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4. O ENSINO TÉCNICO: ORIGENS E SÍNTESE

4.2. Decreto 2208/97

Vejamos quais as mudanças previstas para a educação profissional, de acordo com as determinações do Decreto nº 2208/97, nos seguintes aspectos: objetivos,

educação profissional, instituições federais, educação profissional de nível técnico, ensino médio, currículos, decreto e ensino técnico.

1º) Quanto aos objetivos, fala-se em:

Art. 1º: promover a transição entre a escola e o mundo do trabalho. . . , proporcionar a formação de profissionais, aptos a exercerem atividades especificas no trabalho. . . e qualificar, reprofissionalizar e atualizar jovens e adultos trabalhadores...

2º) A educação profissional é dividida em três níveis (Art.3º):

I) Básico: destinado à qualificação, requalificação e reprofissionalização de trabalhadores, independente de escolaridade prévia;

II) Técnico: destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino médio (. . .) ; III) Tecnológico: correspondente a cursos de nível superior na área tecnológica, destinados a egressos do ensino médio e técnico (decreto nº 2208/97-Art. 3º).

Souza e Silva (1997) fazem uma distinção entre formação profissional e educação profissional, ressaltando que existe similaridade entre ambas, mas que tratam de dois aspectos diferentes.

A formação profissional visa aprimorar o aluno trabalhador, nos processos de aprendizagem, qualificação, reciclagem e treinamento, constitui-se em atribuição das empresas e das agências S (SENAC, SENAI, SENAR, etc) e tem seus procedimentos enraizados nas recomendações da OIT (...). A educação profissional obedece a critérios do formalismo legal e pedagógico, em cursos longos e seriados ou modulados, sob a supervisão dos órgãos administrativos dos sistemas de ensino (...) (grifo nosso).

Pedro Demo (1997) afirma que a concepção de educação profissional:

... está menos ligada ao domínio técnico de habilidades factuais do que ao saber pensar, tendo em vista que sua renovação permanente representa o que há de mais profissionalizante numa profissão (...) Diante da velocidade com que o conhecimento se inova e também envelhece, é improdutivo pretender acumulá-lo; (...) sua energia mais forte

está, por isso, no saber pensar para melhor intervir, num processo permanente de renovação . (grifo nosso).

Considerando a importância do saber pensar, e não simplesmente do saber fazer, Demo (1997) afirma que... é indispensável saber fazer, para sempre renovar o fazer. Neste sentido é necessário que se estabeleça uma clara conexão entre o mundo profissional e do trabalho, mais do que com o “mundo” do emprego. Isto nos reporta às questões da empregabilidade, mas que na nova LDB, ainda segundo DEMO (1997), está no máximo no pano de fundo, bem lá no fundo.

3º) As Instituições Federais, públicas e privadas sem fins lucrativos, são obrigadas a oferecer cursos profissionais de nível básico, atribuindo aos alunos no final dos cursos um certificado de qualificação profissional (Art. 4º e seus parágrafos 1º e 2º). As habilitações profissionais eram oferecidas sem o desenvolvimento de programas destinados à qualificação e/ou requalificação de trabalhadores que não tinham um determinado nível de escolaridade. A obrigatoriedade acima referida denota a preocupação com a perda, por parte do trabalhador, de espaço num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e especializado, que requer conhecimentos e habilidades de que ele não dispõe.Isso exigirá uma adaptação das instituições de ensino, que deverão repensar os seus novos programas e metodologias, além de instalações e equipamentos adequados às demandas emergentes do mercado de trabalho, para atendimento dessa nova clientela.

4º) Uma outra grande novidade é que a educação profissional de nível técnico não se dará mais de forma integrada. Ela será oferecida apenas nas disciplinas específicas, ficando a parte propedêutica para o ensino médio. Assim, poderá ser oferecida de forma concomitante ou seqüencial ao ensino médio (Art. 5º).

Conforme reforça Souza e Silva (1997):

... embora a profissionalização se possa fazer, em regra, à margem do ensino médio, numa espécie de subsistema paralelo, do aluno que a ele se dirige (ao ensino profissionalizante), exige-se um pré–requisito indispensável : a prova de que dispõe de formação geral suficientemente abrangente (. . .).

5º) No ensino médio poderão ser oferecidas disciplinas de caráter profissionalizante (até 25% da carga horária mínima), que poderão ser aproveitadas para as habilitações profissionais (Art. 5 º, parágrafo único). O fato de o programa integrar

disciplinas de caráter profissionalizante no ensino médio não significa que este formará o técnico para o trabalho.

6º) Os currículos do ensino técnico poderão ser agrupados sob a forma de módulos e estes poderão ter caráter de terminalidade, dando direito ao certificado de qualificação profissional (Art. 8º e seus parágrafos). O aluno terá o prazo máximo de cinco anos para a conclusão do curso, podendo cursar os módulos em diferentes instituições de ensino, sendo que o diploma de técnico em nível médio será outorgado pelo estabelecimento que conferiu o último certificado de qualificação profissional.

