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VI. Contextualização

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: CONCEITOS E HISTÓRIA

1.4 Conceito de rizoma

Em botânica, denomina-se rizoma a um tipo de caule que algumas plantas possuem que cresce horizontalmente, podendo ser superficial ou

subterrâneo. Possui uma estrutura densa, de múltiplas entradas e saídas, numa trama sem princípio nem fim, conectando todas as formas que surgem no exterior. Os rizomas são levemente cilíndricos e apresentam crescimento horizontal, paralelo ao solo. Possuem gemas ao longo de sua extensão, de onde surgem as brotações. As plantas com rizomas crescem formando touceiras que podem ser separadas para formar novas plantas (VIDAL&VIDAL, 1990). Um exemplo de planta é o açafrão-da-terra (cúrcuma longa) onde a parte utilizada como alimento é o rizoma como mostra a figura 3.

Figura 3: Cúrcuma

Autor: Köhler's Medicinal Plants

No método rizomático de Gilles Deleuze e Félix Guattari (1995) o rizoma seria uma maneira de expressar as multiplicidades sem ter que ligá-las à unidade. É movimento contínuo, cresce e transborda, não tem qualquer centro, expande-se e o princípio deixa de existir. Como em tudo existe um princípio, mas o que define o rizoma é o durante, o entre, a expansão e não o começo. Está em permanente renovação e é sempre “entre”.

O que Guattari e eu chamamos rizoma é precisamente um caso de sistema aberto. Volto à questão: o que é filosofia? Porque a resposta a essa questão deveria ser muito simples. Todo mundo sabe que a filosofia se ocupa de conceitos. Um sistema é um conjunto de conceitos. Um sistema aberto é quando os conceitos são relacionados a circunstâncias e não mais a essências. Mas por um lado os conceitos não são dados prontos, eles não preexistem: é preciso inventar, criar os conceitos, e há aí tanta invenção e criação quanto na arte ou na ciência (DELEUZE, GUATTARI, 1995).

Na verdade não basta dizer viva o múltiplo, é preciso fazer o múltiplo, não acrescentando sempre uma dimensão superior, mas, ao contrário, da maneira simples, com força de sobriedade, no nível das dimensões de que se dispõe sempre n-1 (é somente assim que o uno faz parte do múltiplo, estando sempre subtraído dele). Subtrair o único da multiplicidade a ser constituída. Tal sistema poderia ser chamado de rizoma. (DELEUZE, GUATTARI, 1995, p.13).

Para melhor compreender esse conceito, Deleuze e Gattari enumeraram características aproximativas do rizoma (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 13). 1° e 2 - Princípios de conexão e heterogeneidade:

Qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo. Um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas, organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às lutas sociais. Uma cadeia semiótica é como um tubérculo que aglomera atos muito diversos, linguísticos, mas também perceptivos, mímicos, gestuais, cogitativos: não existe língua em si, nem universalidade da linguagem, mas um concurso de dialetos, de patoás, de gírias, de línguas especiais (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 14).

Há sempre algo de genealógico numa árvore, não é um método popular. Ao contrário, um método de tipo rizoma é obrigado a analisar a linguagem efetuando um descentramento sobre outras dimensões e outros registros. Uma língua não se fecha sobre si mesma senão em uma função de impotência (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 14).

3 - Princípio de multiplicidade:

As multiplicidades são rizomáticas e denunciam as pseudomultiplicidades arborescentes. Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza (as leis de combinação crescem então com a multiplicidade) (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 15).

Em um rizoma encontram-se somente linhas e não pontos ou posições como numa estrutura, numa árvore numa raiz (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 15).

A multiplicidade, não se deixa sobrecodificar, nem jamais dispõe de dimensão suplementar ao número de suas linhas, quer dizer, à multiplicidade de números ligados a estas linhas. Todas as multiplicidades são planas, uma vez que elas preenchem, ocupam todas as suas dimensões: falar-se-á então de um plano de consistência das multiplicidades, se bem que este "plano" seja de dimensões crescentes segundo o número de conexões que se estabelecem nele. As multiplicidades se definem pelo fora: pela linha abstrata, linha de fuga ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se conectarem às outras. O plano de consistência (grade) é o fora de todas as multiplicidades. A linha de fuga marca, ao mesmo tempo: a realidade de um número de dimensões finitas que a multiplicidade preenche efetivamente; a impossibilidade de toda dimensão suplementar, sem que a multiplicidade se transforme segundo esta linha; a possibilidade e a necessidade de achatar todas estas multiplicidades sobre um mesmo plano de consistência ou de exterioridade, sejam quais forem suas dimensões. O ideal de um livro seria expor toda coisa sobre um plano de exterioridade, sobre uma única página, sobre uma mesma paragem: acontecimentos vividos, determinações históricas, conceitos pensados, indivíduos, grupos e formações sociais (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 16).

4 - Princípio de ruptura a-significante:

Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer, e também retoma segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas. É como tentar exterminar formigas, onde uma maior parte pode ser destruída sem que ele deixe de se reconstruir é um rizoma animal. Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído, mas compreende também linhas de desterritorialização pelas quais ele foge sem parar (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 17).

