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CAPÍTULO 2 – ECONOMIA SOLIDÁRIA: PRINCÍPIOS E EXPERIÊNCIAS NO

2. Economia Solidária x Economia de Comunhão

2.1. Economia Solidária

2.1.2. Conceitos

Para dar início aos conceitos pesquisados acerca da Economia Solidária, Gadotti (1993) faz a distinção entre economia informal de economia popular na discussão do tema de educação comunitária embora estes termos sejam utilizados como sinônimos:

A economia informal se localiza, sobretudo, no nível das necessidades imediatas e, muitas vezes, passageiras, enquanto a crise durar para o individuo, enquanto ele não encontrar lugar no mercado formal de trabalho. A economia informal pode ou não se transformar em economia popular. Já a economia popular, como a entendemos, significa, sobretudo, uma opção, um modo de vida – que nada mais é do que um modo de produção -, o que implica um projeto de sociedade e novos valores... A produção associada gera valores solidários, participação, autogestão, autonomia e iniciativas de caráter integral, como vida coletiva cultural e educativa, etc. A economia popular não se baseia nos critérios de rentabilidade e de lucro do sistema capitalista e da economia não-popular (GADOTTI, 1993, p. 13).

Este mesmo autor cita a definição da economia popular de Luiz Razeto (GADOTTI, 1993 apud RAZETO, 1987, p. 11) onde o mesmo afirma que economia popular é também chamada de economia de solidariedade:

Economia Popular é um conceito que, embora acuse certa ambigüidade, aponta para a emergência de uma empresarialidade distinta da que existe na economia estatal ou capitalista. É uma economia na qual se expressa o modo de ser do povo, dando lugar a uma racionalidade econômica distinta dessas formas econômicas (GADOTTI, 1993 apud RAZETO, 1987, p. 11). Esta diferença se restringe a terminologia.

Ele define Economia de Solidariedade como um “modo de fazer economia que implica comportamentos sociais e pessoais novos, tanto no plano da organização da produção e das empresas, como nos sistemas de destinação de recursos e distribuição dos bens e

serviços produzidos, e nos procedimentos e mecanismos de consumo e acumulação” (RAZETO, 1993, p. 40).

Um fator econômico especial denominado “fator C” é identificado por este autor, onde em vários outros idiomas começam com a referida letra diversos termos, tais como: cooperação, comunidade, colaboração, coordenação, coletividade.

O fator “C” consiste no fato de que um elemento comunitário, de ação e gestão conjunta, cooperativa e solidária, apresente no interior dessas unidades econômicas efeitos tangíveis e concretos sobre o resultado da operação econômica. Efeitos concretos e específicos nos quais se possa discernir uma particular produtividade dada pela presença e crescimento do referido elemento comunitário, análoga à produtividade que distingue e pela qual se reconhecem os demais fatores econômicos. (RAZETO, 1993, p. 41) O “fator C” tem expressões variadas: manifesta-se pela cooperação no trabalho, que acrescenta a eficiência da força de trabalho; no uso compartilhado de conhecimentos e informações, que dá lugar a um importante elemento de criatividade social; na adoção coletiva das decisões; na melhor integração funcional dos diferentes componentes sociais da empresa, que reduz a “conflitualidade” e os custos que deles derivam; na satisfação de necessidades de convivência e participação que implicam que a operação da empresa proporcione a seus integrantes uma série de benefícios adicionais não contabilizados monetariamente, mas reais e efetivos; no desenvolvimento pessoal dos sujeitos envolvidos nas empresas, derivados da comunicação e mudança entre personalidades diferentes, etc. (RAZETO, 1993, p. 41).

