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3 O CONCEITO DE PRÁTICA, O EIXO EPISTEMOLÓGICO E O

4.1 CONCEPÇÕES SOBRE INCLUSÃO

4.1.1 Concepções Sobre a Inclusão em Sentido Amplo

No que diz respeito a essa concepção, os participantes da pesquisa explicitam um sentido mais geral sobre a quem ela se destina. Ela é percebida como um direito de todos, sem

a especificação de aspectos de sua individualidade que lhe atribuam a necessidade ou direito à inclusão. Esse entendimento aparece em conformidade com o que afirmam Santos e Paulino (2008, p. 12, grifos dos autores), que entendem que

[...] as propostas inclusivas são revolucionárias, pois, almejam incondicionalmente, uma estrutura social menos hierarquizada e excludente, tendo como base o argumento de que todos temos o mesmo valor pelo simples fato de sermos humanos. E que, por isso mesmo, todos precisamos ser considerados e respeitados em nossa maneira subjetiva e única de existir.

Assim, evidencia-se a incondicionalidade para atribuir aos diferentes sujeitos o direito de serem incluídos na escola. As respostas de alguns professores e Coordenadoras Pedagógicas vão ao encontro desse pressuposto ao abordarem a necessidade de incluir todas as pessoas no processo educativo:

Inserção, introdução, colocar dentro. (CP1/Q).

Garantia de acesso à educação, respeitando a situação de limitação de cada indivíduo. (CP2/Q). De forma necessária e importante para o convívio dos alunos, a interação com todos na sala de aula. (CP8/Q).

Extremamente necessários o convívio, a socialização. (P4/Q).

Uma forma de enxergar todos de uma maneira igual, dando oportunidades visando a dificuldade de cada um. (P5/Q).

Processo para inserir o indivíduo no ensino regular. (P11/Q).

É assegurar o acesso ao currículo escolar, em escolas regulares, aos alunos com necessidades educacionais especiais. É importante considerar as novas perspectivas educacionais, que propõem ampliar essa análise, incluindo alunos que fazem parte de minorias sociais, como também os que estão impossibilitados de frequentar o ambiente escolar, devido a tratamento de saúde. (CP3/Q).

Os relatos dos participantes indicam sua preocupação com a abertura de espaços que sejam inclusivos na escola, nos quais os diferentes sujeitos possam estar presentes, para se socializarem e interagirem, vivenciando diferentes possibilidades. É importante ressaltar que a inclusão, com um conceito mais ampliado, possui respaldo legal, amparando-se na Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU, 1948), na Constituição Federal (BRASIL, 1988) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996). Entretanto, o seu amparo legal não garante que todos os indivíduos da sociedade possuam a mesma compreensão sobre a inclusão.

As discussões de Machado e Pan (2012) abordam que a não especificação do que a inclusão significa produz diferentes compreensões, o que leva a diferentes direções para os encaminhamentos que visam a inclusão. O fato de os alunos estarem dentro da escola e até mesmo a própria socialização não indicam necessariamente a inclusão.

De forma semelhante, a pesquisa realizada por Valim (2013) ressalta, em suas conclusões, que a escola é composta por sujeitos com diferentes concepções, e que a existência de documentos legais que amparam a inclusão em âmbito escolar não garante a efetivação de práticas inclusivas. Esses elementos tensionam a prática do Coordenador Pedagógico frente à inclusão escolar, justamente porque ele convive com práticas e concepções variadas, pois compreende-se que a ideia de incluir, mencionada pelos participantes, expressa diferentes pontos de vista.

Também se encontram em alguns dos relatos nessa subcategoria a preocupação com o preconceito, verificada quando professores indicam:

Inserir o indivíduo ao grupo, permitindo assim que todos tenham o direito de interagir e participar das atividades desse ambiente sem sofrer qualquer tipo de discriminação e preconceito. (P1/Q).

Incluir é adicionar ou acrescentar alguma coisa. Com relação à inclusão social e escolar, penso que seja proporcionar equidade de condições para as pessoas que dela necessitam para que possam viver livre de preconceitos. (P10/Q).

A referência ao preconceito é relacionada pelos professores ao ato de excluir e à preocupação dos docentes de que os alunos estejam livres de sofrerem formas de discriminação. Isso pode ser relacionado ao que expressa Libâneo (2004) sobre a finalidade da escola, que é a de favorecer a inclusão, portanto favorecer a não exclusão política, econômica, cultural e pedagógica. O fato de existirem situações de exclusão no ambiente escolar é o que, segundo diferentes autores, faz com que a preocupação com a inclusão se torne necessária (CARVALHO, 1997; SANTOS, Julio, 2008; SANTOS; PAULINO, 2008).

