmo estando tão próxima espacialmente. Algumas situações retratam esta realidade:

Apesar de a comunidade ser composta basicamente por negros, os alunos apresentam variações quanto à cor de pele e por diversas vezes foi constatado que o termo “clarinho” ou “branquinho” foi relacionado a outros atributos positivos, como mais bonitos. No mesmo sentido, termos como “negrinho”, “preto”, “macaco”, também foram presenciados e verbalizados, mas estes no sentido pejorativo.

Inicialmente cogitou-se tratar apenas de brincadeiras entre crianças e adolescentes, o que em parte possa ser realidade. No entanto, percebeu-se que existe um valor depreciativo real quanto à cor de pele. Esta percepção se deve ao conjunto das situações que foram sendo identificadas, a exemplo do registro da professora quando realizou uma roda de conversa planejada apenas com as meninas. Elas expuseram o valor relativo às suas preferências quanto aos homens, chegando a afirmar que “casar com “preto” era péssimo, não dava futuro”. (Relatório de aula, 24/05/2011, turma 4, prof. 1)

Um outro acontecimento que pode servir de referência à influência desta desvalorização, foi o vivenciado por um dos discentes (negro) que estava no projeto há cerca de um ano e passava pela fase de iniciar a ministrar as aulas, revezando com o discente mais antigo do projeto (branco). Uma das alunas mais velhas sempre se mostrou antipática ao discente, culminando em acusação de assédio sexual. Procurada pelos docentes coordenadores, ela se negou a falar, mesmo depois de explicar a importância de sua acusação e a verificação dos fatos, visto que isto poderia acontecer novamente, se de fato houve ocorrido. Como a aluna não quis mais comentar e a partir de então, abandou a prática, ouviu-

se o grupo, quando ficou claro que a acusação era falsa e motivada por sua antipatia pelo discente. Sua amiga mais próxima afirmou que ela nunca “foi com a cara” do bolsista e outras amigas disseram que ela sempre se referia a ele com afirmações preconceituosas relativas à sua cor de pele.

Diante da proximidade das amigas com esta aluna, o seu retrospecto de muitos conflitos nas aulas desde o início do projeto como também a presença de outros discentes no dia do suposto assédio, acreditou-se que tudo não passou de mentira. No entanto, o acontecido serviu para refletir e reforçar este aspecto de desvalorização do negro.

As intervenções a respeito do tema foram praticamente baseadas na discussão em roda, na maioria das vezes em que o assunto vinha à tona, especialmente com os adolescentes, visto que com as crianças tais situações aconteciam raramente, à exceção das brincadeiras entre eles. A conversa sempre buscou como eixo a compreensão das origens desta desvalorização e a discussão sobre as verdades e mitos de tal julgamento, procurando, sempre que possível, exemplificar com experiências concretas. Como por exemplo, pode ser citada a discussão mediada pela professora sobre namoro e as preferências das meninas. A princípio os adjetivos necessários foram ter carro, ser “branquinho” e morar na cidade. O questionamento da docente foi no sentido de refletir sobre se a presença destas características continuaria sendo importante caso o jovem não apresentasse respeito, honestidade, ser estudioso e trabalhador. E ainda, se um jovem apresentasse estes últimos predicados, mas não os primeiros, se mesmo assim ele poderia ser considerado por elas um bom parceiro. A análise desta intervenção é discutida no próximo subitem.

1.2.2- O valor da mulher

O interior da Bahia ainda vive fortemente a cultura dos coronéis, donos das terras e com grande influência em todos os setores da sociedade. Portanto, o poder preponderante é patriarcal e a mulher ocupa posições secundárias neste cenário, além dos cuidados com os filhos. É de se esperar que esta situação provoque nas crianças e adolescentes atitudes com potencial de nortear as escolhas que tomarão para suas vidas, e os valores que assumirão para si mesmas. Algumas destas circunstâncias foram observadas e discutidas a seguir.

A posição de subalternidade da mulher na questão do sustento da família é tão evidente que parece ser difícil aceitar que a esposa tenha rendimento semelhante ou maior que o marido. Como descrito anteriormente sobre o programa Bolsa-família, o valor da diária

praticada pelos homens alcançou um patamar muito melhor que em tempos anteriores. No entanto, o mesmo não havia acontecido com as mulheres que atuam, por exemplo, informalmente com faxina em residências, pagando-se, muitas vezes quase 50% do valor dos homens.

