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2. Liderança das Organizações Educativas

2.1. Conceções de escola e liderança

Considerados os pressupostos que vimos apresentando, tentaremos, em seguida, equacionar de que modo se estabelecem as lideranças nas organizações educativas.

Segundo Bexiga (2009), existem diversas investigações que tentam ajudar a compreender a forma como os contextos educativos se encontram organizados, com repercussões necessárias nas respetivas lideranças.

De acordo com o mesmo autor, são de referir, neste campo, quatro teorias: a de Ellström, a de Bush, a de Glatter e a de Costa.

No ano de 1983, Ellström estabeleceu quatro modelos explicativos: o modelo racional, o modelo político, o modelo de sistema social e o modelo anárquico. Por sua vez, em 1986, Bush combinou as diferentes perspectivas em cinco modelos, sendo estes

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categorizados em: modelos formais, modelos democráticos, modelos políticos, modelos subjetivos e modelos de ambiguidade. Dois anos mais tarde, em 1988, Glatter propõe- nos quatro imagens de organização, designadamente educativa: a imagem racional, a imagem profissional ou colegial, a imagem política e a imagem cultural. Por fim, em 1998, Costa refere seis conceitos de escola: a escola como empresa, a escola como burocracia, a escola como arena política, a escola como anarquia e a escola como cultura.

Pelo atrás exposto, podemos afirmar que as organizações educativas podem ser perspectivadas de diferentes maneiras dependendo da teoria em que o autor se enquadre e que não existe um único modelo para compreender e gerir os contextos escolares.

Assim, e uma vez que os autores por nós consultados atribuem especial importância à investigação conduzida por Costa (1998), passaremos a caracterizar a escola de acordo com as seis imagens propostas por este, conceções estas com repercussões inevitáveis na respetiva liderança.

2.1.1. A Escolacomo Empresa

A ideia da escola como empresa tem as suas raízes na teoria da Organização Científica do Trabalho ou Administração Científica, fundada por Frederick Taylor, no início do Século XX. Na sua teoria, Taylor defendia que o Homem era apenas um ser passivo, que não tinha qualquer tipo de iniciativa ou vontade e que era movido apenas por valores economicistas.

Defendia, ainda, que as organizações funcionavam de acordo com uma estrutura organizacional hierárquica, centralizada e devidamente formalizada, baseada nos seguintes princípios: divisão do trabalho e especialização através da definição precisa de cargos e funções; ênfase na eficiência e na produtividade organizacional; planificação e identificação rigorosa e pormenorizada dos objetivos a atingir; identificação da melhor maneira de executar cada tarefa e, consequentemente, na padronização; uniformização de processos, métodos, tecnologias, espaços e tempos; e individualização dos processos do trabalho.

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A conceção de escola sustentada por pressupostos teóricos economicistas e mecanicistas supõe uma visão reprodutora da educação, concebe o aluno como matéria-prima a ser moldada, não tendo em linha de conta a sua individualidade, e pressupõe, genericamente, uma liderança de cariz autocrático.

2.1.2. A Escola como Burocracia

Posteriormente, Max Weber criou a Teoria da Burocracia que defendia, essencialmente, a estrutura hierarquizada das organizações, com cargos bem delimitados e regras de funcionamento e procedimentos rígidos.

Adaptando esta imagem às organizações escolares, Costa (1998) considera ser de destacar alguns indicadores como os mais significativos na imagem da escola como burocracia, a saber: centração das decisões essenciais nos órgãos centrais do Ministério da Educação, o que se traduz na quase ausência total de autonomia por parte das escolas e no estabelecimento de cadeias administrativas hierárquicas; regulamentação ao pormenor de todas as atividades efetuadas ou a realizar, partindo de uma rígida e compartimentada divisão do trabalho; previsibilidade de funcionamento, com base numa planificação meticulosa da organização; formalização, hierarquização e centralização da estrutura organizacional das escolas; obsessão pelos documentos escritos; atuação rotineira, baseada no cumprimento de normas escritas e estáveis; uniformidade e impessoalidade nas relações humanas; pedagogia uniforme, sendo utilizados, para todas as situações, a mesma organização pedagógica, os mesmos conteúdos disciplinares e as mesmas metodologias; e conceção burocrática da função docente. Mais uma vez, também nestas circunstâncias, a liderança é concebida como cariz burocrático e autoritário.

2.1.3. A Escola como Democracia

Esta conceção foi buscar os pressupostos teóricos à teoria das relações humanas de Elton Mayo e Hawthorne que introduziram a importância das pessoas e das relações por elas estabelecidas no seio de uma organização.

