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Não se exige a prévia notificação extrajudicial dos invasores para que se proponha reintegração de posse

No documento Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE (páginas 33-36)

Importante!!!

A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Interditos possessórios:

Existem três ações tipicamente possessórias (interditos possessórios):

a) ação de reintegração de posse;

b) ação de manutenção de posse;

c) interdito proibitório.

Diferença entre elas:

a) Ação de reintegração de posse: deverá ser proposta pela pessoa que sofreu um esbulho, ou seja, perdeu a posse.

b) Ação de manutenção de posse: proposta quando a pessoa está sofrendo uma turbação, isto é, quando estão sendo praticados contra ela atos materiais concretos de agressão à posse, sem que ela tenha sido ainda desapossada integralmente. Ex.: o agressor ingressa várias vezes, mas depois sai novamente. Ex.2: o agressor invadiu apenas parte do imóvel.

c) Interdito proibitório: ajuizada quando a pessoa estiver sofrendo ameaças de efetiva ofensa à posse, sem que tenha havido, contudo, um ato material concreto. Ex: os invasores já foram vistos várias vezes rondando a localidade, demonstrando que podem entrar no terreno.

Regulamentação:

O procedimento das ações possessórias é regulamentado pelos arts. 560 a 566 do CPC/2015.

Posse nova e posse velha

Posse nova: é aquela que tem menos de 1 ano e 1 dia.

Posse velha: é aquela que tem mais de 1 ano e 1 dia.

Ação de força nova e ação de força velha

 Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há menos de 1 ano e 1 dia, diz-se que essa ação é de força nova (a posse do “invasor” é nova). Desse modo, ação de força nova é aquela proposta dentro do prazo de ano e dia a contar da data do esbulho ou da turbação.

 Se a ação for proposta contra uma turbação ou esbulho que ocorreu há mais de 1 ano e 1 dia, diz-se que essa ação é de força velha (a posse do “invasor” já é “velha”).

Ação de força nova (ação contra posse nova): segue o procedimento especial previsto nos arts. 560 a 566 do CPC/2015 (Seção II).

Ação de força velha (ação contra posse velha): segue o procedimento comum.

Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.

Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

Litígio coletivo pela posse de imóvel e esbulho ou turbação há mais de 1 ano:

É o caso, por exemplo, de um grupo de sem terra que invade uma propriedade e ali permanece por mais de ano e dia até que o proprietário ou antigo possuidor da área ajuíze ação de reintegração de posse.

Nesta hipótese, o CPC/2015 agora exige a realização de uma audiência de mediação. Confira esta previsão que não existia no Código passado e, por isso, deverá ser bastante cobrada nas provas:

Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º.

§ 1º Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2º a 4º deste artigo.

§ 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça.

§ 3º O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à efetivação da tutela jurisdicional.

§ 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessório.

§ 5º Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel.

Petição inicial da ação possessória

Segundo o art. 561, incumbe ao autor provar:

I - a sua posse;

Il - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;

III - a data da turbação ou do esbulho;

IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração.

Antes de o autor ajuizar a ação de reintegração de posse é necessário que ele notifique extrajudicialmente o invasor para que ele saia do imóvel? Ex: João tinha um terreno que foi esbulhado por Pedro; antes de João propor a ação de reintegração, ele deverá enviar notificação extrajudicial para o esbulhador?

NÃO.

A notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura da ação possessória de que trata o art. 560 do CPC/2015.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.263.164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info 594).

Os requisitos para a propositura da ação de manutenção ou de reintegração de posse estão previstos no art. 561 do CPC/2015. O inciso III exige que o autor comprove "a data da turbação ou do esbulho". Isso é importante para que o juiz possa identificar se a turbação ou o esbulho ocorreram há menos de 1 ano e 1 dia (hipótese em que a ação será de "força nova").

Em virtude dessa exigência de ter que se comprovar a data da turbação ou do esbulho, tornou-se comum, na prática forense, que os autores, antes de ajuizarem a ação, enviem notificação extrajudicial aos invasores com o objetivo de, posteriormente, juntarem este documento no processo e, assim, demonstrem que a posse dos esbulhadores é "nova" (menos de 1 ano e 1 dia), conseguindo que a demanda tramite sob o rito mais célere.

