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7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

8.2. Análise do tema ambiental nas práticas pedagógicas do curso de

8.2.2. Concepções dos alunos sobre a inserção do tema ambiental na

Elaboramos um questionário, com o objetivo conhecer a percepção dos alunos (Apêndice E), a respeito do assunto Meio Ambiente e Educação Ambiental e também de verificar se o tema ambiental estava presente nas práticas pedagógicas do curso em questão.

Quando questionados sobre de que forma compreendiam o meio ambiente, várias foram as respostas dadas pelos alunos. Estas foram enquadradas em categorias de acordo com as concepções descritas por SAUVÉ (2003): antropocêntrica como a sobrevivência do ser humano; problema de forma a prevenir, resolver; recurso enquanto forma de administrar e compartilhar; meio de vida, com finalidade de conhecer para desfrutar; ou sistema, no sentido de compreender para tomar maiores decisões. Alguns mesclam a concepção agregando mais de uma definição, como a naturalista, cuja definição é a natureza tocada e intocada. Outras concepções observadas incluem as definições de educação ambiental dadas por REIGOTA (2001), que define a natureza como uma forma de apreciar, preservar; o recurso como a administração e o compartilhar. Para um dos alunos, este é definido como uma ação antropocêntrica aliada ao problema. Por fim, alguns alunos agregam três (03) atributos, tais como: recurso, problema e o antropocentrismo.

A segunda questão presente na pesquisa foi a respeito da compreensão sobre educação ambiental, que se enquadra para alguns alunos com uma única definição;

enquanto para outros a educação ambiental tem uma ou mais definições. Dessa forma, para alguns é vista como naturalista e educação ambiental sobre o meio ambiente, outros enquadram-na como gestão ambiental e conservacionista. Uma única pessoa a definiu como naturalista, associada à gestão ambiental. Outro a definiu como conservacionista e naturalista; e um aluno a definiu exclusivamente como conservacionista.

Alguns se satisfazem exclusivamente com uma única definição, enquanto outros atribuem até três definições à educação ambiental: gestão ambiental, associada à economia ecológica - que segundo SORRENTINO (1998) significa ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável e sociedades sustentáveis, agregando ainda a informação de conservacionista que a própria palavra nos indica ao ato de conservar.

Outro aluno define como economia ecológica, agregando ainda educação para o meio ambiente; para outro a educação ambiental esta associada à gestão do meio ambiente e a educação sobre o meio ambiente; enquanto outro aluno entende a educação ambiental somente como naturalista; e por fim um único também atribui três definições à educação ambiental, como sendo a naturalista, a gestão ambiental e a educação ambiental sobre o meio ambiente.

A interpretação dos alunos pesquisados, pouco está atrelada ao universo gastronômico, uma vez que esses alunos estavam iniciando o seu curso, e há uma clara evidência de que a informação que eles trazem sobre o meio ambiente esta ligada às informações da mídia.

Na terceira questão, perguntamos sobre a ligação da gastronomia ao meio ambiente e pedimos que comentassem sobre o assunto, a fim de verificarmos a abrangência da questão no que tange à profissão que desempenham e a sua relevância com relação ao meio ambiente. Todos os alunos atribuíram total relevância à ligação gastronomia/meio ambiente.

Os comentários sobre a ligação gastronomia/meio ambiente foram relacionadas à matéria-prima, água, alimento, madeira, contaminação, lixo, resíduos, saúde, desperdício, armazenamento, pessoas, habitat e higiene.

A quarta questão abordada foi em relação às disciplinas que compõem o curso de cozinheiro: se há dentro da grade curricular alguma que, em especial, trabalha a questão ambiental em sala de aula ou em laboratório (onde se desenvolvem as aulas experimentais) e quais as questões relevantes abordadas pelos professores.

A maioria dos alunos respondeu que a relevância da questão ambiental é comentada em algumas disciplinas, mas não de forma sistematizada. O que vê é que em algumas turmas um determinado professor aborda questões relativas ao meio ambiente, mas o mesmo não acontece necessariamente em outras turmas, ou porque naquele dia a matéria está atrasada ou porque o grupo apresentou maior dificuldade de entendimento da aula; ou seja, não há uma regularidade da questão em sala de aula.

Segundo FREITAS (2003), na área de humanas, os espaços de reflexão e participação democrática estão mais presentes em relação às demais áreas.

O fato de o assunto ambiental não se fazer presente sistematicamente em sala de aula, se dá principalmente por três fatores: o primeiro é a falta de informação ou informação superficial sobre o assunto; o segundo é a falta de organização das informações ambientais ao conteúdo de aula; e a terceira se dá pelo fato desse tema transversal não estar presente em plano de ensino de forma alinhavada, sedimentando a sua importância.

