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2.2 A HISTÓRIA DA TRÍPLICE FRONTEIRA

2.2.3 Puerto Iguazú/Argentina

As imagens, da Figura 12, representam um pouco do que é a cidade de Puerto Iguazú, a fotomontagem da feira-livre. Nesse espaço as pessoas se reúnem para saborear e comprar produtos como: queijo, salame, azeitonas, doce de leite, alho, entre outros produtos. Observa- se também que o nome de um dos estabelecimentos está em português “Barraca do Papagaio”. A feira ou feirinha, como é conhecida, é bastante frequentada por brasileiros, logo, alguns estabelecimentos têm seus nomes em português como uma loja de azeitonas e vinhos entre outras mercadorias, chamada “Salame Maluco”.

Figura 12 – Puerto Iguazú

Trevo de Puerto Iguazú Avenida central Praça San Martin

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Artesanato. Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_kX_ykC5Luyc/SAVSh3aA7artesanato.jpg>. Acesso em: 02 de maio de 2011.

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Catedral Feira – livre

Fonte: acervo pessoal

Conforme visto anteriormente, o explorador espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca descobriu as Cataratas do Iguaçu em 1541. Nesse mesmo período chegam os espanhóis, que não interferem na população local, que permaneceu povoada por indígenas até o século XIX.

Figura13 – Fotomontagem do Passeio da Identidade

Fonte: acervo pessoal

As imagens, do Paseo del la indentidad, retratam, por meio dos desenhos, um pouco da história da origem do povo de Puerto Iguazú, as raízes indígenas, os rituais, as disputas pela terra e seu cultivo, à religião, a família, assim como também a evolução histórica deste território. A história é contada por meio dos seis murais expostos que transmitem a mensagem do respeito as diferentes identidades. A praça está localizada na área central da cidade. Ponto de encontro dos moradores da cidade, que se reúnem para conversar, a praça também é

37 frequentada por turistas que querem saber um pouco mais a respeito das origens do local.

De acordo com Instituto Nacional de Estadística y Censos (INDEC, 2010, online)21, em 1902, o governo argentino destina uma área das terras para o que, futuramente, formaria o Parque Nacional argentino e o Parque Nacional do Iguaçu. Em 1907, Gibaja e Nuñez retornam à cidade e instalam o primeiro hotel, pouco antes de surgir a primeira escola. Em 1916 aparece o primeiro registro civil, em 1928 surge o primeiro posto dos correios e outros acontecimentos fundamentais para que fosse oficializado o futuro município.

Em 1943, surge o Parque Nacional do Iguaçu, a área urbana de Puerto Aguirre é delimitada, mas só em 1948 são vendidos os primeiros terrenos urbanos.

Puerto Iguazú está localizada na Argentina, é província de Misiones e foi fundada em 12 de agosto de 1901. Seus habitantes são chamados de Iguazuenses. É a quarta cidade mais importante da província e fica a 23 km das Cataratas do Iguaçu, principal pólo turístico da região. A cidade conta também com o comércio internacional devido a sua proximidade com o município de Foz do Iguaçu através da ponte Internacional Tancredo Neves que une os dois países.

A cidade de Puerto Iguazú apresenta uma população de 81.215 habitantes (INDEC, 2010, online). Com o aumento da população, nos últimos anos, a cidade passa a ocupar o terceiro lugar na província. Grande parte da população é mestiça devido à mistura de indígenas, europeus (portugueses, italianos, ucranianos, espanhóis, alemães entre outros) e, em menor quantidade, africanos. Sua população é marcada também pela presença de brasileiros e paraguaios que não aparecem no Censo, porém trabalham na comunidade e vivem em seus respectivos países. Foram registrados também, aproximadamente 600 habitantes indígenas da reserva Mbya Guarani: Fortín Mbororé e Yriapú (INDEC, 2010,

online).

No final de 1982, os presidentes João Batista Figueiredo e Roberto Bignone acordaram a construção da Ponte Brasil/Argentina, que atravessa o Rio Iguaçu, inaugurada em 1985, com o nome de Ponte Tancredo Neves pelos presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín.

