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Conceptualização do estudo

No documento MARIA ODETE PEREIRA AMARAL (páginas 114-116)

ABREVIATURAS E SIGLAS

CAPÍTULO 3 – ESTUDO DE CASO

1. Conceptualização do estudo

De acordo com o exposto no capítulo anterior, realizou-se um estudo sobre os padrões de sono, a prevalência de insónia e dos sintomas de insónia, os seus determinantes (possíveis fatores de risco e protetores) e as suas consequências, em alunos do terceiro ciclo e secundário do distrito de Viseu durante o ano letivo 2011- 2012. A recolha de dados foi efetuada em contexto natural dos alunos, ou seja, na escola e fora da época de avaliações.

A literatura refere que os adolescentes necessitam de dormir, diariamente, entre 8,5 e 10 horas. Com a entrada na puberdade, a vida social é acompanhada de várias mudanças que podem conduzir a alterações nos hábitos de sono-vigília dos adolescentes, nesta fase alunos do ensino básico e secundário. As mudanças, sobretudo sociais e tecnológicas, levam a uma diminuição do número de horas que o adolescente “reserva” para dormir. Diversos estudos a nível europeu têm demonstrado uma elevada prevalência de distúrbios do sono neste grupo etário. Destes, aquele que é consistentemente descrito como o mais prevalente é a insónia. Os padrões de sono irregular e insuficiente e o atraso de fase de sono (atraso da fase de início do sono e da hora de despertar) também são problemas de sono frequentes em adolescentes. A patologia do sono associa-se negativamente com o desempenho dos adolescentes em diversos âmbitos – desempenho cognitivo, psicológico, comportamental - e com o seu bem-estar.

O progressivo conhecimento dos fatores de risco para a insónia, veio revelar que entre estes se podem incluir fatores sociodemográficos (por exemplo, sexo, idade, habilitações literárias dos pais, local de residência), comportamentais (consumo de substâncias), psicológicos (sintomatologia depressiva), tecnológicos (utilização de tecnologias de comunicação e diversão) e fatores ligados a estilos de vida (hábitos de sono inadequados, saídas noturnas), entre outros.

Os distúrbios do sono repercutem-se, naturalmente, nas atividades diárias dos adolescentes, dentro e fora da escola, e podem acarretar, entre uma plêiade de outras consequências, diminuição da capacidade cognitiva, diminuição do rendimento escolar, diminuição da concentração, défice de memória, diminuição da imunidade, alterações do humor, sonolência diurna, aumento do risco de depressão e de outras patologias

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(obesidade, diabetes mellitus, hiperatividade), aumento do risco de acidentes domésticos, rodoviários e de lazer e uma diminuição da qualidade de vida em geral.

Investigadores portugueses, na área do sono, referem que “somos o país do mundo que mais tarde se deita; 70% da população portuguesa vai para a cama depois da meia-noite”. Frisam ainda que “mais de 30% da população adulta portuguesa sofre de insónia e os adultos portugueses dormem pouco e estão a obrigar os filhos a fazer o mesmo”(1). Contudo, são escassos os estudos realizados em Portugal, em adolescentes. Os raros artigos publicados(2,3), ou as investigações no âmbito de teses de mestrado ou doutoramento(4-7), tiveram como objetivo, essencialmente, a avaliação da qualidade do sono e dos padrões de sono, não sendo feita uma determinação da prevalência de insónia [em apenas um estudo(7) foi calculada uma prevalência de sintomas de insónia de 15,6%]. As amostras destes estudos variaram entre 130 e 2094 indivíduos e em quase metade representavam a população de uma única instituição, fazendo com que os fatores que influenciam a qualidade e os padrões de sono permaneçam, em grande parte, desconhecidos(3,4,6). Para além disso, as amostras, embora incluindo adolescentes, englobaram também crianças, jovens e mesmo adultos, abrangendo idades dos três aos 31 anos.

Pela sua frequência e consequências que lhes estão associadas, as perturbações do sono são reconhecidas como problemas de saúde pública. As crianças e os adolescentes não podem assumir sozinhos a responsabilidade pelos comportamentos que afetam a sua saúde. Deve ser-lhes proporcionada a oportunidade de viver num ambiente que seja promotor da saúde, para que possam fazer escolhas informadas sobre os seus estilos de vida. Coerentemente, a promoção e a educação para a saúde são fundamentais na prevenção dos problemas de sono. A promoção da saúde, designadamente no contexto escolar, para além do investimento na aquisição de competências por parte dos adolescentes, tem como principal esforço mudar e desenvolver o ambiente físico e social, por forma a facilitar escolhas saudáveis. As intervenções a desenvolver, individuais e coletivas, constituem um desafio para os profissionais da área da saúde e da educação.

Os profissionais de saúde, no contexto de instituições de saúde, têm uma oportunidade inigualável para avaliar a sonolência diurna e problemas do sono e aconselhar os adolescentes sobre as suas necessidades de sono, sobre os efeitos negativos da privação de sono no seu desempenho e na sua saúde, para que eles

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valorizem o sono e corrijam possíveis erros no seu padrão de sono habitual. No contexto escolar, os profissionais de saúde responsáveis pela saúde escolar têm a tarefa importante de ensinar os adolescentes e os pais sobre a importância do sono para a saúde, os seus fatores de risco e de proteção e as suas consequências e quais as medidas de higiene do sono. Outra das funções é alertar os professores para estes problemas para que estes também possam no dia-a-dia identificar situações resultantes de maus hábitos de sono. Uma das mais significativas modificações comportamentais que os adolescentes podem fazer a nível do padrão de sono, é estabelecer e manter um horário regular de deitar e de levantar(8).

No documento MARIA ODETE PEREIRA AMARAL (páginas 114-116)

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