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3 DIREITO DO TRABALHO E DIREITO PREVIDENCIÁRIO

4.1 Aposentadoria por invalidez e seus efeitos no contrato de trabalho

4.1.1 Conceito, requisitos e considerações gerais

A aposentadoria por invalidez, nos termos do art. 42 da Lei 8.213/91, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

No mesmo sentido, Mozart Victor Russomano ao afirmar a aposentadoria por invalidez como “o benefício decorrente da incapacidade do segurado para o trabalho, sem perspectiva de reabilitação para o exercício de atividade capaz de lhe assegurar a subsistência.”52

No mesmo diapasão são os ensinamentos de Eduardo Rocha Dias e José Leandro Monteiro de Macêdo53, in verbis:

A contingência social que dá direito à concessão da aposentadoria por invalidez é a incapacidade substancial e permanente para o trabalho. Substancial no sentido de que o segurado está incapaz de exercer atividade que lhe garanta a subsistência. Como a subsistência, na previdência social, pressupõe a manutenção limitada do nível de vida do beneficiário, essa incapacidade é para exercer atividade que tinha antes da ocorrência da contingência social. Nesse sentido, não é correto afirmar

52 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis da Previdência Social. 2 ed., São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1981, p. 135.

que a incapacidade que dá direito à aposentadoria por invalidez é necessariamente total. Se o segurado é capaz de exercer somente atividades que não lhe garantam, em termos aproximados, o mesmo nível de subsistência que tinha antes de se tornar incapaz, o benefício deve ser concedido. (grifo nosso).

Pelo teor normativo, depreende-se ser irrelevante o segurado ter recebido ou não auxílio-doença anteriormente. No entanto, a prática cotidiana revela uma tendência da perícia médica do INSS em conceder primeiramente o auxílio, provavelmente na expectativa de que o beneficiário venha a recuperar sua capacidade para o trabalho. Contudo, nada impede que, uma vez constatada a incapacidade e a insusceptibilidade de reabilitação para outra atividade, seja concedida desde já a aposentadoria por invalidez.

A questão principal, portanto, gira em torno sobre qual espécie de incapacidade é acometido o segurado e qual a possibilidade de existência de capacidade residual. A correspondência óbvia, portanto, deve ser realizada entre os conceitos de incapacidade laborativa e invalidez, motivo pelo qual, como o próprio nome sugere, é concedida a aposentadoria em estudo. Ocorre que este é um conceito, muitas vezes, alvo de controvérsias na doutrina e jurisprudência brasileiras, principalmente no que diz respeito ao seu alcance.

Existem várias formas de incapacidades das quais podem sofrer o empregado. São elas: a) incapacidade absoluta e temporária; b) incapacidade parcial e permanente; c) incapacidade parcial e temporária; e d) incapacidade absoluta e permanente.

Por absoluta deve ser entendida aquela incapacidade que atinge todas as atividades do trabalhador, enquanto que a incapacidade parcial permite a reabilitação para alguma outra atividade que permita a subsistência do trabalhador. Já a temporária sugere a ideia de provisoriedade, ou seja, de grandes possibilidades de cura do enfermo. Por fim, permanente é aquela incapacidade em que o prognóstico de cura é muito remoto, sendo mais provável que o empregado permaneça sem condições de trabalho pelo resto da vida.

A invalidez, no direito brasileiro, é compreendida como aquela enfermidade que resulta na incapacidade absoluta e permanente. Em outras palavras, para que o segurado empregado faça jus à concessão de aposentadoria por invalidez, é preciso que a sua incapacidade, além de ser provavelmente irreversível, atinja todas as atividades para as quais possuía aptidão.

Entretanto, cumpre ressaltar, que os tribunais brasileiros vêm apresentando uma tendência cada vez maior em alargar o conceito de invalidez, não considerando apenas como tal a incapacidade total e permanente. Considerar como apto ao benefício da aposentadoria por invalidez apenas o segurado que se encontrasse em condições praticamente vegetativas, seria configurar uma verdadeira afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Nesse diapasão, é necessário levar em consideração, além do estado de incapacidade, outros fatores como a idade, o ambiente em que vive o segurado, o modesto grau de instrução e a ausência de formação profissional para o exercício de outra atividade. São circunstâncias que reclamam a necessária sensibilidade do julgador no sentido de concluir que o beneficiário, na realidade, não detém mais a possibilidade de exercer atividade laboral que lhe garanta a subsistência, mormente se consideramos a natural dificuldade de inserção no mercado de trabalho do empregado que passa muito tempo ausente do seu serviço habitual. Significa dizer que, para ter direito à aposentadoria por invalidez, não necessariamente será absoluta e permanentemente incapaz o trabalhador, bastando considerar a insuficiência, no caso concreto, da simples concessão do auxílio- doença.

Nesse sentido, inclusive, alguns posicionamentos jurisprudenciais:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. GRAU DE INCAPACIDADE APRECIADO EM CONSONÂNCIA COM A SITUAÇÃO FÁTICA SUBJACENTE.

1. Muito embora o laudo mencione que o autor pode desempenhar tarefas que exijam esforços de natureza extremamente leves, a decretação da improcedência da ação, no caso presente, não atende os ditames da justiça, devendo ser observados outros elementos que afetam diretamente o segurado e capazes de modificar sua situação fática.

2. [...].

