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PARTE 2: INSERÇÃO DO TURISMO EM GUARAMIRANGA

8.3 Comunidades rurais, preservação ambiental e turismo em

Diante de um quadro de conscientização quanto à preservação ambiental, incidindo direta e indiretamente sobre as comunidades rurais locais, busquei maiores informações junto às Secretarias municipais e observei que a Secretaria de

Agricultura do município era ocupada pelo mesmo Secretário que respondia pela Secretaria do Meio Ambiente, tendo este gestor assumido os dois postos em 2009, no início do mandato do então prefeito (mandato 2009-2012).

Sobre a agricultura, este Secretário afirmou categoricamente ser esta uma atividade inviável nas atuais conjunturas, tanto econômica, quanto política e social. O Sr. Getúlio Reis, Secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município de Guaramiranga, apontou a agricultura como sendo uma atividade que degradava o meio ambiente e indicou o turismo como um mercado em expansão e única alternativa para empregabilidade da população local. Apresentou algumas medidas e perspectivas desenvolvidas por sua gestão na cidade, tais como a conclusão de um empreendimento voltado para trilhas ecológicas, chamado “Campo da Batalha”; um Teleférico (bondinho) a ser instalado no Pico Alto, ponto turístico local (em tramitação para aprovação estadual); e a inserção de Guaramiranga numa associação Internacional denominada “Montanhas Mágicas do Mundo”, o que estaria conferindo à Guaramiranga uma visibilidade internacional, a partir do viés ecológico pautado no manejo sustentável.

Apesar de ser Secretário da Agricultura e Meio Ambiente, portanto, este gestor demonstrou-nos uma atuação inerentemente ligada à gestão turística, possivelmente por não haver uma Secretaria de Turismo no município, e por ser esta uma atividade de relevância primordial na gestão pública municipal como um todo, atraindo esforços igualmente das demais Secretarias, tais como a Secretaria de Infraestrutura e Secretaria de Cultura, por exemplo.

Aparentemente, a população agrícola tradicional local, detentora de menor representatividade política, foi o público objetivado destas duas vertentes de políticas públicas33 que, não raro, implantam-se em diversas localidades de forma verticalizada – sem diálogo mais abrangente com os demais atores sociais locais34. Tais políticas aplicaram-se também sob perspectivas dicotômicas ou extremistas em suas prerrogativas para a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico local.

Em Guaramiranga temos, por exemplo, enfoques que inseriram tecnologias agrícolas ostensivas e caras, como foi o caso do modelo cafeicultor incentivado pelo IBC nos anos 1960, após promover a erradicação do café sombreado local e inserindo mudas que exigiam adubação química constante ou,

33 Refiro-me a políticas para o desenvolvimento agrícola e políticas para o desenvolvimento turístico. 34

ainda; a inserção da horticultura nos anos 1980, que demandava uso de agrotóxicos – caro para os produtores locais e altamente prejudiciais ao meio-ambiente. Tais medidas visando o desenvolvimento econômico, foram frustradas pela falta de maiores estudos quanto à sua viabilidade técnica, ou incentivos mais duradouros visando sua consolidação econômica em um longo prazo, além da carência de estudos junto às populações locais para acompanhar o grau de adequação e ajustes necessários à estas modalidades econômicas e sua capacidade de atender as populações locais promovendo a comercialização e renda para seus produtos.

Em seguida, a partir do apelo ambientalista ou preservacionista, a urgência na promoção do desenvolvimento econômico preconizou a inserção do turismo como uma possibilidade de desenvolvimento rápido e sustentável para diversas comunidades que não dispunham de maiores alternativas.

No caso em tela, é nesse bojo preservacionista, que surge a necessidade de um redirecionamento econômico de populações locais, cuja estratégia escolhida levou à adoção do turismo ecológico .

