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2. O DESIGN EMOCIONAL COMO INTÉRPRETE DE IDENTIDADE E VALOR

2.2. O conceito de Design Emocional

O campo do Design Emocional emergiu no ano de 1990, tendo sido estabelecida a Sociedade Design e Emoção, Design & Emotion Society8, a partir do encontro de académicos e profissionais do campo do Design. Alinhando-se às abordagens metodológicas centradas no utilizador, reunindo conhecimentos oriundos do design e da psicologia, o objetivo desta vertente do Design é trazer um olhar detalhado para as experiências de caráter subjetivo, inerentes aos seres humanos, apoiando-se principalmente na psicologia, com a intenção de fornecer ferramentas e conhecimentos para projetos que têm o intuito de evitar ou despertar determinadas emoções.

Desde então, tem sido publicado um crescimento constante na pesquisa de Design que se foca na compreensão das emoções dos utilizadores do produto e no desenvolvimento de ferramentas e técnicas que facilitam um processo de design focado na emoção. (Desmet, & Hekkert, 2009).

A conexão entre a Psicologia e o Design possibilitou o desenvolvimento de metodologias que servem como base para a certificação de que as emoções que se deseja provocar podem, de fato, ser obtidas por meio de projetos. A sua atuação está relacionada com a moderação das experiências emocionais desejáveis pelas pessoas, pois refere-se à profissionalização do projetar, com o intuito explícito de despertar ou evitar determinadas emoções.

O design emocional leva-nos a encarar um novo padrão de design, no qual o valor da emoção se opõe a uma posição estática e limitada, revelando uma dinâmica física, psicológica e social que explora tanto o desenvolvimento emocional como molda diferentes níveis de significado atribuindo a um espaço ou a um produto, um ambiente multidimensional que reúne espaço, emoção, estética e função.

Porém, a questão que permeou e que continua integrando a pesquisa na área do Design Emocional está justamente relacionada à forma com que se pode investigar essa associação emocional entre os seres humanos e o design de um

produto. Desta maneira, muitos autores focam e investigam a definição básica do design emocional, elegendo teorias diferentes bem como metodologias distintas para investigar como a emoção pode alterar e moldar a natureza do Design. Além de divergirem nas suas intenções, os autores também diferem nas abordagens principais para definir e integrar as emoções do utilizador no processo de Design. Salientam-se três abordagens fortemente reconhecidas como marcos para a área (Demir et al., 2009), dos respetivos autores: Jordan (2000), Desmet (2002) e Norman (2004).

Jordan (2000), defende que os seres humanos estão constantemente à busca do prazer. Na sua perspetiva a ligação do prazer com os produtos pode ser entendida como o resultado dos benefícios emocionais, hedónicos e práticos associados a um produto. Hierarquizando as necessidades dos utilizadores, Jordan (1999), propõe: funcionalidade, usabilidade e, por fim, prazer. Nesta direção, apresenta quatro tipos de prazeres que os produtos podem causar aos seus utilizadores, nomeadamente, o prazer fisiológico, relacionado ao corpo e aos sentidos; o prazer social, conectado com as relações sociais e interpessoais; o

prazer psicológico referente à mente; e o ideológico, correspondente aos valores

pessoais. Assim, contribui para elencar formas de gratificar os utilizadores, em função da sistematização de uma classificação sobre fontes de prazer.

Desmet (2002), construindo uma ponte entre o mercado e a academia, adaptou uma teoria psicológica cognitiva das emoções, denominada Appraisal

Theory, para compreender a relação emotiva das pessoas com os produtos.

Mostrando uma miríade de possibilidades complexas para a projetação com o foco em emoções, estas referem que a avaliação dos utilizadores é um fator-chave para determinar se o resultado do Design desencadeia de fato uma emoção e que a emoção está a ser provocada. A fim de provar o seu ponto de vista acerca das respostas emocionais dos utilizadores aos produtos, Desmet e Hekkert (2009) propuseram um modelo que classifica as emoções desencadeadas por produtos em cinco categorias: emoções surpresa, instrumentais, estéticas, sociais e emoções de interesse. O resultado do estudo efetuado com base neste modelo revelou que um produto pode desencadear várias respostas emocionais e que o processo que desencadeia uma emoção nos utilizadores face a um design é

universal, mas as respostas emocionais são complexas e pessoais. Desta forma, propõe que as emoções são respostas automáticas do utilizador em relação ao efeito de um produto sobre o seu bem-estar.

Diferente do conceito acima referido, Norman (2004) analisou o processamento de informação dos utilizadores relativamente ao design. Focando os seus estudos na forma como as pessoas lidam e utilizam as informações e a influência do processo nas emoções, desenvolve uma abordagem teórica que chama a atenção para o facto de que diferentes tipos de estratégias têm em conta a experiência com o utilizador, com as necessidades, com os objetivos, a aparência, o comportamento e as significações pessoais.

Embora tenham sido conduzidos alguns estudos e desenvolvidas teorias, como as mencionados acima, existem ainda algumas hesitações quanto a uma definição exata do termo Design Emocional. Partindo das teorias mencionadas, e tendo em conta as referências efetuadas aos estudos de Norman (2004), Desmet (2002) e Jordan (2000), pode-se afirmar que o Design Emocional é uma abordagem de design que se foca nas necessidades e experiências dos utilizadores, enfatizando a importância de suscitar respostas emocionais a estes.

Quando se fala em design emocional, no entanto, há um certo consenso no cenário internacional que a referência é a aplicação de teorias específicas que provêm do Design, a Psicologia e a pesquisa, assumindo que a emoção pode ser previsível e controlável, e que o projeto de Design pode atuar na modelação das experiências emocionais desejadas pelas pessoas.

Dentre as diversas abordagens que visam a compreensão das diferentes respostas emocionais, a presente pesquisa fundamenta-se nos pressupostos desenvolvidos pelo estudo de Donald Norman (2004). O próximo subcapítulo trata da especificação dos estudos dos três níveis do Design Emocional.

2.3. Os três níveis de processamento emocional e as estratégias