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Concepção sobre a transitoriedade da ciência: inicial x final

6.1. Transitoriedade da ciência

6.1.3. Concepção sobre a transitoriedade da ciência: inicial x final

Na Tabela 04 a seguir apresenta-se uma tentativa de comparação entre os resultados encontrados sobre a posição expressa pelos alunos em relação à transitoriedade da ciência nos QI e QF, ou seja, antes e após a aplicação da proposta de ensino.

Tabela 04: Transitoriedade da ciência

Transitoriedade da ciência As explicações científicas podem mudar?

Respostas Justificativas Antes (%) Depois (%)

Sim Incertezas das teorias anteriores Novos estudos e descobertas 38 22 44 3

Avanços tecnológicos 3 44

Total: Sim - 63 91

Sim, não justificou - 19 6

Não

Não há mudança,

mas o surgimento de novas teorias 3 0

Os cientistas tem certeza do que dizem 6 0

A resposta é única 3 3

Não sabe - 6 0

Total: Não, não sabe

ou sem justificativa - 37 9

Dentre os 32 alunos que responderam ao questionário inicial, 63% afirmaram que as explicações científicas podem mudar e as justificaram. Outros 19%, muito

103 embora também tenham apresentado uma resposta afirmativa, não explicitaram as razões de sua resposta ou trouxeram argumentos muito vagos, de modo que não foi possível compreendê-los. Ao total, 12% dos alunos negaram tal possibilidade, sendo que 3% desses últimos aceitam certa coexistência de teorias, afirmando que as explicações científicas existentes não mudam, mas podem surgir novas teorias sobre o mesmo tema, enquanto 6% dos alunos registraram que não sabiam responder a questão proposta.

Após a vivência das atividades da proposta de ensino, dentre os 32 alunos que responderam ao questionário final, 91% afirmaram que as explicações científicas podem mudar, justificando suas respostas; 6% responderam de forma afirmativa, mas não explicitaram suas razões, enquanto 3% negaram tal possibilidade, justificando.

Portanto, os dados apresentados na Tabela 04 indicam que após vivenciarem a intervenção, um número maior de alunos afirma que as explicações científicas podem mudar e apresentam justificativas. A porcentagem mudou de 63% para 91%, o que parece mostrar que as atividades podem ter permitido a um número maior de alunos a percepção do caráter transitório do conhecimento científico.

Ao se analisar a natureza das justificativas apresentadas, verifica-se que a porcentagem de alunos que relaciona a transitoriedade da ciência a novos estudos e descobertas não oscila muito, passando de 38% para 44%. O que chamou a atenção foi a variação dos valores relacionados às categorias t3- incertezas inerentes as teorias anteriores e t2- avanços tecnológicos. Houve uma queda expressiva no número de justificativas associadas à possibilidade de mudança das explicações científicas devido à existência de incertezas inerentes às teorias anteriores, 22% para 3%, e considerável aumento do número de alunos que atribuem tal fato aos avanços tecnológicos, de 3% para 44%.

Para compreender o porquê destes resultados, realizou-se uma análise comparando individualmente a natureza das justificativas apresentadas pelos 26 alunos que responderam aos dois questionários (inicial e final). As transcrições das respostas dos alunos encontram-se no Anexo XXII.

Dentre os 10 alunos que disseram inicialmente que as explicações científicas podem mudar devido a novos estudos e descobertas, 7 mantiveram a natureza de

104 suas justificativas no questionário final e 3 associaram esta possibilidade aos avanços tecnológicos.

Nenhum dos 7 alunos que, inicialmente, consideraram a possibilidade de mudança das teorias científicas devido a existência de erros inerentes à teoria anterior trouxeram justificativas de mesma natureza no questionário final. Neste, 3 alunos apresentaram razões para a transitoriedade da ciência relacionadas a novos estudos e descobertas e 4 alunos relacionaram aos avanços tecnológicos. Da mesma forma, os 4 alunos que no questionário inicial afirmaram que as explicações científicas podem mudar, mas não apresentaram justificativas, no questionário final, se dividiram entre justificativas relacionadas a novos estudos e descobertas ou devido a avanços tecnológicos.

