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3 DIREITO DO TRABALHO E DIREITO PREVIDENCIÁRIO

4.2 Auxílio doença e seus efeitos no contrato de trabalho

4.2.2 Efeitos do recebimento do auxílio-doença no contrato de trabalho

Os efeitos do recebimento do auxílio-doença, assim como na aposentadoria por invalidez, são inúmeros, sendo de fundamental importância os seus estudos.

De logo, apresenta-se os dispostos nos art. 476 da Consolidação das Leis do Trabalho e art. 63, caput, da Lei 8.213/91, in verbis:

Art. 476. Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o empregado é considerado em licença não remunerada, durante o prazo desse benefício.

Art. 63. O segurado empregado em gozo de auxílio-doença será considerado pela empresa como licenciado.

Resta, portanto, evidente a suspensão dos contratos de trabalho pelo período em que o empregado se encontrar em gozo do auxílio-doença.

O § único do art. 63 prever ainda o dever da empresa que garantir ao segurado licença remunerada de pagar-lhe durante o período de auxílio-doença a eventual diferença entre o valor deste e a importância garantida pela licença. É uma excelente forma de estimular o recebimento do valor integral o qual já estava acostumado o empregado durante o período enfermo, já que o auxílio-doença corresponde somente a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-benefício.

anquilosante; X - nefropatia grave; XI - estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante); XII - síndrome da deficiência imunológica adquirida - Aids; XIII - contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada; e XIV - hepatopatia grave.”

Durante o período de suspensão, portanto, não haverá prestação de serviços, sem pagamento de salário e, não sendo acidentário o benefício, sem contagem do tempo como de serviço. No entanto, durante os primeiros 15 dias, percebe-se que, apesar da ausência de prestação dos serviços, haverá o pagamento de salários e a contagem do tempo de serviço. São características próprias da interrupção do contrato de trabalho, destacando-se, portanto, como tal nesses primeiros dias.

Uma vez recuperada a capacidade, deverá o empregado retornar à sua atividade habitual, sendo-lhe asseguradas, por ocasião de sua volta, todas as vantagens que, em sua ausência, tenham sido atribuídas à categoria a que pertencia na empresa. Contudo, muito contestada é a matéria pertinente à alta programada, instrumento este muito utilizado pelo INSS. Trata-se, na verdade, da situação em que a perícia médica do INSS, por ocasião da concessão do benefício, já determina quando, possivelmente, o segurado recuperará sua capacidade. É como dispõe o art. 78, § 1º, do Decreto nº 3.048/99, conforme se observa:

Art. 78. O auxílio-doença cessa pela recuperação da capacidade para o trabalho, pela transformação em aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente de qualquer natureza, neste caso se resultar seqüela que implique redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

§ 1º O INSS poderá estabelecer, mediante avaliação médico-pericial, o prazo que entender suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho do segurado, dispensada nessa hipótese a realização de nova perícia.

Muito criticada a prática recorrente do INSS em determinar, desde logo, a data em que cessará a percepção do auxílio-doença. Isso porque cada pessoa possui características próprias de recuperação, nem sempre ocorrendo no mesmo tempo para todas.

Por isso, uma vez que perceba impossível retornar ao trabalho no tempo previsto pelo perito médico, cabe ao segurado, faltando 15 dias para a cessação do benefício, requerer a sua prorrogação. Ocasião esta em que haverá a realização de nova perícia para a constatação acerca da procedência ou não do pedido realizado.

Não é porque o contrato encontra-se suspenso que não surgem direitos e deveres recíprocos que devem ser mantidos tanto pelos empregados quanto pelos empregadores e até mesmo em relação ao INSS. O empregado, por exemplo, não pode trabalhar para outro empregador, salvo se pertinente ao exercício de atividade outra que já ocupava antes da

enfermidade; deve agir com boa-fé; comparecer às perícias médicas do INSS; se submeter a tratamento oferecido pela autarquia, com exceção de tratamento cirúrgico e transfusão de sangue; entre outros. Já o empregador deve também manter a boa-fé e fidelidade na relação contratual.

O recolhimento do FGTS é outra questão que merece o devido destaque. No concernente ao auxílio-doença, a matéria é clara não restando dúvidas quanto o à sua aplicação. Quando proveniente de doença comum ou acidente não vinculado ao trabalho não há qualquer obrigação de recolhimento pelo empregador. Passa a ser devido, no entanto, nas situações decorrentes de acidente do trabalho.

O raciocínio acima é deduzido da inteligência conjugada dos art. 28, III, do Decreto nº 99.684/90 e art. 60 da Lei nº 8.213/91.

Art. 28. O depósito na conta vinculada do FGTS é obrigatório também nos casos de interrupção do contrato de trabalho prevista em lei, tais como:

(...)

III - licença por acidente de trabalho;

Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz.

Observe que o art. 28 do Decreto acima trata a situação como hipótese de interrupção, muito embora não possa assim ser caracterizada.

O art. 4, § único, da CLT, apresenta ainda a contagem do tempo de serviço para efeitos de indenização e estabilidade, nos termos abaixo:

Art. 4º - Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada.

Parágrafo único - Computar-se-ão, na contagem de tempo de serviço, para efeito de indenização e estabilidade, os períodos em que o empregado estiver afastado do trabalho prestando serviço militar e por motivo de acidente do trabalho.

Percebe-se, portanto, que quando decorrente de acidente do trabalho, a suspensão do contrato de trabalho adquire características especiais. Apesar de, normalmente, não constituir nenhum ônus ao empregador, o período de afastamento é contado para fins de

tempo de serviço, estabilidade e depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Ademais, de acordo com o art. 131, III, da CLT, o período de afastamento por acidente de trabalho ou enfermidade, desde que inferior a 6 (seis) meses, é contado para fins de período aquisitivo de férias do empregado, contabilizando, embora válido também para doença comum, mais uma particularidade do auxílio-doença acidentário.