5° e 6° - Princípios de cartografia e decalcomania:

Um rizoma não se justifica por um modelo estrutural ou gerativo. Ele é estranho a qualquer ideia de eixo genético ou estrutura profunda, os dois princípios do decalque. Fazer o mapa, não o decalque. Se o mapa se opõe ao

decalque é por estar inteiramente voltado para uma experimentação ancorada no real.Rizoma é o mapa e não decalque.

O mapa não reproduz um inconsciente fechado sobre ele mesmo ele o constrói. Ele contribui para a conexão dos campos, para o desbloqueio dos corpos sem órgãos, para sua abertura máxima sobre um plano de consistência. Ele faz parte do rizoma. O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social. Pode-se desenhá-lo numa parede, concebê-lo como obra de arte construí-lo como uma ação política ou como uma meditação (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 20).

Uma das características mais importantes do rizoma talvez seja a de ter múltiplas entradas. Uma experiência real a ser construída, não uma ideia a ser reproduzida (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 13).

Pode-se objetar que o mapa pode ser decalcado, mas existe uma assimetria decisiva: é necessário projetar o decalque sobre o mapa e não o contrário. Não é exato que um decalque reproduza um mapa. Por ser da ordem da representação, o decalque precisa isolar o que lhe serve como modelo e artificialmente organizar, estabilizar, neutralizar as multiplicidades segundo as significâncias e subjetivações que já são suas. O perigo é quando um decalque imobiliza um rizoma, aí não mais passa o desejo, já que é sempre por rizoma que o desejo se move e produz (DELEUZE, GATTARI, 1995 p. 13).

Um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas, organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às lutas sociais. Uma cadeia semiótica é como um tubérculo que aglomera atos muito diversos, lingüísticos, mas também perceptivos, mímicos, gestuais, cogitativos: não existe língua em si, nem universalidade de linguagem, mas um concurso de dialetos, de patoás, de gírias, de línguas especiais. Não existe locutor-auditor ideal, como também não existe comunidade lingüística homogênea. (DELEUZE, GUATTARI, 1995, p. 23)

1.5 O Espaço Público da Praça

O espaço público não é meramente o espaço vazio entre edifícios e ruas, nem um espaço vazio considerado público por razões exclusivamente jurídicas (figura 4). É mais do que isso. É um espaço multifuncional que serve de palco à sociedade; é um espaço físico, simbólico e político onde as relações sociais se estabelecem. Borja, afirma também, que contar a história do espaço público é contar a história da própria cidade, e que a qualidade da cidade poderá ser avaliada através do seu espaço público, pois indica a qualidade de vida dos cidadãos e o seu grau de cidadania (BORJA, 2001).

Figura 4: Praça em Nova York

Fonte: Autora (2019)

Gomes defende o espaço público como o lugar da sociabilidade, a mise - en- scène da vida pública em que se exercita a arte da convivência. É, antes de tudo, o lugar, praça, rua, shopping, praia, qualquer tipo de espaço onde não haja obstáculos à possibilidade de acesso e participação de qualquer tipo de pessoa, dentro de regras de convívio e debate. Para ele, “o lugar físico orienta

as práticas, guia os comportamentos, e estes, por sua vez, reafirmam o estatuto público deste espaço” (GOMES, 2002, p.162).

A praça, referência de espaço público, é um elemento urbano, livre de edificação, destinado ao lazer e convívio da população, acessível aos cidadãos e livre de veículos. Sua função primordial é a de aproximar e reunir as pessoas, seja por motivo cultural, econômico (comércio), político ou social (ROBBA; MACEDO, 2010, p.17). Um local dotado de símbolos, que carrega o imaginário e o real, marco arquitetônico e local de ação, palco de transformações históricas e sócio culturais, sendo fundamental para a cidade e seus cidadãos. Constitui-se em local de convívio social por excelência (DIZERÓ, 2006). Segundo Font (2003), é um espaço de reunião, construído para e pela sociedade, imbuída de significados, marcos centrais da constituição de trajetos, ponto de chegada e partida, concentração e dispersão. Consiste em espaço para pedestres e é palco representativo da dimensão cultural e histórica da cidade, além de abrigar, frequentemente, o comércio formal e o informal, como as feiras populares, coloniais, de artesanato, entre outras.

Lynch apresenta a praça como um modelo diferente de espaço aberto urbano, tomado fundamentalmente das cidades históricas europeias. A plaza pretende ser um foco de atividades no coração de alguma área “intensamente” urbana. Tipicamente, ela será pavimentada e definida por edificações de alta densidade e circulada por ruas ou em contato com elas. Ela contém elementos que atraem grupos de pessoas e facilitam encontros: fontes, bancos, abrigos e coisas parecidas. A vegetação pode ou não ser proeminente. A piazza italiana é o tipo mais comum. Em algumas cidades americanas em que a densidade das pessoas nas ruas é alta o suficiente, essa forma tem-se sucedido elegantemente. Em outros lugares, essas plazas emprestadas podem ser melancólicas e vazias (LYNCH, 1981, pp.442-443).

Este espaço público está relacionado às questões sociais, formais e estéticas de um assentamento (figura 5). Não é possível falar sobre praças sem analisar o contexto urbano no qual estão inseridas (ROBBA; MACEDO, 2010, p.18).

Figura 5: Praça no Museu de Arte Moderna (MOMA) Nova York

Fonte: Autora (2017)

1.6. Significado urbano da praça nos dias de hoje e compreensão de sua