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2 DIREITO DO CONSUMIDOR

3.2. CONCEITO

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MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antônio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao

Código de Defesa do Consumidor. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 259.

152

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2007, p. 462.

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Fato do produto, também denominado de acidente de consumo, é a exteriorização do defeito do produto que acaba por causar danos ao consumidor.

Na definição de Arruda ALVIM:

fato do produto é a manifestação danosa dos defeitos juridicamente relevantes, que podem ser de criação, produção ou informação (defeito), atingindo (nexo causal) a incolumidade patrimonial, física ou psíquica do consumidor (dano), ensejando a responsabilidade delitual, extracontratual, do fornecedor, independente da apuração da culpa (responsabilidade objetiva)154. (grifos no original)

E, nas palavras de CAVALIERI FILHO:

fato do produto é um acontecimento externo, que ocorre no mundo exterior,

que causa dano material ou moral ao consumidor (ou ambos), mas que decorre de um defeito do produto. Seu fato gerador será sempre um defeito do produto155.

Assim, o fato do produto não se configura tão somente frente ao defeito do produto, pois neste caso estaríamos diante de um simples vício, mas por um defeito que além de frustrar a legítima expectativa do consumidor quanto a sua fruição, de acordo com o estágio técnico e condições econômicas da época, coloca em risco à segurança do consumidor ou de terceiros e é capaz de causar danos aos mesmos.

Cabe aqui diferenciar a responsabilidade pelo fato do produto da responsabilidade pelo vício do produto. Conforme já mencionado, a responsabilidade pelo fato do produto é decorrente de um acidente de consumo, na hipótese de o produto ser um instrumento causador de danos ao consumidor ou a terceiros. Já na responsabilidade pelo vício do produto é menos grave e ocorre quando o produto possui alguma inadequação que leva ao seu mau funcionamento ou não funcionamento, mas que não afeta a segurança do consumidor, sendo que o problema do produto fica restrito a ele, não tendo repercussões danosas.

Zelmo DENARI chama tais vícios de vícios de adequação156. Nestes a perda patrimonial fica restrita aos limites valorativos do produto, enquanto no caso do

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ALVIM, Arruda; ALVIM, Thereza; ALVIM, Eduardo Arruda; MARTINS, James. Código de defesa do

consumidor comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 118.

155

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2007, p. 461.

156

“um produto ou serviço é defeituoso quando não corresponde à legitima expectativa do consumidor a respeito de sua utilização ou função, vale dizer, quando a desconformidade do produto ou serviço compromete a sua prestabilidade ou servibilidade. Nesta hipótese, podemos aludir a um

vício ou defeito de adequação do produto ou serviço.”( GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJAMIN,

Antônio Herman de Vasconcellos e; FINK, Daniel Roberto; FILOMENO, José Geraldo Brito; WATANABE, Kazuo; NERY JÚNIOR, Nelson; DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do

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defeito de segurança, que leva a responsabilidade pelo fato do produto, os danos podem ultrapassar, em várias vezes, o valor do produto.

CAVALIERI FILHO utiliza o seguinte exemplo para diferenciar vício do produto do fato do produto: “Se alguém instala uma nova televisão em sua casa mas esta não produz boa imagem, há vício do produto; mas, se o aparelho explodir e incendiar a casa, teremos um fato do produto”157

Assim sendo, a responsabilidade pelo fato do produto é causada por um defeito do mesmo. Embora parte da doutrina diferencie as expressões “vício de qualidade” e “defeito”, para Zelmo DENARI, assim como para Antônio Herman BENJAMIN158, não há distinção entre as mesmas.

Na doutrina de Zelmo DENARI, a responsabilidade pelo fato do produto seria decorrente de um vício de qualidade do produto:

Entende-se por defeito ou vício de qualidade a qualificação de desvalor atribuída a um produto ou serviço por não corresponder à legítima expectativa do consumidor, quanto à sua utilização ou fruição (falta de adequação), bem como por adicionar riscos à integridade física (periculosidade) ou patrimonial (insegurança) do consumidor ou de terceiros159.

Deste modo, no caso de o produto apresentar riscos à segurança do consumidor ou de terceiros, poderíamos nos referir a um vício ou defeito de

segurança do produto160.

Vale dizer que o evento danoso decorrente do vício ou defeito de segurança, que geralmente se manifesta em uma fase mais avançada do consumo, ou seja, via de regra não é perceptível a primeira vista, é disciplinado pelo CDC como responsabilidade pelo fato do produto ou serviço.

Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p.

156)

157

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Atlas, 2007, p. 460.

158

“chegamos a conclusão de que as noções de vício de qualidade por insegurança e de defeito acabam por se confundir” (BENJAMIN, Antônio Herman V; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 114)

159

GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e; FINK, Daniel Roberto; FILOMENO, José Geraldo Brito; WATANABE, Kazuo; NERY JÚNIOR, Nelson; DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p.155.

160

GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e; FINK, Daniel Roberto; FILOMENO, José Geraldo Brito; WATANABE, Kazuo; NERY JÚNIOR, Nelson; DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p.156.

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O art. 12 do Código de Defesa do Consumidor é o que trata da responsabilidade pelo fato do produto por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento dos produtos. Logo, mesmo que o produto não apresente qualquer defeito, haverá responsabilidade quando for fornecido com “informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”, de acordo com o caput do art. 12 do CDC, e, devido a tais informações imprecisas, causar danos ao consumidor ou a terceiro.

Em suma, “Para efeito de indenização, é considerado fato do produto todo e qualquer acidente provocado por um produto ou serviço que causar dano ao consumidor, sendo equiparadas a este todas as vítimas do evento (art. 17).”161