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Concepção da Ajuda

No documento TESE DE MESTRADO EM ESTUDOS AFRICANOS (páginas 38-41)

O Governo Português assume o importante papel que os municípios podem desempenhar, mas entende que se devem apenas seguir os objectivos e as opções

CAPITULO SEGUNDO

2.1 Concepção da Ajuda

A cada vez maior integração entre países e mercados evidenciou o problema do subdesenvolvimento e da pobreza, que diz respeito a toda a comunidade internacional. A ajuda deve funcionar como um instrumento para a gestão do problema do subdesenvolvimento. Não faz sentido conceber a pobreza como um problema exclusivo de quem directamente dela padece. A pobreza deve ser encarada como um problema que afecta as condições de govemabilidade de todo o sistema internacional. A comunidade internacional deve desenvolver mecanismos normativos e institucionais para fazer face à gestão dos bens (e para a prevenção dos males) públicos globais, entre os quais se destaca a pobreza e as suas consequências. A ajuda ao desenvolvimento pode constituir-se num instrumento útil para esse objectivo.

Tendo por base, nesta fase do trabalho, as ideias do autor espanhol, José António Alonso, na obra "Cooperation y Desarrollo"{AIOHSO, José António, 2003, p. 158 e seguintes) pretendo definir alguns aspectos que se podem considerar determinantes para a evolução das políticas de cooperação e a concepção da ajuda.

Se considerarmos que uma parte significativa dos problemas relacionados com a pobreza adquiriram o estatuto de problemas globais, devemos igualmente considerar que a gestão da ajuda deveria também ter essa natureza crescentemente global. Desta forma, faria sentido encararmos a ajuda numa vertente mais multilateral. Nesta perspectiva, talvez fosse vantajoso avançarmos para um sistema que é hoje predominantemente bilateral, para outro em que predominariam as acções de caracter multilateral, mas que obrigaria a uma reforma do sistema multilateral em vigor para fortalecer a sua legitimidade, representatividade e eficácia.

Um outro aspecto sobre o qual devemos dedicar atenção diz respeito à questão dos financiamentos e à forma em como este é canalizado. O facto da ajuda ser predominantemente bilateral, condiciona o tipo de compromisso financeiro que os doadores adquirem com a ajuda. Não é fácil estabelecer uma perspectiva de

corresponsabilidade internacional, fruto dos problemas gerados pela pobreza, se o esforço financeiro não se aplica de forma consensual e vinculativa para todos os intervenientes. Nesta medida, se queremos evoluir com garantia e eficácia para acções de cooperação internacional, devemos optar por acordos vinculativos em torno do volume do esforço que cada país deve realizar (e que pode e deve envolver os municípios que dele fazem parte), de acordo com a evolução ao nível da participação financeira de cada país.

A globalização em curso, que actualmente marca o panorama internacional e que podemos caracterizar por uma corrida desenfreada em busca da riqueza e de predomínio económico na cena internacional, tem ocultado, sobretudo no seio do mundo ocidental, a situação preocupante de subdesenvolvimento que define muitos países do nosso planeta. Urge criar um novo conceito que conceba o direito ao desenvolvimento como uma das dimensões obrigatórias dos direitos humanos, na qual a ajuda a conceder aos países desfavorecidos adquira um papel de obrigatoriedade na comunidade internacional, em vez de ser considerada como um acto gratuito dos doadores.

Novos objectivos, instrumentos e métodos de trabalho, que vão ao encontro de uma nova e mais completa perspectiva do processo de desenvolvimento, podem igualmente contribuir para que a ajuda tenha uma maior eficácia. Conceber a ajuda como uma mera concessão de crédito aos países em desenvolvimento já não faz sentido; A canalização de recursos financeiros continua a ser um meio necessário para apoiar os países subdesenvolvidos, mas existem igualmente outras tarefas, relacionadas com o desenvolvimento das capacidades técnicas, com a melhoria dos níveis de qualificação das pessoas, a promoção da igualdade social, a defesa do equilíbrio ambiental, o fortalecimento do sistema institucional ou o apoio ás práticas de um bom governo que podem ditar a diferença no sucesso ou insucesso no combate ao subdesenvolvimento e marcar a eficácia da ajuda. Com estas medidas a política de promoção do desenvolvimento toma-se mais completa e a ajuda internacional mais abrangente, em áreas e aspectos que até aqui não eram considerados.

Uma outra situação diz respeito à participação de novos actores considerados fundamentais para o fomento e evolução das políticas de cooperação e concessão da ajuda. Existe hoje uma nova visão acerca do papel dos agentes sociais no processo de

desenvolvimento. Uma visão mais integrada em que o protagonismo é partilhado entre Estado, sector privado e sociedade civil. Já não se concebe a ajuda como uma política que exclusivamente diz respeito aos estados, mas sim como uma responsabilidade que também está associada ao conjunto dos actores sociais.

Importante é também potenciar o desenvolvimento das capacidades locais. Quando se inicia um processo de ajuda deve sempre estabelecer-se uma data de caducidade de todo o processo. O objectivo é estimular os países a alcançarem também com o esforço deles, as condições necessárias para colocar em andamento mecanismos de desenvolvimento humano sustentáveis e que transformem a ajuda hoje necessária em algo que no futuro desnecessário. Aumentar os níveis de autonomia através da promoção das capacidades domésticas do país receptor é por isso um objectivo que deve permanentemente estar presente quando se concede ajuda.

Um outro aspecto importante e que se deve ter sempre em conta, é que os resultados que se pretendem obter com a concessão da ajuda, na maior parte dos casos não são imediatos. O desenvolvimento é um processo largo e complexo, que requer um tempo de realização dilatado. Na maior parte das situações procuram-se resultados imediatos em vez de se estabelecerem as bases para se conseguir a solidez e a sustentabilidade dos processos de mudança previamente definidos.

Também a questão da complementaridade com o mercado deve ser levada em conta. Um dos objectivos da ajuda é melhorar os níveis de igualdade do sistema internacional, permitindo oportunidades de progresso aos sectores menos desenvolvidos e mais vulneráveis. Desta forma, a ajuda deveria orientar-se para contribuir para o melhoramento das capacidades com as quais os países subdesenvolvidos se integrariam nos mercados de forma a aumentar as suas probabilidades de sucesso. Ou seja, a ajuda deve materializar-se como sendo um instrumento complementar e não um substituto do mercado. É neste sentido, que devemos considerar a ajuda como um instrumento eficaz em combater os processos de exclusão resultantes do sistema económico actual.

2.2 A Cooperação não oficial para o desenvolvimento: Novas

No documento TESE DE MESTRADO EM ESTUDOS AFRICANOS (páginas 38-41)