Ao combinar o serviço de faxina em sua casa, uma vez por semana com uma das mães da comunidade, o pesquisador ofereceu o valor de cerca de uma diária e meia, na época R$50,00, achando justo que recebesse o mesmo que pagava ao seu marido, que ocasionalmente prestava serviços de jardinagem. Sua reação foi de espanto, afirmando que era muito dinheiro e reforçando que nem seu marido recebia uma diária assim. Acabou aceitando, mas percebeu-se como se dá a relação de ganho entre o homem e a mulher.

Sobre a rotina de afazeres domésticos, ficou claro que, com raras exceções, todas as tarefas da casa são divididas entre as mulheres, sejam avós, esposa e filhas. Estas situações foram sendo deduzidas por meio de acontecimentos no cotidiano das aulas como nas ausências ocorridas por algumas das meninas quando seus irmãos mais novos estavam doentes, ao contrário de seus irmãos que não faltavam, evidenciando de quem era a tarefa de ajudar com os cuidados. “Já as irmãs parecem que precisam realizar todo tipo de trabalho doméstico. A elas cabem lavar as roupas, limpar a casa, cozinhar, cuidar dos irmãos mais novos, que são muitos!” (Diário de Campo, 30/10/2013)

Desde as primeiras aulas, a limpeza do ambiente foi tarefa dividida entre todos os alunos, tradição no judô e que foi mantida pelas possibilidades de estímulo ao sentimento de corresponsabilidade. No entanto, sentimos resistência dos meninos no primeiro momento, presenciando inclusive algumas falas tímidas que alegavam que isto era tarefa de mulher. Aproveitando a oportunidade, foi realizado breve reflexão sobre o tema e defendido também que naquele espaço todos deveriam ajudar. Também foi discutido que a tradição do judô orientava que todos os atletas participem do cuidado com o dojo (local de aula). O tema limpeza é retomado na categoria sobre as relações com o ambiente.

Outra situação vivenciada que serve para ilustrar mais um papel culturalmente imposto à mulher foi a percepção das letras das músicas da Bahia, especialmente as do estilo Pagode (no sudeste conhecido como Axé). Em determinada ocasião, o pesquisador, trabalhando em sua casa prestou atenção na letra da música que tocava muito alto. Ela fazia menção à mulher como objeto erótico combinando todo tipo de expressões próprias do ato sexual. Ao se aproximar do local, viu várias de suas alunas realizando a “coreografia” bem conhecida:

Estava em meu quintal trabalhando com algumas plantas quando uma música alta me chamou a atenção. Não pela altura do som, pois isto sempre foi constante, mas pelo conteúdo da letra. Algo como “quando chego no bar com uma garrafa de whisky na mão a perereca das meninas piscam. Pisca perereca, pisca perereca...” E daí para baixo! (14/05/2011 – Diário de Campo)

Na aula seguinte foi perguntado ao grupo dos adolescentes sobre esta música. Eles afirmaram que se tratava de um grupo que estava fazendo muito sucesso e que tinham diversas músicas, todas bem conhecidas pelos alunos e com o mesmo conteúdo em suas letras. Até fomos presenteados com um CD (copiado) do grupo. Decidiu-se que seria interessante realizar uma conversa, especialmente com as meninas. Para minimizar a vergonha, somente a professora iria mediar a roda.

Segundo Puig (1998), a confrontação e análise de valores é um processo importante no desenvolvimento da personalidade moral. Parte-se de um tema controverso, não totalmente claro para o grupo, buscando clarificá-los aproximando as interpretações de cada componente. Fornecer fatos significativos para a análise, valorá-los diante da busca da verdade e objetividade, refletindo sobre a pertinência do tema para a realidade vivida e finalmente, seguir no sentido de tomar uma decisão coletiva a respeito do dilema são passos desta confrontação e análise de valores.

Desta forma, entende-se que a ação da professora em discutir os temas relacionados à sexualidade envolvendo a cultura da mulher como objeto, a submissão

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