Os precedentes normativos acima fazem menção expressa somente ao auxílio- doença acidentário, deixando fortes dúvidas quanto à sua aplicação à aposentadoria por invalidez decorrente de acidente do trabalho. A ideia de prever ônus aos empregadores nessas situações específicas é tratada como uma forma de coagir as empresas a investirem mais nas normas de medicina e segurança do trabalho, evitando, assim, maiores números de acidentes.

Dessa forma, deve ser considerada a sua abrangência em respeito também à aposentadoria por invalidez acidentária, ainda que se discutam os pesados ônus que referida extensão causaria aos empregadores. Sendo decorrente de acidente de trabalho, cabe ao aposentado também a contagem do tempo afastado como de serviço, aquisição de estabilidade e continuidade dos depósitos do FGTS.

O pedido de demissão pelo empregado durante o auxílio-doença, assim como na aposentadoria por invalidez, é dotado de ineficácia.

Quanto às verbas trabalhistas devidas até o momento da suspensão, dado ao caráter temporário da prestação do auxílio-doença, convém o pagamento somente após os retornos às atividades habituais, mesmo porque se trata de hipótese de suspensão contratual. A razão de se defender que na aposentadoria por invalidez deva ser pago logo no início do gozo do benefício se dá em razão da pouca probabilidade de retorno do empregado ao trabalho, bem como, ainda que se considere bem possível o regresso, o problema da indefinição temporal desse retorno.

5 CONCLUSÃO

Os efeitos que a percepção dos benefícios por incapacidade de caráter substitutivo produz nos contratos de trabalho são inúmeros e nem sempre apresentam compreensão unânime acerca da sua aplicação. Substitutivo, como foi visto, porque são concedidos em substituição ao salário, sendo vedado, em razão disso, percepção mensal do benefício inferior ao salário mínimo.

A razão da limitação dos estudos ocorrerem em torno apenas do empregado para fins trabalhista acontece porque o âmbito de proteção previdenciária é maior se comparado com a da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, apresentando, consequentemente, conceito mais abrangente de segurado obrigatório empregado. E como todo contrato de trabalho encerra em si uma relação de emprego, cabe o estudo apenas dos efeitos que envolverem os sujeitos dessa relação.

Conforme observado, devido à exposição aos riscos sociais dos quais se submetem todos os empregados, determinadas situações acabam por configurar a perda da capacidade laboral, tornando impossível a continuidade da prestação dos serviços.

Ante a ocorrência das contingências sociais, cabe ao Estado, em conjunto com a sociedade, disponibilizar todos os meios que não somente permitam a subsistência do empregado durante a condição de necessidade social, como também garanta a reintegração socioeconômica deste mesmo trabalhador após a sua recuperação.

Desta forma, durante o período de paralisação temporária da prestação de serviços, demonstrou-se como a melhor solução, na maioria das vezes, promover a interrupção ou suspensão do contrato de trabalho. Os efeitos condizem perfeitamente com a disciplina jurídica vigente, bem como ajudam na promoção da dignidade da pessoa humana, princípio basilar em nossa Constituição.

Ademais, foram também estudados os direitos e deveres tanto do empregado quanto do empregador durante a suspensão e interrupção contratuais.

No entanto, em determinadas circunstâncias específicas, vislumbrou-se também a possibilidade de extinção do contrato de trabalho como a melhor solução para ambas as partes componentes da relação empregatícia. O ônus excessivo muitas vezes suportado pelo empregador nem sempre condiz com a melhor forma de garantia contratual, principalmente nas situações que possam configurar a “eterna” suspensão do contrato de trabalho. Toma-se também como preocupação, nessas situações, a ausência de segurança para o empregado que, após anos de incapacidade, por ocasião do seu retorno, ainda pode ter o seu contrato rescindido, mesmo que na forma indenizada.

No que tange aos benefícios em espécie, estudou-se que o recebimento de aposentadoria por invalidez presume o acometimento de incapacidade permanente e absoluta. Sob este aspecto, compreendeu-se como o melhor momento para o recebimento das verbas trabalhistas o início da percepção do benefício, mormente indeterminável o tempo de paralisação e remota a possibilidade de cura. Destacou-se também a importância de se estabelecer critérios objetivos que permitam a transição da aposentadoria provisória para permanente, visualizando-se a maior segurança jurídica às relações trabalhistas e previdenciárias.

Já o auxílio-doença, por caracterizar a presença de incapacidade total e temporária para atividade habitual do empregado, requer cuidados quanto à disciplina dos seus efeitos nos contratos de trabalho. O mais importante é garantir a manutenção do vínculo empregatício para que o trabalhador possa retornar às suas atividades cotidianas quando houver recuperado sua capacidade laboral. O objetivo principal não se resume à recuperação das condições econômicas, mas também possibilitar a reintegração social deste mesmo empregado.

Demonstrou-se, portanto, de fundamental importância o estudo dos efeitos que a percepção dos benefícios por incapacidade de caráter substitutivo produz nos contratos de trabalho. Além da garantia de uma subsistência digna nos momentos de maior necessidade do trabalhador por ocasião da perda da sua capacidade laborativa, resta também protegida a relação empregatícia durante a paralisação temporária da prestação dos serviços, não tornando ainda mais difícil ao empregado a sua reinserção no já concorrido mercado de trabalho. Afinal, o trabalho é a base do primado à consecução dos objetivos do bem-estar e da justiça sociais, justificando, por si só, a importância do tema.

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