Esse fato se justifica segundo a interpretação de alguns autores com relação à compreensão da interdisciplinaridade dentro do plano de trabalho14 do professor, uma vez que o processo de integração e interação entre as disciplinas se dá como um estágio mais avançado a ser alcançado, se configurando como a transdisciplinaridade (JAPIASSÚ, 1976).

Já FAZENDA (1994), considera a transdisciplinaridade e a interdisciplinaridade como uma idealização utópica, uma vez que não faz distinção entre os dois temas.

Para MORIN (2000) a interdisciplinaridade controla as disciplinas de forma que cada uma demarca seu território; enquanto a transdisciplinaridade está mais próxima de transcorrer os conceitos através das diversas disciplinas que compõe um programa de curso; assim, seria necessário o diálogo entre elas.

As questões mais comumente citadas pelos alunos que estão presentes em sala de aula são temas como o desperdício, aproveitamento de matéria-prima, higienização, separação de resíduos, etiquetagem, manipulação, aparência, organização e contaminação.

Na fala dos alunos durante a pesquisa e depois da entrega dos questionários, pudemos perceber que questões de grande relevância presentes em sala de aula, tais

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Preferimos denominar plano de trabalho com o entendimento de que é executado pelo professor, uma vez o plano de ensino, muitas vezes pode constar no papel, mas não necessariamente ser executado na prática em sala de aula.

como a contenção de despesas (no que diz respeito à desperdício e a apresentação dos pratos), foram abordadas tanto pelos alunos, como pelos professores. Mas essa abordagem não diz respeito ao meio ambiente, e sim às questões comerciais, pois se pauta na venda de alimentos (no caso específico do Hotel Escola SENAC, para uma clientela classe A15).

Percebemos que as questões acima mencionadas pelos alunos não têm somente um sentido comercial e financeiro. Existe a preocupação ambiental, mas esta não é prioritária, e nem sempre é lembrada pelos alunos. Já as abordagens comercial e financeira estão sempre presentes nas preocupações dos professores.

Na próxima questão solicitamos sugestões para a incorporação do tema ambiental ao curso de formação profissional em gastronomia.

Uma das sugestões foi a inserção de um documentário sobre as secas no país, sobre a fome, as doenças que a população contrai com a falta de saneamento básico; as dificuldades encontradas nas favelas; as causas do desmatamento, da poluição do ar; e o uso indiscriminado de água. Outra sugestão foi a apresentação de palestras específicas de cada profissional da área de acordo com o setor de prática da cozinha.

Outro aluno fez uma sugestão interessante quando mencionou ser inviável trabalhar o tema ambiental na teoria se este não for reforçado nas atividades práticas. Assim, o explicitado em sala de aula deve ser praticado nos laboratórios no dia-a-dia, tanto pelos alunos como pelos profissionais e pelos mestres e chefes.

Para outros não há o que acrescentar; eles somente reforçam que o SENAC de Águas de São Pedro já pratica e bem a preocupação frente ao meio ambiente.

Embora alguns entendam que o meio ambiente é um assunto pouco comentado no curso técnico - especificamente no curso de gastronomia - não fizeram nenhuma sugestão, desconhecem o tema ou ouviram falar superficialmente.

De acordo com os alunos, as disciplinas, de forma geral, precisam abordar mais o tema em questão, ou agregar pesquisas sobre o meio ambiente, vinculado ao assunto diário de sala de aula.

Alguns alunos sugeriram incorporar a questão ambiental através de cartazes, painéis instrutivos, de forma que atinjam todos os níveis hierárquicos do hotel-escola. Assim, poderá envolver alunos, funcionários de diversos setores, a sua estrutura hierárquica e estagiários, não somente de outras unidades do SENAC do Estado de São

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Pessoas de poder aquisitivo alto e com nível de exigência elevado no que diz respeito aos serviços prestados na área de hospitalidade.

Paulo e unidade local, mas também de outras empresas que por ali passam de dentro e de fora do país.

Para outros, a profissão de cozinheiro tem íntima relação com o meio ambiente, embora pouco trabalhado teoricamente dentro do curso, carecendo um departamento que abordasse essas questões juntamente com os professores.

A informação transmitida diariamente não é executada de forma eficaz, não havendo reforço prático da mesma.. Nota-se que os alimentos poderiam ser melhores aproveitados de forma geral.

