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CAPÍTULO 4 PRÁTICAS URBANÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS NA ÁREA DA

4.4. OS PLANOS PARA A RECUPERAÇÃO DO BAIRRO DO RECIFE

4.4.4. O Projeto Recife-Olinda

4.4.4.1. Projeto de Requalificação Urbanística e Inclusão Social da Comunidade

O projeto, que foi elaborado pelo Departamento de Preservação do Patrimônio Cultural – DPPC, da Secretaria de Cultura, e pela URB-Recife, é definido como um projeto de implantação de medidas para melhoria das condições tanto físicas quanto sociais da Comunidade do Pilar.

Um dos acontecimentos mais importantes para aprovação do projeto foi o fim do impasse entre a Prefeitura do Recife e o Porto do Recife no que se refere à concessão fundiária: os terrenos onde se assenta a Comunidade do Pilar, local do projeto proposto, pertenciam à extinta Portobrás, portanto trata-se de terrenos da União.55 Esse fato vinha gerando entraves e impedia intervenções na área. Em dezembro de 2007, esta questão ficou resolvida quando a cessão de uso dos terrenos passou do Porto para a Prefeitura do Recife.

O projeto propõe uma reurbanização para um polígono de 26.234,23 m² de superfície, com 594 unidades habitacionais, escola, creche, posto de saúde e centro comercial e de serviços. O

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IMÓVEIS DA UNIÃO: Terrenos de marinha e seus acrescidos; os terrenos às margens de rios federais; ilhas etc. A PORTOBRÁS, por sua vez, foi dissolvida pela Lei n. 8.029, de 12 de abril de 1990, e suas obrigações e direitos decorrentes de norma legal, ato administrativo ou contrato passaram à União.

programa ainda contempla infra-estrutura urbana com pavimentação, drenagem, água, luz e saneamento. Faz parte deste projeto a restauração da Igreja de Nossa Senhora do Pilar numa tentativa de reintegrá-la ao Bairro. Segundo a Prefeitura do Recife, o Programa Federal de Aceleração do Crescimento (PAC) aprovou uma verba para a obra orçada em R$ 37 milhões (RECIFE, 2008) para a execução do projeto. Tanto a ênfase no Patrimônio Histórico, com reintegração funcional da Igreja do Pilar às atividades sócio-culturais da Comunidade quanto a desobstrução dos espaços públicos são também promessas do projeto.

O projeto destina-se às quadras hoje ocupadas pela Comunidade do Pilar e mais uma parte da quadra 40, ocupada anteriormente com silos de melaço retirados no início de 2009. Assim, a proposta de reurbanização concentra-se nas quadras 45, 46, 55, 40 e 60 e parte da quadra 25, delimitadas pelas ruas do Brum, do Ocidente, Edgar Werneck, Bernardo Vieira de Melo, e Rua de São Jorge (Figura 145).

Figura 145: Vista aérea da área ocupada pela Comunidade do Pilar – espaço de implantação do PRUISCP- Observar mudança da numeração das quadras, em comparação com a do início do século XX (figura 88)

Fonte: www.skyscrapercity.com.br

Para a quadra 60, o programa de reabilitação da área projetou dois blocos habitacionais e um mercado público tendo como fachada ruínas remanescentes da destruição ocorrida na década de 70. Do mesmo modo, na quadra 40, com a tipologia das primeiras edificações da área

Quadra 40 Quadra 60 Quadra 45 Quadra 25 Quadra 55 Quadra 46 Moinho Recife

preservada, algumas ruínas serão incorporadas à nova edificação. Segundo a Prefeitura do Recife, o partido arquitetônico do mercado (quadra 60) dispõe os boxes sem afastamentos, procurando assim, manter a mesma locação das antigas habitações. Nele estão previstos sessenta e sete boxes, destinados ao comércio de secos e molhados e serviços, uma padaria, além de depósitos e banheiros públicos. Atualmente, os silos de armazenagem do melaço, que são vistos na foto, foram retirados dando margem à ampliação do projeto.

Próximo à Igreja, também está prevista a construção de uma praça na quadra 25. Para a construção do conjunto habitacional, o projeto considera prédios de quatro andares com altura de aproximadamente 12 metros, portanto superior à altura máxima da Igreja. Com isso, a visibilidade e o sentido de evidencia entre as construções, que a Igreja possuía antes da desapropriação, ficaram mais prejudicados do que com os barracos que têm uma altura muito reduzida em relação à Igreja (figura 146 e 147).

Quanto à legislação, a área está inserida no sítio histórico do Recife, na Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural –ZEPH 09, desde 1981, sendo portanto protegida pela Municipalidade. A área deve seguir os condicionantes da lei elaborada por ocasião da revitalização do Bairro do Recife, lei 16.290/97 que considera a área inclusa dentro do Setor de Renovação (Polo Pilar). Esse setor é considerado como área que apresenta descontinuidade e descaracterização do conjunto histórico existente no Bairro do Recife. A área em questão encontra-se fora do perímetro de tombamento do Bairro do Recife56, que foi considerado como Patrimônio Histórico Artístico Nacional desde 1998.

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O Bairro do Recife foi tombado em 15 de dezembro de 1998 através do processo de tombo 1.168-T85. O tombamento está inscrito no Livro de Belas Artes, vol. II, inscrição n. 614, fl. 39 e Livro de Arqueologia, Etnologia e Paisagismo, vol. I e II, inscrição n. 119, fl. 99. O perímetro tombado corresponde a 186 mil m2, dividido em três sub-núcleos, com 51 imóveis de destaque.

