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Maria Isabel Brandão de Souza Mendes

No documento Atividade física e saúde (páginas 102-104)

Introdução

Por que é tão relevante debater sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) no interior do GTT de Atividade Física do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE)?

Atribui-se essa importância ao fato de o SUS ser reconhecido como um dos maiores avanços sociais, criado por meio da Lei Orgânica nº 8.080/90 e instituído:

pelo conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, de administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. À inicia- tiva privada é permitido participar de Sistema de maneira complementar (BRASIL, 2000, p. 5).

O SUS compõe as reformas no âmbito da saúde, no Brasil, da década de 1980, inserindo-se acentuadamente no processo de redemocratização do país, cuja área da Saúde era norteada sob a ótica do modelo centralizador, burocrático, restrito e marcado pela exclusão (SENNA, 2002). Destaca-se a importância de o SUS integrar o Movimento pela Reforma Sanitária Brasileira, cuja aspiração pautava-se na reestruturação do sistema de saúde do país, uma vez que seu propósito era obter efi cácia, bem como ser aces- sível a todas as pessoas. Conforme ressaltam Nova, Barboni e Assis (2005, p. 568):

até então, a assistência pública à saúde era um privilégio dos que tinham carteira de trabalho assinada; assistência essa sobre responsabilidade do INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência

Social. Os que eram assalariados sem carteira assinada recorriam a mé- dicos particulares e, quando necessitavam de atendimento hospitalar ou ambulatorial, pagavam também por este serviço. Aqueles que não faziam parte dos grupos (pobres e excluídos do mercado de trabalho) contavam apenas com o atendimento gratuito realizado pelas Santas Casas de Misericórdia ou por postos de saúde municipais e estaduais e hospitais universitários (BARBONI; ASSIS, 2005, p. 568).

Em oposição à concepção de saúde como privilégio, o SUS estabelece princípios em prol da “democratização nas ações e nos serviços de saúde que deixam de ser restritos e passam a ser universais, da mesma forma, deixam de ser centralizados e passam a nortear-se pela descentralização” (BRASIL, 2000, p. 5).

Ao considerar a relevância das pesquisas do SUS para a Educação Física, como é possível verifi car no estudo de Mendes et al (2017) sobre a produção do GTT Atividade Física e Saúde de 1997 a 2011, constata-se, no ano de 2003, o surgimento do primeiro artigo a respeito do Sistema Único de Saúde (SUS) nos Anais do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (Conbrace), realizado em Caxambu, Minas Gerais.

O referido artigo propicia, ainda, vislumbrar que, além das produções alusivas ao SUS nos Anais do Conbrace, existiram outras ações com o in- tuito de estreitar laços entre a Educação Física e o SUS, tais como: a Carta de Porto Alegre, escrita em 2006, durante o Seminário de Educação Física e Saúde Coletiva; mesas-redondas, que transcorreram ao longo do Conbrace de 2009, em Salvador, voltadas a essa temática; e o I Encontro Brasileiro do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) sobre Saúde, de- senvolvido em 2011, em Natal, cujas discussões objetivavam as “refl exões e perspectivas de análises e intervenções sobre a educação física no SUS” (MENDES et al, 2017, p. 22).

Outra ação que merece ser destacada na área é o projeto de pesqui- sa elaborado entre três instituições (UFRGS, UFES e USP), intitulado “Políticas de Formação em Educação Física e Saúde Coletiva: atividade física/práticas corporais no SUS”. O desenvolvimento desse estudo vem contribuindo sobremaneira na formação em Educação Física para atuação no SUS, tanto na Graduação como na Pós-Graduação (GOMES; FRAGA; CARVALHO, 2015).

Tais esforços, como sabido, foram realizados a fi m de fomentar o debate acerca das interfaces entre a Educação Física e o SUS. Sua fi nalidade é ampliar as discussões sobre a saúde considerando diversas e signifi cativas possibilidades de análises e intervenções. Nesse contexto, o desabrochar das produções acadêmicas que versam a respeito do SUS, e seus estimulantes

Capítulo 6 – Mudanças de horizonte no GTT Atividade Física e Saúde: refl exões sobre o Sistema Único de Saúde

debates são bem-vindos a fi m de contribuir para as mudanças de horizonte no GTT Atividade Física e Saúde, uma vez que se preza a intenção de não se restringir os estudos relacionados à saúde exclusivamente na dimensão biológica, conforme ocorreu nos Anais do Conbrace em 1997 (MENDES et al, 2017).

As mudanças de horizonte referenciadas oportunizam uma visão crí- tica no interior desse GTT, capaz de ampliar a compreensão de saúde de modo a não se reduzir somente a ausência de doença, interrogar a linearida- de entre atividade física e saúde, reforçar a necessidade de se refl etir sobre os contextos investigados ou até mesmo questionar a culpabilização do sujeito pela sua saúde, dentre outros questionamentos.

Todavia, salienta-se a carência de refl exões a respeito dos trabalhos apresentados como Comunicações Orais relacionados ao SUS e publicados nos Anais dos Conbrace. Apesar de Mendes et al (2017) sinalizar para a existência de 13 comunicações sobre o SUS, que datam de 2003 a 2011, o referido estudo não traz detalhamentos acerca de tal elaboração.

Diante dessa problemática, objetiva-se compreender a produção do conhecimento do GTT Atividade Física e Saúde relacionada ao Sistema Único de Saúde (SUS) no período de 2005 a 2017.

Intenciona-se, portanto, colaborar com a identifi cação do que mais obteve destaque na produção científi ca analisada, a fi m de possibilitar a divulgação dos aspectos que têm recebido prioridade na área relacionada a esse tema em debate. Ao já exposto, soma-se a expectativa de que este estudo venha orientar para a necessidade de serem produzidas novas pesquisas que enfoquem a relação entre o SUS e a Educação Física.

No documento Atividade física e saúde (páginas 102-104)