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CONBRACE 1999: aproximação e engajamento com o CBCE

No documento Atividade física e saúde (páginas 67-70)

O primeiro CONBRACE a gente nunca esquece. O meu foi em se- tembro de 1999, em Florianópolis, SC. Lá apresentei no então denominado GTT Educação Física/Esporte e Escola o pôster “Educação Física e frontei- ras de gênero: enunciados de um cotidiano escolar” (FRAGA, 1999a), tema extraído da dissertação de mestrado que havia defendido um ano antes no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS (FRAGA, 1998)2.

Àquela época, pertencia ao quadro docente do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde desenvolvia um projeto de pesquisa na área da educação física escolar motivado por uma das questões abertas pela investigação empreendida no mestrado. Este pro- jeto de pesquisa se transformou no anteprojeto de doutorado Exercício do

prazer: investimentos e desistências nas aulas de educação física (FRAGA,

1999b), com o qual ingressei em março de 1999 também no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS. A ideia inicial, que acabaria não

2 Essa dissertação, que veio a ser publicada em livro sob o título ‘Corpo, identidade e bom-mocismo’

(FRAGA, 2000b), foi orientada por Guacira Lopes Louro e intitula-se ‘Do corpo que se distin- gue: constituição do bom-moço e da boa-moça nas práticas escolares’. Sustentado teoricamente na perspectiva foucaultiana, e tendo como pano de fundo as aulas de educação física em uma escola pública da região metropolitana de Porto Alegre, analisei a constituição de um jeito bem-comportado e obediente de ser jovem naquela comunidade, então assentado em valores familiares e preceitos católicos, visando dar visibilidade ao longo e violento processo de polidez que marcava e capturava os corpos daqueles adolescentes naquela teia discursiva. Déborah Th omé Sayão, colega colaboradora do CBCE que nos deixou precocemente em abril de 2006, produziu uma resenha crítica sobre esta obra (SAYÃO, 2001).

Capítulo 4 – Memórias do GTT Atividade Física e Saúde: um capítulo à parte na minha história junto ao CBCE

sendo levada adiante, era a de analisar como o entusiasmo de estudantes da Educação Básica com a parte prática das aulas de Educação Física regulava as ações pedagógicas e constituía identidades docentes.

Por ter realizado o mestrado em um programa de pós-graduação em educação, priorizava as reuniões científi cas da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e não os congressos do CBCE. Até minha primeira participação no CONBRACE não tinha muita familiaridade com a história da entidade. Ainda não sabia, por exemplo, que o CBCE havia nascido de uma dissidência de um grupo de médicos do esporte vinculados ao Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS) com a Federação Brasileira de Medicina Desportiva (FBMD) (PAIVA, 1994, ARAÚJO, 1998), assim como também não sabia que a eleição para a direção nacional de uma chapa que propunha a “desmedicalização” do CBCE no CONBRACE de 1989, em Brasília, havia provocado uma forte ruptura política dentro da entidade, tornando-a mais receptiva a quem se dedicava a pensar a educação física dentro dos referenciais das ciências sociais e humanas (PAIVA, 1994, SOARES, 2003, FRAGA, 2006a, BRACHT, 2009).

No CONBRACE de 2001, realizado em Caxambu/MG, apresentei o trabalho “Sobre os escombros de Antinoüs: breve história de ambições e legitimidade na educação física” (FRAGA, 2001b). Aquele era o meu pri- meiro ano como professor da Escola de Educação Física da UFRGS, depois de quase três anos dedicados à UFPR. O trabalho apresentado naquela oca- sião foi um dos frutos dos estudos sobre as obras inaugurais de Fernando de Azevedo que desenvolvia paralelamente à dissertação de mestrado. Em que pese tais estudos estarem mais diretamente ligados ao campo da história da educação física, com ênfase na discussão sobre a educação dos corpos mascu- linos, ali já era possível vislumbrar alguns esboços de discussão sobre saúde, em especial sobre a relação entre movimento ginástico, higiene e eugenia.

