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6. Procedimentos metodológicos

6.1. Recolha de dados

6.1.1. Entrevistas

A realização de uma investigação exige a recolha de dados, dizendo, a propósito, De Ketele e Roegiers (1999, pp.12-13) que tal processo visa

"procurar informação quando desejamos compreender mais de perto uma dada situação, quer seja… para detectar necessidades (…) para fazer uma escolha, tomar uma decisão (…) para melhorar um funcionamento, os desempenhos (…) para formar (…) para resolver um problema (…) para circunscrever um fenómeno (…) para testar hipóteses científicas".

Assim e de acordo com os mesmos autores, a recolha de informações pode ser definida como o processo metódico colocado em prática para colher informações junto de diversas fontes, a fim de passar de um nível de conhecimento para outro. Referem ainda que, "é raro que um único método de recolha de informações permita por si só fornecer toda a documentação necessária" (p. 38).

Neste estudo, iremos utilizar, para a recolha de dados, entrevistas de carácter semi- diretivo, tendo presente que "ultrapassando o estudo dos factos externos, os

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investigadores foram-se interessando cada vez mais pelo indivíduo, pela sua forma de ver o mundo, pelas suas intenções, pelas suas crenças" (Albarello et al., 1997, p. 84), e ainda que "o indivíduo é interrogado enquanto representante de um grupo social" (p. 85).

Ainda segundo os autores supracitados, para este tipo de abordagem em profundidade do Homem, a entrevista tornou-se um instrumento primordial e que os investigadores, ao centrarem-se na entrevista semi-diretiva, respondem a duas exigências que podem parecer contraditórias. Por um lado, estas permitem que o entrevistado estruture o seu pensamento em torno do objeto estudado e, por outro, exigem que o investigador aprofunde os pontos que possam não ter sido suficientemente explicitados pelo entrevistado.

Muitos outros autores se têm debruçado sobre as características estruturantes das entrevistas, como é o caso de Pardal e Correia (1995) para quem a entrevista é uma "técnica de recolha de dados de larga utilização na investigação social" (p.64), enquanto os já referidos Albarello et al. (1997) afirmam que "é possível falar de metodologia da entrevista na medida em que, ao desenvolver-se, a própria prática da entrevista se tornou objecto de investigação" (p. 91). Por seu lado, Bogdan e Biklen (1994) afirmam que "a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito" (p.134) e Quivy e Campenhoudt (2008, p. 191-192) asseguram que, quando "correctamente valorizados, estes processos permitem ao investigador retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados". Cohen & Manion (1994), por sua vez, dizem que

"a entrevista de pesquisa foi definida como uma conversa a dois iniciada pelo entrevistador com a finalidade específica de obter informações de pesquisa relevante, e focado por ele (entrevistador) sobre o conteúdo especificado por objectivos de investigação" (p. 271).

Para Serrano (1994b) as entrevistas têm especial importância quando pretendemos obter dados de uma só pessoa, como são os casos dos estudos biográficos e dos estudos de caso. Para Quivy e Campenhoudt (2008), as principais vantagens do uso das entrevistas é o grau de profundidade dos dados obtidos, assim como a flexibilidade que permite recolher as interpretações pessoais dos entrevistados. Como limitações desta técnica indicam a necessidade de haver um tratamento prévio dos dados antes de poderem ser

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analisados e "o facto de a flexibilidade do método poder levar a acreditar numa completa espontaniedade do entrevistado e numa total neutralidade do investigador" (p. 194), aspectos a que é preciso obviar. Por outro lado, asseguram que são três as áreas de investigação em que a entrevista é aconselhada. São elas: "a análise do sentido que os actores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os quais se vêem confrontados (…); a análise de um problema específico e a reconstituição de um processo de acção, de experiências ou de acontecimentos do passado" (p. 193).

As entrevistas têm, porém, de ser bem preparadas para que os objetivos pretendidos com as mesmas sejam efetivamente alcançados. Para Bell (2002), "a preparação de entrevistas segue os mesmos procedimentos que os questionários. Os tópicos têm de ser selecionados, as questões elaboradas, os métodos de análise considerados e preparado e testado um plano" (p. 119). E se de entrevistas semiestruturadas se trata, como são as duas que realizámos, esses cuidados devem começar com a elaboração dos respetivos guiões.

Deste modo, com o conhecimento que fomos construindo acerca da liderança escolar, através duma progressiva abordagem bibliográfica, e do estudo da documentação disponível acerca do Projeto ISSPP, com o aconselhamento do nosso orientador, elaborámos o guião para a primeira entrevista à diretora do Agrupamento de escolas (Anexo 1), tendo presente que o mesmo, fora as condições contextuais, deveria ser idêntico ao utilizado nos diferentes países no âmbito do já referido ISSPP.

