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A CONCENTRAÇÃO DAS TROPAS DE ROHAN

No documento J.R. R. TOLKIEN O SENHOR DOS ANÉIS (páginas 40-51)

Agora todas as estradas corriam juntas para o leste, ao encontro da guerra iminente e do ataque da Sombra. E, no momento em que Pippin se postava no Grande Portão da Cidade e via o Príncipe de Doí Amroth entrar cavalgando com

suas insígnias, o Rei de Rohan desceu as colinas.

O dia terminava. Nos últimos raios do sol os Cavaleiros projetavam sombras longas e pontudas que os precediam. A escuridão já penetrara embaixo das florestas murmurantes de abetos que cobriam as encostas íngremes das montanhas. Agora o rei cavalgava devagar no fim do dia. De repente, a trilha contornou uma enorme

saliência de pedra nua e mergulhou na escuridão das árvores que suspiravam suavemente. Foram descendo cada vez mais numa longa fila sinuosa. Quando finalmente chegaram ao fundo da garganta, viram que a noite já caíra nos lugares profundos. O sol se fora. O crepúsculo se deitava sobre as cachoeiras.

Durante todo o dia, bem abaixo deles, um riacho saltitante viera descendo da passagem alta que ficava mais atrás, abrindo seu caminho estreito por entre muralhas cobertas de pinheiros; agora corria através de um portão de pedra e passava para um vale mais largo. Os Cavaleiros o seguiram, e de repente o Vale Harg estendia-se diante deles, ressoando com o barulho das águas no início da noite. Ali o branco Riacho de Neve, encontrando-se com córregos menores, corria veloz, vaporizando-se nas pedras descendo para Edoras, para as colinas verdes e para as planícies. Mais ao longe e a direita, no topo do grande vale, o poderoso Picorrijo assomava sobre seus amplos contrafortes envoltos em nuvens; mas seu pico dentado, vestido de neve eterna, reluzia bem acima do mundo, com sombras azuladas no leste, manchado pelo vermelho do pôr-do-sol no oeste.

Merry observava surpreso aquela terra estranha, sobre a qual ouvira muitas histórias durante a longa viagem. Era um mundo sem céu, no qual seu olho, através

de espaços escuros de ar sombrio, via apenas encostas sempre subindo, grandes muralhas de pedra atrás de grandes muralhas, e precipícios sinistros envoltos pela névoa. Ficou por um momento numa espécie de devaneio, ouvindo o ruído da água, o sussurro das árvores escuras, os estalidos das rochas, e o vasto silêncio de espera que pairava acima de qualquer som. Ele amava as montanhas, ou amara pensar nelas se erguendo à margem das histórias trazidas de longe; mas agora sentia-se acabrunhado pelo peso insuportável da Terra-média. Desejava isolar-se da imensidão numa sala tranquila, ao lado de uma fogueira.

Estava muito cansado pois, embora tivessem cavalgado devagar, haviam feito pouquíssimas pausas na viagem. Hora após hora por quase três dias fatigantes, ele estivera sacolejando sobre passagens, através de longos vales e cruzando muitos rios. Algumas vezes, nos pontos onde o caminho era mais largo, cavalgara ao lado do rei, sem notar que muitos dos Cavaleiros sorriam ao ver os dois juntos: o hobbit montando o pequeno pônei cinzento e peludo, e o Senhor de Rohan em seu grande cavalo branco. Nessas ocasiões conversara com Théoden, contando-lhe sobre sua terra natal e sobre os afazeres do povo do Condado, ou ouvindo por sua vez histórias sobre a Terra dos Cavaleiros e seus poderosos homens de antigamente. Mas na maior parte do tempo, especialmente nesse último dia, Merry tinha cavalgado sozinho logo atrás do rei, sem dizer nada, e tentando entender a fala lenta e sonora de Rohan usada pelos homens que vinham atrás dele. Era uma língua da qual Merry tinha a impressão de conhecer muitas palavras, embora fossem pronunciadas com mais sonoridade e força do que no Condado, e apesar disso ele não conseguia juntar essas palavras. Algumas vezes algum Cavaleiro

levantava sua voz cristalina numa canção animadora, e Merry sentia seu coração bater mais forte, embora sem saber sobre o que falava a canção.