Dentre os 26 alunos que responderam aos dois questionários, 4 alunos afirmaram, inicialmente, que as explicações científicas não podem mudar. Ao final, as duas alunas que a princípio justificaram esta posição por acreditar que os cientistas têm certeza do que dizem, mudaram de opinião. Uma delas (Aluna 11) afirmou que as explicações podem mudar, porém não apresentou maiores justificativas e a outra (Aluna 16) justificou tal possibilidade devido a novos estudos e descobertas. O estudante (Aluno 21) que foi classificado inicialmente como aquele que considerava que as explicações científicas não mudam, mas surgem novas, manteve esta posição, mas agora afirmando que este processo é uma mudança, que ocorre devido à tecnologia e cálculos existentes hoje. E o estudante (Aluno 24) que afirmou que as explicações científicas não mudam por serem únicas, manteve seu posicionamento.

Para facilitar a visualização dos dados, apresenta-se a seguir a Tabela 05, que compara individualmente a natureza das justificativas dos 26 alunos que responderam ao questionário inicial e final.

105 Tabela 05: Justificativas para a transitoriedade da ciência

Justificativas para a transitoriedade da ciência As explicações científicas podem mudar?

Resposta Aluno Antes Depois

Sim

2, 10, 12, 19, 31, 33, 34 Novos estudos e descobertas

Novos estudos e descobertas

1, 17, 36 Avanços tecnológicos

5, 30, 35 Incertezas das

teorias anteriores

Novos estudos e descobertas

6, 7, 23, 27 Avanços tecnológicos

15 Avanços tecnológicos Avanços tecnológicos

14, 32

Não justificou Novos estudos e descobertas

8, 20 Avanços tecnológicos

Não

11 Está certa e não é

possível mudá-la

Sim. Não justificou

16 Sim. Novos estudos e descobertas

21

Não há mudança, mas o surgimento de novas

teorias. Sim. Avanços tecnológicos

24 A resposta é única A resposta é única

Ao analisar estes resultados, vemos que a queda do número de justificativas, apresentadas no questionário inicial (Tabela 04) associadas à existência de incertezas nas teorias anteriores (22% para 3%), ocorreu porque estes alunos apresentaram, no Questionário Final, justificativas relacionadas a novos estudos e descobertas ou avanços tecnológicos. Esta transição também explica, em parte, o aumento (de 3% para 44%) do número de justificativas relacionadas aos avanços tecnológicos encontrados para o Questionário Final em relação ao resultado do Questionário Inicial. O aumento do número de respostas na categoria avanço tecnológico no Questionário Final também é decorrente da migração de alunos que antes não concordavam com a transitoriedade da ciência passarem a concordar e relacionar tal dinamismo ao desenvolvimento tecnológico. Além disso, alguns alunos que não haviam apresentado justificativas no Questionário Inicial também passaram a apresentar esta justificativa no Questionário Final.

Uma vez constatado que a principal diferença entre os resultados obtidos para o Questionário Inicial em relação ao Questionário Final está na queda do índice de respostas na categoria I- incertezas inerentes às teorias anteriores (22% para 3%) e no aumento do índice de respostas da categoria T- avanços tecnológicos (de 3% para 44%), tentou-se compreender as razões desta migração.

Nossa hipótese para a queda do índice de respostas classificadas na categoria (I) do QI em relação ao QF está relacionada à forma como as transições

106 das teorias científicas foram abordadas durante a intervenção. Procurou-se ressaltar a importância de cada cientista e do conhecimento produzido em cada época para a construção do conhecimento atual. Este tipo de abordagem pode ter levado os alunos a verem as mudanças do conhecimento científico mais como consequência do próprio processo de construção desse saber do que à existência de erros nas teorias anteriores.

Em relação ao aumento do número de respostas justificando a transitoriedade da ciência como decorrência do avanço tecnológico, supõe-se ser devido ao papel de destaque que a tecnologia tem para o tema em discussão. A existência de melhores instrumentos de observação foi crucial tanto para as descobertas de mais planetas no céu, além daqueles vistos a olho nu, como para melhores medições das dimensões de Plutão. A percepção por parte dos alunos da importância do desenvolvimento tecnológico nestas questões pode ser a explicação para o maior número de respostas justificando a transitoriedade da ciência como decorrência do avanço tecnológico no Questionário Final.