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Na definição do conceito norteador desse projeto, foram feitas reflexões sobre algo que alegoricamente sintetizasse as premissas atribuídas no programa de necessidades, que funcionasse como articulador de todas as condicionantes em uma materialização simbólica e significativa. Segundo Carlos Alberto Maciel (2003), esse “algo” poderia ser qualquer ponto de partida na figura de uma personagem, uma frase, uma sensação, um poema, uma música ou qualquer coisa que combinasse engenhosamente todas, ou as principais problemáticas expostas e que condicionasse ou expressasse os principais valores do projeto, como se atendesse a um roteiro, reduzindo a importância de dados existentes do problema e valorizando elementos que em princípio sequer existem como premissas necessárias para a realização da arquitetura.

Nesse caso, nossas premissas foram sintetizadas na expressão “Casa Camelo”. Sintetizada em um triplo conceito adotado neste trabalho, que é a autossuficiência em água e energia e a adaptabilidade ao clima. Ela parte do primeiro objetivo específico desse trabalho, citado anteriormente que é o de “analisar e propor soluções de projeto que tratem de captação de águas pluviais ou subterrâneas e de reuso de águas”, pois os croquis originais sempre evidenciaram o armazenamento específico como necessidade primordial do projeto. Ou seja, armazenar água de chuva e/ou águas de reuso e aliada à otimização da energia elétrica nessa casa adaptada ao semiárido. A solução arquitetônica desenvolvida neste trabalho, como será visto adiante, gerou a locação de várias caixas d'águas nas partes mais altas da casa, já que, para se economizar energia elétrica com bombas de recalque, as águas pluviais captadas serão armazenadas na própria cobertura, pois assim elas poderão suprir as necessidades de alimentação dos banheiros do pavimento superior utilizando-se da própria gravidade.

Inicialmente, pensamos em apenas duas caixas d’águas superiores. Assim, foram idealizados dois reservatórios de água que dariam autossuficiência ao período de desabastecimento, ao qual a casa passaria, por ser construída em um local alto e com histórico comprovado de falta de água, por ausência de pressão no sistema de distribuição da concessionária.

159 Figura 94 - Croqui inicial para solução dos reservatórios superiores em analogia ao camelo.

Fonte: Elaboração própria (2015).

Realizados os primeiros croquis, com dois reservatórios superiores, imediatamente surgiu a ligação direta com esse mamífero da fauna desértica conforme vemos na figura 94 que, tem por maior característica, armazenar água e nutrientes em dois reservatórios externos e superiores a seu corpo, denominados de corcovas. Apesar de que os volumes curvos na parte superior da casa possam lembrar muito remotamente algo como as corcovas do camelo, a extraordinária capacidade de se adaptar aos climas mais inóspitos desse animal nos inspirou, não de modo formal, mas de forma simbólica e conceitual, balizando nosso conceito e nosso próprio partido.

Dessa forma, desenvolvemos um quadro ilustrativo presente na figura 95, com nove analogias que materializam e inter-relacionam as características de nosso projeto, por meio de croqui ou imagem do sistema construtivo ou solução previamente pretendida e as características do camelo, como seu funcionamento fisiológico, físico e comportamental.

160 Figura 95 - Quadro de materialização do conceito em analogias ao camelo.

Fonte: Disponível em: <www.wikipedia.com/camelo>. Acesso em: 20 Jan. 2016. Nota: Editado pelo Autor (2015).

161 Segundo Eduardo Corona e Carlos Alberto Cerqueira Lemos, (1972, p.22),“[...]partido, em arquitetura, é o nome que se dá à consequência formal de uma série de determinantes, tais como o programa do edifício, a conformação topográfica do terreno, a orientação, o sistema estrutural adotado, as condições locais, a verba disponível, as condições das posturas que regulamentam as construções e, principalmente, a intenção plástica do arquiteto”. No nosso

partido, procuramos, a princípio, identificar todos os pré-requisitos citados nos capítulos anteriores: as problemáticas e as prescrições urbanísticas, as normas a serem cumpridas no escopo do projeto e principalmente os objetivos a serem alcançados desde o início.

Como vimos anteriormente, por ser uma região de altitude elevada, muitas vezes, a água da concessionária não tem pressão de recalque suficiente para abastecer reservatórios superiores e a impossibilidade de se escavar poços tubulares fez com procurássemos as captações pluviais como solução mais racional. Assim, surgiu a necessidade de tornar a casa independente da CAERN, transferindo ao projeto um olhar diferenciado para as caixas d’águas. Portanto, nos croquis iniciais, o passo 01, conforme nos mostra a figura 96, foi pontuar ou fazer a locação desse elemento como a partida para definição das plantas e dos cortes, ou seja, primeiramente, definimos um ponto para a caixa d’água que, devido à declividade bem acentuada do lote, tomou tendência a ser implantada na frente da casa, onde estão as cotas mais altas da topografia, fazendo melhor uso da gravidade.

Figura 96 - Croquis iniciais de locação da caixa d’água.

162 Por meio dos estudos expostos no capítulo 2, apreendemos as devidas relações do lote com a insolação, com as ventilações naturais e com a topografia. Precisávamos, então, comunicar aos proprietários, o que, em nossa opinião, ela teria de mais especial: o belo visual da Serra da Borborema que surge nas costas do lote sem qualquer barreira natural ou artificial, conforme vemos na figura 97.

Figura 97 - Foto do lote em Junho/2015.

Fonte: Acervo pessoal (2015)

Portanto, as opções seguintes foram de obstrução da fachada frontal noroeste para conter a insolação indesejada, aliada à desobstrução da fachada posterior nordeste, a ser sombreada, ventilada e visualmente bem provida, ou seja, o passo 02 foi: obstruir e desobstruir conforme a figura 98 nos mostra.

Figura 98 - Croquis iniciais de obstrução e desobstrução das fachadas.

163 O último passo veio como a racionalização por ordenamento dos traçados de plantas e elevações, nos quais foram surgindo croquis por cima de uma malha ortogonal de 1,20 x 1,20 m, conforme figura 99. Isso foi fundamental para a ordenação e alinhamento dos traços retos originalmente solicitados pela estrutura metálica leve sugerida para suportar os painéis cimentícios com essa largura, previamente estabelecida no sistema construtivo a ser adotado.

Figura 99 - Croquis iniciais de ordenação de planta e elevação.

Fonte: Elaboração própria (2015).

Portanto, a partir dos diversos condicionantes analisados acima, pudemos afirmar que o nosso partido se caracteriza por uma composição mais compactada entre uma caixa d´água em volume vertical, locada na parte alta (frontal) do terreno, e por um volume em forma de “C”, no qual sua parte superior tem o papel fundamental de proteger e sombrear o invólucro. Sua parte inferior tem a função de sustentar todo o piso, trazendo leveza e graça ao projeto, conforme vimos na figura 100.

Figura 100 - Croqui representativo do partido.

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