Figura 146 e 147: Maquetes eletrônicas do projeto para o mercado com ruínas incorporadas (quadra 60) conjunto habitacional e praça próximos à igreja (quadras 45, 46 e 25). Fonte: Prefeitura do Recife - Secretaria de Cultura – DPPC - Agosto -2008.

Segundo a Prefeitura do Recife, para o ―Projeto de Requalificação Urbanística e Inclusão Social da Comunidade do Pilar” foram consideradas também as seguintes recomendações, conforme o que rege o Plano de Reabilitação do Bairro do Recife: valorização dos monumentos e elementos arquitetônicos significativos, otimização dos padrões de ocupação e dinamização dos usos e atividades e inserção de elementos contemporâneos na configuração urbanística e arquitetônica da área.

Na lei de 1997, são sugeridos para o Setor de Renovação novos padrões morfológicos, estilísticos ou volumétricos, que poderão ser introduzidos desde que sejam compatíveis com a escala dos monumentos e elementos preserváveis, dos galpões e dos silos de armazenagem, com visualização dos monumentos tombados, em perspectiva e que permita sua valorização, com visualização do conjunto. Além disso, as novas construções deverão seguir as características presentes na morfologia e tipologia do Bairro do Recife e observar os seguintes parâmetros: gabarito máximo de 40,00m (quarenta metros); coeficiente de utilização referencial igual a 2,4; coeficiente de utilização máxima igual a 3,0 e taxa de solo natural mínima de 20% do terreno.

A Prefeitura explica que, no que se refere à modulação dos edifícios, foram consideradas as tipologias predominantes no Bairro do Recife e os elementos compositivos que definiram o conjunto de edificações e aberturas, configuradas por esse modelo: quadras compactas, sobrados e casas térreas, vizinhas e coladas umas às outras.

O Plano também se submeteu à análise e aprovação do IPHAN, requisito necessário para qualquer intervenção na área (ZEPH-09), levando em conta a vizinhança da Igreja do Pilar, protegida em nível federal.

O projeto busca resgatar o desenho das quadras que a ocupação informal da favela desordenou e, consequentemente, modificou o desenho anterior a esta ocupação. O resgate do traçado original baseia-se em mapas constantes no sistema Unibase e no Atlas Histórico Cartográfico do Recife onde as quadras propostas foram localizadas, no levantamento topográfico existente da área. O plano não considera a modificação do traçado provocado pelas fábricas e consequentemente também não propõe o resgate dos espaços públicos descaracterizados e apropriados pelas industrias.

O Programa ainda prevê a elaboração de um Plano de Desenvolvimento Social e uma proposta de pesquisa arqueológica para reurbanização da Comunidade do Pilar. A expectativa

arqueológica é a de encontrar vestígios de três momentos distintos da evolução do Bairro do Recife: 1- Forte de São Jorge (século XVI e XVII); 2- edificações da Rua de São Jorge (segunda metade do século XVIII e início do século XIX); e 3- edificações da Rua dos Guararapes (atual Rua Bernardo Vieira de Melo) (segunda metade do século XIX e século XX).

Especificamente em referência à Igreja do Pilar, o IPHAN aprovou o Plano e iniciou obras de restauro em janeiro de 2009 (figuras 148 a 151). As obras foram iniciadas sob coordenação do IPHAN e os trabalhos de mão de obra foram entregues a 50 alunos da Obra-Escola sob coordenação do CPC, dos quais 17 são moradores do Pilar. A restauração da Igreja é um convênio entre Prefeitura do Recife, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Centro Trabalho e Cultura (CTC). A execução do serviço será baseada no projeto de restauração elaborado pela Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural Material – DPPC, da Secretaria de Cultura da Cidade do Recife, com a aprovação do IPHAN.

Figura 148: Igreja do Pilar- início dos trabalhos de restauração. Fev.2009

Fonte: fotos da autora

Figura 149: Interior da igreja do Pilar. Fev 2009

Fonte: Prefeitura do Recife

Figura 150: Exterior da Igreja. Trabalhos de restauro. Fev. 2009 Fonte: fotos da autora

Figura 151: Obras da Igreja do Pilar Fonte: fotos da autora

Em julho de 2009, as obras de restauro da Igreja foram interrompidas sob alegação de falta de verba. Até a conclusão desse estudo, a Igreja encontrava-se mais uma vez abandonada, porém, desta vez com agravantes maiores, motivados pelas seguintes ações: retirada dos lacres das janelas e portas permitindo livre acesso ao seu interior. A camada de pintura e o reboco das paredes internas e externas que davam certa proteção foram retirados, enquanto os banners, que anunciavam o restauro, foram cortados e arrancados (figura 152).

Figura 152: Trabalhos interrompidos na Igreja do Pilar. Agosto de 2009 Fonte: fotos da autora. Out/2009

Os resultados alcançados após o estudo das práticas urbanísticas realizadas na área do estudo apontaram para uma crescente desvalorização da área do entorno da Igreja do Pilar e, consequentemente, dela própria. Os condicionantes que motivaram esta situação podem ser melhor compreendidos a partir do entendimento de que a atribuição de valores é feita numa interligação entre sujeito e objeto, onde o sujeito se mostra carregado de atributos próprios de seu conhecimento, cultura e meio social.

Assim, tornou-se claro que uma pesquisa empírica na Comunidade do Pilar era necessária para complementar os estudos até aqui constatados.