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3 A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAIS NUM NOVO

3.1 A conciliação e a mediação extrajudiciais num novo paradigma de Justiça

3.1.1 Concepções sobre justiça

Sabe-se que a ideia ou o conceito de justiça não é estável, nem tampouco simples. O vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia expõe alguns significados para os vocábulos “justiça” e “justo” que demonstram existir sentidos distintos para os termos, ressaltando que a justiça pode estar relacionada à equidade e legalidade (LALANDE, 1999, p. 601-602).

Jair Gonçalves assevera que (2001, p. 25), “pela importância que em, a justiça ou o termo justiça é uma das palavras que mais foge à univocidade”.

Um dos motivos da falta de univocidade ao termo é o momento histórico vivido pela sociedade, pois este influencia na formação da ideia de justiça, pois houve épocas em que, por exemplo, o justo e a ideia de justiça exprimiam-se por meio de uma punição similar a uma vingança, ilustrada pela célebre frase, “olho por olho, dente por dente”, advinda do Código de Hammurabi, a lei de talião (MACIEL; AGUIAR, 2011, p. 51).

O nascimento e a evolução dos Direitos Humanos demonstram também a evolução da concepção de justiça, pois as batalhas travadas em busca de direitos entende- se que se consubstanciam em busca de justiça. Assim ilustram Silveira e Rocasolano (2010, p. 101), “os direitos humanos até aqui conquistados resultaram de lutas e conflitos, por meio das quais as instituições jurídicas de defesa da dignidade humana se espraiaram pouco a pouco até alcançar todos os povos da Terra”. Dessa forma, tem-se que a busca por justiça está relacionada a busca por direitos.

Entende-se que o momento histórico e o surgimento de novos direitos produzem modificações nas relações interpessoais e podem influenciar na concepção da ideia de justiça que uma determinada sociedade ou grupo social possui. Assim ilustra Silva (2005, p. 82), “pode-se observar que o conceito de Justiça muda de uma sociedade para outra, moldando-se às necessidades desta: a sociedade sofre transformações, assim como a ideia de Justiça e o acesso a esta”.

Na atualidade surgiram distintas proteções a novos direitos, como por exemplo, o direito ao uso da imagem que ampliou o rol dos direitos à liberdade, cuja violação se traduz num ferimento ao direito, o que por sua vez influencia na concepção sobre justiça. Este exemplo ilustra o surgimento de um novo direito em razão do progresso tecnológico que facilita a utilização de instrumentos técnicos, o que demanda novas proteções a direitos86.

Neste sentido, explana Bobbio (2004, p. 71),

De resto, também a esfera dos direitos de liberdade foi se modificando e se ampliando, em função de inovações técnicas no campo da transmissão e difusão das ideias e das imagens e do possível abuso que se pode fazer dessas inovações, algo inconcebível quando o próprio uso não era possível ou era tecnicamente difícil.

O conceito do termo justiça é influenciado pelos movimentos históricos e sociais, mas também por concepções que, por exemplo, relacionam justiça à equidade (BITTAR;ALMEIDA, 2002, p.115). E isto é observado no próprio texto constitucional brasileiro no caput do artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, “Todos são iguais perante a lei [...]” Então, depreende-se que o texto demonstra uma igualdade ideal, mas não real (SILVA, 2005, p. 83). Nesse sentido pode-se afirmar que relacionar justiça à equidade é complexo, pois mesmo a ideia de igualdade de direitos exige acuidade sobre a acepção do termo, como bem constatam Bittar e Almeida (2002, p. 115):

[...] deve-se buscar definir as relações existentes entre a equidade e a justiça (epieikceia prós dikaiosynen), se são diferentes, em que são diferentes, em que medida são diferentes, quais os seus aspectos, como atuam, em que momento podem e devem ser invocadas -, assim como as existentes entre o equo e o justo (to d’epieikés prós to dikaion), se equivalem, se são idênticos, mutuamente fungíveis, se possuem o mesmo campo de aplicação, se são atividades ante ou

post factum.

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86 No Brasil, houve um fato emblemático ocorrido em 2012, que foi o roubo de fotos do computador da atriz

Carolina Dieckmann, por meio de invasão ao seu computador pessoal,com divulgação das fotos via internet. A atriz teria sofrido tentativas de crime de extorsão para não ter as fotos divulgadas. Esta informação foi obtida por meio de consulta ao site G1 Rio de Janeiro. Disponível em:< http://g1.globo.com/rio-de- janeiro/noticia/2012/05/suspeitos-do-roubo-das-fotos-de-carolina-dieckmann-sao-descobertos.html> Acesso em: 30.set 2015. “O caso obteve notoriedade e resultou na edição da Lei n. 12.737/12, que foi apelidada de ‘Lei Carolina Dieckmann’”, cujo objeto é a tipificação de delitos informáticos, entre eles, o de invasão de dispositivo informático (OLIVEIRA JUNIOR, 2013). .. Disponível em: <http://eudesquintino.jusbrasil.com.br/artigos/121823244/a-nova-lei-carolina-dieckmann>Acesso em: 30 set. 2015.

Há uma concepção sobre justiça que a concebe com um valor. Assim explica Jair Gonçalves ao afirmar que (2001, p. 32), “a definição de valor que deriva da essência do homem só é alcançada quando visualiza, na justiça, o dar, a cada um, o que lhe é devido, observando uma certa igualdade que deve ser buscada na essência do homem e transferida à sociedade e à ciência”.

Como se vê, a igualdade acompanha a ideia de justiça, mas exige a observação do contexto na aplicação do que é justo, partindo-se da ideia de uma “certa igualdade” entre os homens, como preconiza Jair Gonçalves.

Percebe-se que além das diferenças que o contexto pode enunciar, a justiça vista como valor implica em considerar a presença da subjetividade, pois resulta da essência do homem. E a subjetividade pode traduzir um difícil valoração, pois a ideia de justiça para uma pessoa pode ser divergente para outra pessoa (SILVA, 2005, p. 85).

Esse problema, segundo Jair Gonçalves, deve ser solucionado pelo âmbito jurídico com a aplicação da proporção “harmônica de valores, visando sempre a busca pela igualdade” (GONÇALVES, 2001, p.34).

Os autores Bittar e Almeida trazemtambém a justiça na teoria de Aristóteles87 que está fundamentada no campo ético e concebe a justiça como virtude (BITTAR;ALMEIDA, 2002, p.93-95).

Assim, após estas explanações, entende-se que o movimento dinâmico conceitual do termo justiça, exige estudos no campo do Direito, da Sociologia, da Política e da Filosofia embasadas pelas posições filosóficas já existentes, a fim de nortear novas reflexões sobre o momento histórico correspondente que poderão resultar na adoção de novas práticas jurídicas.

E do ponto de vista deste trabalho, conceber uma ideia de justiça exige uma análise da realidade histórica e a aceitação de que a justiça é um valor, que se concretiza de diferentes formas e em diferentes contextos na atuação dos indivíduos na sociedade,