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Concessão de benefício de prestação programada e continuada e necessidade de cessação do vínculo do participante com o ente federado patrocinador

No documento Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE (páginas 49-52)

Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados – inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente -, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº 108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.433.544-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

Previdência complementar

Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro, aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.

A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência).

É chamada de "complementar" porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de "complementar" a renda no momento da aposentadoria.

O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de "entidade de previdência complementar" (entidade de previdência privada).

Entidades de previdência privada

Existem duas espécies de entidade de previdência privada (entidade de previdência complementar): as entidades de previdência privada abertas e as fechadas.

ABERTAS (EAPC) FECHADAS (EFPC)

As entidades abertas são empresas privadas constituídas sob a forma de sociedade anônima, que oferecem planos de previdência privada que podem ser contratados por qualquer pessoa física ou jurídica. As entidades abertas normalmente fazem parte do mesmo grupo econômico de um banco ou seguradora.

Exs: Bradesco Vida e Previdência S.A., Itaú Vida e Previdência S.A., Mapfre Previdência S.A., Porto Seguro Vida e Previdência S/A., Sul América Seguros de Pessoas e Previdência S.A.

As entidades fechadas são pessoas jurídicas, organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, mantidas por grandes empresas ou grupos de empresa, para oferecer planos de previdência privada aos seus funcionários.

Essas entidades são conhecidas como “fundos de pensão”.

Os planos não podem ser comercializados para quem não é funcionário daquela empresa.

Ex: Previbosch (dos funcionários da empresa Bosch).

Possuem finalidade de lucro. Não possuem fins lucrativos.

São geridas (administradas) pelos diretores e administradores da sociedade anônima. previdência privada fechada aos seus funcionários. Funciona da seguinte forma: os empregados pagam uma parte da mensalidade e o patrocinador arca com a outra.

A entidade patrocinadora oferece o plano de previdência privada por meio de uma entidade fechada de previdência privada. Enfim, só existe entidade patrocinadora no caso de plano fechado de previdência privada.

Os benefícios mais comuns que são oferecidos pela previdência complementar fechada são os seguintes:

aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez e pensão por morte.

O Poder Público (administração direta e indireta) pode ser patrocinador de plano de previdência privada?

SIM. Existem alguns entes públicos, em especial entidades, que também oferecem plano de previdência privada complementar aos seus servidores/empregados. Neste caso, este ente público é que será o patrocinador.

A Lei Complementar nº 108/2001, inclusive, traz as regras que regem as entidades fechadas de previdência complementar mantidas pela União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.

Exemplos de entidades de previdência privada criadas por entidades administrativas para atender seus empregados: Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal), Postalis (Correios).

Participante

Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano, tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador).

O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu salário no momento do pagamento.

Regulamento ou estatuto

As regras sobre o plano de previdência privada estão previstas em um ato chamado de “regulamento” ou

“estatuto”. Vale ressaltar, no entanto, que é indispensável que sejam observadas as disposições da legislação que rege o tema.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

João é empregado celetista da Petrobrás e decidiu aderir ao plano de previdência complementar oferecido pela Petros.

Depois de anos trabalhando, ele percebe que preencheu os requisitos mínimos exigidos pelo regulamento do plano e, com isso, já possui direito de pedir sua aposentadoria complementar.

Ocorre que João não quer deixar de trabalhar na Petrobrás. O participante deseja pedir a aposentadoria complementar e, ao mesmo tempo, continuar trabalhando normalmente. Isso é possível?

O participante pode gozar de aposentadoria (benefício de prestação programada e continuada) concedida pela entidade fechada de previdência privada e, ao mesmo tempo, continuar trabalhando para o ente patrocinador?

NÃO. Para ter direito ao benefício, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador.

Vedação expressa

O art. 3º, I, da LC 108/2001 exige, expressamente, o término do vínculo com o patrocinador para a concessão do benefício. Confira:

Art. 3º Observado o disposto no artigo anterior, os planos de benefícios das entidades de que trata esta Lei Complementar atenderão às seguintes regras:

I – carência mínima de sessenta contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do vínculo com o patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada; e A LC 108 foi editada em 2001. Se o participante ingressou no plano de previdência complementar antes de 2001 e for pedir sua aposentadoria agora, terá que se submeter a essa regra do art. 3º, I, acima transcrita? A LC 108/2001 aplica-se aos pedidos de benefício feitos agora, mesmo que o participante tenha entrado antes de sua vigência?

SIM. Não há ilegalidade na exigência de cessação do vínculo empregatício do participante com o patrocinador para a concessão da aposentadoria complementar, mesmo que o plano de benefícios tenha sido instituído antes da LC 108/2001 (STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 560.639/SE, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/06/2015).

O participante deverá respeitar a legislação vigente no momento em que preencheu os requisitos para a concessão do benefício. Assim, se ele preencheu os requisitos para a aposentadoria em 2017, deverá cumprir a legislação vigente nesta data, não importando quando ingressou no plano e previdência.

Esse entendimento não viola o direito adquirido?

NÃO. Se o participante ainda não preencheu os requisitos para a obtenção do benefício, ele não tem direito adquirido, mas sim mera “expectativa de direito”. Logo, se quando a LC 108/2001 entrou em vigor o participante ainda não havia completado os requisitos para a obtenção da aposentadoria, não se pode dizer que ele tinha direito adquirido. Ele possuía apenas uma expectativa de direito. Em razão disso, as novas regras aplicam-se a ele.

“O participante tem mera expectativa de que permanecerão íntegras as regras vigentes no momento de sua adesão ao plano de previdência complementar fechada. Alterações posteriores do regime a ele se aplicarão, pois não há direito adquirido a regime jurídico.” (STJ. 3ª Turma. REsp 1431273/SE, Rel. Min.

Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2015).

E se o regulamento do plano de previdência permitir a aposentadoria mesmo sem rompimento do vínculo laboral?

Não vale de nada. Isso porque o regulamento, neste ponto, será ilegal por violar o art. 3º, I, da LC 108/2001.

Tese fixada pelo STJ para o tema:

Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados – inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente -, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº 108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.433.544-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 594).

No documento Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE (páginas 49-52)