A partir de 2002 passei a me envolver de forma mais orgânica com o CBCE. Em função da minha vinculação com a UFRGS, assumi a coor- denadoria científi ca da Secretaria Estadual do Rio Grande do Sul numa gestão que tinha o compromisso de reorganizar a entidade no Estado. Em 2003, juntamente com colegas das Secretarias dos Estados de Santa Catarina e Paraná, integrei a comissão organizadora do Pré-CONBRACE Sul e do Encontro de Coordenadores dos Cursos de Educação Física da Região Sul, ocorrido na cidade de Pato Branco, PR.

Em 2004, assumi a posição de secretário estadual do CBCE do Rio Grande do Sul. Naquele mesmo ano, e mais uma vez em parceria com co- legas das secretarias dos Estados de Santa Catarina e Paraná, realizamos o

II Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte na cidade de Criciúma, SC. Em 2006, ainda na condição de secretário estadual do RS, organizamos o III Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte, dessa vez em Santa Maria, RS. Mas a tarefa mais complexa para aquela gestão foi, sem dúvida nenhuma, a organização do CONBRACE em 2005, que pela primeira vez era realizado em Porto Alegre na Escola de Educação Física da UFRGS. Ao fi nal do evento, recebi o convite da Direção Nacional para compartilhar com a colega Silvana Goellner a editoria da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), função que desempenhamos até janeiro de 2008.

Em 2011, o CONBRACE foi mais vez realizado em Porto Alegre. Em função do meu envolvimento com a elaboração do Referencial Curricular do Rio Grande do Sul (GONZÁLEZ; FRAGA, 2009), a reformulação curricular dos cursos de Educação Física da UFRGS (FRAGA, 2016) e a implementação do projeto interinstitucional Pró-Ensino na Saúde (FRAGA; CARVALHO; GOMES, 2012), não integrei formalmente a comissão or- ganizadora do evento. Mesmo assim, aquele foi mais um CONBRACE marcante para mim, pois foi a primeira vez que palestrei numa das grandes mesas do evento3. A responsabilidade da fala naquela oportunidade foi re-

dobrada, já que a Escola de Educação Física da UFRGS, local que acolhia o evento, havia recém-concluído uma profunda reformulação curricular dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, que vieram a ser implantados no início do ano seguinte. De lá para cá, participei pontual- mente em mesas de eventos regionais como o Congresso Sulbrasileiro e o Sudeste de Ciências do Esporte, bem como do Fórum de Pós-Graduação, mas sem me envolver formalmente com encargos administrativos.

A participação de um associado em mesas nos eventos promovidos pelo CBCE, assim como o desempenho de tarefas administrativas ou de representação, por mais importantes que sejam, são sempre circunstan- ciais. A regularidade da colaboração de um associado do CBCE se analisa, principalmente, pela sua participação/colaboração nos debates dentro dos GTT, independentemente da posição que ocupa na entidade, pois é ali que as pesquisas sobre temas específi cos são compartilhadas, e é dali que posicionamentos para as ações político-acadêmicas são extraídas.

3 Refi ro-me à mesa II, intitulada ‘Teoria e prática em educação física: currículos e realidade social’,

que contou com a participação dos professores Luís Armando Gandin (UFRGS) e Marcos Neira (USP) como palestrantes, e da professora Roseli Teixeira Selicani (UEM) como coordenadora.

Capítulo 4 – Memórias do GTT Atividade Física e Saúde: um capítulo à parte na minha história junto ao CBCE

Praticamente em todas as edições do CONBRACE entre anos de 1999 e 2017, trabalhos produzidos por mim ou pelo grupo de pesquisa que coordeno4 foram submetidos a um ou outro GTT, quer seja sob a forma de

pôster ou de apresentação oral. Dada a natureza dos estudos que desenvol- vemos, e levando-se em consideração a mudança de enfoque proposta pela gestão 2001-2003, o GTT Atividade e Saúde passou a ser um capítulo à parte em minha trajetória acadêmica.

CONBRACE 2003: participação e envolvimento com o GTT Atividade

No documento Atividade física e saúde (páginas 67-70)