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CONCEITO DE PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA E DIALETOLÓGICA

4 CRENÇAS E ATITUDES LINGUÍSTICAS NA REGIÃO DE FRONTEIRA

4.3 CONCEITO DE PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA E DIALETOLÓGICA

A presente pesquisa define-se como de caráter sociolinguístico e dialetológico, uma vez que se busca observar as crenças e atitudes linguísticas das diferentes comunidades pesquisadas e, dessa maneira, compreender o fenômeno da variação linguística, a partir do estudo in loco.

Assim, compreende-se que o desenvolvimento desse tipo de investigação, torna-se importante pelo contexto de fronteira em que foi realizada a pesquisa, a riqueza sócio-cultural, a diversidade étnica e a situação linguística que envolve os três países.

Esses fatores supracitados determinam as especificidades linguísticas das localidades, e é justamente essa heterogeneidade verificada na língua, na modalidade oral, que nos interessa neste trabalho: a complexidade do sistema linguístico e as variações nele contidas,

92 determinadas por diferenças espaciais (geográficas).

Dessa forma, entende-se que, de acordo com Alvar (1968, p. 30), não há um método que seja capaz de abranger em sua completude, a variabilidade de uma língua: “Nunca possuiremos a realidade de qualquer fala, porque a realidade é mutável em cada comunidade, em cada indivíduo dessa coletividade e nos momentos, distintos, de cada indivíduo.”

Em consonância com a citação de Alvar (1968) e tomando por base a variação linguística, combinadas aos princípios sociolinguísticos e dialetológicos, pode-se dessa forma trilhar os conhecimentos dos mecanismos com que opera uma língua e dos fatores que determinam sua evolução. Apontando para a heterogeneidade linguística e a necessidade de confrontar as comunidades de fala. Rossi (1969, p. 87-88) vê nos estudos dialetológicos essa ponte, que permite transitar entre diferentes pontos geográficos ao afirmar que, Dialetologia:

[...] é uma ciência eminentemente contextual, isto é, [...] o fato apurado num ponto geográfico ou numa área geográfica só ganha luz, força e sentido documentais na medida em que se preste ao confronto com o fato correspondente – ainda que por ausência – em outro ponto ou em outra área [...]

Bright (1974, p. 17) afirma que a tarefa da Sociolinguística é “demonstrar a co- variação sistemática das variações lingüística e social, e, talvez, até mesmo demonstrar uma relação causal em uma ou outra direção”. Portanto, cabe à Sociolinguística, dentre outras tarefas, descrever em padrões gerais o uso linguístico numa determinada comunidade de fala, a fim de descrever as alternâncias entre a diversidade linguística e os indivíduos que compartilham de todas essas variedades.

Em sua íntima relação com a sociedade e comunidade fala, a língua revela-se diversa. Ou seja, há diferenças sociais, de níveis de escolaridade, econômicos, étnicos dos falantes e há diferenças regionais. Os conjuntos destas variedades compõem um sistema relacionado com a comunidade de fala. Portanto a Sociolinguística focaliza as diferenças de que os falantes fazem das línguas ou as crenças desses falantes sobre seu próprio comportamento linguístico e podem, ainda, de acordo com Bright (1974, p. 18), apreender a diversidade na sua extensão multidialetal, plurilíngue e social. Dessa forma, os estudos sociolinguísticos são aplicados como avaliação da estrutura social e na reflexão sobre a história das línguas.

Complementa essa visão o pensamento de Coseriu (1987, p. 3), que define a Sociolinguística, como: “[...] o estudo da variedade e variação da linguagem em relação com a estrutura social das comunidades falantes”, e a esse respeito Silva-Corvalán (1988, p. 8) acrescenta que:

93 Sociolingüística e Dialetologia se tem considerado até certo ponto sinônimos uma vez que ambas as disciplinas estudam a língua falada, o uso linguístico e estabelecem as relações que existem entre certos traços lingüísticos e certos grupos de indivíduos. Assim como a Sociolingüística, a Dialetologia reconheceu desde cedo a existência da heterogeneidade lingüística48.