Compreende os seguintes blocos:

1- Aspetos biográfico-profissionais – com este bloco pretendíamos recolher dados que permitissem a caracterização do sujeito do estudo (diretora do Agrupamento), como docente e líder escolar.

2 – Caracterização do Agrupamento – era nosso objetivo, com os dados a recolher em função das questões a colocar neste bloco, caracterizar o Agrupamento em causa, designadamente em termos de população escolar, clima de escola, corpo docente, resultados escolares, relação com os pais/encarregados de educação e comunidade em geral e, ainda, no que se refere aos seus pontos fortes e fracos.

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3 – Caracterização da liderança – neste bloco, visava-se a recolha de dados que possibilitasse a caracterização tanto da equipa de liderança do Agrupamento como da sua diretora, bem como não apenas as atitudes e práticas de liderança desta última, como também de todos os órgãos dirigentes.

4 – Liderança e mudança e inovação – com este último bloco, visávamos conhecer qual a atitude e práticas da diretora relativamente à mudança e inovação e se e como era esta implementada no Agrupamento.

Elaborado o guião da entrevista, contactámos a diretora do Agrupamento, informando-a do estudo que estávamos a realizar e dos seus objetivos, solicitando-lhe a sua colaboração. A sua resposta foi positiva e incitivadora para o nosso trabalho, tendo-se acordado o dia, hora e local de realização da entrevista, que veio a ter lugar como combinado, tendo decorrido, sobretudo na sua fase inicial, num clima propício a ganhar a confiança da entrevistada e de colocá-la à vontade, como refere Barata (2010).

Na sua realização, tivemos em atenção o defendido por Albarrello et al. (1997), quando afirmam que, numa entrevista semi-diretiva, o entrevistador dirige menos do que acompanha a linha de pensamento do seu interlocutor, zelando ao mesmo tempo pela pertinência das suas afirmações, criando um clima de confiança e tentando controlar o impacto das condições sociais da interação sobre a entrevista. Sobre este aspeto, Pardal e Correia (1995) dizem-nos que este tipo de entrevista não é totalmente livre e aberta nem totalmente inflexível, na medida em que

"o entrevistador possui um referencial de perguntas-guia, suficientemente abertas, que serão lançadas à medida do desenrolar da conversa, não necessariamente pela ordem estabelecida no guião, mas, antes, à medida da oportunidade, nem tão-pouco, tal e qual foram previamente concebidas e formuladas: deseja-se que o discurso do entrevistado vá fluindo livremente – exprimindo-se com abertura, informa sobre as suas percepções e interpretações que faz de um acontecimento; sobre as suas experiências e memórias; sobre o sentido que dá às suas práticas; revela as suas representações e referências normativas; fornece indícios sobre o seu sistema de valores, emotividade e atitudes; reconstitui processos de acção ou mudança e denuncia os elementos em jogo e suas relações, ajudando à compreensão dos fenómenos" (pp. 65-66).

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A entrevista foi, com a autorização prévia da entrevistada, gravada em registo audio, pois desta forma é possível registar com exatidão as opiniões dos entrevistados (Serrano, 1994b).

Relativamente à segunda entrevista, destinada a complementar os dados obtidos na primeira, seguimos os mesmos procedimentos na sua preparação e realização, sendo de referir que o respetivo guião (Anexo 2) é constituído pelos seguintes blocos:

1 – Agrupamento – com este bloco procurávamos recolher mais dados relativos acerca da política educatica seguida, às pessoas consideradas significativas pela diretora para o seu exercício da liderança, aos objetivos do Agrupamento, a curto, médio e longo prazo, em relação aos alunos, e quanto aos pontos fortes e fracos do Agrupamento.

2 – População escolar – visávamos obter mais dados que possibilitassem a caracterização dos alunos, designadamente no plano sócio-educativo e quanto aos resultados escolares e expetativas dos mesmos.

3 – Comunidade envolvente – era objetivo deste bloco recolher dados que permitissem aprofundar a caracterização dos pais/encarregados de educação em termos sócio-económicos, de envolvimento no processo educativo e de expetativas relativamente à escola e, ainda, de condicionantes que a comunidade pudesse colocar quanto ao sucesso dos alunos.

4 – Corpo docente – o objetivo principal deste bloco era conhecer se e em que medida os professores partilhavam a visão de escola, se constituiam um corpo docente estável ou não e quais os seus pontos fortes e fracos.

5 – Diretora – com este bloco pretendíamos conhecer como a diretora tem contribuído para o sucesso do Agrupamento, qual pode ser considerado o maior sucesso deste nos últimos anos e como é que o mesmo foi alcançado.

6 – Equipa de liderança – visávamos, com este bloco, conhecer em que medida a liderança, aos seus vários níveis, encara a mudança e a inovação, como são organizados e utilizados os diferentes meios para esse fim e que medidas/atividades, em concreto, têm sido tomadas/desenvolvidas nesse campo.

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