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A identificação das forças conflitivas que atuam sobre o território

VI. Contextualização

3. ESTUDO DE CASO: As praças do bairro Petrópolis

3.4 Os cenários das Praças do bairro

3.4.4 A identificação das forças conflitivas que atuam sobre o território

Para demonstrar as forças conflitivas que atuam na vitalidade das praças foi utilizado um gráfico de polaridades com dois eixos entrecruzados (figura 57).

Nas extremidades dos eixos estão os conceitos que representaram as forças conflitivas do lugar e que não surgiram como consenso na praça.

O gráfico de polaridades estruturou os dados em campos semânticos por oposição, portanto em um extremo do eixo fica o conflito e no outro o seu antagonista.

Figura 57: Gráfico de polaridades

O gráfico foi estruturado como um instrumento que possibilita organizar os cenários, e definem as forças conflitivas que se mostraram significativas no lugar da praça.

Comunidades / Eventos: muitos frequentadores demonstraram interesse em eventos promovidos nas praças, pela sensação de segurança gerada a partir de uma maior circulação de pessoas, além de fortalecer a economia local. Por outro lado, muitas vezes os eventos geram barulho, sujeira e conflitos entre as pessoas o que ocasiona discórdia entre a comunidade.

Consciência ecológica / Descaso com a natureza: na praça se observaram momentos de muito cuidado e interesse pela natureza, assim como falta de cidadania e entendimento da população sobre a importância na preservação deste espaço público.

Arquitetura hostil / Arquitetura inclusiva: Em 2014 o repórter Bem Quinn já havia descrito no jornal britânico The Guardian sobre as pontas de ferro anti-desabrigados encontradas em espaços públicos na Inglaterra. Atualmente estas soluções são encontradas e podem de alguma forma afastar ou excluir as pessoas dos locais públicos urbanos.

Nas praças do bairro a questão da arquitetura hostil esteve relacionada à acessibilidade em calçadas, acessos e caminhos de circulação entre os ambientes. Rampas, piso tátil e sinalética para melhor orientação também foram citados em muitas entrevistas como essencial na dinâmica de um espaço público agregador.

São soluções de desenho urbano que surpreende os cidadãos de uma forma positiva não excludente e influenciam o comportamento mais generoso no meio urbano. Deste modo, facilita o convívio entre as pessoas sem distinção de gênero, idade, deficiência visual, auditiva, intelectual, moradores em situação de rua ou moradores de rua.

Por outro lado, pensar na diversidade humana e gerar acessibilidade a todos estabelece uma arquitetura inclusiva no espaço público. Algumas praças do bairro proporcionaram ao cidadão essa possibilidade de interagir com o lugar através da fauna e da flora, de bancos com encosto, espreguiçadeiras, não estarem cercadas e piso táctil, mas ainda são muitas as adequações a realizar.

Um exemplo é a Praça Nações Unidas, onde a questão da acessibilidade é bastante discutida pelos frequentadores.

A questão do afeto ao lugar está nitidamente atrelada à experiência que se pode ter neste espaço. Para Tuan (1983), “espaços” transformam-se em “lugares” quando permitem que a pessoa desenvolva afetividade em relação a este local e essa afetividade só é possível através da experiência do espaço. Dessa forma, é possível compreender que, para que o objeto de nosso exemplo - uma pessoa com dificuldade de locomoção - possa criar laços afetivos e se identificar com a cidade em que habita, é preciso que ela seja capaz de se introduzir em seus espaços com seu corpo e seus sentidos, e que estes lhe permitam que sua experiência espacial se concretize de forma satisfatória.

Lugares antropológicos / Não lugares:

Cada uma das praças da pesquisa tem uma história singular, o que proporciona que cada uma delas preze por sua identidade. Seja a Praça Tamandaré pela exuberância das áreas verdes, o Parque Ararigbóia pelos jogos e encontros da comunidade ou a Praça Mafalda Veríssimo pelos eventos. Porém os lugares antropológicos nas praças podem a qualquer momento se tornarem não-lugares, é quando este lugar se esvazia, quando se torna perigoso, abordando as pessoas através do medo e insegurança.

3.4.5. Estruturação dos cenários

Os cenários das praças do bairro recuperaram as percepções e análises da etnografia de rua e das entrevistas e identificaram os principais conflitos e interesses. Esses conflitos foram representados por uma frase nas extremidades dos eixos X e Y de forma polarizada (figura 58).

Figura 58: Gráfico de polaridades: “polaridades fundamentais” e “temas/conteúdos” dos quatro cenários quadrantes.

Fonte: Autora (2018)

A partir do gráfico de polaridades evidenciaram-se as forças motrizes que atuam neste território.

Uma das forças motrizes identificadas nas praças como incertezas críticas, e que não se tem uma ideia muito clara sobre seus desdobramentos no futuro, foi a crescente valorização do ambiente construído. Nomeou-se esse eixo X de “urbanidades e o coletivo”. A outra incerteza crítica posiciona-se no outro extremo, eixo Y e está relacionada à cidadania ativa e cidadania passiva. Nomeou-se esse eixo como “conquistas cotidianas”.

O bairro Petrópolis tornou-se um polo de interesse para investimentos no setor de construção. Predominantemente residencial, os terrenos e casas são muito valorizados. O bairro está se descaracterizando ao perder as antigas residências para a verticalização da construção de novos condomínios. São as “urbanidades e o coletivo”.

Em busca da preservação do bairro foi publicada no Diário Oficial de Porto Alegre, no ano de 2014, uma lista que inclui mais de 500 imóveis do bairro Petrópolis no Inventário do Patrimônio Cultural de Bens da Capital. Isso gera muita discórdia entre a população e moradores das casas inventariadas com o receio de perda do valor de venda destas casas.

A preservação de um imóvel particular em prol do coletivo como as atitudes de cidadania ativa nas praças e na preservação destas são “conquistas cotidianas”.

No Brasil, o Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257/2001) regulamentou os artigos da Constituição de 1988 sobre a função social da propriedade e da cidade, estabelecendo limites à especulação imobiliária e condicionando o direito de propriedade ao interesse coletivo, entendendo a cidade como produção social.