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Para complementar a utilização de água de chuva dentro do programa de gestão da residência, estudaremos a seguir as formas de reutilizar as águas servidas, a fim de substituir o uso de água potável por uma água de baixa qualidade, mas perfeitamente eficiente para determinadas necessidades. Segundo Rapoport (2004), águas servidas são aquelas que em virtude de qualquer utilização ou circunstância perderam suas características naturais como a potabilidade, o que acontece no esgoto doméstico. Pode-se dividir esse tipo de efluente em dois grupos: águas cinzas, que são águas domésticas servidas, excluindo os efluentes de sanitário e as águas negras que são provenientes exclusivamente de esgotamento sanitário. Essas últimas apresentam altas concentrações de nitrogênio, fósforo, alta turbidez e odor desagradável, além de alta taxa de coliformes totais e fecais que muito elevam o grau de contaminação desses efluentes, dificultando bastante seu tratamento para um futuro reuso direto dos habitantes, mas que receberão uma atenção especial por um tratamento químico ou biológico que anteceda seu descarte.

Conforme orientações da autora citada acima, que apresenta formas de tratamento e uma avaliação financeira para reuso de águas residuais domiciliares, o tratamento de águas negras

51 para fins de reuso, mesmo somente em vasos sanitários, torna-se bem dispendioso quanto ao investimento inicial e às manutenções constantes requeridas (RAPOPORT, 2004). Já as águas cinzas analisadas por ela, apresentaram concentrações menores de poluentes e contaminantes, pois são fruto de operações domésticas provenientes de pias de banheiro, banheiras, chuveiros, máquinas de lavar e pias de cozinha. Suas conclusões recomendam o destino dos esgotos de pias de cozinha ao mesmo dado às águas negras, pois estes apresentam partículas de comida, óleo, gordura e são tão poluentes quanto às próprias águas negras. Esse líquido pode causar bloqueio nos sistemas de aplicação no solo, necessitam de decantação e são mais dificultosas ao tratamento do que as outras fontes de águas cinzas.

Vamos considerar o reuso, portanto, apenas dos efluentes de pias de banheiro, banheiras, chuveiros e máquinas de lavar para serem tratados e reutilizados em descargas sanitárias e os dejetos de bacias sanitárias (águas negras), juntamente com os de pias de cozinha e máquinas de lavar, serão tratados e reutilizados como complementos às águas pluviais na conservação do paisagismo. O gráfico da figura 12 fornece uma porcentagem média da demanda de água para bacias sanitárias e para os jardins, a ser provida pelas águas de reuso. Como estimamos anteriormente 1.800 litros para o consumo diário total da residência projetada e teríamos 12% disso para o uso de bacias sanitárias, haveria a necessidade então de 216 litros por dia para esse fim.

Figura 12 - Distribuição do consumo de água em atividades domiciliares.

Fonte: AZEVEDO NETTO, J.M, 1991. Adaptado pelo Autor. 10% 10% 28% 12% 15% 25%

Bebida e Cozinha Lavagem de Roupas Banho e Lavagem de Mãos Instalações Sanitárias Outros Usos - Jardins Perdas e Desperdícios

52 Baseado nessa proporção e nos consumos percentuais expostos na figura 12, criamos um fluxograma de distribuição dos efluentes produzidos apresentado na figura 13, no qual dividimos os volumes de vasos sanitários, chuveiros e pias de banheiros e demais categorias, para serem tratadas e depois reusadas nos vasos sanitários e jardins. Já os esgotos provenientes de banho (chuveiros e banheira) e abluções7 (pias dos banheiros), somariam 28% dos dejetos

líquidos da casa, resultantes em aproximados 500 litros diários. Como a utilização de vasos sanitários requer cerca de 216 litros/dia (12%) e a água advinda de chuveiros e pias de banheiros a ser tratada e recondicionada para esse fim chega a um volume de 500 litros/dia, vimos que o sistema é autossuficiente. Tal esquema também mostra que começaremos com um volume diário de 1800 litros de dejetos, que seriam descartados no meio ambiente, mas que pelo sistema de reuso implantado, esse volume reduzirá para 1.584 litros, ou seja, em 12% do volume inicial.

Figura 13 - Distribuição dos efluentes produzidos

Fonte: Elaboração própria

7 Termo usado para definir lavagem de mãos e rostos.

Vaso Sanitário 12% = 216 litros Banho e Pia 28% = 500 litros Demais Efluentes 60% = 1084 litros ETE 01 500 litros Reuso 216 litros Descarte 284 litros Descarte 216 litros Descarte 1084 litros ETE 02 1300 litros Efluentes 1800-216=1584 litros Consumo diário 100%=1800 litros Ja rd in s 15 84 l

53 Os 500,00 litros/dia de banho e pia serão recondicionados em uma estação compacta de tratamento de esgoto domiciliar denominada ETE 01, com capacidade de tratar desse volume diário, que será armazenado em um tanque específico de 500,00 litros para serem recalcados a uma caixa d´água superior com o mesmo volume. A água, assim tratada, servirá para os vasos sanitários e para os jardins. Já os 1.300,00 litros de dejetos finais, se juntariam às águas negras e aos demais dejetos de máquinas de lavar e pias de cozinha para ainda serem tratados por outra estação compacta denominada de ETE 02, sendo devidamente acondicionadas em tanque específico, para serem bombeadas e utilizadas futuramente no aguamento de plantas de jardins e pequenas hortaliças a serem locadas no entorno às áreas impermeáveis da construção.

AZEVEDO NETTO, J.M, (1991) fornece um dado médio de consumo diário de dois litros de água por metro quadrado (2 l/m²/dia) de grama ou jardim. Como temos um terreno com 1.608,07m² de superfície, aos quais destinamos, de acordo com o projeto desenvolvido e objeto de capítulo posterior, 550,00 m² como área de captação pluvial, teríamos uma área permeável para recebimento de jardins e gramas de aproximadamente 1.000,00 m². Logo, podemos compor a equação:

Vj = Aj x 2 (l/m²/dia) - Vj = 1.000,00 x 2,00 = 2.000,00 l/dia

Onde: Vj = Volume de água diário para jardim (l) e Aj = Área de jardim ou grama (m²) Portanto, o volume necessário para um jardim gramado de aproximadamente 1.000,00m², seria de 2.000,00 litros por dia. Como temos apenas 1.584,00 litros diários oriundos da contribuição da ETE 02, teríamos que prever uma redução dessa área regada ou tipos de jardim com plantas que tenham um consumo de água menor que as demais e que consigam reduzir esses aproximados 20% de áreas verdes dependentes de água8, para, portanto não

precisarmos da água da CAERN a fim de complementar essa demanda.

8 O uso de espécies nativas com plantas mais adaptadas ao clima semiárido, ou de jardins compostos de percentual

elevado de pedras ou outros elementos permeáveis, que não requerem água para se manter é mais um elemento a ser considerado em estudos futuros. Todavia, não foi abordado aqui, embora a intenção fosse de tornar uma residência cada vez mais autossuficiente em relação ao seu consumo de água.

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