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Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação

2.5 COMPETÊNCIAS

2.5.3 Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação

Diante de uma classe de 30/35 alunos o professor depara com diferentes níveis de desenvolvimento, os alunos não têm os mesmos conhecimentos prévios, a mesma relação com o saber, os mesmos interesses e recursos, a mesma maneira de aprender.

Segundo Perrenoud (2000, p. 55):

Diferenciar é romper com a pedagogia frontal – a mesma lição, os mesmos exercícios para todos -, mas é, sobretudo, criar uma organização do trabalho e dos dispositivos didáticos que coloquem cada um dos alunos em uma situação ótima, priorizando aqueles que têm mais a aprender.

A competência do professor está em fazer evoluírem tais dispositivos pouco a pouco, acreditando que todos são capazes de aprender.

Para diferenciar o ensino em sala de aula é preciso encontrar um meio- termo entre o ensino frontal ineficaz e um ensino individualizado impraticável, organizando formas diferenciadas de trabalho em sala de aula; ainda ampliar e criar novos espaços-tempos de formação, jogar com os reagrupamentos, com as tarefas, com os dispositivos didáticos, com as interações, com o ensino mútuo, com as tecnologias da formação. A competência consiste em utilizar todos os recursos disponíveis, todos os parâmetros, organizando atividades e interações para que o aprendiz vivencie freqüentes e possíveis situações ótimas de aprendizagem.

Essa competência mobiliza competências mais específicas como: a) Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma.

Professores experientes sabem que a homogeneidade é um sonho mesmo nas salas que foram organizadas por idade ou rigorosa seleção prévia. Ela se recria devido aos diferentes níveis de desenvolvimento dos alunos, dos tipos de socialização familiar, no próprio decorrer da progressão no programa. A competência do professor está em enfrentar a heterogeneidade de um grupo de trabalho promovendo situações interativas, ou seja, os alunos permanecendo em equipes. Isto não significa que deve renunciar ao atendimento a grupos de níveis, mas é pertinente, em alguns momentos trabalhar com grupos de necessidades, em outros, em grupos de projetos.

Numa pedagogia diferenciada, o importante é criar dispositivos que não exijam a constante intervenção do professor. Organizar oficinas, tarefas autocorretivas, softwares interativos são recursos que auxiliarão a inventividade didática e organizacional do professor.

b) Abrir, ampliar a gestão da classe para um espaço mais vasto.

O que se exige dos professores nesta situação é juntarem forças para organizar a diferenciação em escala de várias classes e, se possível, em vários anos. O trabalho em espaços mais amplos exige competências como a cooperação profissional, a gestão da progressão das aprendizagens em vários anos, e, especialmente, pensar, organizar, habitar, fazer viverem espaços de formação que reagrupem dezenas de alunos durante vários anos. Os problemas levantados competem aos professores, que só podem resolvê-los em equipe e de modo local. Esse trabalho docente proporciona mais tempo, recursos, forças, imaginação, continuidade e competências para a construção de dispositivos didáticos eficazes,

visando o combate do fracasse escolar. As equipes pedagógicas se empenham na resolução de problemas de organização, de cooperação, na reconstrução de rotinas econômicas, tomando decisões, investigando onde os alunos estão, em que situações se encontram, do que precisam, para quais tarefas precisam ser orientados. Assim, novas competências vão emergindo conforme o desenvolvimento do trabalho de uma pedagogia diferenciada.

c) Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de dificuldades.

Atender as crianças que encontram dificuldades e que ultrapassam as possibilidades comuns de diferenciação exige dos professores organização em equipes e recursos para atender esses alunos, sem excluí-los. Isso requer competências mais precisas em didática e em avaliação, capacidades relacionais que permitam a progressão de aprendizagens decisivas.

São situações que exigem competências para um atendimento mais individualizado, que diferem dos instrumentos conceituais para gerir outros grupos. Nesse caso, o professor precisa de competências, atitudes, saberes e representações como: saber observar uma criança na situação, com ou sem instrumento; saber tirar partido das tentativas e erros; construir situações didáticas mais a partir do aluno do que do programa; saber negociar um contrato didático personalizado; ter a experiência da comunicação, do conflito, do paradoxo, da rejeição, do implícito; aceitar a supervisão como auxílio; respeitar um código explícito de deontologia; estar familiarizado com uma abordagem ampla da pessoa, da comunicação, da observação, da intervenção e da regulação; ter domínio teórico e prático dos aspectos afetivos e relacionais da aprendizagem e possuir cultura psicanalítica básica; compreender a agir de modo eficaz; levar em conta o ritmo dos indivíduos; refletir sobre o fracasso escolar, as diferenças pessoais e culturais; ter base teórica em psicologia social do desenvolvimento e da aprendizagem; trabalho em equipe, formação contínua, assumir riscos, autonomia, forte profissionalização, domínio da mudança; considerar as dinâmicas e as resistências familiares vendo os pais como pessoas complexas além de responsáveis pelo aluno.

d) Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas simples de ensino mútuo.

Cabe aos professores deixarem de se verem como a única fonte de impulso e regulação da aprendizagem e apostarem na cooperação, na autonomia, na responsabilidade entre os alunos, no ensino mútuo. (Cresas, apud Perrenoud, 2000, p. 63) afirma que não se aprende sozinho e insiste no papel das interações sociais na construção dos conhecimentos, defendendo uma pedagogia interativa. Isto exige do professor a capacidade de fazer os alunos trabalharem em equipe, onde o desafio didático está em propor tarefas que imponham uma verdadeira cooperação e provoquem as aprendizagens almejadas. A cooperação deve assumir atitudes, regras, solidariedade, tolerância, reciprocidade, privilegiando a eficácia didática em detrimento da eficácia da ação para que todos aprendam, fazendo, a fazer o que não sabem fazer.