• Nenhum resultado encontrado

Concepções de educação implícitas na avaliação

II. AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA: CONSIDERAÇÕES E

2.6. Concepções de educação implícitas na avaliação

A sexta questão busca verificar se os educadores estudaram as matrizes de referência da avaliação, bem como as habilidades e competências exigidas nas provas do SAEB. Isso para que possam nos dizer que concepções educacionais acreditam estar implícitas ou explicitas no sistema de avaliação. Ainda, se estão preocupados em realizar estudos sobre as questões aplicadas nas provas, sobre as concepções exigidas e pretendidas pelas mesmas. E, se através de estudos chegaram a realizar grandes mudanças pedagógicas nos ambientes escolares.

A última questão apresentada aos entrevistados foi:

- Que concepção de educação você acredita que se reflete ou transparece na forma como a avaliação é proposta e organizada?

Obtive as seguintes respostas dos educadores:

Professor A: Uma educação fragmentada e uniformizada já que a prova é a

região, pois sabemos que tem influência na educação a classe social e a realidade em que o aluno está inserido, ou seja, a escola avaliada está inserida.

Professor B: Acaba transparecendo unicamente a forma tradicional tecnicista. Professor C: Uma educação puramente formal com dados criados a partir de

avaliações alheias à realidade escolar. Acredito que uma avaliação regionalizada traria dados mais concretos do que se tem hoje.

Professor D: Não respondeu.

Professor E: De incompetência, pois a avaliação é proposta para elevar o índice

de educação, mas como não há uma preparação correta dos aplicadores e coordenadores, a avaliação e a organização caem a níveis baixíssimos.

Professor F: Uma concepção de educação tradicional, que não condiz com a

realidade em que o aluno está inserido. Em nossa escola estamos trabalhando em uma proposta de estudo geempiana4 (pós-construtivista), que difere da avaliação tradicional.

Professor G: Creio que a intenção é de qualificar o ensino, concursos de

formação para os professores, porém a forma de condução que a avaliação é proposta transparece uma uniformidade no ensino, a falta de discussão em torno da proposta e clareza dos objetivos em questão, dificulta que o objetivo final de qualificação do ensino seja alcançado.

Professor H: Uma educação de qualidade capaz de formar cidadãos com

capacidade de saber aprender, saber pensar para melhor integrar-se na sociedade.

Professor I: Reflete a educação nos moldes para que o aluno passe a usar o

raciocínio lógico, para que possa participar da sociedade tecnológica em que estamos.

Professor J: Acredito e tenho esperança que essa concepção de como a

avaliação está sendo proposta seja para melhorar as condições de educação com a valorização e formação dos professores, melhoria nas escolas com equipamentos de qualidade, valorização das famílias com moradia, emprego, saúde. Pois se o ser humano tiver onde morar com dignidade, trabalho com salário digno, saúde, alimentação e respeito, a educação acontece naturalmente. Mas muitas vezes nossos dirigentes não nos dão o bom exemplo de dignidade, aí não adianta querer avaliar o aluno e o professor. Nossa maior aprendizagem é pelo exemplo.

4

Referente ao GEEMPA – Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação, com sede em Porto Alegre, RS.

Professor L: Quantitativa vale mais que a qualitativa, o resultado final é mais

valorizado que o processo.

Professor M: Acredita-se que é uma concepção de educação formal. Professor N: Não respondeu

Professor O: Concepção baseada no ponto de vista econômico.

Sobre a concepção de educação que se reflete na forma como a avaliação está organizada boa parte dos educadores respondeu que é a tradicional tecnicista, formal e alheia à realidade do aluno, fragmentada e uniformizada, e, ainda, que é quantitativa e que valoriza somente o resultado final. De outra parte, porém, temos a resposta do educador H: ―Uma educação de qualidade capaz de formar cidadãos com capacidade de saber aprender, saber pensar para melhor integrar-se na sociedade‖. A resposta reflete a visão republicana de educação que está presente na maioria das respostas dos educadores, o que vem reforçar a leitura de que o posicionamento não é contrário ao fato de o Estado avaliar a educação, e sim ao modo como esta avaliação está sendo organizada, desenvolvida e aplicada.