Ocorre que esta notificação prévia não é expressamente exigida pela legislação, razão pela qual não pode o magistrado extinguir o feito, sem resolução do mérito, pelo simples fato de o autor não ter adotado esta providência.

Na prática, contudo, é recomendável que se envie esta prévia notificação extrajudicial.

Uma última advertência. Cuidado para não confundir: para que o credor ajuíze ação de busca e apreensão em caso de alienação fiduciária, exige-se a prévia notificação extrajudicial com o objetivo de comprovar a mora (Súmula 72-STJ). Trata-se, contudo, de situação completamente diferente.

Possibilidade de concessão da liminar inaudita altera partes

Se a petição inicial estiver devidamente instruída, o juiz poderá deferir, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração da posse (art. 562).

A liminar será concedida quando o autor conseguir demonstrar que:

a) o ato de agressão à posse deu-se há menos de 1 ano e 1 dia (posse nova);

b) existe fumus boni iuris nas alegações deduzidas na petição inicial.

Para a concessão da liminar na ação possessória não é necessária a demonstração de periculum in mora (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2010, p. 1.367).

Impossibilidade de concessão de liminar inaudita contra a Fazenda Pública:

Art. 562 (...)

Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais.

Caso o juiz entenda que não é o caso de conceder a liminar: audiência de justificação

Se o magistrado não estiver convencido dos requisitos para a concessão da liminar, deverá designar uma audiência para que o autor justifique previamente o que alegou na petição inicial.

O objetivo da audiência é dar a oportunidade para que o autor traga mais provas sobre a presença dos requisitos necessários à concessão da liminar.

Essa audiência é chamada de “audiência de justificação prévia”.

Participação do réu na audiência de justificação

O art. 562 do CPC/2015 afirma que o réu deverá ser citado para comparecer a essa audiência.

Vale ressaltar, no entanto, que ele não será, em regra, ouvido na audiência.

Em regra, o réu irá participar da audiência ouvindo as testemunhas arroladas pelo autor, não podendo levar testemunhas suas, considerando que ainda haverá o momento para isso, qual seja, a audiência de instrução.

Durante a audiência de justificação, o réu poderá formular perguntas ou oferecer contradita, sempre por meio de advogado.

Nessa audiência, o juiz também deverá tentar obter a conciliação entre as partes.

Se o réu não for citado para comparecer à audiência de justificação, haverá nulidade absoluta do processo?

NÃO. Não gera nulidade absoluta a ausência de citação do réu, na hipótese do art. 928 do CPC/1973 (art.

562 do CPC/2015), para comparecer à audiência de justificação prévia em ação de reintegração de posse.

Segundo entendeu o STJ, o termo “citação” foi utilizado de forma imprópria no art. 928 do CPC/1973 (art.

562 do CPC/2015), na medida em que, nessa hipótese, o réu não é chamado para se defender, mas sim para, querendo, comparecer e participar da audiência de justificação.

Na audiência de justificação, a prova é exclusiva do autor, cabendo ao réu, caso compareça, apenas fazer perguntas.

Somente após a referida audiência é que começará a correr o prazo para contestar (parágrafo único do art. 930 do CPC/1973) (parágrafo único do art. 564 do CPC/2015).

Após a realização da audiência de justificação prévia:

Depois de colher as provas, o magistrado deverá decidir sobre a medida liminar, podendo fazê-lo na própria audiência ou no prazo de 10 dias.

 Se o juiz se convencer dos argumentos do autor, deverá conceder a liminar. Nesse caso, diz-se que o juiz considerou suficiente a justificação (art. 563 do CPC/2015).

 Se o juiz considerar que os argumentos não foram suficientes mesmo após a audiência, deverá denegar a liminar.

Art. 563. Considerada suficiente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração.

Recurso cabível contra a decisão que concede ou denega a liminar: agravo de instrumento.

Contestação

Concedida ou não a liminar, o réu será citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias:

Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.

Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medida liminar.

Art. 566. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento comum.

No documento Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE (páginas 33-36)