3. Com efeito, o segurado é pessoa de poucas letras e exerceu sempre a profissão de trabalhador braçal. Assim, não é viável se lhe exigir, agora que teve a fatalidade de adoecer gravemente, que se adapte a outro mister qualquer para poder sobreviver. [...]. (AC n. 96.03.075346-7, Rel. Des. Federal Suzana Camargo, QUINTA TURMA, julgado em 09/05/2000, p. 242.)

PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO PELA INCAPACIDADE PARCIAL DO SEGURADO. NÃO VINCULAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIA SÓCIO- ECONÔMICA, PROFISSIONAL E CULTURAL FAVORÁVEL À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.

1. Os pleitos previdenciários possuem relevante valor social de proteção ao Trabalhador Rural Segurado da Previdência Social, devendo ser, portanto, julgados sob tal orientação exegética.

2. Para a concessão de aposentadoria por invalidez devem ser considerados outros aspectos relevantes, além dos elencados no art. 42 da Lei 8.213/91, tais como, a condição sócio-econômica, profissional e cultural do segurado. 3. Embora tenha o laudo pericial concluído pela incapacidade parcial do segurado, o Magistrado não fica vinculado à prova pericial, podendo decidir contrário a ela quando houver nos autos outros elementos que assim o convençam, como no presente caso.

4. Em face das limitações impostas pela avançada idade (72 anos), bem como por ser o segurado semi-analfabeto e rurícula, seria utopia defender sua inserção no concorrido mercado de trabalho, para iniciar uma nova atividade profissional, pelo que faz jus à concessão de aposentadoria por invalidez. 5. Recurso Especial não conhecido. (RESP 200701516769. Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. QUINTA TURMA, julgado em 17/09/2007, p. 355.)

Configuram-se critérios para a concessão da aposentadoria por invalidez, portanto, a incapacidade total e permanente, lembrando a importância da flexibilização para a consideração de fatores socioeconômicos, profissionais e culturais do segurado; e não haver susceptibilidade de reabilitação para o exercício de atividade outra que lhe garanta subsistência.

Neste ponto, é importante destacar a ideia de provisoriedade na percepção da aposentadoria por invalidez, apesar da gravidade das circunstâncias que geralmente povoam a sua concessão. Isso porque o gozo do benefício deve perdurar enquanto permanecerem as condições que lhe deram ensejo, segundo dicção literal da parte final do art. 42, caput, da Lei 8.213/91.

Quanto ao valor mensal do benefício, inclusive o decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do salário- de-benefício (art. 44, caput, da Lei nº 8.213/91).

Por fim, a aposentadoria por invalidez pode ser de natureza acidentária ou comum. Esta, como o próprio nome sugere, é aquela decorrente de doença comum e acidente extralaboral; enquanto aquela provém de acidente de qualquer natureza ou causa, desde haja nexo causal, e de doença profissional ou do trabalho. A diferença entre as duas importa, basicamente, para fins de carência e aquisição de estabilidade. Enquanto a de

natureza acidentária independe de carência e proporciona a garantia no emprego após o retorno, a aposentadoria por invalidez comum não fornecer estabilidade e exige o pagamento de 12 contribuições mensais para que então faça jus ao benefício previdenciário, exceto para o rol de doenças constante na Portaria Interministerial MPAS/MS nº 2.998, de 23 de agosto de 200154.

Nos benefícios decorrentes de acidente do trabalho, caberá ainda ao empregador efetuar todos os depósitos pertinentes ao FGTS durante o período de paralisação da prestação dos serviços. A controvérsia, no entanto, fica por conta da ausência de previsão expressa quanto à aposentadoria por invalidez, constando essa obrigação apenas em relação ao auxílio-doença. O tema será mais bem abordado no item 4.2.2 deste capítulo, momento em que serão estudados os efeitos que o recebimento do auxílio-doença proporciona nos contratos de trabalho.

Ademais, como já citado, na aposentadoria por invalidez acidentária, é necessário o nexo causal entre o mal e o evento, ou seja, que a incapacidade absoluta e permanente tenha ocorrido em razão do acidente, porque, caso contrário, poderá caracterizar doença comum. Como já foi visto, é importante a sua definição para fins de determinação da carência, aquisição de estabilidade e recolhimento do FGTS.

O art. 43, § 1º, “a”, da Lei nº 8.213/91 destaca, ainda, para a concessão do benefício, a necessidade de afastamento da atividade por mais de 15 dias, iniciando-se o seu pagamento a contar do 16º dia ou a partir da entrada do requerimento, se entre o afastamento e a entrada do requerimento decorrerem mais de trinta dias. Observa-se que não é requisito necessário a precedência de auxílio-doença, embora seja muito comum.

Para fazer jus ao benefício, também não é admitida a existência de doença preexistente, salvo se a incapacidade sobrevier de agravamento ou progressão (art. 42, § 2º, da Lei 8.213/91). A invalidez igualmente não pode ter sido provocada, devendo sua

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“Art. 1º As doenças ou afecções abaixo indicadas excluem a exigência de carência para a concessão de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez aos segurados do Regime Geral de Previdência Social - RGPS: I - tuberculose ativa; II - hanseníase; III- alienação mental; IV- neoplasia maligna; V – cegueira; VI - paralisia irreversível e incapacitante; VII- cardiopatia grave; VIII - doença de Parkinson; IX - espondiloartrose anquilosante; X - nefropatia grave; XI - estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante); XII - síndrome da deficiência imunológica adquirida - Aids; XIII - contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada; e XIV - hepatopatia grave.”

ocorrência acontecer involuntariamente.

4.1.2 EFEITOS DO RECEBIMENTO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ NO