Mesmo assim sentia-se solitário, mais ainda quando chegava o fim do dia. Perguntava-se onde, em todo aquele mundo estranho, fora parar Pippin. e o que aconteceria com Aragorn, Legolas e Gimli. Depois, de repente, sentindo um frio em seu coração, pensou em Frodo e Sam. - Estou me esquecendo deles! disse para si mesmo num tom reprovatório. - E apesar disso eles são mais importantes que todos nós. E eu vim para ajudá-los, mas agora devem estar a centenas de milhas daqui,

se ainda estiverem vivos. - Teve um calafrio.

- O Vale Harg, finalmente! - disse Éomer. - Nossa viagem está quase no fim. - Eles pararam. As trilhas que desciam da garganta estreita eram íngremes. Era possível apenas entrever, como que olhando de uma janela alta, o grande vale no crepúsculo lá embaixo. Uma única luz fraca aparecia piscando ao lado do rio.

Esta viagem talvez tenha acabado - disse Théoden -, mas ainda tenho muito o que viajar. Ontem à noite a lua estava cheia, e amanhã cedo devo cavalgar até

Edoras para a concentração da Terra dos Cavaleiros. Mas, se o senhor aceitasse meu conselho - disse Éomer numa voz baixa -, depois o senhor voltaria para cá e aqui ficaria, até que a guerra estivesse terminada, com vitória ou derrota.

Théoden sorriu.

- Não, meu filho, pois dessa forma irei chamá-lo, não diga as palavras suaves de Língua de Cobra a meus ouvidos de velho! - Esticou o corpo e olhou para trás, vendo a longa fileira de seus homens sumindo dentro do crepúsculo. - Parece que longos anos se passaram no espaço de dias desde que cavalguei para o oeste; mas jamais me apoiarei num cajado de novo. Se perdermos a guerra, de que adiantará eu me esconder nas colinas? E, se vencermos, que motivo haverá para tristeza, mesmo que eu pereça usando minhas últimas forças? Mas vamos deixar isso de lado agora. Esta noite vou descansar na Fortaleza do Vale Harg. Ao menos uma noite de paz nos resta. Vamos continuar a cavalgada!

No crepúsculo que se adensava eles desceram para o vale. Ali o Riacho de Neve corria próximo ás paredes ocidentais, e logo a trilha os conduziu a um vau onde as águas rasas murmuravam alto sobre as pedras. O vau estava guardado. Com a aproximação do rei, muitos homens saltaram da sombra das rochas, e, quando o viram, gritaram com vozes alegres: - o Rei Théoden! O Rei Théoden! O Rei da

Terra dos Cavaleiros retorna!

Então um deles fez soar um longo toque numa corneta, que ecoou no vale. Outras cornetas responderam, e luzes brilharam do outro lado do rio.

De repente elevou-se um grande coro de trombetas lá de cima, emitido de algum lugar côncavo, ao que parecia, e que reunia as notas numa só voz, e a enviava

retumbando e batendo nas muralhas de pedra.

Assim o Rei da Terra dos Cavaleiros retornou vitorioso do oeste para o Templo da Colina, sob os pés das Montanhas Brancas. Ali encontrou já reunida a força que restava de seu povo, pois logo que ficaram sabendo da chegada os capitães cavalgaram ao seu encontro no vau, trazendo mensagens de Gandalf. Dúnhere, chefe do povo do Vale Harg, vinha á frente.

- Três dias atrás, ao amanhecer, senhor- disse ele -, Scadufax chegou a Edoras na velocidade do vento, vindo do oeste; Gandalf trouxe notícias de sua vitória para alegrar nossos corações. Mas também trouxe mensagens suas para que apressássemos a reunião dos Cavaleiros. E então veio a Sombra alada.

noite anterior à partida de Gandalf.

- Pode ser, senhor - disse Dúnhere. -Apesar disso, a mesma, ou outra semelhante a ela, uma escuridão que vôa na forma de um pássaro monstruoso, sobrevoou Edoras naquela manhã, e todos os homens ficaram tomados de medo. Pois ela deu um vôo rasante sobre Meduseld, e, quando abaixou, quase tocando o cume, ouvimos um grito que paralisou nossos corações. Foi então que Gandalf nos aconselhou a não nos reunirmos nos campos, mas a encontrá-lo aqui no vale sob as montanhas. E ele ordenou que só acendêssemos luzes ou fogueiras em caso de extrema necessidade. E assim foi feito. Gandalf falou com grande autoridade.

