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Parte I – Enquadramento teórico-conceptual

Capítulo 3 Startup

3.1. Conceito e características

“As novas empresas criadas por empreendedores são, tipicamente, empresas pequenas, com uma dotação de recursos humanos, técnicos e financeiros relativamente reduzida. (…) O empreendedor assume as funções de gestão e a capacidade de produção de pequenas quantidades leva a que aquele se dirija para segmentos pequenos do mercado. “ (…) Não sendo uma empresa dominante, está particularmente sujeita às acções das empresas concorrentes ao nível do Marketing e do crescimento das operações.” (Ferreira, Reis & Serra, 2009:7). Portanto, “a reduzida dimensão é o denominador comum das Startups portuguesas.” (Ferreira, Reis & Serra, 2009:15).

O termo startup refere-se às empresas que se encontram numa fase embrionária de constituição e que possuem projetores promissores, assentes em ideias inovadoras. A pequena dimensão e baixo financiamento, que inicialmente as caracteriza, criam um inevitável ambiente de risco, onde o elevado crescimento é expectável. Como menciona o autor Steve Blank trata-se de “an organization formed to search for a repeatable and scalable business model.” (Blank, 2010: 1).O autor foca a importância da experiência, das tentativas, falhas, adaptações e repetições na busca de um negócio adequado.

Criador do movimento Lean Startup, estratégia que auxilia as Startups a desenvolverem-se de forma mais eficiente, Eric Ries é, indiscutivelmente, figura emblemática neste âmbito. Deste modo, utiliza-se a sua definição de startup como base para o desenvolvimento do tema. Segundo o autor, uma startup é “uma instituição humana concebida para criar novos produtos e serviços sob condições de incerteza extrema.” (Ries, 2011:14). A metodologia Lean Startup teve origem no cansaço de Eric Ries e dos seus cofundadores em relação ao pensamento tradicional de como construir uma empresa. Deparando-se com a desagradável realidade de que muitas das Startups falham (cf. Ries, 2011), Eric Ries procurou alternativas ao pensamento tradicional, tentando melhorar a taxa de sucesso de produtos inovadores. Percebeu que fatores como: o fascínio de um bom plano, uma estratégia sólida e um estudo de mercado podem constituir um problema para estas novas empresas, pois a incerteza em que as

Startups operam é muito elevada, sendo o produto e os clientes uma incógnita. Assim,

juntamente com os seus cofundadores começou a defender que “O funcionamento das funções do negócio e do marketing de uma startup deve ser considerado tão importante como a engenharia e o desenvolvimento do produto e por isso merece uma metodologia

igualmente rigorosa para o conduzir.” (Ries, 2011:11). Denominada de “metodologia de desenvolvimento do cliente” (Ries, 2011:11) ajudou Ries na busca de inovações que dessem sentido à sua atividade como empreendedor. Neste contexto, e após um estudo profundo sobre uma nova produção de bens físicos, a produção Lean7, surgiu o conceito de Lean Startup, que aplicava aquele pensamento ao processo de inovação. Citando o próprio autor: “A ideia Lean Startup transformou-se num movimento global. Milhares de empreendedores estão a aplicar os princípios da Lean Startup em todas as indústrias possíveis.” (Ries, 2011:13).

Esta metodologia foi desenvolvida em torno da questão a que as empresas de hoje precisam responder, que produto ou serviço é que se deve construir. Almejando o sucesso, todos os empreendedores procuram descobrir “como construir uma organização sustentável em torno de um novo conjunto de produtos e serviços.” (Ries, 2011:279). Para Ries, “tudo o que é necessário é que mudemos a nossa forma de pensar coletiva sobre como o trabalho deve ser feito.”(Ries, 2011:278).Nas palavras do autor: “A produção Lean redescobriu a sabedoria e espírito de iniciativa (…) e redirecionou a noção de Taylor de eficiência (…) ao aproximar-se do organismo corporativo como um todo.” (Ries, 2011:276). Considera-se que o trabalho da empresa pode ser analisado cientificamente e através de uma rigorosa abordagem experimental. Assim é possível compreender o que constitui desperdício, o que levou a erros e falhas, evitando a sua repetição, e ainda alterar o modo como se encara a inovação conquistando melhores resultados. “Toda a inovação começa com uma visão” (Ries, 2011:282), e a sua validação depende da construção de “um modelo comportamental de clientes.” (Ries, 2011:282).

No seguimento do pensamento de Ries, John Bradberry refere que “A startup is an experiment: An inquiry into how the world might look under the vision of the

startup´s founders.” (2011: 125). Em cada empreendimento as ideias e ambições dos

fundadores são testadas em relação à realidade do mercado, constituindo aquele um verdadeiro “learning lab.” (Bradberry, 2011: 125).O nascimento de um negócio é um processo dinâmico e criativo em que as possibilidades geradas podem ser aperfeiçoadas, reconstituídas ou postas de parte. O intuito é a adaptação ao ambiente envolvente, às constantes mutações do mercado que perdurarão na evolução do negócio. Neste contexto, exige-se ao empreendedor agilidade na execução. As questões tecnológicas,

financeiras e sociais tornam o mercado num campo de risco, em constante alteração, requerendo das empresas estratégias adaptáveis. Perceber o aparecimento de uma nova oportunidade e a necessidade de abandonar projetos que não se ajustam ao mercado são tarefas árduas, que impõem ao empreendedor uma abertura psicológica para a mudança e um elevado grau de agilidade operacional. Contudo, são essenciais para que os empreendimentos possam sobreviver e evoluir. Como refere John Bradberry, “highly successful ventures almost always diverge from the founder´s original intentions, a fact that places a premium on openness, learning, and agility.” (Bradberry, 2011: 128).