Além de buscar a qualidade, a equidade e a universalização do acesso à escola, o sistema de avaliação, segundo o SAEB, busca auxiliar o professor no ensino- aprendizagem e no planejamento de novas estratégias para que seus alunos tornem-se eficientes o suficiente para atingir os índices de desempenho esperados, vinculando, assim, a eficiência ou a ineficiência do desenvolvimento pedagógico do professor em sala de aula.

Já na ótica dos educadores que rejeitam o sistema de avaliação há o entendimento de que o objetivo é avaliar o que os alunos sabem e são capazes de saber em cada etapa do desenvolvimento escolar através de questões elaboradas por uma equipe técnica que não leva em conta o desenvolvimento pedagógico de cada um, as etapas diferenciadas em que os indivíduos se encontram, e nem o trabalho realizado pelo professor.

Segundo o SAEB, no entanto, a elaboração das matrizes referenciais passou por ampla consulta nacional sobre os conteúdos praticados nas escolas de ensino fundamental, vinculando-os às competências a serem construídas no processo de ensino-aprendizagem.

Nesse novo modelo, buscou-se a associação dos conteúdos às competências cognitivas utilizadas no processo da construção do conhecimento. Competência, segundo Phillipe Perrenoud (1993), é a ―capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiando-se em conhecimentos, mas sem se limitar a eles‖. Para enfrentar uma situação, geralmente, colocam-se em ação vários recursos cognitivos complementares, entre os quais os conhecimentos. ―Quase toda ação mobiliza alguns conhecimentos, algumas vezes elementares e esparsos, outras vezes complexos e organizados em rede‖ (SAEB, 2011, p.11).

As provas são basicamente de operações mentais que resultam em habilidades e competências básicas e necessárias para a próxima etapa da escolarização ou para sua inserção no mundo social e do trabalho. A opção teórica utilizada é a cognitivista, que no Brasil tem grande influência de Piaget e Vygotsky.

A opção teórica, de natureza cognitivista, adotada nas Matrizes de Referência do

SAEB para a construção dos descritores prioriza, portanto, a avaliação de conteúdos na perspectiva das competências e habilidades neles implícitas. Na perspectiva cognitivista, o conhecimento não é ―cópia do real‖, isto é, o objeto não é compreendido em seu significado e sentido apenas porque é exposto ao sujeito. Nesta concepção está implícito o ato de raciocinar, coordenar as informações em consonância com as questões propostas e eventualmente produzir novas informações significativas e fazer inferências quando necessário (SAEB, 2001, p.12).

Cada educador, porém, é único na sua maneira de ensinar, precisando seguir o que acredita e entende como fundamental. A sua leitura de mundo influencia diretamente sua ação em sala de aula. Então, a base comum não direciona o trabalho do professor em termos desta ou daquela vertente pedagógica, mas tão-somente em termos de competências e habilidades mínimas a serem desenvolvidas nas escolas.

Podemos dizer que as concepções pedagógicas presentes nas avaliações são oriundas dos Parâmetros Curriculares Nacionais e das propostas curriculares de alguns estados e município. Com base na análise dos PCNs e dessas propostas o MEC identificou os pontos em comum que se referem ao currículo, visando à melhoria da qualidade da educação pública. Já as provas das avaliações do ensino básico são organizadas a partir de competências e habilidades básicas que os alunos deverão desenvolver ao longo das séries de escolarização, o que justifica as provas serem aplicadas ao final de cada etapa do ensino fundamental.

O que sabemos é que ao atingir os índices estabelecidos em termos de desempenho educacional, que é a média seis no IDEB, e que se refere aos países desenvolvidos, teríamos uma melhora significativa nos processos de ensino- aprendizagem. Assim, realizar-se-ia a meta de uma educação básica que capacite o aluno para um processo de educação permanente, possibilitando-lhe a condição de

sujeito de sua formação, com que teríamos, também, uma escola que se põe numa perspectiva de construção coletiva permanente, baseada no ―aprender e ensinar, construir e interagir‖ (PCNs, 1997, p.50).

Após a análise de todas as respostas dos educadores concluo que a maioria não possui conhecimentos profundos sobre o sistema de avaliação e também que não se considera parte desse sistema e nem mesmo como representante do Estado em suas unidades escolares. No próximo capítulo trato dos desafios para a gestão escolar produzidos pelo sistema de avaliação dentro da perspectiva republicana de educação.

III. DESAFIOS DA GESTÃO ESCOLAR DIANTE DA QUESTÃO DA

Documentos relacionados