Os relatos dos participantes indicam, também, que, ao refletirem sobre a inclusão, alguns deles estão preocupados com as individualidades dos alunos ou com o respeito à heterogeneidade existente na escola. Esse aspecto é exemplificado em alguns relatos:

É a condição de todos os alunos frequentarem a escola e serem atendidos conforme suas individualidades. Se a educação é inclusiva, não tem como separá-los ou não atendê-los. (CP4/Q). Sim, em alguns casos e outros não; depende da necessidade e especificidade de cada um. (P11/Q). Não, e quando acontece busco ações pedagógicas que possam supri-las. Como cada aluno é um em suas individualidades o que dá certo com um nem sempre dá com o outro. (PSRM2/Q).

As Coordenadoras Pedagógicas e os professores que realizaram esses relatos indicam a necessidade de se pensar nas especificidades ou nas individualidades dos alunos para incluí- los na escola, bem como ressaltam a importância de práticas pedagógicas que atendam às necessidades desses alunos. Desse modo, a visão e a consideração das individualidades

tornam-se essenciais para incluir. Destaca-se a resposta de uma das professoras da SRM, ilustrativa dessa reflexão:

A inclusão é um processo contínuo de participação social e convivência com as diferenças numa relação de aprofundar conhecimentos, conceitos e valores. Continuamente a cada nova situação, por mais que já tenha experiência em algum caso, como a inclusão trabalha justamente com as diferenças e suas individualidades se tem a necessidade de novos conhecimentos. (PSRM4/Q).

A partir das individualidades dos alunos, novos desafios surgem aos professores e às Coordenadoras Pedagógicas, que, ao intencionarem o processo de ensino e de aprendizagem, se deparam com diferentes necessidades educacionais advindas de tais individualidades. O que vai ao encontro do que se verificou no PPP da Escola A e da Escola C, ao definirem encaminhamentos para a educação inclusiva:

Para que se ofereça uma educação de qualidade inclusiva é necessário que se avalie caso a caso garantindo desta forma condições mínimas para que se realize um trabalho pedagógico, significativo, respeitando os limites de cada um, sem que as práticas pedagógicas sejam limitadas, pois cabe a escola oferecer materiais e espaços diversos, propondo momentos em que as crianças façam escolhas de atividades que lhe despertem interesse e por consequência a façam desenvolver-se (PPP da Escola A, 2016, p. 15-16).

A todos os alunos, portadores de características diferenciadas ou necessidades especiais: físicas, intelectuais e motoras e/ou condições sócio-culturais diversas, deve ser garantido o acesso e a permanência na escola.

A inclusão não atende apenas às crianças com alguma deficiência, mas também as excluídas ou discriminadas. Portanto, mesmo com recursos escassos o importante é dar meios para os estudantes façam parte do mundo, que haja preparo para os Professores e Equipe Pedagógica que atendam aos alunos com necessidades especiais. (PPP da Escola C, 2018, p. 28-29).

Nas reflexões e discussões realizadas na escola, concluiu-se que o processo de inclusão deve acontecer em relação não apenas às pessoas com deficiência, mas a todos os alunos que apresentem “necessidades educativas especiais”, que podem ser de cunho psicológico, provisório ou até mesmo familiar. Neste sentido, entendemos que a educação para todos, é aquela voltada ao desdobramento de atividades e práticas que atinjam todos os alunos em todas as suas dificuldades e diversidades (PPP da Escola C, 2018, p. 64).

Tais considerações sinalizam que a concepção sobre a inclusão escolar em uma perspectiva ampla, relacionada a todos os alunos, é permeada pela necessidade de percepção da individualidade desses sujeitos. Essa percepção não é desprovida de sentido, ela intenciona o ensino e a aprendizagem. Santos, Julio (2008) aponta que a inclusão é resultado de uma necessidade humana, que envolve o atender, reconhecer e valorizar a diversidade; dessa forma, todos em suas singularidades têm a necessidade de serem incluídos.

Compreende-se, assim, que a escola possui um papel relevante diante da inclusão dos diferentes sujeitos, pois todos os agentes envolvidos no processo educativo têm contribuições

a dar para que a instituição cumpra esse papel. Uma das Coordenadoras indica que o processo se dará a partir das ações dos sujeitos e da compreensão sobre a concepção de inclusão que tais agentes possuem:

Considero que a educação inclusiva é um processo bem complexo, e nesse sentido é essencial buscar subsídios teórico-metodológicos atualizados para melhor compreensão do papel da escola no que se refere ao acesso ao ambiente escolar, mas sobretudo a garantia de sucesso no processo educativo. (CP3/Q).

O relato da Coordenadora expressa a necessidade e as possibilidades de ação dos diferentes sujeitos diante da inclusão. Assim, os dados revelam que, além de existir uma concepção de inclusão que aborda de modo geral todos os alunos em suas singularidades, vê- se que é necessário que existam atitudes de todos os envolvidos no processo educativo frente a tais singularidades, atitudes que compreendem a abertura da escola à inclusão, o respeito às diferenças das pessoas, ações contra a exclusão e o preconceito e ações para garantir o processo de ensino e de aprendizagem de todos os alunos.

4.1.2 Concepções Sobre a Inclusão Relacionadas aos Alunos Público-Alvo da Educação