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Para De Plácido e Silva:

DANO. Derivado do latim damnum, genericamente, significa todo mal ou ofensa

que tenha uma pessoa causado a outrem, da qual possa resultar uma deterioração ou destruição à coisa dele ou um prejuízo a seu patrimônio.

Possui, assim, o sentido econômico de diminuição ocorrida ao patrimônio de alguém, por ato ou fato estranho à sua vontade. Equivale, destarte, a perda ou prejuízo.

Juridicamente, dano é, usualmente, tomado no sentido do efeito que produz: é o prejuízo causado, em virtude de ato de outrem, que vem causar diminuição patrimonial. 51

Na lição de Sergio Cavalieri Filho:

Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral. 52

51 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 28ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 412.

Discordamos da conceituação do citado mestre no que se refere ao patrimônio, pois consideramos o patrimônio como toda a universalidade de bens do indivíduo, não dependendo se o bem é material ou imaterial.

Assim, em sendo dano, para o referido lente, “lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral”, ao discordarmos da delimitação do conceito de patrimônio concluímos que dano seria “lesão de um bem jurídico”, pois apenas excluímos a expressão “tanto patrimonial como moral”, pois, ao nosso ver, não se faz necessário destacar a natureza do bem jurídico lesionado.

Então, o dano deve ser compreendido como sendo a consequência de uma ofensa, ou seja, existe uma relação de causalidade entre a ofensa e o dano.

Vamos, então, particularizar um conceito para o dano moral, conceito fulcral ao entendimento do tema abordado neste trabalho.

De Plácido e Silva nos conceitua dano moral da seguinte maneira:

DANO MORAL. Assim se diz da ofensa ou violação que não vem ferir os bens

patrimoniais, propriamente ditos, de uma pessoa, mas os seus bens de ordem moral, tais sejam os que se referem à sua liberdade, à sua honra, à sua pessoa ou à sua família.

Em princípio, o dano moral se funda no fato ilícito: é extracontratual, resultante do quase-delito ou delito, conforme o fato culposo ou doloso.

Mas a indenização dele decorrente implica necessariamente a evidência de uma perda efetiva, consequente da ofensa moral, ou dos lucros cessantes que advieram do fato ilícito. 53

Nessa toada, o dano moral foi, por vezes, conceituado como a mera oposição aos danos materiais. Nesse sentido temos a posição dos irmãos Henry e León Mazeaud e André Tunc, para os quais “dano moral é o que não afeta de modo algum o patrimônio e causa tão-só uma dor moral à vítima.” 54

Também José de Aguiar Dias preleciona nessa linha, in verbis:

53 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 28ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 414.

54 PERES, Célia Mara. Dano moral: da natureza da indenização aos critérios para fixação do quantum. São

Paulo, SP, 2006. Dissertação (mestrado em direito). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP. f.62.

Quando ao dano não correspondem as características do dano patrimonial, dizemos que estamos em presença do dano moral. A distinção, ao contrário do que parece, não decorre da natureza do direito, bem ou interesse lesado, mas do efeito da lesão, do caráter da sua repercussão sobre o lesado.55

O autor Pontes de Miranda, citado por Celia Mara Peres, leciona que “Dano patrimonial é o dano que atinge o patrimônio do ofendido; dano não patrimonial é o que só atingindo o devedor como ser humano, não lhe atinge o patrimônio” 56.

O professor mineiro, Wilson Melo da Silva leciona que:

Danos morais são lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoal natural de direito em seu patrimônio ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição ao patrimônio material, o conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico.57

No entanto, tais delimitações feitas adotando um critério meramente exclusivo não destacam as características ínsitas ao que seria dano moral, não evidenciam a essência do instituto jurídico.

Em busca de elementos próprios do dano moral, a doutrina passou, então, a focar a dor ou estado psicológico da vítima como elemento balizador da existência de referido dano. Nesse enfoque temos a conceituação de Antonio Chaves, mencionado por Clayton Reis:

Dano moral é a dor resultante da violação de um bem juridicamente tutelado sem repercussão patrimonial. Seja a dor física – dor-sensação como a denomina Carpenter -, nascida de uma lesão material; seja a dor moral – dor-sentimento – de causa material. 58

Para o referido autor, como já frisado, a dor consistiria no dano moral. No entanto, compreendemos que a dor é uma consequência do dano moral e com ele não se confunde. Ademais, é possível que haja dano moral sem que a dor esteja presente. Corroborando com o nosso entendimento, o Desembargador Sergio Cavalieri Filho elucida:

55 DIAS, José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. p. 812.

56 PERES, Célia Mara. Dano moral: da natureza da indenização aos critérios para fixação do quantum. São

Paulo, SP, 2006. Dissertação (mestrado em direito). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP. f.62.

57 SILVA, Wilson Melo da. O dano moral e sua reparação. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. p. 1. 58 CHAVES, Antonio apud REIS, Clayton. Dano moral. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. pp. 5/6.

Nessa perspectiva, o dano moral não está necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da vítima. Pode haver ofensa à dignidade da pessoa humana sem dor, vexame, sofrimento, assim como pode haver dor, vexame e sofrimento sem violação da dignidade. Dor, vexame, sofrimento e humilhação podem ser consequências, e não causas. Assim como a febre é o efeito de uma agressão orgânica, a reação psíquica da vítima só pode ser considerada dano moral quando tiver por causa uma agressão à sua dignidade. 59

Ora, caso a dor, o sofrimento, fossem imprescindíveis ao dano moral, pessoas em coma, inconscientes ou em estado vegetativo não poderiam sofrer nenhum tipo de dano moral (assim como não seria possível às pessoas jurídicas)!

Passou-se, então, a considerar o dano moral como aquele caracterizado pela ofensa aos direitos da personalidade. Assim, em ocorrendo lesão ao direito da personalidade, estaria caracterizado o dano moral.

Uma das críticas pertinentes ao conceito acima é que os danos morais podem ser oriundos da lesão de outros direitos que não os da personalidade, como os direitos sociais, políticos ou mesmo patrimoniais.

Como mencionado alhures, compreendemos o dano como uma consequência. Assim, parte da doutrina conceituou o dano moral como o efeito não-material da lesão, o que não o restringiria aos direitos da personalidade.

Unindo as duas últimas concepções, a professora Maria Celina Bodin de Moraes leciona:

Assim, no momento atual, doutrina e jurisprudência dominantes têm como adquirido que o dano moral é aquele que, independentemente de prejuízo material, fere direitos personalíssimos, isto é, todo e qualquer atributo que individualiza cada pessoa, tal como a liberdade, a honra, a atividade profissional, a reputação, as manifestações culturais e intelectuais, entre outros. O dano é ainda considerado moral quando os efeitos da ação, embora não repercutam na órbita de seu patrimônio material, originam angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções negativas. Neste último caso, diz-se necessário, outrossim, que o constrangimento, a tristeza, a humilhação, sejam intensos a ponto de poderem facilmente distinguir-se dos aborrecimentos e dissabores do dia-a-dia, situações comuns a que todos se sujeitam, como aspectos normais da vida cotidiana. 60

59 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 83. 60 MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana: uma leitura civil-constitucional dos danos

Sintetizaremos, então, o dano moral como o efeito de uma ofensa que atinge os direitos personalíssimos; ou que originem consideráveis emoções negativas.

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