Confiamos que esse seja o seu desejo. Não se viu nenhuma dessas coisas malignas no Vale Harg.

- Isso é bom - disse Théoden. - Agora vou cavalgar para a Fortaleza e lá, antes de descansar, encontrarei os marechais e capitães. Quero vê-los O mais cedo

possível!

Agora a estrada conduzia para o leste, direto através do vale, que nesse ponto não tinha muito mais que oitocentos metros de largura. Planícies e Campinas de capim grosso, agora cinzento ao cair da noite, jaziam por toda a volta; mas à frente, do lado oposto do vale, Merry viu uma parede franzida, uma última saliência das grandes raízes do Picorrijo, fendida pelo rio em eras passadas.

Em todos os espaços planos havia um grande agrupamento de homens. Alguns apinhados na borda da estrada, saudando o rei e os cavaleiros que vinham do oeste com gritos alegres; mas estendendo-se na distância atrás deles viam-se fileiras ordenadas de tendas e barracas, e colunas de cavalos amarrados em estacas, e um grande estoque de armas, e pilhas de lanças eretas como matas de árvores recém plantadas. Agora toda a grande assembléia estava mergulhando na escuridão e mesmo assim, embora o vento da noite soprasse gelado das alturas, nenhuma lamparina reluzia, nenhuma fogueira fora acesa. Sentinelas com vestes pesadas

caminhavam de um lado para o outro.

Merry ficou imaginando quantos Cavaleiros havia. Não conseguia calcular o número na escuridão que se adensava, mas parecia-lhe um grande exército, com milhares de homens. Enquanto ele esquadrinhava todos os pontos, o grupo do rei atingiu o penhasco que assomava na encosta leste do vale; ali, de repente, a trilha começou a subir, e Merry ergueu os olhos assombrado. Estava numa estrada como nunca vira antes, um grande trabalho de mãos humanas, feito em épocas além do alcance das canções.

Subia fazendo curvas, ziguezagueando como uma cobra, abrindo seu caminho através da encosta íngreme de pedra. Inclinada como uma escada,

curvava-se para lá e para cá á medida que ia subindo. Para cima, os cavalos concurvava-seguiam andar, e as carroças podiam ser lentamente puxadas; mas nenhum inimigo poderia avançar por aquele caminho se este fosse defendido lá de cima, a não ser que esse inimigo chegasse pelos ares. A cada curva da estrada postavam-se grandes rochas que haviam sido esculpidas á semelhança de homens, enormes e desajeitados, agachados, de pernas cruzadas, com os braços fortes cruzados sobre barrigas robustas. Alguns, com o passar dos anos, tinham perdido todos os traços, exceto os buracos escuros dos olhos, que ainda fitavam tristes os passantes. Os Cavaleiros mal olhavam para eles.

Chamavam-nos de homens-púkel, pouca atenção lhes davam: naquelas imagens não restava qualquer poder ou terror, mas Merry os fixava surpreso e com um sentimento quase de dó, à medida que eles iam assomando melancolicamente no crepúsculo.

Depois de um tempo olhou para trás e percebeu que já tinha subido várias dezenas de metros acima do vale, mas ainda conseguia divisar lá embaixo uma linha sinuosa de

cavaleiros atravessando o vau e avançando em fila ao longo da estrada em direção ao acampamento preparado para eles.

Apenas o rei e sua guarda subiriam até a Fortaleza.

Finalmente a companhia do rei atingiu uma borda íngreme, e a estrada ascendente avançou por um corte feito nas muralhas de pedra, e assim subiu uma pequena encosta e atingiu uma plataforma larga. Os homens a chamavam de Firienfeld, um campo de grama e charneca na montanha, bem acima do leito profundo do Riacho de Neve, que passava pelo colo das grandes montanhas lá atrás: o Picorrijo ao sul; ao norte o maciço de Serraferro com seus dentes de serrote, entre os quais, à frente dos cavaleiros, postava-se a muralha negra da Dwimorberg, a Montanha Assombrada, saindo de encostas íngremes cobertas de pinheiros sombrios. Dividindo a plataforma ao meio havia uma linha dupla de pedras fincadas e disformes, que iam desaparecendo no crepúsculo, sumindo entre as árvores. Aqueles que ousavam passar por aquela estrada logo atingiam o negro Dimholt sob Dwimorberg, e a ameaça do pilar de pedra, com a boca escura e escancarada da porta proibida.