Alguns alunos percebem que há um trabalho intenso de separação de lixo por parte dos instrutores, chefes, alunos e ajudantes de cozinha, mas quando os faxineiros passam nos setores recolhendo o lixo, eles o depositam em um único recipiente, mesmo que os resíduos ou lixo já tenham sido separados. Dessa forma, nos parece que a conscientização quanto a ISO 14000 ocorreu somente com algumas camadas dos funcionários do hotel-escola.

Os professores debateram sobre os resultados apresentados, tanto na tabulação dos resultados da investigação com os professores e coordenação, como em relação aos resultados das questões apresentadas aos alunos, e mencionaram que fica perceptível o quanto o grupo deixa de registrar de maneira formal questões que são abordadas e trabalhadas em aula junto aos alunos. Assim, existem muitas ações, mas que não são evidenciadas através de registros formais, o que pode resultar em um descompromisso por parte dos docentes, cujas ações podem ocorrer com determinados grupos e não com outros. Além disso, o curso apresenta um maior compromisso do que realmente está registrado, pois na prática acontecem mais abordagens do que os registros acadêmicos formais evidenciam. Ou seja, uma supervisão da diretoria de ensino que não tivesse a preocupação e/ou tempo hábil para um acompanhamento prático não tomaria conhecimento de que certas abordagens são mencionadas durante o curso. Sendo assim, o SENAC não registra tais atividades com os temas transversais, não somente no que tange o meio ambiente, mas questões relativas à religião e crenças que são muito trabalhadas no universo gastronômico em nível nacional e internacional, dentre outras questões.

Outro fator mencionado durante este encontro evidencia a não eficácia de ação por parte dos professores em aulas ou mesmo em atividades de laboratório. Ou seja, algumas questões relativas à higiene, separação de lixo, armazenamento e conservação de alimentos são abordadas em sala de aula, mas não são executadas na prática. Ainda

assim, são cobradas em atividades práticas, o que contribui para a ineficácia e não efetividade, tanto de ações como de conteúdo curricular.

A busca da conscientização do papel do professor como modelo de formação profissional no papel que desempenham dentro do hotel-escola é um compromisso latente no grupo, para o qual todos estão dispostos a contribuir e a cumprir o seu papel no exercício de educador. Assim, há uma pré-disposição em formar profissionais que tenham o compromisso com a excelência na área de serviços.

Durante o debate um dos professores que já tem uma vivência particular no campo político dentro do município, e que tem especial espírito de liderança, mostrando-se reflexivo e crítico, sugeriu a possibilidade de ser fundada uma cooperativa que ficasse responsável pelo lixo e que fosse composta por funcionários, com o objetivo de separar, estocar e vender os resíduos recicláveis, resultando em fundos que revertessem em beneficio deles próprios (funcionários), uma vez que atualmente o lixo é totalmente doado para uma empresa na cidade vizinha de São Pedro, o que não favorece um estímulo aos profissionais das diversas áreas do hotel-escola a separarem o lixo com eficiência.

Os alunos chegaram a comentar que a empresa responsável pela coleta do lixo do hotel-escola comercializa o lixo arrecadado. A impressão que temos nesta atitude e na fala dos professores é de que o SENAC tem um grande compromisso financeiro com o lixo, deixando de lado questões voltadas para o meio ambiente. Isso nos leva a refletir sobre a verdadeira função do SENAC, enquanto formador de futuros profissionais no mercado de trabalho.

TABELA 19: Concepção de Meio Ambiente dos alunos do curso de Gastronomia, segundo as categorias definidas por SAUVÉ (2003) e REIGOTA (2001):

PERGUNTA CATEGORIA PORCENTAGEM Naturalista 22 % Antropocêntrica + problema 65 % O que você entende por

Meio Ambiente?

Recurso + problema + antropocêntrica

TABELA 20: Concepção de educação ambiental dos alunos do curso de Gastronomia, segundo as categorias definidas por SAUVÉ (2003) e REIGOTA (2001):

PERGUNTA CATEGORIA PORCENTAGEM Naturalista + educação ambiental

sobre o meio ambiente

8%

Gestão ambiental + conservacionista 17%

Naturalista associado a gestão ambiental

8%

Conservacionista + naturalista 8%

Conservacionista 8%

Gestão ambiental + economia ecológica

17%

Economia ecológica + educação para meio ambiente

8%

Gestão ambiental + educação sobre o meio ambiente

8%

naturalista 8%

O que você entende por Educação Ambiental?

Gestão ambiental + educação sobre o meio ambiente

8%

8.3 Intervenção: a formação ambiental dos docentes dentro do universo