O Quadro 5 mostra o perfil geral dos habitantes do município de Puerto Iguazu de acordo com o sexo (homem/mulher) e o Quadro 6 apresenta o nível de instrução escolar dos

21 Instituto Nacional de Estadística y Censos (INDEC). Disponível em: http://www.indec.gov.ar/cgibin/Rp WebEngine.exe/PortalAction?&MODE=MAIN&BASE=CPV2001ARG&MAIN=WebServerMain.inl>. Acesso em: 06 de maio de 2011.

38 habitantes.

Quadro 5 – Perfil dos habitantes de Puerto Iguazú

Fonte: Instituto Nacional de Estadística y Censos – INDEC (2010)

Quadro 6 – Nível de instrução dos habitantes de Puerto Iguazú

Fonte: Instituto Nacional de Estadística y Censos – INDEC (2010)

Conforme se pode constatar, observando os dados do Quadro 6, o nível de instrução das mulheres supera os índices de instrução dos homens. O índice de pessoas sem instrução de acordo com os últimos censos tem diminuído, e o acesso a universidade ainda é privilégio de poucos. Tudo isso reflete a situação socioeconômica do município, cuja renda tem se mantido no setor gastronômico e turístico.

O acesso terrestre à cidade de Puerto Iguazú é feito por meio da Ponte Tancredo Neves que une as rodovias Nacional 12 AR e BR 469. O acesso fluvial pode ser feito pelo Rio Iguaçu e o acesso aéreo é feito pelo aeroporto Internacional de Puerto Iguazú. O Aeroporto é um dos meios de acesso mais utilizados para chegar ao Norte da Argentina porque, por meio fluvial, não é mais uma prática comum neste município.

Figura 14 – Ponte Tancredo Neves

Fonte: acervo pessoal

SEXO HABITANTES PERCENTUAL

Homens 41.031 50,52%

Mulheres 40.184 49,48%

Total 81.215 100%

Nível de Instrução dos Habitantes acima de 15 Anos HABITANTES 81.215 HOMENS 41.031 MULHERES 40.184 Sem Instrução 12,9% 7,7% 5,2%

Ensino Fundamental Completo 51% 45,8% 47,3%

Ensino Médio Completo 29,7% 42,29% 42,32%

39 A cidade possui um centro comercial próximo da Ponte Internacional Tancredo Neves. No centro da cidade há bancos, casas de câmbio, bares, cassinos, restaurantes, lojas de roupas, lojas de equipamentos esportivos, discotecas, pubs, delicatessen, panificadoras entre outras. Puerto Iguazú apresenta atrações turísticas, tais como as Cataratas do Iguaçu, o Marco das três Fronteiras, a feira artesanal, o Museu de Imagens da floresta, o Museu Mbororé, o Parque Natural Municipal Luis Honório Rolón e o centro de reabilitação para aves Güira Oga.

40 3 LÍNGUA: CONCEITOS

“Os homens fazem a língua, e não a língua os homens” (FERNÃO DE OLIVEIRA, ([1536] 1975, p. 43)

Fernão de Oliveira ([1536] 1975) enfoca a oralidade demonstrando a identidade e as particularidades do povo pela estrutura do falar. A partir dessa epígrafe sobre a língua, outras reflexões e outros escritos serão abordados neste capítulo com o objetivo de entender, refletir e conceituar língua, já entendida como elemento de variação e mudança, porque a língua é feita pelos homens.

A diacronia de uma língua é feita pelo povo que usa essa língua. Pelo viés das teorias sobre a natureza das línguas e das representações sobre a mudança linguística e às variações da língua histórica, Fernão de Oliveira ([1536] 1975, p. 45) trata a língua associada ao desenvolvimento cultural. Segundo o autor, a língua é constituída historicamente e sua articulação diz respeito aos costumes e às normas sociais. A função elementar da língua é ser expressão do pensamento e meio de comunicação. Por meio da língua, constroem-se identidades e consciências e maneiras de ver e ser no mundo. A obra gramatical de Fernão de Oliveira ([1536] 1975, p. 52) não somente registra formas e conteúdos da língua e dos falares portugueses como deixou marcas documentais para a análise da sociedade portuguesa de quinhentos.

Através do uso da língua materna, os homens se comunicam, se constituem, por meio da reflexão sobre a língua e autores elaboram teorias. Ao tratar da linguagem, crenças, ideais e valores despontam na educação como elemento constitutivo da cultura e da língua, uma vez que semelhanças e diferenças se consolidam na cultura da analogia, refletindo assim a maneira de conhecer e ser de seu tempo.

