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CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL

1.3. CONCEITO DE BEM PATRIMONIAL

Patrimônio cultural ou Bem Patrimonial é o bem cultural tombado. Um bem cultural, é um objeto que acumula teoria, prática, experiência de pesquisa, ou seja, é o resultado do conhecimento humano acumulado. Como fato inerente das sociedades humanas de todos os tempos, pode ser considerado um fenômeno histórico originado de práticas sociais localizadas no tempo e no espaço.

Patrimônio cultural tem uma noção muito ampla, podendo-se dizer que tudo o que se relaciona com a cultura, com a história, a memória, a identidade das pessoas ou de coletividades é um patrimônio cultural. Assim, tudo o que interessa proteger, para um determinado grupo social, justamente por ser representativo e distinto de outros grupos, tanto materiais como de experiência vivida (lugares, obras de arte, edificações, paisagens, festas, etc.) é um patrimônio cultural.

Patrimônio cultural aporta para um conjunto de bens tangíveis e intangíveis que formam a cultura de uma determinada sociedade. Quando se fala em bens patrimoniais, ou patrimônio cultural, indica sempre um sujeito coletivo: patrimônio cultural de uma comunidade, de um estado, de um país, e até o patrimônio cultural da humanidade.

Na medida em que o conhecimento foi se desenvolvendo e que o reconhecimento da existência de identidades diversas foi se fortificando, os bens culturais foram adquirindo importância como objeto de acúmulo de cultura específica e, portanto, potencial fonte de estudo. A valoração de patrimônio como cultura deu-se muito recentemente, em meados do século XX, e vem se solidificando entre os diversos campos disciplinares da História, História da Arte, Arquitetura e Urbanismo, Antropologia, Arqueologia, e outros.

Uma das características primordiais dessas obras consiste em ter uma linguagem própria, passível de ser decodificada por quem com elas interaja. Um bem cultural é gerador de idéias, sentimentos e emoções que se convertem em laços de filiação com o ser humano. Independente dos materiais que o constituem e dos diferentes métodos empregados para sua fabricação, o que sempre está presente é o seu testemunho do tempo, da história desse tempo e da sociedade que o concebeu.

Durante muito tempo, imaginou-se que a cultura de um povo era composta apenas pelas obras de arte e pelas manifestações mais eruditas. Atualmente sabe-se que cultura é muito mais que

isso: cultura é a maneira que o homem tem de se relacionar com a natureza e com os outros homens. Portanto, os feitos mais simples e corriqueiros que um determinado grupo desempenha são tão importantes quanto às obras de arte. Deste modo, o patrimônio cultural de um povo é o maior depositário de sua identidade, daqueles elementos diferenciais que o caracterizam. No entanto é sempre produto de uma escolha - a escolha do que é significativo para aquele povo. Como se sabe, os objetos de qualquer natureza têm usos e significados diferentes para indivíduos e comunidades diferentes. Então, quando se pensa em patrimônio, é preciso ter em vista que vão ser os valores atribuídos às coisas e lugares que lhes dão significado e transforma-os em patrimônio. É importante que se perceba que as decisões sobre a conservação do patrimônio, de forma explícita ou implícita, sempre será resultado de uma articulação de valores da comunidade ou dos órgãos oficiais que leva à decisão de se conservar um bem cultural.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 define no artigo 216 o que constitui o patrimônio cultural brasileiro: “os bens de natureza material e imaterial que tomados individualmente ou em conjunto são portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. O mesmo artigo também determina: ―o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento, desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.”

Bens culturais materiais são aqueles que possuem um suporte material de grande valor e significado, incorporado ao valor simbólico do bem tal como uma imagem, uma igreja, uma cidade, um jardim, um sítio arqueológico, etc.

Bens culturais imateriais são aqueles cujo valor não está especificamente na sua materialidade, mas na evocação ou representação que sugerem como os saberes enraizados no cotidiano das comunidades que são passados de geração em geração; as celebrações; as formas de expressão tais como as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, entre outras.

No entanto para chegar essa consideração de patrimônio, onde bens imateriais, paisagens naturais e espírito do lugar são valorizados, o conceito de monumento segue um longo caminho na história humana. Toma um grande e significativo impulso no século XX onde a noção se estende em 1964, com a realização do “II Congresso de Arquitetos e Técnicos de

Monumentos Históricos” acontecido em Veneza, que resulta no documento “Carta de Veneza”. Essa carta amplia a noção de patrimônio arquitetônico e assinala a importância da conservação de áreas e estruturas edificadas, tanto as urbanas como as rurais. A ampliação do conceito de patrimônio, portanto, é entendida para além de criações arquitetônicas históricas isoladas, abrangendo também os conjuntos urbanos e rurais com significado especial e obras modestas com valor cultural. O conceito de monumento histórico deve envolver também o espaço envolvente e o local onde este se encontra implantado.

Uma década após a Carta de Veneza o conceito de patrimônio se alarga ainda mais quando do documento ―Carta de Amsterdã‖, ou “Carta Européia do Patrimônio Arquitetônico‖, adotada pelo “Comité dos Ministros do Conselho da Europa‖, em 1975. Essa carta acrescenta a chamada conservação integrada. A noção de patrimônio arquitetônico passa a abranger também cidades antigas e aldeias tradicionais.

A Conservação integrada é entendida como um modo de conservação, restauração e reabilitação de edifícios e sítios antigos objetivando readequá-los às novas funções da contemporaneidade. Na observação de que o patrimônio antigo, não deve ser descartado e nem se transformar em ―peça de museu‖, nada mais acertado que introduzi-lo a vida das cidades cujas funções modificam-se, ajustam-se as evoluções tecnológicas e se sucedem em diferentes sociedades. É nesse contexto complexo que a conservação integrada representa a dialética entre a vontade de proteção e as necessidades de planejamento.

Dentre as políticas e projetos que foram postos em prática, no sentido da conservação integrada, a revalorização ocorrida na cidade de Bolonha, na Itália, foi pioneira. Nessa cidade a gestão da Conservação Integrada deveu-se as propostas formuladas por Cercellati (1976), que adotou o Centro Histórico de Bolonha como marco principal e definidor de toda uma política urbana. O Projeto foi executado em meados da década de 1960 reutilizando e adaptando construções existentes.

Segundo Zancheti (2007), apesar da conservação integrada ter uma longa experiência e de sua importância crescente, continua sendo uma prática sem teoria.

A valorização como instrumento jurídico de um bem cultural de natureza material é o tombamento. O verdadeiro sentido de tombar é de proteger. Após o tombamento o bem cultural passa a ser denominado bem patrimonial. O registro é o instrumento legal de proteção

dos bens culturais de natureza imaterial. O inventário é um instrumento de proteção dos bens culturais de qualquer natureza.

1.4. SISTEMA DE PROTEÇÃO DOS MONUMENTOS NO BRASIL: TOMBAMENTO