Em sìntese, o “fator C” significa que a formação de um grupo, associação ou comunidade, que opera cooperativa e cordialmente, proporciona um conjunto de benefícios a cada integrante e um melhor rendimento e eficiência à unidade econômica como um todo, devido a uma série e economias de escala, economias de associação e externalidades, implicadas na ação comunal e comunitária. (RAZETO, 1993, p. 40)

É importante destacar a diferença que Razeto (RAZETO, 1993) faz entre economia popular e economia de solidariedade onde as mesmas apresentam traços e características comuns em torno das quais se forma historicamente uma identidade de contornos bem definidos:

Definidas a economia popular e a economia de solidariedade como dois conjuntos de realidades e experiências que se caracterizam por traços de diferentes nìveis, podemos compreender agora a “economia popular de solidariedade” como o conjunto concreto das experiências, atividades e organizações econômicas que se encontram na intersecção entre dois conjuntos anteriormente mencionados. Em outras palavras, a economia

popular de solidariedade é aquela parte da economia popular que manifesta alguns traços especiais que permitem identificá-la também como economia de solidariedade, ou, pelo contrário, é aquela parte da economia de solidariedade que se manifesta no contexto que identificamos como economia popular. (RAZETO, 1993, p. 45)

Oliveira et al (2007, p.70) cita Laville (1994) refletindo que a economia solidária “organiza-se a partir de favores humanos, favorecendo as relações em que o laço social é viabilizado através da reciprocidade e adota formas comunitárias de propriedade”, distinguindo-se tanto da lógica do mercado capitalista quanto da lógica do Estado (LAVILLE, 1994 apud OLIVEIRA ET AL, 2007, p. 70).

Genauto C. de França Filho (2007) cita três singularidades próprias das práticas da Economia Solidária, até por ser denominada uma outra economia, tendo em vista que a definição do termo “economia” imediatiza a ideia de distribuição de riqueza e pluralidade de formas de produção:

A primeira dessas singularidades diz respeito à possibilidade de pensar as práticas solidárias como uma projeção, no nível micro ou meso-social, do conceito macro-social da economia. A segunda concerne a possibilidade de compreender a economia solidária como uma articulação inédita entre as três formas de economia: mercantil, não mercantil e não monetária, inventando assim um outro modo de definir o ato econômico – ao invés de concebê-lo como uma “nova economia”, que viria somar-se às formas dominantes da economia numa espécie de complemente que serviria de ajuste às disfunções do sistema econômico vigente, como se a economia solidária tivesse a função de ocupar-se dos pobres e excluídos do sistema econômico, constituindo, uma espécie de setor à parte com um papel funcionalmente bem definido em relação ao conjunto. A terceira singularidade remete à possibilidade de pensar as práticas de economia solidária como modos de gestão de diferentes lógicas em tensão nas dinâmicas organizativas. Neste sentido, enfatiza-se a busca do equilíbrio necessário à sustentabilidade de tais práticas, em meio à tensão dessas lógicas (FILHO, 2007, p. 160).

E, Singer (2007) faz uma reflexão sobre o relacionamento entre os agentes de desenvolvimento (banco públicos, agências de fomento da economia solidária, ligadas a igrejas, sindicatos ou universidades), ressaltando a sua importância no desenvolvimento solidário:

... Nesta troca, os membros da comunidade recebem ensinamentos e os oferecem aos agentes, num processo de educação política mútua. A experiência das incubadoras universitárias de cooperativas populares atesta que este tipo de processo é real e é essencial para que o desenvolvimento solidário possa se dar. (SINGER, 2007, p. 43)

Neste contexto, Filho (2007) menciona quatro categorias de atores ou instâncias organizativas que compuseram o campo da economia solidária no Brasil: a

primeira, os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), caracterizados pela heterogeneidade, na tentativa de criar um sistema de autogestão; a segunda categoria são as Entidades de Apoio e Fomento (EAF), que contam com uma base profissional altamente qualificada, podendo ser ONGs, centros de pesquisas, programas de extensão de universidades ou coordenação de redes.

A terceira categoria são as formas de auto-organização política, que são as redes e fóruns, os quais articulam debates políticos sobre o lugar de cada modo de auto- organização, sobre as relações que mantêm entre si e com os poderes públicos, e a quarta categoria, representada por uma nova institucionalidade pública do Estado que é a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), vinculada ao Ministério de Trabalho e Emprego, e, ainda, uma série de outras instâncias políticas públicas de economia solidaria em governos municipais ou estaduais (FILHO, 2007, p. 168).