Silva-Corvalán (1988, p. 8-9) acrescenta que a Dialetologia especifica o contexto linguístico no sistema do dialeto em questão e delimita a distribuição geográfica das variantes. Por outro lado, a Sociolinguística, além de estudar os dialetos e o valor que a comunidade lhes empresta, incorpora entre outras características, os fatores que incidem na variação. Examina as atitudes dos falantes de acordo com as diversas realizações, analisa sua difusão no sistema linguístico e social considerando o grau de prestígio destas formas e de seus usuários. Pesquisa também a correlação entre as diversas formas linguísticas de uma língua e sua apropriação de acordo com o estrato social dos falantes e o contexto em que estiverem inseridos.

Segundo Pottier (1996, p. 41), a Dialetologia tem como objeto central o estudo dos dialetos da língua, porém “a geografia humana, a econômica e a cultural também se refletem nessa tela de atividades sociais de onde se projetam os padrões linguísticos dos falantes”.

Nesta perspectiva, a Dialetologia atual não se ocupa apenas de questões diatópicas, porém acompanha a Sociolinguística, ao analisar fatores de ordem sócio-cultural que determinam a variação e mudança linguística. Na verdade, a Dialetologia contemporânea ultrapassa o campo geolinguístico e possibilita o alcance de informações que contemplam a variação linguística em diferentes dimensões: diatópica, diafásica, diastrática e outros subtipos variacionais que tem relação entre si. Para tal, Cardoso (2005) fala da importância dos estudos dialetais para evidenciar não só o que faz referência aos estudos linguísticos:

[...] mas também no que se refere a outros campos do conhecimento com os quais mantém profunda relação e explícita interface. [...] é reconhecida a relevância da contribuição que esse ramo de estudos da linguagem pode trazer à reconstituição da história, ao entendimento da organização demográfica, às questões de natureza antropológica, em geral, e ao próprio ensino da língua materna. (CARDOSO, 2005, p. 130-131).

48

“Sociolingüística y Dialectología se han considerado hasta cierto punto sinónimas en cuanto a que ambas disciplinas estudian la lengua hablada, el uso lingüístico y establecen las relaciones que se dan entre ciertos rasgos lingüísticos y ciertos grupos de individuos. Así como la sociolingüística, la dialectología ha reconocido desde siempre la existencia de la heterogeneidad lingüística.” (SILVA-CORVALÁN, 1988, p. 8).

94 Cardoso (2010, p. 26) busca elucidar o que distingue Dialetologia de Sociolinguística, afirmando que a distinção reside na forma de:

tratar os fenômenos e na perspectiva que imprimem à abordagem dos fatos linguísticos. A dialetologia, nada obstante considerar fatores sociais como elementos relevantes na coleta e tratamento dos dados, tem como base da sua descrição a localização espacial dos fatos considerados, configurando-se, dessa forma, como eminentemente diatópica. A sociolinguística, ainda que estabeleça a intercomparação entre dados diferenciados do ponto de vista espacial, centra-se na correlação entre os fatos linguísticos e os fatores sociais, priorizando, dessa forma, as relações sociolinguísticas.

95 5 METODOLOGIA

Nesta seção, apresentam-se os procedimentos metodológicos em que se fundamenta esta investigação, assim estruturados: 1) a constituição do corpus; 2) o perfil sociolinguístico dos informantes; 3) escolha das localidades; 4) questionários; 5) execução dos inquéritos.

Para a realização desta tese, seguem-se procedimentos metodológicos, com vistas a disciplinar a investigação e alcançar os objetivos traçados. Sobre os passos a serem seguidos, Ferreira e Cardoso (1994, p. 23-36) apresentam e descrevem 4 (quatro) etapas principais que devem ser observadas na pesquisa dialetal:

1) preparação da pesquisa; 2) execução dos inquéritos;

3) exegese e análise dos materiais recolhidos; 4) divulgação dos resultados obtidos.

As quatro etapas elencadas pelas autoras serviram de base para a realização dessa pesquisa e são explanadas no decorrer desta seção em que são apresentadas todas as informações de acordo com os cinco itens elencados no primeiro parágrafo desta seção