Assim era o escuro Templo da Colina, trabalho de homens havia muito esquecidos. Ninguém se lembrava dos seus nomes, e nenhuma canção ou lenda os celebrava.

Com que propósito haviam construído esse lugar, para ser uma cidade ou um templo secreto ou um túmulo de reis, ninguém sabia dizer. Ali tinham trabalhado durante os Anos Escuros, antes que qualquer navio chegasse às praias do oeste, ou Gondor dos dúnedain fosse construída; agora tinham desaparecido, e restavam apenas os velhos homens-púkel, ainda sentados nas curvas da estrada.

Merry olhou para as fileiras de pedras em desfile: estavam desgastadas e escuras; algumas inclinadas, algumas caídas, outras rachadas ou quebradas; pareciam fileiras de velhos dentes famintos. Ficou pensando o que poderiam ser, e esperava que o rei não fosse segui-las em direção à escuridão mais além.

Então percebeu que havia tendas e barracas aglomerando se dos dois lados do caminho de pedra, mas que não estavam armadas perto das árvores, parecendo antes agruparem-se longe delas, na direção da borda do penhasco. A maioria estava à direita, onde o Fíríenfeld era mais amplo; à esquerda havia um acampamento menor, no meio do qual se erguia um alto pavilhão. Deste lado vinha agora um cavaleiro para encontrá-los, e eles deixaram a estrada.

Assim que se aproximaram, Merry percebeu que o cavaleiro era uma mulher com longos cabelos trançados que reluziam no crepúsculo, mas ela usava um elmo, e estava vestida até a cintura como um guerreiro, trazendo uma espada no cinto.

- Salve, Senhor da Terra dos Cavaleiros! - exclamou ela. – Meu coração se alegra com seu retorno.

- É você, Éowyn - disse Théoden - está tudo bem com você?

- Está tudo bem - respondeu ela, mas Merry teve a impressão de que sua voz a traía, e poderia pensar que Éowyn estivera chorando, se isso fosse possível em uma pessoa com o rosto tão austero. Está tudo bem. Foi uma estrada cansativa para o povo, afastado repentinamente de suas casas. Houve palavras duras, pois faz tempo que a guerra nos expulsou dos campos verdes, mas não houve más ações. Tudo agora está em ordem, o senhor vê E seu alojamento já está preparado, pois recebi notícias completas sobre vocês e a hora de sua chegada. Então Aragorn veio - disse Éomer. - Ele ainda está aqui?

- Não, ele se foi - disse Éowyn, virando-se e olhando para as montanhas, escuras contra o leste e o sul.

- Para onde foi? - perguntou Éomer.

o sol tivesse subido acima dos topos das montanhas. Ele partiu.

-Você está triste, filha - disse Théoden. - O que aconteceu? Diga-me, ele falou daquela estrada? - O rei apontou a distância, ao longo das linhas de pedra que se escureciam na direção da Dwimorberg. - Falou das Sendas dos Mortos?

- Sim, senhor - disse Éowyn. - E penetrou nas sombras das quais nunca ninguém retornou. Não pude dissuadi-lo. Ele partiu.

- Então nossos caminhos estão separados - disse Éomer. - Ele se perdeu. Devemos cavalgar sem ele, e nossa esperança diminui.

Devagar passaram através da charneca baixa e da grama das montanhas, sem falar mais nada, até chegarem ao pavilhão do rei. Ali Merry viu que tudo estava preparado, e que ele mesmo não fora esquecido. Uma pequena tenda fora armada para ele ao lado do alojamento do rei; ali sentou-se sozinho, enquanto os homens andavam de um lado para o outro, entrando para ver o rei e se aconselhar com ele.

A noite se aproximou, e os topos das colinas parcialmente visíveis a oeste ficaram coroados de estrelas, mas o leste estava escuro e vazio. As pedras enfileiradas foram lentamente desaparecendo de vista, mas ainda além delas, mais negra que a escuridão, espreitava a vasta sombra agachada da Dwimorberg.