Na visão de Saussure ([1916] 1996, p. 22), a linguagem é composta de duas partes: a língua, essencialmente social porque é convencionada por determinada comunidade linguística; e a fala, que é secundária e individual, ou seja, é veículo de transmissão da língua, que se concretiza pelos falantes através da fonação e da articulação vocal.

Alvar (1970, p. 147) define língua como, “um sistema linguístico caracterizado por ser diferenciado, por ter um alto grau de nivelação, sendo um importante veículo de tradição

41 literária, e às vezes, por impor-se a sistemas linguísticos próprios”22.

Para Coseriu (1979, p.19), “a língua não pode ser isolada dos fatores externos – isto é, de tudo aquilo que constitui a fisicidade, a historicidade e a liberdade expressiva dos falantes”. A língua deve ser entendida, primeiramente, como “função”, depois como “sistema”, um “sistema de oposições funcionais e realizações normais”. Coseriu (1979, p. 183) informa que a língua é primeiro sistema e depois tradição, ou vice-versa, mas é, ao mesmo tempo, e a todo instante, “tradição sistemática” ou “sistema tradicional”.

Quanto à dicotomia língua e fala, Coseriu (1979) propõe a tríade sistema, norma e fala, considerando importante diferenciar nas estruturas que constituem a língua: o que é simplesmente normal ou comum (norma) abrange tudo que é estabelecido e comum nas realizações linguísticas tradicionais (seja fossilizado ou não), e o que é oposicional ou funcional (sistema), pois, de acordo com Coseriu (1979, p. 50):

O sistema é sistema de possibilidades, de coordenadas que indicam os caminhos abertos e os caminhos fechados de um falar compreensível numa comunidade; a norma, em troca, é um sistema de realizações obrigatórias, consagradas social e culturalmente: não corresponde ao que se pode dizer, mas ao que já se disse e tradicionalmente se diz na comunidade considerada”. O sistema abrange as formas ideais de realização duma língua (...) a norma, em troca, corresponde à fixação da língua em moldes tradicionais; e neste sentido, precisamente, a norma representa a todo momento o equilíbrio sincrônico (externo e interno) do sistema.

Coseriu (1979, p. 16) comprova que não há nenhuma contradição entre “sistema e historicidade”, ao contrário: “a historicidade da língua implica a sua sistematicidade”, porque, sendo a língua um saber, ela é aprendida daqueles que “falam melhor”, dos que sabem. E a esse respeito, informa que “o ouvinte adota o que não sabe, o que o satisfaz esteticamente, o que lhe convém socialmente ou o que lhe serve funcionalmente. A adoção é, por isso, um ato de cultura, de gosto e de inteligência prática.” (COSERIU,1979, p. 78). A partir dessa citação, infere-se que, por meio das escolhas linguísticas do ouvinte, considerando a estética, a conveniência social e o que lhe serve funcionalmente, estão ligadas as crenças que o ouvinte tem sobre a língua e a sua sistematização, isto é, mediante a atitude linguística do falante emerge a variação linguística.

Como afirma Câmara Junior (1981, p. 269), “a língua é uma parte da cultura, mas uma parte que se destaca do todo e com ele se conjuga dicotomicamente [...]”. Nesse sentido, a

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“un sistema lingüístico caracterizado por su fuerte diferenciación, por poseer un alto grado de nivelación, por ser vehículo de una importante tradición literaria y, en ocasiones, por haberse impuesto a sistemas lingüísticos del mismo origen.” (ALVAR, 1970, p. 147).

42 língua como instrumento de simbolização do homem no mundo, abarca diferenças e seus conflitos, desdobramentos e deslumbramentos se dão pelos elos que as diversas formas de expressão e comunicação mantêm entre si.

Em outras palavras, é necessário para o homem, ser de contato, aliar seus costumes, suas tradições, seus falares, suas formas e modelos, as origens linguísticas. As línguas faladas, seus sons e usos assim como suas semelhanças e diferenças são como marcas no mundo. Na estruturação da língua, o contato é fator essencial na medida em que nele estão presentes as interações, variações e mudanças linguísticas.