Para Gordon Bell o fator mais importante numa startup é a criação de produtos rentáveis. Identificando a fase em que uma startup se encontra, é possível compreender os valores e medidas adequadas a aplicar. (cf. Crow, 2005). O autor menciona quatro fases distintas com características específicas. A primeira fase é relativa ao “Concept”, à ideia. Constitui a etapa inicial, o ponto de partida onde normalmente a equipa ainda é muito reduzida, e o objetivo se foca na criação do produto adequado. É uma fase essencial para conhecer o mercado e os clientes, devendo ter sempre em atenção as suas necessidades, os seus desejos, a fim de identificar oportunidades rentáveis. Segue-se a fase da “Seed”, na qual se cria uma definição inicial do produto. A terceira fase refere- se ao “Product Development”. Aqui os objetivos são contratar a equipa, especificar e planear o produto e o seu design, no fundo, investir num trabalho que realmente progrida. Requer-se um profundo conhecimento do mercado, que permita perceber o que é verdadeiramente necessário criar, quais as necessidades a satisfazer e que problemas resolver, tendo em conta toda a concorrência envolvente. Neste contexto salienta-se a importância do feedback do cliente, essencial para identificar as características em que a empresa deve investir para o seu produto ou serviço. A quarta e última fase é a fase do “Market Development” que vai testar tudo que foi planeado nas etapas anteriores. Nesta fase as atividades da empresa estão focadas em produzir receita, ajustando e readaptando o que se revele necessário. Áreas como a financeira, administrativa ou o Marketing começam a desenvolver-se, acompanhando o progresso da empresa.

Para kevin Ready é conveniente e necessário atribuir um nome ao negócio que se cria. Comunicar com as pessoas implica uma designação, uma representação simbólica, uma marca que se possa rapidamente identificar. Já para o empreendedor o negócio não deve ser visto como um nome, mas sim como um verbo. “It is a “happening” and a “doing”. It is nothing less than the sum total of the actions and

thoughts of every employee and customer.” (Ready, 2011: 7). Olhar para o negócio deste modo permite não só compreender a sua complexidade, como também facilitar a organização de ideias, componentes e atividades.

A visão por detrás da criação de uma startup é essencial para definir o caminho a percorrer, as metas pelas quais trabalhar. Mas dirigir essa startup revela-se o grande desafio. “Na sua essência uma startup é um catalisador que transforma ideias em produtos.” (Ries, 2011:76). A interação dos clientes com o produto gera feedback, tanto qualitativo (gosta ou não do produto), como quantitativo (quantos clientes o utilizam e lhe conferem valor). Estas interações constituem experiências, cujos resultados são cruciais para a construção de uma organização sustentável.

Como instituição, a startup “contrata colaboradores criativos, coordena as suas atividades e cria uma cultura de empresa que apresente resultados.” (Ries, 2011:31).No que respeita ao produto ou serviço novo, o autor alarga a definição, considerando qualquer coisa que os clientes experimentem e que seja fonte de valor. A inovação é também muito importante para o conceito, mas o contexto em que esta acontece é que é a parte fulcral. O ambiente de extrema incerteza engloba um futuro inconstante, clientes com comportamentos inesperados perante a crescente variedade de alternativas que possuem e mudanças cada vez mais aceleradas. No terreno da incerteza extrema a aprendizagem validada revela-se fundamental. Método rigoroso para demonstrar o progresso revela empiricamente que uma equipa “descobriu verdades valiosas sobre o presente e o futuro das perspetivas de negócio.” (Ries, 2011:41-42). Mede o agora, o momento da execução, da prática e por isso “é mais concreto, preciso e rápido do que as previsões de mercado ou planeamento de negócios clássico.” (Ries, 2011:42). Fornece o

feedback necessário que evita a grande falha de se criar algo que ninguém quer.

Das características comuns às Startups, o baixo financiamento é a que mais se salienta. Qualquer negócio implica uma parte financeira, e a fragilidade que geralmente esta área apresenta neste tipo de empresas enfatiza ainda mais a sua singularidade. Num plano de negócios, a parte financeira inclui “as projeções de quantos clientes a empresa espera atrair, quanto é que será gasto, e quantas receitas e lucros terá.” (Ries, 2011:116). Neste contexto, uma dedicação e perseverança extremas podem revelar-se perigosas, sobretudo quando a empresa consegue alguns clientes, alguns resultados positivos, mas estagna, não evoluindo em direção ao sucesso, à estabilidade. É essencial que uma

difíceis que as avaliações possam revelar e que se adapte, reestruture de modo a fazer experiências que lhe permitam chegar ao ideal almejado.

Ainda que os mercados e os clientes de uma startup possam ser muito diferentes, para Eric Ries, “elas operam com o mesmo motor de crescimento.” (Ries, 2011:24). “A maioria do tempo da vida de uma startup é passada a personalizar o motor ao fazer melhoramentos no produto, no seu Marketing e nas suas operações.” (Ries, 2011:24). Construir um negócio próspero, com impacto no mundo empresarial é o objetivo de todas as Startups, que tentam equilibrar todas as atividades que lhe estão subjacentes para o conseguir. É este o grande desafio do empreendedorismo.