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De acordo com o conceito de organização como democracia, considera-se que o trabalhador deve ser envolvido nos processos de tomada de decisão; que deve ser utilizado um processo de estratégias de decisão colegial, procurando chegar a consensos partilhados; que se devem valorizar os comportamentos informais na organização, relativamente à sua estrutura formal; fomentar e incitar o estudo do comportamento humano e defender a utilização de técnicas para a correção dos desvios; uma visão harmoniosa e consensual da organização e um desenvolvimento de uma pedagogia personalizada. (Costa, 1998). Aqui, a conceção de liderança deverá ser de natureza democrática.

2.1.4. A Escola como Arena Política

A ideia de escola como arena política é apoiada em pressupostos teóricos baseados nos modelos políticos de organização, evidenciando-se as seguintes características, no caso das organizações escolares: a escola é um sistema político em miniatura cuja ação é em tudo semelhante ao das situações políticas nos contextos macrossociais; os estabelecimentos de ensino são compostos por uma multiplicidade e heterogeneidade de indivíduos e de grupos que possuem objetivos próprios, poderes e influências diversas e posicionamentos hierárquicos diferenciados; a vida escolar desencadeia-se com base na conflitualidade de interesses e na consequente luta pelo poder; os interesses (de origem individual ou grupal) situam-se tanto no interior como no exterior da própria escola e influenciam toda a sua atividade organizacional; as decisões escolares desenrolam-se e alcançam-se a partir de processos de negociação; e o interesse, o conflito, o poder e a negociação são palavras-chave no discurso utilizado por esta abordagem organizacional. Diz Costa (1998, p. 73), que ao "contrário da escola democrática, as tendências normativas desta imagem organizacional são muito reduzidas", pelo que a sua liderança tenderá a situar-se entre a posição democrática e a liberal.

2.1.5. A Escola como Anarquia

Este modelo criado por Cohen, March e Olsen, em 1972, situa-se na linha de rutura efetuada pelos modelos políticos, rompendo com as perspetivas teóricas que dão corpo às outras imagens organizacionais já apresentadas sobre a escola, uma vez que à racionalidade, previsibilidade e clareza das organizações, ou mesmo dos seus atores e

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grupos, contrapõe a ambiguidade, a imprevisibilidade e a incerteza do funcionamento organizacional.

O conceito de anarquia aqui apresentado não pode ser conotado negativamente, mas sim como uma metáfora cujo uso permite visualizar um conjunto de dimensões escolares, de entre as quais se destacam as seguintes: a escola é, em termos organizacionais, uma realidade complexa, heterogénea, problemática e ambígua; o seu modelo de funcionamento pode ser chamado de anárquico, na medida em que é suportado por intenções e objetivos vagos, tecnologias pouco claras e participação fluida; a tomada de decisões aparece de forma desordenada, imprevisível e improvisada, do amontoamento de problemas, soluções e estratégias; um estabelecimento de ensino não surge como um todo unido, coerente e articulado, mas como uma sobreposição de diversos órgãos, estruturas, processos ou indivíduos pouco unidos ou fragmentados; as organizações escolares são vulneráveis quanto ao seu ambiente externo que, sendo tumultuoso e incerto, amplia a incerteza e a ambiguidade organizacionais; e, finalmente, os diversos processos organizativos desenvolvidos pela escola, mais do que tecnologias decorrentes de pressupostos de eficiência ou de eficácia organizacionais, assumem um carácter essencialmente simbólico (Costa, 1998). Neste tipo de organização escolar tenderá a estabelecer-se uma liderança de laissez-faire, ainda que como processo.

2.1.6. A Escola como Cultura

Por último, esta imagem enquadra-se na abordagem comportamental da administração, mais especificamente nas teorias do desenvolvimento organizacional, caracterizando-se, neste modelo, como sendo uma escola diferente das outras, com uma identidade própria traduzindo-se em diversas manifestações simbólicas, tais como: valores, crenças, linguagem, heróis, rituais e cerimónias. A escola representa, assim, uma mini-sociedade.

Como refere Costa (1998:109), a "qualidade e sucesso da organização escolar dependem do seu tipo de cultura: as escolas de sucesso são aquelas em que há uma identidade e valores partilhados entre os seus membros". A liderança assumirá, neste caso, a natureza mais consentânea com a situação e com os seus intervenientes.

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"Gestão é sobre como organizar e obter resultado. Liderança é sobre estimular e melhorar".

(Thomas J. Peters, s/d. cit por Cavagnoli, 2011) Consideramos que as imagens organizacionais da escola que acabamos de descrever nos proporcionam um quadro concetual teórico para a compreensão do funcionamento das nossas escolas.