Curiosamente, no entanto, a cidade de Guaramiranga figura como um caso contraditório quanto à validação desta visão preservacionista cuja transição para o uso contemplativo da natureza (cf. discorre DIEGUES, 2004), a partir da atividade turística, ao invés de consentir o manejo agrícola paraestas populações tradicionalmente estabelecidas; seria uma opção, por si só, sustentável. Presumia-se que o turismo, por não emitir poluentes tais como no caso das indústrias de transformação; seriam medidas capazes de promover o desenvolvimento econômico respeitarão mesmo tempo que alcançaria a preservação ecológica nas áreas na qual o eco-turismo se insere.

Conforme entrevista a um corretor de imóveis – que expressa

sinteticamente o discurso preponderante encontrado na cidade -, quando questionado sobre a ocupação local por atividade agrícola e a atividade turística, este afirmou que “o agricultor é ruim porque agricultor degradava o meio ambiente, desmatava; enquanto o turista gosta é do mato entrando dentro de casa!”. Em diálogos reservados com o então Secretário de Agricultura e Meio Ambiente, contudo, este afirmou que a incidência de algumas infrações graves à Legislação Ambiental registradas no município, motivadoras inclusive da assinatura de Termos de Ajuste de Conduta (TACs) impostas pelo Ministério Público à prefeitura municipal

e à SEMACE, são decorrentes da construção civil, da especulação imobiliária e de empreendimentos turísticos ou de veraneio - e não da atividade agrícola.

Consultado o então Gestor da Unidade de Conservação da APA de Baturité, Sr. Ricardo Loyola sobre as infrações ambientais autuadas no município de Guaramiranga, colhi o relato inusitado de que as infrações cometidas por empreendimentos turísticos (inclusive residências veranistas) são imensamente danosas à APA de Baturité e que praticamente inexistia registro naquele ano de infrações advindas de atividade rural em Guaramiranga, apesar de ainda existirem produtores rurais localmente situados. Trata-se, por exemplo, de infrações referentes ao assoreamento de rios e devastação de encostas para construção de condomínios fechados.

Quando consultado sobre uma opção de manejo local viável, que não degradasse o meio ambiente, Loyola apontou instantânea e convictamente - no ano de 2012, 22 anos após o Decreto que instituiu a APA de Baturité -, que o café sombreado, no modelo praticado até a década de 1950, seria a melhor de todas as alternativas preservacionistas. Loyola justifica sua afirmação, comentando a iniciativa da ONG CEPEMA35 que articulou esta reinserção agrícola no Maciço de

Baturité sob os selos comerciais de café ecológico36 e comércio justo37 para seus produtores, recriando um mercado internacional para o café local,obtendo excelente retorno econômico para os cafeicultores nesta região, por volta do ano 200538.

Décadas após a reversão econômica de toda a cultura agrícola do município em favor da preservação ambiental e do turismo, portanto, a gestão pública de política ambiental local reconheceu existir alternativas de manejo agrícola capazes de oferecer retorno econômico favorável a estas populações rurais locais, promovendo impacto favorável à biodiversidade da APA de Baturité. Contudo, são alternativas de desenvolvimento sustentáveis desenvolvidas por iniciativa de atores sociais locais ainda não são plenamente apoiados pelo poder público e econômico local.

35Naquele ano, denominava-se Centro de Educação Popular em Defesa do Meio Ambiente, mas atualmente denomina-se Fundação Cultural Educacional Popular em Defesa do meio Ambiente - CEPEMA®

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Café sem uso de agrotóxico. 37

Denominado em inglês de fair trade, uma modalidade de comercio surgida na Holanda na década de 1960, que defende o estabelecimento de preço justo e promoção de modelos produtivos com respeito a padrões sociais e ambientais sustentáveis e éticos (sem uso de mão de obra infantil ou em condições insalubres, por exemplo). Tal modalidade motivou a criação do DECRETO Nº 7.358, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2010, instituindo o Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário na legislação brasileira.

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8.4 – Desenvolvimento sustentável e turismo em Guaramiranga: uma breve