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I. Introdução

3. Negociação coletiva: conceitos

3.3. Conceito doutrinário

Para Orlando Teixeira da Costa38, “a negociação coletiva significa, antes de mais nada, entendimento recíproco e constitui o procedimento mais moderno, democrático e viável para a superação de qualquer crise, a partir das crises periódicas entre os interlocutores sociais”.

Amauri Mascaro Nascimento39 também considera a negociação coletiva um procedimento, ensinando que “a negociação coletiva é uma série sucessiva de atos, de tratos seguidos entre os protagonistas de uma disputa coletiva, para a discussão das reivindicações formuladas por uma das partes à outra, desde a preparação, o desenvolvimento e a conclusão, com a formalização de um instrumento de acordo ou o impasse, superável pela mediação, arbitragem ou decisão judicial”.

Enoque Ribeiro dos Santos40 conceitua negociação coletiva como “o processo dialético por meio do qual os trabalhadores e as empresas ou seus representantes, debatem uma agenda de direitos e obrigações, de forma democrática e transparente, envolvendo as matérias pertinentes à relação trabalho-capital, na busca de um acordo que possibilite o alcance de uma convivência pacífica, em que impere o equilíbrio, a boa-fé e a solidariedade humana”. Segundo ele, a negociação coletiva, para ser autêntica e legítima, pressupõe a igualdade, quebrando a antiga desigualdade das partes e a relação de poder e de dominação, que prevalece no contrato individual de trabalho, para dar lugar a um novo tipo de dinâmica negocial entre dois sujeitos coletivos: o sindicato dos trabalhadores e o sindicato dos empregadores ou a empresa.

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COSTA, Orlando Teixeira da. “Direito Coletivo do Trabalho e crise econômica”, São Paulo: LTr, 1991, p. 164.

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De acordo com Alice Monteiro de Barros41, “a negociação coletiva é modalidade de autocomposição de conflitos advinda do entendimento entre os interlocutores sociais”. Ela elenca, ainda, as outras formas de autocomposição, como a conciliação, a mediação e a arbitragem.

Para Alfredo J. Ruprecht42, “a negociação coletiva, enquanto solução dos conflitos coletivos de trabalho, é um procedimento destinado a fixar e aplicar termos e condições de trabalho”. O autor entende que o valor desse meio de solução está em que as próprias partes interessadas são as que põem fim à divergência; assemelhando-se à conciliação, nesse aspecto. A vantagem consiste em que as partes resolvem suas próprias divergências sem receber ordens ou instruções superiores, reconhecendo-se a dignidade do trabalhador como igual à do empresário. Afirma que “a negociação tem sido considerada o melhor sistema para solucionar os problemas que surgem entre o capital e o trabalho, não só para fixar salários e estabelecer condições laborais, mas também para regular todas as relações de trabalho entre empregador e trabalhador”.

José Cláudio Monteiro de Brito Filho43 define negociação coletiva como o processo de entendimento entre empregados e empregadores visando à harmonização de interesses antagônicos com a finalidade de estabelecer normas e condições de trabalho, entendendo que a negociação é meio de solução de conflitos, sendo comumente utilizada para esse fim. No entanto, o autor ressalta que do ponto de vista da finalidade, a definição da OIT se faz mais completa, vez que a negociação nem sempre é restrita às condições de trabalho, servindo, também, para que seja discutida a forma de relacionamento entre os

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SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Op.cit. p.90.

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BARROS, Alice Monteiro de.”Curso de Direito do Trabalho”. São Paulo: LTr, 2005, p.1177.

42

RUPRECHT, Alfredo. “Relações Coletivas de Trabalho”. Tradução Edilson Alkimim Cunha. São Paulo: LTr, 1995, p.926

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empregadores e suas organizações sindicais e as organizações ou grupos que representem os trabalhadores.

