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4. A Perspetiva de Evolução da Inclusão

4.1 Conceito de Inclusão

O mundo caminha para a construção de uma sociedade cada vez mais inclusiva. Sinais desse processo de construção são visíveis com frequência crescentes, por exemplo, nas escolas, na mídia, nos recursos da comunidade e nos programas e serviços.

A inclusão consiste em adequar os sistemas sociais gerais da sociedade de tal modo que sejam eliminados os fatores que excluíam certas pessoas do seu seio e mantinham afastadas, aquelas que foram excluídas. A eliminação de tais fatores deve ser um processo contínuo e concomitante com o esforço que a sociedade deve empreender no sentido de acolher todas as pessoas, independentemente das suas diferenças individuais e das suas origens na diversidade humana. Pois, a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades dos seus membros. O desenvolvimento (por meio da educação, reabilitação) das pessoas com NEE deve ocorrer dentro do processo da inclusão e nunca como pré-requisito para poderem fazer parte da sociedade. Este paradigma de inclusão define o conceito de equiparação de oportunidades, como

o processo mediante o qual os sistemas gerais da sociedade, tais como o meio físico, a habitação e o transporte, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades de educação e trabalho e a vida cultural e social, incluídas as instalações desportivas e de recreação, são feitas acessíveis para todos. Isto inclui a remoção de barreiras que impedem a plena participação das pessoas deficientes em todas as áreas, permitindo-lhes assim alcançar uma qualidade de vida igual à de outras pessoas (Driedger e Enns, 1987: 2-3).

Desta forma, e incorporando este conceito à escola, o conceito de inclusão não pode, nem deve afastar-se do objetivo principal que é o atendimento educacional a alunos com NEE, ministrado nas escolas das suas residências e em turmas do regular dessas mesmas escolas, mesmo sabendo que há a probabilidade dessa franja de alunos obter insucesso.

Neste sentido, o conceito de inclusão, que tem na sua génese, dar a todos os alunos a oportunidade de aprenderem juntos nas escolas das suas residências, deve prosseguir este objetivo, considerando como direito fundamental dos alunos com NEE, na sua inserção nessas mesmas escolas, desde que tenham os apoios necessários para desenvolver os seus potenciais.

Por educação inclusiva entende-se como sendo um processo de inclusão dos alunos com NEE ou perturbação de aprendizagem na rede comum do ensino. Para tal a escola necessitará de fazer uso de medidas que tenham por base todos os níveis de planificação curricular, desde o Projeto Educativo de Escola (PEE), Plano Anual de Turma (PAT),

Manuel Carvalho 44 Programa Educativo Individual (PEI), de forma a criar oportunidades de relevo na aprendizagem que visam responder às necessidades de todos os alunos, bem como, desenvolver projetos direcionados à comunidade.

Para que o conceito de inclusão se aplique, este pressupõe duas vertentes essenciais: a primeira diz respeito à remoção de barreiras que obstaculizam a aprendizagem com sucesso; a segunda desenvolver respostas educativas adequadas às variadas necessidades de aprendizagem dos alunos com NEE.

Contudo, o conceito de inclusão não pode, nem deve afastar-se do seu objetivo principal, que é o atendimento educacional a alunos com NEE, que podem ser moderadas ou severas, efetuado nas escolas das suas residências e “sempre que possível”, nas turmas do regular, mesmo sabendo que alguns destes alunos podem experienciar o sabor amargo do insucesso, mas isto não quer dizer que todos os alunos sejam incluídos nas escolas e em turmas do regular, uma vez que

o princípio da “inclusão” não deve ser tido como um conceito inflexível, mas deve permitir que um conjunto de opções seja considerado sempre que a situação o exija. Somos pela inserção do aluno com NEE, mesmo com NEE severas, na classe do regular, “sempre que seja possível”, mas acreditamos também na salvaguarda dos seus direitos, que pode ser posta em causa, caso não se respeitem as características individuais e as necessidades específicas desse mesmo aluno. Tais características e necessidades específicas podem fazer com que a sua permanência a tempo inteiro na classe do regular não seja a modalidade de atendimento mais eficaz (Correia, 1997: 34).

Pois, de acordo com o conceito de inclusão, este deve apresentar-se como inclusão progressiva que promova o sucesso escolar do aluno com NEE e que percorra este caminho em paralelo com os serviços da Educação Especial. Assim, o termo sucesso não deve significar que todos os alunos alcancem os objetivos do currículo comum a restante turma, mas que todos os alunos tenham o maior número de oportunidades possível de maximizar o seu potencial, ou seja, todos os alunos aprendem na medida das suas capacidades. O ideal de inclusão refere-se como sendo um processo educacional que tem por objetivo principal alargar ao máximo a capacidade de aprendizagem de cada criança com NEE na escola e consequentemente na sala de aula do regular. Mas, deve envolver um suporte de serviços da área de Educação Especial através dos seus profissionais. Assim, a inclusão é um processo constante que necessita ser constantemente revisto. Kauffman (2003), diz-nos que os alunos com NEE não podem fazer certas coisas, então “é essencial que nos centremos naquilo que podem fazer” (ibidem: 179).

Heward (2003), consubstancia a ideia de Kauffman acrescentando que cada aluno é diferente dos demais e que essas diferenças são importantes para garantir uma atenção especial, mais individualizada. Como afirma o mesmo autor “de facto, as diferenças

Manuel Carvalho 45 interindividuais no domínio da aprendizagem constituem a própria base da educação especial” (ibidem: 131).

Segundo Kauffman e Heward e no seguimento da ideia, de que o princípio da inclusão deve prescrever, “sempre que necessário”, um continuum de serviços educativos que tornem mais fácil a prestação de apoios especializados eficazes (Correia, 1997, 2003). “Caso contrário, o espírito que deu força ao movimento da inclusão pode ser desvirtuado e o próprio conceito de inclusão pode passar a significar confusão e desilusão. Pode, até, no caso dos alunos com NEE permanentes, passar a ser negligência” (Correia, 1997: 36).

Por fim, as afirmações de Kauffman e Heward, refletem, assim, acerca da importância da Educação Especial como condição fundamental para uma boa prestação de serviços educativos para alunos com NEE, ou seja, como elemento fundamental e facilitador de inclusão destes alunos.