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Conforme exposto por todo o trabalho monográfico, é necessário apontar que a questão da constitucionalidade ou não da vedação à concessão da liberdade provisória envolve diversos direitos fundamentais, entretanto é preciso considerar na análise da constitucionalidade a autonomia do legislador ao editar as normas e a separação e harmonia existente entre os Poderes Legislativo e Judiciário.

Quantos às hipóteses para denegação da liberdade provisória, destaca-se que a vedação referente ao agente reincidente recebeu muitas críticas que vão além das disposições acerca de sua inconstitucionalidade, tendo em vista que o legislador optou por incluir a reincidência sem outras especificações mais precisas.

As outras hipóteses previstas para a denegação da liberdade provisória, quais sejam a do agente integrar organização criminosa armada ou milícia, ou portar arma de fogo de uso restrito, apesar de apresentarem de forma mais concreta a intenção do legislador de prever novas medidas em defesa da segurança pública, também possuem menções da doutrina acerca de sua inconstitucionalidade.

Nesse sentido, disposições doutrinárias versam acerca da incompatibilidade do artigo 310, § 2º, do Código de Processo Penal com as normas constitucionais, tendo em vista que o artigo mencionado é contrário aos seus preceitos e fins, em especial no que se refere à muitos dos princípios estabelecidos no artigo 5º da Constituição Federal de 1988.

A inconstitucionalidade é mencionada inclusive em decorrência do fato de que existem disposições doutrinárias que tratam como inconstitucional a vedação à concessão da liberdade provisória em abstrato, ou seja, com base no crime cometido, e não com base nas circunstâncias do caso concreto com todas as suas peculiaridades, e no risco que representa ou não a liberdade do agente durante as investigações ou o processo, uma vez que as prisões cautelares ocorrem antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória e são consideras como excepcionais, devendo ser observada a necessidade real da sua decretação, para que seja aplicada somente quando for essencial.

Portanto, todas as hipóteses que estão presentes no § 2º do artigo 310 do Código de Processo Penal podem embasar e compor a justificativa do juiz para a denegação da liberdade provisória, contudo a vedação legal à sua concessão com base no crime cometido não condiz com os preceitos do ordenamento jurídico, uma vez que existem pareceres na doutrina que consideram a inconstitucionalidade inequívoca.

52 No entanto, cabe salientar que a alteração legislativa que incluiu as novas hipóteses para a denegação da liberdade provisória no sistema jurídico é recente, por essa razão ainda é necessário aguardar os posicionamentos do judiciário acerca de sua constitucionalidade, ou até novas alterações legislativas referentes ao tema como já ocorreu em outras ocasiões.

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