Após explicar que “a conclusão de uma convenção ou acordo coletivo sempre é precedida de entendimentos entre os interessados, de diálogo, através do qual as pretensões dos sindicatos são apresentadas aos representantes dos empregadores para que estes desde logo as aceitem ou, o que é mais freqüente, as estudem, apresentem contrapropostas, reunam-se com os porta-vozes dos trabalhadores, até que a negociação possa levar ao acordo ou ao impasse”, Amauri Mascaro Nascimento44 esclarece que esse atos em conjunto constituem o procedimento da negociação coletiva, fase que antecede a conclusão do acordo, ou a caracterização do impasse, definindo o procedimento de negociação coletiva como “uma relação jurídica e social, através da qual, mediante sucessivos tratos, os protagonistas de uma disputa coletiva objetivam discutir a reivindicação dos trabalhadores e as oposições dos empregadores, para o fim de concluírem um acordo”.

Para Mauricio Godinho Delgado45 a negociação coletiva trabalhista é um método de solução dos conflitos interindividuais e sociais, um instrumento de autocomposição. O autor explica que se trata de fórmula autocompositiva essencialmente democrática, gerindo interesses profissionais e econômicos de significativa relevância social, não se confundindo com a renúncia nem com a submissão, tratando-se essencialmente de transação – transação coletiva negociada.

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NASCIMENTO, Amauri Mascaro. “Direito Sindical”. São Paulo: Saraiva,1991, p.296.

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De conformidade com o que expõe Pinho Pedreira46, “a negociação coletiva é forma de solução dos conflitos coletivos pelos próprios interlocutores sociais, isto é, pelas organizações de trabalhadores e empregadores”.

Walküre Lopes Ribeiro da Silva47, cuidando da representação e participação dos trabalhadores na empresa, explicita a natureza integrativa- conflitual dessa participação, reconhecendo que “conflito e integração são aspectos indissociáveis da convivência humana: o mesmo trabalhador que formula reivindicações e por isso opõe-se ao empregador deseja fazer parte da empresa, estar firmemente ligado a ela, e por isso seu interesse aproxima-se daquele do empregador quanto ao sucesso do empreendimento”.

Oportuno anotar a ressalva efetuada por Octavio Bueno Magano48, considerando importante assinalar a distinção entre convenção coletiva e negociação coletiva, vez que se trata de termos que não se podem confundir, “significando o primeiro a estipulação de condições de trabalho e o segundo o processo tendente à superação de conflitos”.

Mozart Victor Russomano49 define negociação coletiva “como forma direta de solução do litígio”, considerando indispensável que a negociação “tenha as características de espontaneidade, liberdade e amplitude”. Para o autor, “não se pode negociar, em nenhum setor da vida, inclusive no plano sindical, sem saber com a maior exatidão possível, quais os objetivos visados, quais os meios adequados para atingi-los, quais as possibilidades de alcançá-los e quais as conveniências da outra parte e da comunidade”.

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PEDREIRA, Pinho. “Representatividade do Sindicato Brasileiro”. Rev. TRT – 8ª R. Belém, 21 (40): 73-97, jan/jun. 1988.

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SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da. “Representação dos trabalhadores na empresa. Delegados sindicais. Participação dos trabalhadores na gestão da empresa. In Curso de Direito do Trabalho.

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MAGANO, Octavio Bueno. “Direito Coletivo do Trabalho”. São Paulo: LTr, 1993, p.162.

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Para Alain Supiot50, a negociação coletiva constitui uma instituição dinâmica e o instrumento apropriado para a assimilação e adaptação permanente às mutações, face à heterogeneidade das formas de organização do trabalho, à participação de diferentes protagonistas e ao progressivo inter-relacionamento dos problemas (entre sistemas de ensino, formação e qualificação profissional, entre tempo de trabalho e tempo de vida social, ou entre o ambiente e os problemas de saúde e segurança no trabalho, por exemplo), existindo sinais de que, no âmbito dos processos de transformação, o peso dos acordos se revela decisivo perante as contradições sociais, surgindo a negociação coletiva como um precioso instrumento para alcançar a adaptabilidade, inspirar confiança face à incerteza e dar aplicação ao princípio da igualdade de oportunidades, integrando a dimensão do gênero. Supiot afirma, ainda, que há uma tendência geral no sentido de a lei se esvaziar de disposições substanciais, estipulando em seu lugar regras processuais destinadas a garantir o direito à negociação coletiva, considerando que, em todos os sistemas de relações de trabalho, assiste-se a esse movimento no sentido de dar maior autonomia aos parceiros sociais e às empresas, em relação aos poderes públicos.

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