- As Sendas dos Mortos - murmurou Merry para si mesmo. - As Sendas dos Mortos? O que significa tudo isso? Todos me abandonaram agora. Cada um em direção a um destino: Gandalf e Pippin para a guerra no leste; Sam e Frodo para

Mordor; Passolargo, Legolas e Gimli para as Sendas dos Mortos. Mas minha vez chegará em breve, suponho eu. Gostaria de saber sobre o que estão conversando, e o que o rei pretende fazer. Pois agora devo ir aonde ele for.

Em meio a esses pensamentos melancólicos, Merry de repente se lembrou de que estava com muita fome! Levantou-se para ver se alguém naquele estranho acampamento sentia a mesma coisa. Mas nesse exato momento uma trombeta soou, e um homem veio chamando-o, ao escudeiro do rei, para que servisse à mesa do rei.

Na parte interna do pavilhão havia um espaço exíguo, isolado por telas bordadas, e coberto de peles; ali, a uma pequena mesa, estava sentado Théoden com Éomer, Éowyn e Dúnhere, senhor do Vale Harg. Merry ficou de pé ao lado do banco do rei e o serviu, até que o velho, saindo de pensamentos profundos, virou-se para ele e sorriu.

-Venha, Mestre Meriadoc! - disse ele. - Você não ficará de pé. Vai sentar-se ao meu lado, enquanto eu permanecer em minhas próprias terras, e alegrará meu coração com histórias.

Abriu-se espaço para o hobbit á esquerda do rei, mas ninguém pediu qualquer história. Na realidade houve pouca conversa, e eles comeram e beberam em silêncio a maior parte do tempo, até que, finalmente, criando coragem, Merry fez a pergunta que o atormentava.

- Já duas vezes, senhor, ouvi sobre as Sendas dos Mortos – disse ele.

- O que são elas? Para onde foi Passolargo, quero dizer, o Senhor Aragorn, aonde ele foi?

O rei suspirou, mas ninguém respondeu; finalmente Éomer falou.

- Nós não sabemos, e nossos corações estão pesados - disse ele. - Mas, quanto às Sendas dos Mortos, você mesmo caminhou nos primeiros passos dela. Não, não estou pronunciando palavras de mau agouro! A estrada que subimos é o acesso à Porta que fica mais além, no Dimholt. Mas o que fica atrás dela, homem nenhum sabe.

- Homem nenhum sabe - disse Théoden. - Apesar disso, antigas lendas, agora raramente contadas, têm algo a reportar. Se essas histórias antigas, que passaram de pai para filho na Casa de Eorl, falam a verdade, então a Porta sob a Dwimorberg conduz a um

caminho secreto que passa por baixo da montanha e se dirige para algum fim esquecido. Mas ninguém jamais se aventurou a entrar para vasculhar seus segredos desde que Baldor, filho de Brego, passou pela Porta e nunca mais foi visto entre os homens. Ele fez um juramento temerário, ao esvaziar o chifre naquele banquete que Brego fez para consagrar o recém-construído palácio de Meduseld, e ele jamais chegou ao trono do qual era herdeiro. As pessoas dizem que os Homens Mortos, dos Anos Escuros, guardam o caminho e não permitem que nenhum homem vivo penetre seus salões ocultos; mas algumas vezes eles próprios podem ser vistos saindo da Porta como sombras e descendo a pedregosa estrada. Então o povo do Vale tranca as portas e cobre as janelas, sentindo medo. Mas os Mortos raramente saem, e só em horas de grande inquietação ou quando a morte se aproxima.

- Apesar disso comenta-se no Vale Harg - disse Éowyn numa voz baixa - que em noites sem luar, há pouco tempo, um grande exército numa formação estranha passou. De onde vinha ninguém pôde saber, mas subiu a estrada de pedra e desapareceu dentro da colina, como se estivesse rumando para um encontro marcado.

- Então por que Aragorn foi por esse caminho? – perguntou Merry. - Vocês não conhecem nenhum motivo que pudesse explicar isso?

A não ser que, como seu amigo, ele tenha lhe dito palavras que não ouvimos -disse Éomer -, ninguém agora na terra dos vivos pode dizer quais são os seus propósitos.

No documento J.R. R. TOLKIEN O SENHOR DOS ANÉIS (páginas 40-51)