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Interesses e objetivos ocultos no sistema de avaliação

II. AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA: CONSIDERAÇÕES E

2.5. Interesses e objetivos ocultos no sistema de avaliação

ocultos no sistema de avaliação além dos instituídos pela Lei. E, se os veem, quais os são em sua opinião. Queria saber também se estão fazendo uma leitura superficial ou profunda das mudanças no sistema educacional brasileiro e se estão buscando por maiores informações específicas nesse sentido. Queria saber, ainda, se relacionam o currículo de suas escolas com a avaliação e se pensam em mudanças na base curricular para adequar-se aos PCNs, mantendo a parte diversificada. Saliento que usamos a expressão ―interesses e objetivos ocultos‖ para instigar os educadores a pensar e refletir sobre um sistema de educação que faz parte de um Estado democrático de direitos, onde não se admite esse tipo de objetivos e interesses ocultos, onde a liberdade de participação e opinião é respeitada e os interesses do Estado estão claramente escritos nas leis que regem a república.

Apresentei aos educadores a questão abaixo:

- Que interesses ou objetivo você acredita que estejam por detrás do sistema de avaliação?

Os educadores responderam o seguinte

Professor A: Sinceramente não sei.

Professor B: Melhorar a qualidade da educação.

Professor C: Na verdade não estão bem claros os objetivos, pois na prática

existem inúmeros interesses políticos que via de regra ocultam a verdadeira face da educação pública.

Professor D: Não respondeu

Professor E: Interesses políticos, com objetivos de colocar o Brasil num

patamar mais alto de educação, perante alguns países.

Professor F: São vários os interesses, bem como objetivos políticos, proposta de

governo, desenvolvimento social do país, bem como a forma de erradicar o analfabetismo, de melhorar a educação com formação dos professores.

Professor G: Como se apresenta sem discussões, dentro da escola, sem a devida

reflexão sobre a prática educativa, elaborado para servir a um referencial alheio aos anseios da comunidade escolar, transparece que os índices de ensino precisam ser alterados rapidamente. E sabemos que para uma aprendizagem de qualidade e melhoria de ensino verdadeiramente é necessário reflexão, análise e estudo por parte da equipe diretiva e professores da escola aprimorando e fundamentando a proposta pedagógica onde a comunidade escolar como um todo esteja inserida e engajada.

Professor H: O objetivo é fazer com que cada um reavalie seu desempenho na

escola.

Professor I: Oficialmente o que é divulgado por todos é que o que se deseja

com as avaliações é a melhoria na qualidade da educação. Mas todos sabem que são as organizações internacionais que exigem que elas sejam feitas inclusive vinculando seus resultados com a liberação de verbas e financiamentos para os pais.

Professor J: Olha! Eu não havia pensado em que objetivos estejam por trás do

sistema de avaliação, com o meu pouco entender é para mostrar que o estado está preocupado com a educação de nossas crianças e testar os professores o que estão fazendo com os educandos, mas não estão oportunizando melhorias para que os professores possam trabalhar satisfeitos com a sua profissão que cada vez está mais difícil, pois o dia-a-dia dos alunos fora da escola está mais atrativo, com mais opções, e na escola o professor trabalha somente com a cara e a coragem! E o aluno como fica se a escola não tem atrativos?

Professor L: O principal interesse é querer mostrar que estão todos preocupados

com a educação brasileira, sendo que é do conhecimento de todos que para a educação brasileira poder ser comparada com a de outros países precisa haver mudanças de todos os lados, não só dentro da escola.

Professor M: Acredito que o objetivo que está por trás do sistema de avaliação

é o classificatório das escolas.

Professor N: Eu acho que são interesses financeiros, para se comparar aos

países mais evoluídos.

Professor O: Interesses políticos e econômicos, já que estamos atrelados aos

países desenvolvidos e os resultados da educação no país são índices para retorno de investimentos.

Quando questionados sobre os interesses que estariam por detrás do sistema de avaliação os educadores afirmam que são predominantes os interesses políticos e econômicos, como o que visa à política internacional de índices de desempenho educacional dos países desenvolvidos e que leva o Estado à busca da melhoria da educação através da classificação das escolas em boas e más. Em nenhum momento os

educadores dizem que esses interesses que observam estão ocultos, e sim que se encontram explicitados pelos governantes, que são interesses do governo de plantão, o que difere muito das questões que se referem ao direito do Estado republicano em avaliar a educação básica.

Cabe aqui uma reflexão sobre o currículo e as provas aplicadas pelo governo como dimensões articuladas dentro do sistema de avaliação. Como já vimos, os currículos da educação básica foram organizados a partir dos PCNs, que são as diretrizes para todas as escolas do país. Cada uma delas organiza e articula o seu currículo a partir dessas diretrizes, mas com a liberdade de introduzir a parte diversificada que venha a atender as particularidades do seu ambiente escolar. Temos, assim, a garantia de uma estrutura básica, o que é fundamental para que cada escola se integre a um sistema nacional de formação, e o que vem a ser o objeto de verificação das provas aplicadas pelo governo. As avaliações, por isso, constituem uma oportunidade para que em cada escola se reflita sobre o currículo implementado, verificando eventuais necessidades de adequação em função das diretrizes nacionais.

