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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceito de Accountability

A palavra

accountability

é um termo de origem inglesa. Para Peixe (2002), o termo pode ser traduzido por responsabilidade, ou seja, pela obrigação de que alguém responda pelo que faz. Representa, assim, a obrigação que a organização tem de prestar contas dos resultados obtidos, em função das responsabilidades que decorrem de uma delegação de poder. Significa a obrigação que o gestor tem de prestar contas dos resultados conseguidos em função da posição que assume e do poder que detém. Assim, na área pública, o termo refere- se à obrigação dos agentes do Estado em responder por suas decisões, ações e omissões.

N a tentativa de conceituar “responsabilidade administrativa”, Bertelli e Lynn Jr (2003) preconizam que a administração pública deve ser conduzida de acordo com o que designam "preceitos de responsabilidade administrativa", que envolve quatro elementos interrelacionados derivados da literatura clássica de administração pública: julgamento,

accountability

, balanço e racionalidade. Segundo esses autores, a aplicação desses preceitos resolve a maioria dos problemas teóricos da administração pública pela definição do papel para os agentes administrativos que conforma-se completamente com o esquema de instituições separadas - legislativo, executivo e judiciário - compartilhando o poder.

Em sua pesquisa sobre as práticas de

accountability

nas administrações municipais nos Estados Unidos, Wang (2002) descobriu que essa esfera de governo utiliza uma grande variedade de ferramentas políticas e legais de

accountability.

Esse estudo comprovou que a responsabilidade, o consenso público e a confiança dos

stakeholder

aumentam quando a administração utiliza boas práticas de

accountability.

Para Mulgan (2000), a análise da a

ccountability

pública tende a concentrar-se nas instituições do setor público. Por outro lado o aumento da utilização do setor privado na provisão de serviços públicos aponta para a necessidade de comparação entre os dois setores. Embora as entidades do setor privado (lucrativas) sejam mais responsáveis, os requisitos de

accountability

no setor público são geralmente mais rigorosos, especialmente com referência

ao processo e à política em geral.

Ao analisar as interações e relacionamentos entre a política, a administração e o mercado, os autores Klinger, Nalbandian e Romzek (2002) concluem que esses três setores possuem diferentes formas de pensamento - como perspectivas de tomada de decisões - que produzem uma variedade de expectativas de

accountability

sempre diferentes. Os autores realizaram um estudo sobre a contratação de serviços particulares de adoção de crianças em Kansas, nos Estados Unidos da América, para ilustrar essas perspectivas competitivas e examinar como os desafios baseados no mercado para política tradicional e as perspectivas administrativas complicam as expectativas de

accountability.

O resultado é uma situação em que o desafio de acomodação dessas três expectativas de

accountability

torna o já complexo trabalho da administração pública muito mais difícil.

Para Young (2002), o teste conclusivo de

accountability

para organizações não lucrativas é a verificação se sua liderança pode representá-las responsavelmente e promover honesta e energicamente sua missão, mesmo quando o ambiente, os

stakeholder

e as pressões da governança tornam outros caminhos mais confortáveis e seguros. Para esse autor existe o risco real de que os líderes de entidades não lucrativas contemporâneas - sob pressões sociais e financeiras e ansiosos para tornar suas instituições economicamente viáveis - sejam guiados, talvez inadvertidamente, a comprometer suas missões.

Kluvers (2003), a partir de pesquisa realizada em governos locais de Vitória, na Austrália, conclui que, entre outras razões, a assimetria de informações entre os

stakeholder

e os administradores afeta o uso da

accountability

como instrumento de melhoria na performance organizacional.

Segundo Roberts (2002), os paradoxos e patologias dos mecanismos tradicionais de

accountability

podem ser contornados com a intensificação do diálogo. Para a autora, o

diálogo não demonstra apenas a administração inteligente de motivos e forças contraditórias, mas também pode resolver o paradoxo da

accountability

e evitar a atrofia da responsabilidade pessoal e da autoridade política. A autora sugere que a vantagem do diálogo está acima de seu custo como um mecanismo de

accountability

sob uma série particular de condições: Quando os agentes públicos deparam-se com graves problemas que os desafiam para encontrar a definição ou solução, e quando os métodos tradicionais de resolver problemas falham evitando, dessa forma, que um grupo qualquer imponha aos outros grupos sua definição ou sua solução do problema.

O sistema de

accountability

não se detém somente na preocupação com a probidade dos gestores públicos. Na visão de Peixe (2002), o sistema de

accountability

deve estabelecer e reforçar a confiança pública no desempenho governamental, além de outras formas para envolver os cidadãos, uma vez que são esses que necessitam de um melhor desempenho de

seu governo. A visão de administração pública, em

accountability,

está diretamente ligada à descentralização de responsabilidades, atribuindo poder à base da administração, à sociedade organizada em empresas sem fins lucrativos, tais como associações, cooperativas, organizações não-governamentais, enfim a sociedade civil organizada em busca da cidadania.

A transparência se impõe como fundamental para substituir controles burocráticos por controles sociais. Se a administração pública se torna acessível, faz-se necessário dar maior publicidade às suas ações para poder controlar o bom uso dos recursos utilizados, além de estimular a concorrência entre os fornecedores e a participação da sociedade no processo decisório, dando mais legitimidade à ação estatal.

