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3 CONHECIMENTO, INOVAÇÃO, DIFUSÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL

3.2 DIFUSÃO DE INOVAÇÃO

3.2.1 Conceito e características da inovação

Uma inovação é definida por Rogers (2003), em sua teoria de difusão de inovações, como uma ideia, prática ou objeto que é percebido como novo por um indivíduo ou unidade de adoção. Não importa se a ideia já existia ou não, o que conta, na verdade, é que essa ideia seja inédita para aqueles possíveis adotantes. Refletindo sobre o tema desta tese, podemos dizer que a Política Pública de Educação Ambiental no âmbito do PEAMSS Bahia, como uma nova ideia a ser adotada pela população através do seu empoderamento via difusão de conhecimentos, remete o nosso problema de pesquisa ao status de inovação e é com base nos princípios dessa teoria de difusão de inovações, proposta por Everett Rogers, que iremos abordá-lo.

A revisão da literatura sobre a política pública de educação ambiental e mobilização social aponta para um contexto de busca de uma educação inovadora com base na difusão de conhecimento. Uma educação deste tipo é capaz de capacitar as pessoas para uma conduta inspirada no sentido de sua responsabilidade quanto à proteção e melhoramento do meio em seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ecológicos, culturais, dentre outros. Ademais, tal educação envolve a dimensão humana e um novo campo de saberes, princípios e práticas ambientais, englobando, inclusive, temas mais amplos como o direito das mulheres, os conflitos étnicos, entre outros.

A adoção de uma educação inovadora, como é o caso de várias propostas de educação ambiental, é diferente da adoção de um novo modelo de celular, por exemplo. Cada produto, cada serviço, cada ideia tem suas especificidades. Baseado na hipótese de Sabbag (2007, p.33), acreditamos que, no caso da educação ambiental, a formação de uma “massa crítica” com conhecimentos é imprescindível para a transformação social: ele afirma que “em cada transição de uma sociedade à outra, existiu massa crítica suficiente para provocar o salto” e que “em prazos reduzidos, muitas inovações eram praticadas, antagonismos entre o velho e o novo provocavam rupturas, pioneiros aderiam ao novo modelo”. Além disso, a adoção de uma inovação passa pelo crivo pessoal, pois, conforme Rogers (2003), um indivíduo pode ter

informação a respeito de uma inovação, mas não ter desenvolvido ainda uma atitude favorável ou desfavorável em relação a ela.

A massa crítica com conhecimentos referida por Sabbag (2007) torna-se imprescindível para adoção da política pública de educação ambiental veiculada através do PEAMSS e objeto desta tese. Nesse sentido a variável conhecimento tem aqui um lugar de destaque, pois, de acordo com Ribeiro, Cunha e Pereira (2011, p. 210) “sem conhecimento e aprendizagem não há inovações”.

De acordo com o Manual de Oslo, houve mudanças substanciais no desenvolvimento de políticas ligadas a inovação à medida que o entendimento sobre este assunto melhorava. Ainda segundo este Manual, a inovação pode ocorrer em qualquer setor da economia, inclusive em serviços públicos como saúde ou educação e esse “novo pensamento sobre inovação fez surgir a importância dos sistemas e levou a uma abordagem mais integrada da formulação e implantação de políticas ligadas à inovação”, enfatizando a importância da transferência e da difusão de ideias, habilidades, conhecimentos e informações (ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2004, p. 32).

Apesar do foco que a maioria dos estudos dá à inovação tecnológica (produtos e processos), a edição de 2004 do Manual de Oslo faz referência à inovação não tecnológica, como já foi mencionado anteriormente, definindo-a como aquela que “cobre todas as atividades de inovação que são excluídas da inovação tecnológica” (ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2004, p. 130). É nesse contexto que devemos considerar a política pública de educação ambiental no âmbito do PEAMSS, que não tem como meta gerar tecnologias ligadas a produtos e processos, mas difundir ideias inovadoras a partir de informações e conhecimentos que levem à transformação individual e coletiva no que diz respeito à questão ambiental, contribuindo, inclusive, para o cumprimento de um dos objetivos econômicos da inovação tratada nesse Manual que é “reduzir os danos ao meio ambiente” (ORGANIZAÇÃO DE COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2004, p. 79).

A rapidez na adoção de uma inovação, segundo Rogers (2003), está condicionada a cinco características. A primeira delas diz respeito a sua vantagem relativa, que, de acordo com o

autor, é o grau com que a inovação é percebida como melhor que a ideia antecedente. A segunda, ele chama de compatibilidade, definindo-a como o grau em que uma inovação é percebida como sendo compatível com os valores existentes, experiências passadas e necessidades dos potenciais adotantes. A terceira é a complexidade, que significa o grau em que uma inovação é percebida como difícil de entender e usar. A quarta característica é a possibilidade de ser testada, que representa o grau em que uma inovação pode ser experimentada. Por fim, a observabilidade como sendo o grau com que os benefícios da inovação sejam visíveis a outras pessoas (ROGERS, 2003).

Com base nessas características, Rogers (2003) afirma que aquela inovação percebida como tendo vantagem relativa em relação àquilo que substitui, compatibilidade com o ambiente em que opera, possibilidade de ser testada, boa visibilidade por parte dos interessados e seja de fácil utilização, será adotada mais rapidamente que outras inovações. Apesar de essas características serem mais visíveis na inovação tecnológica, é possível na pesquisa relacionada a esta tese, a visualização de três delas: a compatibilidade, a complexidade e a observabilidade.

A compatibilidade, conforme Rogers (2003), se refere a uma ideia compatível ou não com os valores predominantes e as normas de um sistema social. Uma ideia incompatível não será adotada tão rapidamente quanto uma que seja compatível. A adoção de uma inovação incompatível com um sistema social muitas vezes requer a adoção prévia de um novo sistema de valores. Rogers (2003) exemplifica isso citando a utilização de contraceptivos em países onde as crenças religiosas desencorajam o uso dessas técnicas de controle de natalidade, assim como em nações muçulmanas e católicas. A educação ambiental proposta pelo PEAMSS pretendeu incutir nas pessoas um novo sistema de valores visando respostas através da ação e mudança de atitudes.

Com relação à complexidade, Rogers (2003) explica que algumas inovações são facilmente entendidas pela maioria dos membros de um sistema social, enquanto outras são mais complicadas e serão adotadas de forma mais lenta. Como exemplo, é citado pelo autor uma determinada comunidade que não entendia a presença de germes na água, quando o profissional de saúde tentou explicar-lhes as razões para ferver a água de beber. Em geral, ideias mais simples de entender serão adotadas mais rapidamente do que as inovações que exigem do adotante desenvolver novas habilidades e entendimentos. No PEAMSS, a maior

dificuldade estaria em entendimentos sobre a questão ambiental e no desenvolvimento de habilidades que capacitam para a ação.

Por fim, Rogers (2003) explica que a observabilidade, ao tornar visíveis os benefícios, estimula a discussão da nova ideia de uma pessoa que adotou a inovação entre amigos e vizinhos, podendo esses pedir-lhe informações a respeito e fazer uma avaliação antes de adotar a ideia. Os painéis solares no telhado de uma casa são altamente observáveis, conforme exemplifica Rogers (2003), o que é diferente de inovações de consumo como computadores ou fitas de vídeo, que são relativamente menos observáveis e, assim, podem difundir-se mais lentamente. No PEAMSS, essa característica pode estar presente na forma de benefícios conquistados por um indivíduo ou grupo de pessoas, benefícios visíveis a partir de uma ação concretizada como o saneamento em uma rua ou bairro, por exemplo.

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