O currículo escolar, assim, está vinculado às diretrizes nacionais e às definições que ocorrem em cada componente curricular em função do contexto em que a escola está inserida. Quando educadores reúnem-se para discutir e decidir o currículo de sua escola entram em cena muitas questões de ordem pessoal, como vivências, crenças e concepções de mundo. E, assim, os currículos terminam por serem muito diferentes de um lugar para outro e de uma escola para outra. Essa observação reforça a necessidade da base comum que evita que alguns tenham formação muito distinta de outros, ou que não se ministre o básico em termos de conteúdos de ensino.

De outra parte, é importante observar que os currículos escolares muitas vezes operam no sentido da exclusão de educandos, principalmente dos que possuem limitações físicas, mentais ou psicológicas, o que lhes impossibilita acompanhar o currículo estabelecido. Este, portanto, necessita ser pensado para atender os diferentes, os desiguais, que são todos os alunos e alunas que, dentro das determinações da nossa sociedade contemporânea, não estão entre os ditos normais, ou que não se enquadram no critério de maioria. A desigualdade também pode estar vinculada ao grau de acesso à mídia mundial, à Internet, ao mundo cibernético, aos jogos de videogame, aos jornais, às revistas, à televisão, enfim aos considerados ―sem cultura‖ (PADILHA, 2004). Tudo isso indica a importância da adequação do currículo para as peculiaridades de cada

grupo de alunos, de cada escola, de modo que se evite que esta opere como mecanismo de exclusão ou de reforço das desigualdades.

O conceito atual revela a necessidade, cada vez maior, de a escola perceber as mudanças pelas quais ela própria e a sociedade estão passando e, por isso, estar atenta também às diferentes formas de pensar e de compreender-se. Nesse aspecto, a compreensão do significado da cultura e, mais ainda, das manifestações culturais na nossa sociedade e nas nossas escolas, ajuda-nos a cuidar para que as diferenças culturais possam superar, sem negar, os novos conflitos hoje existentes, tão presentes nos diferentes cenários educacionais: violência, exclusão, injustiça etc. podemos afirmar que essa é uma das mais importantes tarefas das escolas na contemporaneidade (PADILHA, 2004,

p.193).

A discussão e elaboração do currículo escolar teriam que girar em torno de um trabalho pedagógico que fosse capaz de abarcar as transformações que vêm ocorrendo na sociedade. Transformações como as que estão mudando as identidades pessoais e deslocando ou descentrando o sujeito, tanto de seu lugar no mundo social e cultural, quanto de si mesmos, e que se refletem diretamente no ambiente escolar de aprendizagem. Faz-se necessário, por parte dos educadores, a compreensão do seu papel em propor, na escola, conhecimentos que possibilitem aos alunos a estruturação necessária à consolidação de suas vidas.

O currículo necessita ser pensado como um diminuidor de desigualdades e diferenças. Sendo crítico, transformador e promotor de novas relações e situações de ensino-aprendizagem que resultem na diminuição de discriminações e preconceitos.

A educação, entendida como atualização histórico-cultural, como meio pelo qual o ser humano se constrói em sua historicidade, e fundada na aceitação do outro como legítimo sujeito, como realização da convivência pacífica e cooperativa, que nega a dominação, revela a impossibilidade de se pensar educação sem relacioná-la à cultura e à política. Nessa perspectiva, o projeto político pedagógico e o currículo da escola tornam-se locais de resgate da cultura local, espaço-tempo inseridos num contexto político, econômico e social (PADILHA, 2004, p.187).

A organização do currículo escolar, sob o prisma de uma abertura extraescolar e da participação comunitária, oportunizará o contato com a diversidade cultural e com os acontecimentos do entorno do mundo escolar, do qual os atores escolares necessitam tomar parte para que se estabeleçam relações positivas com o meio em que o aluno vive. Deverá oportunizar, também, o incentivo para que se aprenda a respeitar escolhas e vivências pessoais, reconhecendo as diferenças culturais. Assim, a escola estará contribuindo diretamente para que esse sujeito multicultural tenha vez e lugar no mundo complexo, global e cibernético. E, nesse sentido, a educação escolar nos tempos atuais precisa estar alicerçada em teorias educacionais que deem conta de dialogar com a

revolução cultural cibernética e com o entrelaçamento cultural do mundo escolar, valorizando-o e utilizando-o nas atividades pedagógicas escolares.

Através das vivências e experiências dos atores escolares cria-se uma maneira própria de funcionamento de cada instituição, com características do ambiente cultural em que está inserida. Isso porque cada ator participante da escola tem suas características culturais impregnadas desde o nascimento e as leva para a sua prática em todas as atividades realizadas no contexto escolar.

Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha. Foi a difusão do consumismo, seja como realidade, seja como sonho, que contribuiu para esse efeito de ―supermercado cultural‖ (HALL, 2001, p.75).

Sabe-se que cada educador transmite em seu trabalho a sua identidade cultural, que está associada à maneira como interiorizou as vivências escolares que teve durante sua primeira juventude, reproduzindo, na maioria das vezes, o modelo de escola de que participou como aluno e também em que trabalhou como professor, o que influencia de maneira intensa na elaboração do currículo.

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