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3. METODOLOGIA

4.1 CONCEITO ARQUITETÔNICO DE CASA PÁTIO

Ao longo da história das civilizações, nos termos de Spalt (2004), a existência dos pátios baseia a repartição dos recintos interiores das edificações privadas, compondo uma das bases da formação familiar e posteriormente do arranjo dos primeiros aglomerados urbanos (SPALT in BLASER, 2004). Na definição do autor, o pátio é o espaço demarcado por paredes ou “parcialmente” aberto, que, dentro de sua importância histórica na construção do habitat humano (origem tipológica) se distingue como um “domínio figurado” (origem arquetípica), onde o homem, aos conformes de sua vida pré-histórica das cavernas, possuía a partir de seu espaço protegido, o domínio visual de seu entorno, diferenciado como natureza selvagem (SPALT in BLASER, 2004).

Para Capitel (2005), o pátio adquire seu desempenho como princípio de organização e composição espacial do habitat humano, e também como arquétipo

“versátil e sistemático”, remetendo significados e representações distintas, que se ajustam às inúmeras características formais de uso, dimensões e estilos arquitetônicos.

O contato com a natureza poderia ser feito através das aberturas da edificação, tais como as portas e janelas, porém tais elementos a deixariam vulnerável. A concepçãoarquitetônica do pátio interno supre a carência de proteção sentida pelo homem; ele agora está seguro dentro do seu mundo, pode ‘fugir’, se ‘defender’ dos olhares curiosos, pode viver com os seus semelhantes e usufruir dos aspectos da natureza (REIS-ALVES, 2011).

Figura 1 – Reconstrução da residência XXXIII da cidade de Priene (final do séc. IV a. C.), na Turquia, com seu pátio central.

Fonte: BLASER, 2004

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Figura 2 – Residência em Pompéia (séc. I d. C.), com átrio abrindo-se ao pátio central.

Fonte: BLASER, 2004

Para Fustel de Coulanges (2004),

A casa ficava sempre situada no interior do recinto sagrado. Entre os gregos, o quadrado formado por este recinto era dividido em dois: na primeira parte ficava o pátio, e a casa ocupava a segunda. O fogo sagrado, colocado no centro do recinto total, encontrava-se, assim, ao fundo do pátio e perto da entrada da casa. Em Roma a disposição era diferente, embora o princípio era o mesmo. O deus Lar ainda ficava no centro do recinto, mas as edificações erguiam-se à sua volta, pelos quatro lados, de modo a encerrá-lo no centro de um pequeno pátio (FUSTEL DE COULANGES, 2004).

4.1.1 O tipo Casa-pátio de Mies van der Rohe

“O pátio é um dos espaços mais antigos; sua história se remonta às origens da humanidade e, todavia simboliza sensações da época em que os homens viviam nas cavernas. A forma deste espaço em planta não é fixa, tampouco tem um tamanho determinado e recebe múltiplas denominações segundo a evolução e os diferentes usos (BLASER, 2004)

Os últimos anos de Mies van der Rohe na Alemanha associam-se às Casas-pátio, que podem ser observadas como uma adequação do espaço fluído, que Mies já tinha testado em amplos recintos murados, ou seja, uma transcrição dos conceitos de espacialidade do Pavilhão de Barcelona e a Casa de Exposição de Berlim em localizações de maiores intensidades urbanas; contudo, igualmente podem ser uma metáfora de isolamento e de resguardo diante da hostil esfera política da modernidade, evidenciando na representação um provável furor diante ao mundo (DIEMER, 2006)

Ainda de acordo com o autor, preservando a estrutura de pilares soltos, que já havia ensaiado nos anos 20, e substituindo os muros que se expandem até o cenário externo por espaços acanhados, nestas concepções o recinto interior da

casa se distribui sobre os pátios pelo meio de fechamentos quase imateriais. Desde 1931 até 1938, Mies desenvolveu vários projetos para Casas-pátio em que o fluxo do ambiente fica limitado dentro de um excepcional retângulo composto conjuntamente pelos muros externos e a casa.

Encerradas por muros periféricos, porém com amplas paredes de vidro e carecendo quase na sua totalidade de repartições internas, as residências se comportam de tal modo que resultam em ambientes transparentes para as pessoas que vivem no espaço privado, enquanto são completamente impenetráveis para quem as vê da rua. O muro que envolve a edificação é o exclusivo componente visto da rua, dado a sua altura se coincidir com a das paredes internas. Isso faz com que a leitura externa seja a de uma “caixa” onde o interior é combinado por planos; é o

“rompimento da caixa” dentro da “caixa” (DIEMER, 2006)

Figura 3 – Planta baixa de um grupo de casas com pátio. Mies van der Rohe.

Fonte: DIEMER, 2006

Em resumo, o pátio é o espaço que se abre ao tempo, ao contato com os céus, às intempéries, espíritos, seus deuses e deidades – a natureza física e a sagrada. Contudo é o ambiente interno e fechado, recluso e restrito entre quatro paredes que abriga e protege o homem do exterior hostil, selvagem, contra outros homens e as feras. É o lugar que marca junto com sua edificação (seja ela de moradia ou de outra tipologia) a existência do homem na terra. Ao mesmo tempo é o espaço que se abre a natureza e que a recorta; é o recinto que integra em si tanto a natureza como a paisagem. A natureza pode estar ao além, recortada pelo pátio como paisagem, ou, transposta para dentro do pátio como um jardim, um pedaço, uma recordação da natureza, transmutada e transformada pelo homem. (REIS-ALVES, 2011)

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O conceito de casa pátio foi um dos correlatos escolhidos devido a questão funcional-emocional, pois hoje em dia a necessidade do ser humano de estar em contato direto com a natureza só vem a crescer, por isso acredito que além de trazer para dentro da edificação espaços verdes, permitirá ao usuário a sensação privacidade e bem estar.

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