A

accountability

requer o acesso do cidadão à informação e à documentação relativas

aos atos públicos e às formas pelas quais seus governantes estão decidindo em seu nome ou gastando o dinheiro que lhes foi entregue sob forma de tributos, portanto, a qualidade da democracia praticada na sociedade depende do grau de transparência das ações governamentais.

De acordo com Stirton e Lodge (2001), as mudanças recentes nos padrões de provisão de serviços públicos, algumas vezes associadas com o "Estado Regulador", têm sido apontadas como causadoras de erosão na cidadania e como redutoras de

accountability.

Os autores afirmam que esses desafios têm de ser enfrentados com o auxílio de quatro mecanismos de transparência - informação, escolha, representação e voz - como métodos alternativos que podem ser construídos dentro da arquitetura dos regimes de serviço público, para aumentar o grau de

accountability.

A utilização desses critérios diferenciados para transparência e

accountability

promovem uma resposta mais efetiva para assegurar maior responsabilização no serviço público do que as mais estreitas noções tradicionais de

Barberis (1998) afirma que tem havido disparidades entre a prática e a doutrina de

accountability

no governo central britânico. Afirma esse autor, com base no exame dos

pontos de apoio do arcarbouço teórico da Nova Administração Pública (NPM) - preconizada pela onda de reformas estruturais desencadeada em diversos países do mundo, e a partir de um breve estudo de caso da Agência de Proteção à Criança e do Serviço Penitenciário - que apesar da NPM não ser a raiz de tais disparidades, ela tem, não obstante, certa parcela de responsabilidade pela prática de exagerar ou de não evidenciar suas falhas.

Considini e Lewis (2003) afirmam que as teorias dos governos democráticos tradicionalmente têm confiado em um modelo de organização em que os agentes agem imparcialmente, aceitam claras linhas de

accountability

e de supervisão e definem suas atividades do dia a dia de acordo com regras, procedimentos e liberdade de ação restrita. Segundo eles, contudo, tem sido posto um sério desafio a esse ideal por críticos e reformadores que favorecem o mercado, a rede, ou os modelos de economia mista. Os autores estimam a extensão em que esses novos modelos têm influenciado o trabalho de orientação do

staff

de linha de frente utilizando três tipos de serviços alternativos - corporativo, de mercado

e de rede - ao passo que propõem modelo tradicional de procedimentos da burocracia pública. Utilizando as avaliações de administradores de linha de frente em quatro países em que a revolução em idéias tem sido acompanhada pela revolução nos métodos para organização dos serviços governamentais, eles medem o grau em que os novos modelos estão operando como normas de serviço de expedição. Um novo mercado corporativo híbrido (chamado governança empresarial) e um novo tipo de rede têm se transformado em significantes modelos para a organização do trabalho de linha de frente em programas públicos.

Haque (2001) argumenta que, apesar de existir um aparente conflito no discurso concernente a publicidade ou qualidade pública dos serviços públicos, a recente transição para um modelo dirigido pelo mercado de governança tem criado um sério desafio para tal

publicidade. Mais especificamente, as metódicas mudanças contemporâneas nos objetivos, estrutura, funções, normas e usuários de serviços públicos, tendem a reduzir sua publicidade por conta de sua atual tendência de erodir a distinção entre público e privado, reduzindo o papel socioeconômico, estreitando a composição de recipientes de serviço, piorando as condições de

accountability

e diminuindo o nível de confiança pública. Baseado em estudos existentes, descobertas empíricas e experiência dos países, o autor delineia o critério básico determinando a publicidade de serviços públicos, usa esse critério para demonstrar como a recente onda de reforma tem levado à erosão de tal publicidade e faz recomendações para o revigoramento da qualidade da publicidade no serviço público.

Outro importante mas negligenciado aspecto dos mecanismos de governança corporativa, segundo Scott (2002), é a regulação de organismos do setor público por organizações não estatais. Alguns reguladores privados derivam tanto sua autoridade quanto seu poder de um mandato legal para suas atividades. O poder estatutário é exercido por reguladores privados, ou por delegação ou por contratação.

Segundo Scott (2002), o poder contratual toma formas coletivas (por exemplo auto- regulatórias) e individuais. Mas, a outro grupo de reguladores privados, que opera nacional e internacionalmente, falta um mandato legal e ainda têm a capacidade de exercer considerável poder em constranger o Governo e agências públicas. Segundo esse autor, em grande número de casos, os reguladores privados operam sistemas de regulação mais completos (no sentido de controle de sistemas de padrões, monitoramento, e elementos de sanção) do que os verdadeiros reguladores públicos. Enquanto os reguladores privados podem aumentar o escrutínio dado aos organismos públicos (e dessa forma aumentar os sistemas de controle e de

accountability)

sua existência sugere uma necessidade de identificar as condições sob as quais

semelhante poder privado é legitimamente possuído e utilizado. Uma condição semelhante é a existência de mecanismos apropriados para controle. Esses controles podem assumir a forma

clássica de supervisão pública, mas podem igualmente ser identificados nos controles exercidos pela participação nas comunidades ou mercados.

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