O referido decreto e o PL 1603/95 desencadearam muitas discussões, como assinalamos, e, hoje, após a sua promulgação, são motivos de preocupação por parte das instituições que deverão resolver os impasses que venham surgir no decorrer dos próximos anos.

Poderíamos apontar, como principal preocupação, o caso da procura por instituições que apresentam maiores facilidades no desenvolvimento das disciplinas e a conclusão do último módulo em instituições de renome. Tal fato poderá sobrecarregar as escolas mais conceituadas com alunos que busquem somente diplomas, mas ao mesmo tempo, poderá prejudicar o conceito dos alunos com a diplomação que lhes confere uma qualificação, no mínimo, duvidosa.

Como aspecto positivo, citamos o fato do aluno que se vê obrigado a deixar o curso antes do término do semestre, ou do ano, mas não perde o período que já cursou. Nesse caso terá, no mínimo, uma certificação de qualificação, fato que poderá estimular a continuidade dos estudos, posteriormente.

7º) O decreto 2208/97 determina que as diretrizes curriculares nacionais, com as regras mínimas dos cursos, conteúdos mínimos, habilidades e competência básicas, por área profissional, serão estabelecidas pelo MEC, ouvido o CNE (Art. 6º, inciso I).

Quando da promulgação da Lei 9394/96 foram revogadas todas as disposições do artigo 92 e a mesma passou a vigorar a partir de 20 de dezembro de 1996. As instituições que promovem a educação profissional tiveram dificuldades para reorganizar sua atuação no nível básico. Não há necessidade de regulamentação curricular, ficando a critério de cada instituição de ensino aquilo que diz respeito aos cursos de 2º Grau; o CNE teve aprovado o parecer nº 07/97, em que ressalta a continuidade da vigência, em nível nacional, do Parecer do CFE nº 45/72. Também houve uma manifestação do CEE/SP, em outubro de 1997, que aponta para as diretrizes contidas na indicação CEE/SP nº 14/97 (1º de outubro de 1997). Essa indicação

determina que deve ser observado o parecer CFE nº 45/72 nos cursos técnicos, até que sejam definidas as novas diretrizes curriculares nacionais e currículos básicos, reforçando o Parecer do CNE nº 05/97.O parecer CNE/CBE 17/97 e o 15/98 determinam que a articulação entre a educação básica e a técnica deve definir as quais as competências gerais que as escolas esperam que os alunos levem do ensino médio. Nesse sentido, tanto a LDB, em especial no artigo 41, quanto o Decreto Federal número 2.208/97, estabelecem que disciplinas de caráter profissionalizante cursadas no ensino médio podem ser aproveitadas no currículo de habilitação profissional de técnico de nível médio, mantendo-se assim as identidades curriculares próprias, preservando-se a necessária articulação.

8º) Define-se, pelo decreto número 2208/97 quem poderá ministrar as disciplinas no ensino técnico. Surge a possibilidade de contratação de professores, instrutores e monitores com comprovada experiência profissional, desde que preparados para o magistério, previamente ou em serviço, através de cursos regulares de licenciatura ou de programas especiais de formação pedagógica (Art. 9º). Souza e Silva (1997) alertam para o fato, dizendo que os professores deverão ser preparados para o magistério, através de cursos regulares de licenciatura e de programas especiais de habilitação.

5. A INSTITUIÇÃO SENAC: PARCEIRA NA PESQUISA E INTERVENÇÃO

No início da década de 1940, o processo de expansão da indústria exigia a preparação de mão-de-obra qualificada. Necessitava-se, urgentemente, de núcleos de formação profissional, a fim de atender o gradativo e crescente mercado na área da indústria.

Entretanto, o sistema educacional não possuía a infra-estrutura necessária para o desenvolvimento de mão-de-obra qualificada, com formação em larga escala, uma vez que não dispunha de recursos e de equipamentos adequados para a formação profissional. O setor industrial, por sua vez, e como se ressaltou, ansiava por uma formação mínima do operariado, necessitando para isso de uma ação rápida, prática e eficiente do Governo.

Diante de tal realidade e necessidade, o Governo criou um sistema de ensino paralelo ao sistema oficial, organizado em convênio com as indústrias e com a mediação da Confederação Nacional das Indústrias.

Concretizou-se, por meio do Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem dos Industriários e, posteriormente, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com o objetivo de organizar e administrar escolas de aprendizagem industrial em todo o país.

A Lei Orgânica do Ensino Industrial (Decreto-Lei nº 4.073 / 42) tinha como meta à preparação dos aprendizes menores dos estabelecimentos industriais em “cursos de formação e continuação para trabalhadores não sujeitos à aprendizagem” e para tal o SENAI deveria ser organizado e dirigido pela Confederação Nacional das Indústrias e mantido pela contribuição dos estabelecimentos industriais a ela filiados.

O governo baixou ainda dois outros decretos-lei:

1º) nº 4.481 de 16 de julho de 1942, que obrigava os estabelecimentos industriais a empregarem aprendizes e menores num total de 8 % do número de operários neles existentes e matriculá-los nas escolas mantidas pelo SENAI.