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1. CAPÍTULO I – Reinserção: Necessidade de um Novo Paradigma, onde pensamos as emoções

1.6 Conceito de Inclusão

“Inclusão. Acto ou efeito de incluir”. “Incluir. Abranger; inserir; envolver; compreender”. (Dicionário Enciclopédico Português, 2006, p. 125). O significado semântico é notoriamente insuficiente para podermos compreender em toda a sua extensão o conceito de inclusão social. Não podemos separar o facto de este conceito estar estreitamente vinculado ao conceito de exclusão que, assim, tenta lutar contra a sua existência. Desta forma, o conceito de Inclusão apresenta, também ele, muitas incertezas do ponto de vista teórico na perspectiva de quase todos os especialistas desta matéria.

Como pudemos analisar anteriormente, na sociedade actual os excluídos são um grande grupo de indivíduos que não se incluem em nenhum grupo socialmente reconhecido. Em muitas circunstâncias e discursos comuns, esses indivíduos são aqueles que representam os indivíduos das franjas sociais e, por isso, muitas vezes rejeitados pelo próprio e pelo colectivo. Apesar de ser um fenómeno persistente, a exclusão não é necessariamente definitiva. A sociedade origina um fluxo constante e dinâmico de forças que nalguns casos se potenciam, noutros opõe-se. Por isso exclusão e inclusão confrontam-se no mesmo palco e é nele que se afirmam e posicionam.

Sassaki (1997) no seu trabalho “Inclusão: construindo uma sociedade para todos”, faz uma grande contribuição para a clarificação do conceito de inclusão social. Este autor sustenta a ideia que a inclusão social é a forma pela qual a sociedade se adapta para poder incluir, nos seus sistemas gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, essas também se preparam para assumir os seus papéis na sociedade. Este processo é bilateral e dinâmico: a sociedade faz um esforço de modificação e adaptação para aceitar pessoas que tem necessidades especiais ou que são vistas como “diferentes”, enquanto as mesmas se empenham na aproximação aos outros, atribuindo- se um papel activo na resolução dos seus problemas, reivindicando os seus direitos de

cidadania mas assumindo também as responsabilidades que lhes são inerentes, de forma a poderem ser considerados livres.

Deve ser ressalvado que não falamos de integração. Integração e Inclusão não têm o mesmo significado. Por integração entende-se a inserção de uma pessoa com necessidades especiais, tendo esta recebido preparação prévia para se adaptar às exigências da sociedade. As formas actuais de integração partem do pressuposto de que existem dois níveis de “ser cidadão”, um regular considerado “dito normal”, e outro especial. Estes podem ser inseridos, desde que sejam capazes de satisfazer uma série de requisitos, ou seja, acompanhar os “ditos normais” 5

. Assim, neste modelo, a sociedade mantém-se passiva enquanto arranja espaços específicos para receber as pessoas que por uma ou outra razão foram excluídas. Todos podemos ser especiais, todos estamos estratificados, todos somos únicos.

“Integração significa o (re)estabelecer de formas comuns de vida, de aprendizagem e de trabalho entre pessoas deficientes e não-deficientes. Integração significa ser participante, ser considerado, “fazer parte de”, ser levado a sério e ser encorajado. A integração requer a promoção das qualidades próprias de um indivíduo, sem estigmatização e sem segregação. Realizar pedagogicamente a integração significa, seja no jardim-de-infância, na escola ou no trabalho, que todas as crianças e adultos (deficientes ou não) brinquem/aprendam/trabalhem de acordo com o seu nível próprio de desenvolvimento em cooperação com os outros” (Steinemann, 1994, p. 7).

5Sendo que a concepção de dito normal e aquilo que não o é, o desviante, vem evoluindo ao longo da

história humana e diverge de cultura para cultura; de facto a fronteira entre ambas, muitas das vezes, parece ser demarcada apenas por uma “subtil diferença”.

Apesar de tudo, o esforço dos programas de integração social é bastante reconhecido, não sendo de forma alguma descartáveis no combate à exclusão social. A grande questão que se coloca é se estes serão suficientes para dar resposta à realidade actual. Apesar de muito benignos, estes programas continuam a recorrer às práticas de “normalização”: escolas especiais, classes especiais numa escola comum, horários específicos para indivíduos com deficiência, quotas que garantam a presença de um número mínimo de mulheres, entre outros. É uma prática integradora bem-intencionada, com bastante mérito, mas não deixa de ser estigmatizante, de separação, de isolamento das diferenças em margens opostas.

“a integração social,… tem consistido no esforço de inserir na sociedade pessoas com deficiência que alcançaram um nível de competência compatível com os padrões sociais vigentes. A integração tinha e tem o mérito o portador de deficiência na sociedade, sim, mas desde que ele esteja de alguma forma capacitado a superar as barreiras físicas, programáticas e atitudinais nela existentes. Sob a óptica dos dias de hoje, a integração constitui um esforço unilateral tão somente da pessoa com deficiência e seus aliados (a família, a instituição especializada e algumas pessoas da comunidade que abracem a causa da inserção social), sendo que estes tentam torná-la mais aceitável no seio da sociedade” (Sassaki, 1997, p. 34).

Muitos questionam a necessidade de diferenciar estes dois conceitos, no entanto, só assim parece possível compreender as mudanças que se vêm verificando ao nível das respostas sociais. O actual registo é o de transição entre conceitos, da integração à

inclusão, o que pressupõe uma evolução de paradigma, um novo modelo de actuação e

protecção social dinâmico, pró-activo e igualitário. É também uma nova forma de pensar o mundo e o ser humano, uma nova etapa no caminho de conquista de direitos universais. Não existe homogeneidade geométrica entre homens, a diversidade é a regra. É deste princípio que nasce o paradigma da Inclusão Social; uma sociedade inclusiva tem em consideração todas as pessoas; em que a igualdade de direitos não é desvinculada do reconhecimento e do respeito pelas diferenças.

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