• Nenhum resultado encontrado

Panorama actual e experiência adquirida

No documento TESE DE MESTRADO EM ESTUDOS AFRICANOS (páginas 41-44)

O Governo Português assume o importante papel que os municípios podem desempenhar, mas entende que se devem apenas seguir os objectivos e as opções

CAPITULO SEGUNDO

2.2 A Cooperação não oficial para o desenvolvimento: Novas estratégias e visões.

2.2.1. Panorama actual e experiência adquirida

O primeiro aspecto sobre o qual nos devemos debruçar é se as causas e os motivos pelos quais surge este sector da cooperação ainda se mantém actuais neste inicio de novo século e que podemos esquematizar da seguinte forma :

1) Fundamento ideológico: colaborar nas estratégias de desenvolvimento delineadas para combater a pobreza em todas as suas formas, perseguindo a redistribuição da riqueza e uma maior justiça social a nível internacional.

2) Fundamento estratégico: a ajuda oficial está, em muitas ocasiões, fortemente mediatizada, e não chega a todos os níveis e sectores das populações empobrecidas; por isso, temos que tentar que as políticas de cooperação sejam o mais coerentes e eficazes possíveis, e ocupar aqueles espaços onde não chega, ou então onde é feita de forma pouco adequada pela ajuda governamental.

É evidente, infelizmente, que os fundamentos ideológicos continuam vigentes. Apesar dos avanços em matéria de desenvolvimento humano, em números absolutos, a

população empobrecida aumentou, a concentração de riqueza em poucas mãos também cresceu e os conflitos bélicos e catástrofes naturais tem proliferado.

Como referência aos fundamentos estratégicos, a experiência acumulada confirmou-nos que existem muitos sectores e espaços onde não só não chega a ajuda oficial, como também é melhor a colaboração directa entre organizações e grupos de solidariedade. Em geral, a utilização da cooperação como apoio a interesses políticos e económicos dos países doadores está a crescer, e continuamente à referencias ao fomento da empresa, ao retorno das doações, ou à utilização política da ajuda, deixando de lado os princípios que deveriam conduzir esta política.

Portanto, e apesar de termos apresentado esta questão de forma bastante sucinta, cremos que podemos afirmar que os fundamentos pelo qual adquiriu força o sector das ONG na Europa, continuam vigentes e com cada vez mais intensidade. Em contrapartida, o contexto geral transformou-se imenso e continua em mutação acelerada. A nível geral cabem destacar algumas mudanças significativas e que mexeram em muito com o sistema internacional com evidentes repercussões no continente africano. Em primeiro lugar, o derrube das economias socialistas e as suas consequências devido à importante repercussão que tinham na política de blocos e na ajuda oficial ao desenvolvimento. Em segundo lugar, o facto de se ter começado a dar uma maior importância aos fundos privados nos fluxos económicos, que podem atingir cerca de 50%, nos países não industrializados, mas com muito pouca incidência no grupo de países menos evoluídos. Ao mesmo tempo , coloca-se em dúvida a mesma ajuda ao desenvolvimento e propõem-se que sejam os mercados a gerar o desenvolvimento. Um terceiro aspecto está relacionado com a diminuição generalizada da ajuda pública ao desenvolvimento e uma crescente importância da ajuda de emergência. Em quarto, a instabilidade causada pela avaliação da orientação e resultados da ajuda pública ao desenvolvimento dos últimos trinta anos, que concluiu em boa parte o insucesso que, apesar dos esforços desenvolvidos, caracterizou a ajuda internacional durante aquele período, e consequentemente a formulação de novos objectivos e propostas por parte do CAD (Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da OCDE) e outros organismos internacionais tendo em vista o estabelecimento de novos mecanismos que garantam resultados positivos. Um quinto aspecto está relacionado com as alterações na estrutura

produtiva a nível mundial, com uma maior importância das novas tecnologias em detrimento das matérias-primas e das manufacturas. Por fim, o aparecimento de forma espontânea do movimento de resistência à globalização, com uma clara incidência na opinião pública. Este movimento, eminentemente pacífico, está a ser "criminalizado" por certos meios de comunicação e parte da classe política, devido às atitudes violentas de uma pequena minoria.

A nível internacional, o sector da cooperação não governamental para o desenvolvimento também sofreu bastantes transformações das quais podemos destacar: o aumento do número de organizações dedicadas à cooperação e ao desenvolvimento e o aumento dos fundos utilizados por estas organizações (hoje são algumas centenas espalhadas por toda a Europa); passou de um movimento pouco conhecido e marginal a ocupar um peso cada vez maior e a contar com um apoio cada vez mais evidente da sociedade civil e um reconhecimento por parte da administração estatal e local; o aumento da importância da cooperação municipal nomeadamente nas acções humanitárias e de emergência; o acumular de experiência que levou a um natural amadurecimento deste sector, que ao longo dos tempos foi desenvolvendo alguns aspectos essenciais de trabalho que pretendiam desenvolver como por exemplo a realização de projectos de desenvolvimento nos PVD, a educação e a sensibilização na Europa e a incidência política sobre governos e instituições. No entanto, o aumento de experiência destas organizações significou passar por diferentes fases ao longo dos últimos anos. Diferentes conceitos que paulatinamente foram sendo adoptados. Destaque para os aspectos relacionados com os fluxos financeiros, já que se considerava numa primeira fase que o crescimento económico seria a solução para os problemas do desenvolvimento. Centravam-se esforços no sentido de obter junto dos países ocidentais uma canalização anual de 0.7% do PIB para projectos a desenvolver nos países subdesenvolvidos. Um outro conceito que adquire vigor nesta altura relaciona-se com a questão da assistência técnica e formação. A simples disponibilização de fundos não é suficiente. Formar e capacitar passa a ser também um objectivo prioritário. Aumenta-se a qualidade das intervenções e toma-se mais técnica a cooperação, sacrificando-se em alguns casos, a componente social. Também o novo panorama das relações internacionais é visto como um factor de mudança. Existe a

necessidade de repensar as relações internacionais para que mude alguma coisa. Por isso, é necessário intervir junto do Banco Mundial e do FMI, de forma a combater eficazmente o tráfico de armas, a exploração infantil e os direitos dos trabalhadores no âmbito internacional. Países que não respeitem determinado tipo de princípios não devem ter acesso a crédito. E por fim, um outro conceito que apesar de mais controverso também adquiriu o estatuto de facto incontornável e a ter em conta, consiste na transformação das sociedades dos países industrializados. Ou seja, o modo de vida das sociedades industrializadas é insustentável e irreproduzivel à escala planetária. É necessário que estes países sofram também transformações.

A experiência acumulada ao longo dos últimos anos, e todas as transformações que caracterizaram o final do último século, impulsionaram o próprio sector da cooperação não governamental a avançar com novas formas de intervenção e delinear outras linhas de trabalho mais de acordo com o novo sistema internacional.

No documento TESE DE MESTRADO EM ESTUDOS AFRICANOS (páginas 41-44)